Análise à Comissão Real Australiana sobre Abusos Sexuais entre as TJ's e o que tem sido revelado. Como todos sabem, a Organização das Testemunhas de Jeová tem enfrentado nos últimos anos uma crescente exposição em relação ao encobrimento de abusos sexuais de menores, sustentado pelas políticas internas da religião nas congregações ao redor do mundo. Tal exposição negativa tem colocado as Testemunhas de Jeová como um dos principais grupos religiosos a negar às vítimas de abuso sexual o devido tratamento e acompanhamento, "deixando nas mãos de Jeová" a possível solução de muitas queixas apresentadas aos anciãos congregacionais. Muitas têm sido as vítimas que têm vindo a apresentar queixa nos tribunais, demonstrando como os seus casos foram tratados de modo indiferente pelos anciãos, guiados pelas orientações providas pela Organização para estes casos. Isso gerou um clima de quase impunidade para os abusadores dentro das congregações, visto que a exigência de duas testemunhas para o abuso e a imposição da confrontação da vítima com o abusador levou a que muitas vítimas se remetessem ao silêncio, tendo de suportar o fardo do abuso sozinhas, temendo "trazer vitupério sobre o nome de Deus" caso reportassem os abusos às autoridades ou contassem aos co-crentes. A Comissão Real Australiana criada para lidar com os abusos sexuais existentes em instituições seculares e religiosas, veio expôr aquilo que para muitos era desconhecido e que apenas os chamados "apóstatas" (chamados assim pela Organização aqueles que discordam abertamente da mesma), ousavam expôr perante os holofotes: as políticas organizacionais para lidar com as vítimas de abuso sexual são insuficientes, profundamente traumáticas para as vítimas e não resultam, em muitos dos casos, na descoberta da verdade e subsequente punição religiosa e secular do abusador. Pode-se dizer que o tempo de ocultação das evidências em relação à forma como a Organização das Testemunhas de Jeová lida com estes casos chegou ao fim. Através dos vídeos das audições que têm sido divulgados pela Comissão, é possível compreender como uma religião altamente controladora e hierarquizada, pôde durante tanto tempo calar as vítimas e obrigá-las a um silêncio ensurdecedor e traumático. As várias cartas, documentos internos e manuais organizacionais têm sido passados a pente fino por esta Comissão ao longo dos dias, à medida que vemos e ouvimos os testemunhos das vítimas e dos homens que ao comando das congregações e mediante as orientações específicas da Organização, analisaram e julgaram tais casos, muitos deles com profunda apatia perante o clamor das vítimas. Ninguém com o mínimo de decência e empatia pode ficar indiferente a estes casos, especialmente porque eles espelham uma realidade muito mais profunda e dolorosa: Eles são a "ponta do icebergue" daquilo que acontece nas congregações das Testemunhas de Jeová em todo o mundo. O dia de hoje foi por isso o culminar de vários dias de intenso escrutínio às normas e políticas internas da Organização, com a audição de um membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, Geoffrey Jack Embora o representante da Filial Australiana na semana passada tenha mentido sob juramento, sobre o real papel de Geoffrey Jackson nas decisões organizacionais enquanto membro do Corpo Governante, a Comissão não se deixou enganar. O Conselheiro Sénior da Comissão Angus Stewart, expôs a mentira e a tentativa do representante da Filial de livrar este membro do Corpo Governante de depor na Comissão, usando para isso o Manual da Filial que mostrava claramente o papel de Geoffrey Jackson como um dos decisores das políticas internas da religião (ver aqui). Pudemos assim hoje ver a inquirição feita a Geoffrey Jackson, como representante do Corpo Governante, onde as várias questões colocadas revelaram a fraqueza da posição da Organização neste campo e a inadequada política organizacional em lidar com este assunto. Pode-se realçar que, apesar de alguma soberba por parte de Geoffrey Jackson em alguns momentos, no geral o tom dele foi de alguma humildade mostrando-se na disposição de discutir com o restante Corpo Governante a revisão de algumas políticas organizacionais com respeito à forma de lidar com os abusos sexuais. No entanto, foi notório que nas perguntas mais pertinentes e incómodas, ele alegou desconhecimento da matéria, dando a entender que tais normas não passavam por ele. O Conselheiro Sénior da Comissão Angus Stewart ia tentando desmontar esses argumentos, sublinhando que todas as políticas organizacionais eram, em última instância, aprovadas pelo Corpo Governante. Geoffrey Jackson demonstrou muita calma e sangue frio durante todo o inquérito, aproveitando até mesmo para usar a Bíblia ao expôr os princípios bíblicos por detrás de certas posições e doutrinas (segundo o entendimento da religião). Acredito que para as Testemunhas de Jeová que têm a coragem de visualizar os vídeos da Comissão Australiana, tornou-se bem patente a fraqueza de argumentos da Organização, desde anciãos, passando pelos representantes da Organização e advogados. Esta Comissão tem indicado também as vítimas destes abusos, assim como todos aqueles que ao longo dos anos têm apontado para as políticas perversas da Watchtower ao lidar com estes casos. Ficou bem patente que tais políticas têm forçado as vítimas de abuso a situações traumáticas, onde até mesmo o sair da religião acaba por vitimizar mais uma vez aqueles que já foram mal-tratados anteriormente por todo o processo decorrente da investigação aos abusos por parte dos anciãos congregacionais. Ao mesmo tempo que a media internacional tem divulgado as razões para as Testemunhas de Jeová serem chamadas para esta Comissão (à semelhança da Igreja Católica e outras instituições), a Organização disponibilizou um vídeo onde uma suposta vítima de abuso sexual infantil encontrou a paz mental e esperança no seio das Testemunhas de Jeová. Trata-se de uma verdadeira peça de propaganda, onde uma mulher chamada Crystal elogia a descoberta da religião das Testemunhas de Jeová como a razão para ter ultrapassado os traumas de infância com respeito aos abusos sofridos. O irónico em tudo isto, é que se os abusos que ela diz ter sofrido, tivessem ocorrido dentro da religião das Testemunhas de Jeová e não existissem no mínimo 2 testemunhas ou a confissão do abusador e ela tivesse que viver o resto da vida a encará-lo semanalmente e a chamá-lo de "irmão", provavelmente a história seria outra.
