"Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres." – João 8:32 – No mês de Maio de 1984, então com 22 anos de idade, por influência da minha avó materna, comecei a estudar a bíblia com as Testemunhas de Jeová, e pouco tempo depois tornei-me uma. Durante cerca de três décadas, fui um membro ativo dessa religião, embora me questionasse acerca de várias normas da religião, e certas doutrinas que eram mudadas constantemente, segundo a opinião do Corpo Governante. Poucas vezes mostrei o meu desacordo, mas quando o fiz, por problemas de consciência, logo fui rotulado de fraco espiritualmente e quando decidi começar a estudar a Bíblia com a minha Família, por “conta própria” depressa fomos expulsos das Testemunhas de Jeová. Durante todo o tempo que passei dentro dessa religião, eu me questionava:
Durante quase 3 décadas, estas e outras questões (algumas de certa gravidade), ocuparam a minha mente e tiravam-me a paz interior que eu tanto buscava. Certa vez decidi mesmo, com a minha esposa, “nunca mais” nos filiarmos a qualquer religião, pois segundo a nossa análise, todas estavam erradas, mesmo os mais sinceros se desviavam com doutrinas contrárias à Bíblia, e isso fizemos. Mas nas minhas meditações e orações eu buscava sinceramente a Verdade de Deus. Eu sabia do amor do nosso Pai Celestial, pelos seus filhos humanos, a minha Fé na Expiação de Jesus Cristo era enorme, eu sabia que o meu Redentor vive, mas como buscar orientação? Como adorar ao Pai Celestial – O Grande Elohim – da maneira que Ele quer? Vez após vez, procurei as respostas a estas perguntas, pesquisei várias religiões e organizações: desde o judaísmo, ao islamismo, aos estudantes da Bíblia, chegando mesmo a ler livros da Maçonaria, mas não encontrava o que eu procurava, andava sempre nas beiradas do conhecimento e nunca ficava satisfeito. Até que em certa altura após oração e meditação, cheguei à conclusão que eu já tinha encontrado a Verdade. Mas isso contarei mais à frente. Divergências e rutura Desde sempre eu ouvi as Testemunhas de Jeová a explicarem o texto de Mateus 6:33, que diz para se buscar primeiro o Reino e a sua Justiça e todas as outras coisas serão acrescentadas, de uma forma pouco correta. Eu fui incentivado, bem como outros jovens, a ingressarmos no serviço de Pioneiro em vez de numa carreira profissional. Fui mesmo incentivado a não prosseguir com estudos superiores. Logo no mês a seguir ao meu batismo como Testemunha de Jeová, ingressei no serviço de Pioneiro Auxiliar, que na altura exigia que eu fizesse 60 horas por mês no serviço de campo. Eu o fazia com muita alegria, pensando estar a dar o meu melhor. Eu na altura trabalhava numa fábrica de estruturas metálicas como serralheiro, sendo um trabalho duro que fazia desde as 8h da manhã até às 19h, chegando a casa muito cansado. Mesmo assim, depois de tomar um bom banho, preparava-me e saia à pregação, quase sempre até depois das onze da noite com estudos bíblicos e revisitas programadas. Cerca de um ano após o meu batismo, fui incentivado a preencher a petição de Pioneiro Regular, o que na altura para mim foi um grande privilégio. Agora tinha a responsabilidade e o compromisso perante “A ORGANIZAÇÃO” de gastar todos os meses pelo menos 90 horas no serviço de casa em casa ou um total de 1000 horas anuais. Foi sem dúvida alguma um tempo de muita canseira e agora vejo que de “ilusão”, pois eu sei que o Senhor não quer de nós tais sacrifícios ao ponto de deixarmos toda a nossa vida pessoal para segundo plano. Aliás, não havia tempo para vida pessoal. Era só trabalho e “organização”. O resto era o mundo de satanás. Pouco tempo depois de ingressar no serviço de pioneiro regular, fui designado servo ministerial e um ano depois ancião, cargo esse de ancião que tive até o ano 2000. Em 1989, num congresso de distrito em Cascais, Portugal, conheci uma linda jovem, Pioneira Regular também e pouco tempo depois começamos a namorar. Em fevereiro de 1990 casámos e graças a Jeová é a mulher da minha vida, com quem eu tenho passado estes anos todos. Com muitas alegrias e provações, temos sido um amparo um do outro junto com os nossos 3 maravilhosos filhos. Casámos no dia 17 de fevereiro de 1990 e fomos passar a lua de mel num bangalô, num parque de campismo na praia do Guincho, perto de Cascais. Uma semana depois, pegámos no nosso carrinho, um velho Simca 1100, e fomos servir onde havia mais necessidade, conforme fomos incentivados. Sempre colaborando e sendo obedientes às instruções da “organização”, fomos designados para uma pequena cidade da Beira-interior de nome Pinhel, onde havia uma pequena