A Associação das Testemunhas de Jeová continua a tentar passar uma imagem saneada das suas práticas fundamentalistas. O DIREITO DE RESPOSTA dado à CNN Portugal, sobre as reportagens da jornalista Sofia Marvão, é um claro exemplo disso mesmo. Destaco algumas citações e a seguir coloco os meus comentários. "Primeiro, o artigo alega o seguinte: "Virou costas ao casamento e a 36 anos de vida como testemunha de Jeová [anteriormente, 38 anos de vida], mas faltou à comissão judicativa - o tribunal da congregação - uma vez que não queria sujeitar-se à "humilhação". A Associação das Testemunhas de Jeová esclarece que uma ocasional reunião de auxílio espiritual com anciãos, previamente acordada com quem receberá esse auxílio, não é um Tribunal. Tão-pouco é certo que sejam colocadas questões íntimas e desnecessárias, como as indicadas no artigo. A intenção dos anciãos é sempre ajudar a pessoa de forma amorosa e respeitadora. Em nenhuma circunstância a pessoa é humilhada. Assim, a expressão "tribunal da congregação" é objetivamente falsa." A Associação das Testemunhas de Jeová tenta desta forma camuflar o papel dos anciãos que actuam numa comissão judicativa, como se tratasse de uma mera reunião de "pastoreio espiritual". Negam que eles estejam a agir como juízes num tribunal eclesiástico. Negam também perguntas íntimas e desnecessárias. Mas é isso verdade? Não! Basta ler este artigo da Sentinela 1/07/1992*, que descreve o papel dos anciãos enquanto juízes designados pelo Corpo Governante nestas comissões judicativas, ou como se chamam desde agosto de 2024, "comissão de anciãos"** Neste artigo é dito coisas tais como: "Os anciãos que servem como juízes têm o dever de imitar a Jeová e a Cristo Jesus, cujos julgamentos são verdadeiros e justos." "Os anciãos que julgam um caso, devem fazer o máximo para certificar-se, com temor reverente, de que Jeová realmente está ‘com eles na questão do julgamento’." "Os anciãos ‘têm de julgar com justiça’, em harmonia com as normas de Jeová quanto ao certo e ao errado." "Ação judicativa só é necessária quando se cometeu um pecado grave que poderia levar à desassociação." Toda a linguagem desse artigo e de muitos outros, incluindo o que está no manual de anciãos, que tem as orientações quanto a formar e dirigir comissões judicativas, é claro ao se referir ao papel de juízes, ao lidar com casos de "transgressão" ou "pecados" por parte de Testemunhas de Jeová. Afirmar que tais reuniões não são um "tribunal da congregação", isso sim é uma declaração FALSA por parte da Associação das Testemunhas de Jeová, que é facilmente desmascarada na própria literatura da organização. Estes tribunais eclesiásticos, que funcionam bem ao estilo da Inquisição Católica, às portas fechadas e onde existe um verdadeiro interrogatório aos alegados pecadores, é de facto humilhante e existem muitas pessoas que podem comprovar isso mesmo, através dos inúmeros testemunhos dados em entrevistas online. Eu próprio participei numa dessas comissões judicativas enquanto ancião das Testemunhas de Jeová! É verdade, tal como pode ser testemunhado por muitas pessoas que passaram por tais comissões judicativas, especialmente mulheres, que as perguntas muitas das vezes feitas são, de facto, íntimas e desnecessárias. O próprio manual dos anciãos diz: "Ao avaliar se uma pessoa cometeu porneía [relação sexual fora do casamento], é importante entender exatamente o que aconteceu." Com base nisso, muitas comissões judicativas, acabam por ter homens interrogando mulheres sobre que tipo de práticas sexuais foram realizadas, quantas vezes, se houve orgasmo, penetração, sexo oral e por adiante. É de salientar que nem todos os anciãos vão ao ponto de fazer perguntas escabrosas e profundamente invasivas da privacidade. Mas infelizmente, existem inúmeros casos em que isso acontece. Já agora, é de mencionar que uma Testemunha de Jeová que seja convocada para uma comissão judicativa NÃO PODE FALTAR A ELA. Caso se negue consecutivamente a comparecer a uma comissão será julgada à revelia, ou seja, será julgada pela comissão de anciãos de acordo com as provas que eles tiverem contra ela e, na maioria dos casos, o desfecho é a decisão de expulsão do grupo. Após essa expulsão, é anunciado da tribuna perante a congregação que "fulano(a) não é mais uma Testemunha de Jeová". A partir desse momento, TODAS as Testemunhas de Jeová passam a considerar essa pessoa como estando morta e não devem mais dirigir-lhe a palavra. Inclui familiares que não vivam na mesma casa. Tais familiares só