Neste caso, em vez de Jeová ter feito muita coisa por ela (conforme o título do vídeo), ela teria de cruzar os braços e "deixar o assunto nas mãos de Jeová". Afinal, foi este o destino de muitas das vítimas de abusos sexuais ocorridos entre as Testemunhas de Jeová até aos dias de hoje! Mais informações aqui: http://questaodosangue.blogspot.pt/2015/07/comissao-australiana-constata-que-as.html Artigo cedido pelo Blog » Questão do Sangue e as Testemunhas de Jeová
8 Comments
Agrinaldo Junior
28/3/2016 03:10:11
Não concordo. Todos os que tem responsabilidades de coordenação dentro das Testemunhas de Jeová não tem a responsabilidade de resolver questões criminais.
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28/3/2016 13:29:29
Parece que o amigo Agrinaldo não consegue perceber a extensão do problema dos abusos sexuais infantis e o que está envolvido neles, desde a sua prática até à denúncia às autoridades.
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Simone Aparecida da Silva
11/5/2022 13:15:05
Falou tudo!!! A posição dele é fechar os olhos para provas irrefutáveis!!!
Carlos Fernandes
4/5/2018 20:41:23
Já leu o resultado o inquérito da Comissão Real Australiana? Deveria ler.
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Rogério de Souza
5/5/2018 15:25:29
Meu querido Carlos Fernandes, eu tenho acompanhado com afinco este assunto! E parte das denúncias já foram esclarecidos - 85% dos casos são apenas alegações de abuso infantil. Se fossem veredictos a Comissão Australiana já teria punido a Organização por omissão. Ademais a Comissão é uma espécie de C.P.I para averiguar as supostas acusações de pedofilia e não um julgamento propriamente dito.
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Carlos Fernandes
6/5/2018 19:05:48
Pelo seu comentário percebo que o seu "acompanhamento" ficou restrito à leitura de artigos de apologistas que tentam defender a Torre de Vigia acerca do seu encobrimento acerca de casos de abuso sexual infantil.
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Feliz Andrade
6/12/2020 00:49:21
Não tomando partido. Porque a associação não tomou medidas para dar uma atenção especial para as vítimas, tendo em vista que é uma acusação séria? Ninguém que vai praticar o que é erado leva uma testemunha para depois ser delatado. Deu para perceber a inflexibilidade da organização. Na audiência com o membro do corpo governante, ele mesmo disse que as orientações passadas para os anciãos e ovelhas são interpretadas e muitas vezes os que tem essa obrigação podem erar. Jeová e Jesus são diferentes. Quando uma viúva com fluxo de sangue tocou Jesus e saiu poder dele, Jesus foi flexível e bondoso, porque ela era uma vítima. Jesus não sensurou a viúva porque ela estava impura, e tinha uma orientação sobre como ela devia agir. A pedofilia ocorre no mundo todo e em várias instituições. Lembra-se do caso nos EUA onde o médico da federação de ginástica olímpica foi acusado e condenado? Se não tivessem pessoas para lutar pela causa das ginastas tudo ia acabar em pizza. A organização leva o nome do Deus verdadeiro e de muitas coisas que Jeová odeia é a omissão. Os da dianteira foram omissos. É lógico que os da dianteira não tem poderes para prender, mas uma pessoa sensata iria demonstrar empátia e não simplesmente fala para deixar nas mãos de Jeová. Estou falando isso porque sou uma TJ e já servi como ancião. Tenho filhos e sei como é que funciona o procedimento. Lembrando que Jeová não tem nada a ver com isso. O sangue destas pessoas estão nas mãos destes que tomam a dianteira, e Jeová vai cobrar. São homens e já deixaram claro que erram, e desta vez erraram feio. Não estou tecendo este comentário favorecendo ninguém, mas sim porque Jeová é justo e ele quer que os seus também sejam. Ele não quer que por causa de uma instituição pessoas sinceras sofram.
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