congregação e nós, eu e a minha esposa fomos substituir os Pioneiros Especiais que tinham saído. Foi-nos prometido por um responsável do Betel na altura, que a curto prazo seriamos designados Pioneiros Especiais. O que nunca chegou a acontecer. Durante os dois anos que servimos nessa designação, o pouco dinheiro que tínhamos foi gasto em combustível para irmos às aldeias mais remotas pregar. De vez em quando arranjava um pequeno trabalho para irmos aguentando na designação, mas logo o perdia, pois gastava mais tempo com a congregação e no serviço de campo do que com o trabalho secular, o que logo nos trouxe muitas dificuldades. Chegamos ao ponto de sair à pregação de manhã, sem saber o que ou se iríamos comer alguma coisa ao almoço ou ao jantar, mas sempre tinha alguém que nos dava algo. Foi de fato um tempo de muito desgaste físico e psicológico. Depois desta designação, passamos por outras congregações, sempre como Pioneiros Regulares, nomeadamente em: Pendão, Ericeira, Alijó, Mirandela e por último, Bragança. Por volta de 1995, eu e a minha esposa começamos a trabalhar como vendedores de produtos ortopédicos por conta própria o que nos proporcionava ter tempo para o Serviço de Pioneiro e para o trabalho secular. Durante algum tempo as coisas correram muito bem e eu fui constantemente convidado a ajudar outras congregações, a discursar em congressos e assembleias de circuito e nessa altura fiz parte da C.L.H. (Comissão de Ligação Hospitalar) de Trás-os-Montes e alto-Douro, por causa da recusa das Testemunhas de Jeová em levar transfusões de sangue. Nessa altura comecei a abrir os olhos aos poucos, pois vários médicos nos disseram que nós não permitimos o uso de sangue por motivos de obediência a uma lei organizacional, mas eles os médicos, não podem deixar morrer uma pessoa, porque fizeram um juramento de usar todos os meios possíveis para salvar uma vida e então para eles, sim é uma questão de consciência. Em 1997, pouco tempo antes de nascer a nossa primeira filha, mesmo à porta de casa roubaram-nos o nosso veiculo de trabalho. Ficámos sem carro para trabalhar e aos poucos começaram a surgir problemas financeiros pois tínhamos comprado uma casa que tínhamos que pagar e estávamos a pagar o carro. Quando começaram a surgir os problemas, começámos a abrandar o nosso serviço de campo mas mesmo assim continuei como ancião de congregação. Mas aos poucos tivemos graves problemas financeiros, tudo por não ter previsto e planeado o futuro e "ter posto o reino em primeiro lugar”. Nos anos de 1999 e 2000, tive que imigrar para Inglaterra para trabalhar e quando regressámos, começaram os problemas na congregação, pois como diminuímos em muito a nossa participação no serviço de campo e nas reuniões, fomos rotulados de “fracos”. Em 2000 deixei de ser ancião, mas continuávamos ativos na pregação. A partir daí, comecei a ganhar coragem e confrontei os anciãos com algumas coisas que eu discordava: porque ensinam que só os 144.000 vão para o Céu? Quem é a grande multidão de Apocalipse 7:9? e onde servem eles a Deus? Porque as Testemunhas de Jeová Ostracizam os irmãos que saem por discordar do ensino? Quando fiz isso, foi uma “bomba”: "Irmão, você está a tornar-se apóstata!" Esta resposta me convenceu mais ainda o quanto eu estive errado estes anos todos. A gota de água Em 2008, o destino encarregou-se de me mostrar muitas verdades. Um dia a minha filha então com 11 anos, tinha que fazer um trabalho da escola acerca de Voluntariado e de organizações de apoio a vítimas de fome e guerra. Então ela pediu-nos ajuda e eu comecei a pesquisar organizações que colaboravam com a ONU na erradicação da pobreza, e qual não é o meu espanto, encontrei na internet um artigo onde mostrava que a Sociedade Torre de Vigia tinha estado em associação com a ONU durante 10 anos. Incrédulo, comentei este facto com minha esposa, pois durante anos fomos ensinados que a ONU era a fera de Apocalipse e que a grande prostituta que a monta, é o império da religião falsa e que os cristãos não teriam qualquer associação, nem com a fera nem com Babilónia a grande. Depois de vários dias de reflexão, cheguei à conclusão que deveria de confrontar os anciãos com esta minha descoberta, e assim o fiz. Quando lhes mostrei o que tinha descoberto, disseram-me que eu estava a ir por "um caminho perigoso e escorregadio". Eu disse que apenas estava a indagar e queria saber a verdade acerca do assunto e qual a opinião deles a respeito. A resposta foi que se eu quisesse saber a verdade, o melhor seria escrever para Betel e perguntar. Eu pedi se os anciãos poderiam fazer isso e