devem ter contacto com o ex-membro em casos estritamente necessários. Com isto em mente, vale a pena citar mais um excerto do direito de resposta quando diz: "Neste sentido, a Associação das Testemunhas de Jeová deixa claro que ninguém está "amarrado" nas congregações das Testemunhas de Jeová e que - tal como tem acontecido - as pessoas são livres de mudar de ideias e de crenças sempre que quiserem." Tendo em mente o que mencionei antes, existe de facto liberdade nas Testemunhas de Jeová para "mudar de ideias e de crenças" sempre que alguém quiser? Na realidade, tendo em conta as sérias consequências de o fazer, é falacioso afirmar que existe tal liberdade. Aqui a Associação das Testemunhas de Jeová tenta suavizar ou esconder a prática do ostracismo ou morte social. Fazendo uma comparação: Se um assaltante lhe apontar uma arma e lhe disser que tem que entregar a carteira ou ele lhe dá um tiro, existe verdadeira liberdade para o indivíduo assaltado? O bandido pode alegar que sim, e que a vítima só entregou a carteira porque quis. E as consequências de não entregar? Do mesmo modo, existindo coação por parte do grupo contra o indivíduo que é alvo de uma possível expulsão do grupo, existe verdadeira liberdade?! E as consequências de sair ou ser expulso? Verdadeira liberdade existe quando não existe coacção ou medo associado de tomar determinada acção. Mais uma vez a Associação das Testemunhas de Jeová MENTE nesta declaração. A Associação passa a dizer o seguinte: "A confissão das Testemunhas de Jeová não impõe as suas crenças a ninguém, muito menos a bebés, crianças, jovens ou adultos. Tornar-se uma Testemunha de Jeová é uma decisão livre e informada. Para se tornar uma Testemunha de Jeová, é preciso ter maturidade e fazer um curso alargado de estudo da Bíblia." "As Testemunhas de Jeová não coagem nem pressionam ninguém a tornar-se ou a permanecer Testemunha de Jeová, nem mesmo os seus filhos. Cada filho, quando for mais velho, pode tomar uma decisão informada sobre se quer adotar a fé dos pais." Embora o tornar-se Testemunha de Jeová seja, em princípio, uma decisão pessoal, é preciso entender que a maioria dos filhos de Testemunhas de Jeová, seguem aquilo que se espera deles. Tendo sido ensinados desde bebés de que aquela é a religião verdadeira e a única organização religiosa aprovada por Deus, não é de admirar que apenas seja algo natural para eles darem o passo do batismo. Além de que, querem agradar aos seus pais e amigos. Toda a sua vida social está dentro do grupo, tal como explico no meu livro "Apóstata! Porque abandonei as Testemunhas de Jeová". Quem se torna Testemunha de Jeová, é doutrinado através de um estudo bíblico a acreditar que apenas nesta organização religiosa pode ter a esperança de salvação da parte de Deus e não ser destruído no Armagedão. Especialmente os jovens filhos de pais TJ são batizados cada vez mais jovens, longe da tal maturidade mencionada pela Associação. Há crianças a serem batizadas que ainda nem chegaram à puberdade! É claro que uma criança ou jovem batizado nestas circunstâncias e que mais tarde comete um "pecado" ou deixa de acreditar nos ensinos da organização religiosa é tratado como um adulto e acaba por sofrer psicologicamente, devido ao tratamento desumano já mencionado. Milhares de jovens têm passado por isso, alguns deles até mesmo sendo expulsos de casa após assumirem que não querem ser mais Testemunhas de Jeová ou após assumirem uma orientação sexual que está em desacordo com a moral do grupo. Eu conheço pessoalmente casos desses. Muito mais poderia aqui esclarecer, mas no meu livro "Apóstata!" está tudo explicado em pormenor. Para terminar, é lamentável que a Associação das Testemunhas de Jeová continue a tentar tapar o sol com a peneira e tente suavizar as suas práticas desumanas e violadoras dos direitos humanos. Continua a tentar passar uma imagem menos fundamentalista do que aquela que realmente é, de modo a não ser catalogada como um grupo de alto controlo ou seita destrutiva. *https://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1992483 **"No passado, esse grupo de anciãos era chamado comissão judicativa. Mas visto que julgar é apenas um dos aspectos do trabalho desses anciãos, nós não usaremos mais essa expressão. Em vez disso, vamos nos referir a esse grupo como comissão de anciãos." – Sentinela de Agosto de 2024 Leia aqui o Direito de Resposta no site da CNN Portugal.
1 Comment
Rafael
3/11/2024 12:48:26
Antônio, bom dia (Brasil).
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