disseram-me que nunca fariam tal coisa. Se eu quisesse esclarecer esse assunto teria de ser eu a escrever a Betel e perguntar. O assunto ficou por aqui, e eu não cheguei a escrever para betel, pois nas minhas pesquisas seguintes soube que havia outros irmãos em Portugal que tinham feito essa descoberta, e que ao escreverem para Betel, foram levados perante uma comissão judicativa. Esta foi a gota de água em todo o processo da nossa saída da organização. Esta minha descoberta acerca do envolvimento da Torre de Vigia com a ONU, foi o início de uma pesquisa que terminou com a descoberta de muitas verdades que são escondidas das Testemunhas de Jeová. Uma delas foi a descoberta de um grupo de Estudantes da Bíblia Associados. Descobri que, ao contrário do que nos ensinavam na organização, os Estudantes da Bíblia ainda existem e continuam ativos em todo o mundo. Percebi que “a mudança de nome” de Estudantes da Bíblia para Testemunhas de Jeová, foi o maior golpe de teatro de J.F. Rutherford, 2 º Presidente da Sociedade Torre de Vigia. A organização faz crer aos seus membros que não existe mais o movimento original de Estudantes da Bíblia, mas na realidade, depois da morte de Charles Taze Russell, alguns membros descontentes com a tomada à força do controle da Sociedade Torre de Vigia por Rutherford, abandonaram a Torre de Vigia e continuaram como Estudantes da Bíblia sem um Corpo Governante, mantendo as suas congregações autónomas até aos dias de hoje. Esta descoberta foi para mim uma grande surpresa e comecei a corresponder-me com estudantes da Bíblia dos Estados Unidos e do Brasil que me enviaram literatura dos Estudantes da Bíblia, nomeadamente os 6 volumes dos Estudos das Escrituras de Charles Taze Russell em inglês e alguns livros e folhetos em Português. Depois desta descoberta eu senti a necessidade de continuar a estudar a Bíblia com a minha família e logo começamos a estudar apenas a Bíblia semanalmente. Líamos alguns versículos selecionados por nós e depois comentávamos, cada um dava a sua opinião a respeito da leitura, entoávamos cânticos e orávamos, seguindo assim o modelo dos cristãos do primeiro século e fortalecíamos a nossa fé em Jeová e no seu amado Filho Jesus Cristo. Certo dia durante uma destas reuniões, recebemos a visita de dois anciãos da congregação que nos perguntaram porque não íamos ao Salão do Reino. Eu disse que estava a estudar a Bíblia semanalmente com minha família e que não sentia a necessidade de me reunir com pessoas que não mostravam mais amor por nós. Falei-lhes da minha descoberta dos Estudantes da Bíblia e perguntei se sabiam que o grupo original dos Estudantes da Bíblia ainda estava ativo desde os tempos de Russell. Eles me disseram que esse grupo original eram as Testemunhas de Jeová e foram embora. Na semana seguinte um mesmo ancião e outro fizeram-nos de novo uma visita, mas com um objetivo definido: perguntaram-nos logo se ainda estávamos com a ideia de continuar a estudar a Bíblia sozinhos. Eu disse que sim e que não via mal nenhum nisso. Um dos anciãos virou-se para mim e disse que eu seria o responsável pela destruição de minha família no Armagedom. Nessa altura eu lhes disse que eles não atormentavam as pessoas com um inferno de fogo, mas atormentam-nas com medo do Armagedom e convidei-os delicadamente a saírem. Um dos anciãos disse que esta nossa posição mostrava que não queríamos ser mais Testemunhas de Jeová e pediram-me para fazermos uma carta de dissociação, o que eu me recusei a fazer. Então quando estavam já da parte de fora da porta, um dos anciãos informou-nos que na próxima reunião seria anunciado que nos dissociámos das Testemunhas de Jeová. Eu ainda hoje brinco com esta situação quando me perguntam porque saímos das Testemunhas de Jeová? Eu respondo: "Por estudar a Bíblia com minha família!" Convite para a reportagem na TVI Desde que saímos da organização Torre de Vigia, viemos a ter contato com várias ex-Testemunhas de Jeová que abandonaram a religião devido ao descontentamento com respeito ao encobrimento de abuso sexual de crianças pela líderes (de modo a manter a imagem pura da organização), à doutrina assassina da proibição das transfusões de sangue, entre muitas outras razões. Entre estes, conheci através do Facebook, o Carlos Fernandes, também ele ex-ancião e desenvolvi logo empatia com ele, devido às experiências similares na religião em que acreditamos durante grande parte da nossa vida. Certo dia, ele confidenciou-me que estava sendo preparada uma grande reportagem televisiva e perguntou-me se não estaria disposto a participar nela. Confesso que a exposição pública numa reportagem desde tipo não me agradou inicialmente, mas fiquei de contactá-lo posteriormente com uma resposta, tendo que consultar também a minha esposa. Qual não foi a minha surpresa quando minha esposa, não apenas concordou em que eu participasse na reportagem, mas que ela também queria participar. Afinal, a nossa história merecia ser contada, de modo a repor a verdade sobre aquilo que nos aconteceu na religião. E assim foi! Tivemos o encontro com a jornalista Ana Leal, que demonstrou ser muito correta e profissional na abordagem dos assuntos discutidos e ficámos convictos que a entrevista tinha corrido bem. Foi por isso um prazer e satisfação ter contribuído para a primeira grande reportagem televisiva exclusivamente sobre as Testemunhas de Jeová em Portugal e onde assuntos tão sensíveis e pessoais foram abordados, expondo perante o grande público o lado que as Testemunhas de Jeová, e especialmente a sua organização, tentam esconder. Posso dizer que a reacção na comunidade onde vivo foi muito agradável, tendo tido várias pessoas comentado comigo que viram a reportagem e que gostaram muito, dando-me os parabéns pela coragem que demonstrei em expor a minha história pessoal. Como é óbvio, os que não ficaram nada satisfeitos, foram as Testemunhas de Jeová da zona onde vivo e onde servi anteriormente, pois aquilo que relatei, embora sendo verdadeiro, mostrava um lado nada bonito da religião. Recebi alguns emails pessoais agressivos de Testemunhas de Jeová que conheci no passado e que demonstraram muita amargura pela minha presença na reportagem. Mas a minha consciência está tranquila, pois apenas falei a verdade daquilo que passei junto com minha esposa. Mas sinto-me feliz de ter contribuído para esclarecer os mais de 2 milhões de pessoas que viram a reportagem em direto e outros tantos que têm visto, não só em Portugal, mas também no Brasil, Espanha, Alemanha, Rússia e países de língua inglesa para o qual a reportagem tem sido traduzida e disponibilizada no YOUTUBE. É daquelas reportagens que ficará para sempre como um marco na informação e serviço público em Portugal. A oportunidade de contar em mais pormenores, através deste testemunho, também servirá para colmatar alguma informação que ficou por dizer na reportagem da TVI. Espero que também sirva de ajuda para quem ler e esclareça de uma vez por todas as más-línguas que por aí andam. Finalmente livres Jesus disse em João 14:6: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida ninguém vai ao Pai sem ser por mim.” Hoje eu conheço verdadeiramente o significado destas palavras e sei que encontrei a VERDADE e posso afirmar que todas as religiões têm algo de verdade, tal como um relógio mesmo parado consegue estar certo duas vezes por dia, mas a "verdade absoluta" está somente em Jesus Cristo, nosso Senhor. Hoje eu penso no descaramento que tinha, como muitas Testemunhas de Jeová ainda têm, de dizer que estão na verdade à 10, 20 ou 30 anos, referindo-se à organização como sendo a "verdade". A verdade é Jesus, não uma religião! Estou muito feliz por me ter libertado de vez de uma "organização" e sei que se estiver a fazer a vontade de Jeová, independentemente de ser Testemunha de Jeová, Estudante da Bíblia ou de qualquer outra religião, posso ter a aprovação e a Salvação da parte de Jeová, pois como diz Paulo na Bíblia em 1 Timóteo 2:5: “Temos um só Deus e um só mediador entre Deus e os Homens, Jesus Cristo.” Ex-Membro das Testemunhas de Jeová, » António Pimentel | de Portugal (Bragança) https://www.facebook.com/Estudantesdabibliadeportugal
3 Comments
Francisco Alves
20/2/2016 15:45:17
Muito parecido com a minha história, que comecei a disconfiar da organização a partir das novas luzes, onde a minha maior decepção foi a geração de 1914.
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2/4/2016 12:26:19
Grande amigo António. O teu relato provavelmente será igual a muitos outros que infelizmente estão lá dentro, mas que não têm a coragem de dar um murro na mesa. Ou por motivos que só nós que estivemos lá dentro conhecemos os impede de sair.
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Patrício Prata
19/3/2018 12:45:51
Muito boa a tua experiência. Eu me identifico com todos os teus pensamentos. Psra mim também a minha religião é a de Jesus Cristo.É essa a única verdade. É bom ser livre
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Testemunhos,Aqui você terá acesso a testemunhos de vários irmãos em Jesus, filhos do Senhor Jeová Deus, os quais têm vindo a libertar-se da religião... Categorias,
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