Irei contar os detalhes da minha vida na organização Torre de Vigia. Eu estive associado com as Testemunhas de Jeová desde 2008, quando eu passei a me interessar por suas revistas bem feitas e de excelente qualidade! Antes de ‘’estudar a Bíblia’’ com as TJs, eu gostava de recebê-las e ganhar um exemplar de suas revistas (pois eu gosto muito de ler). De inicio, minhas conversas com as Testemunhas de Jeová era um pouco num tom crítico, pois antes eu fazia parte de um grupo protestante. Meu interesse em estudar com as Testemunhas de Jeová se deu por incentivo do meu irmão carnal (que hoje é ex-TJ). Quando comecei definitivamente estudar com as Testemunhas, eu já tinha muito conhecimento de suas doutrinas básicas, sempre achava excelentes as explicações, e me convencia facilmente, por que eu já estava começando a desenvolver um afeto muito grande por aquilo que eu estava aprendendo. Meu instrutor sempre me incentivava ir às reuniões no Salão do Reino, mas eu era tímido pra caramba, por causa disso, demorou um pouco para que eu começasse a me envolver com aquela religião. Recordo-me que na primeira vez que fui ao Salão do Reino, fui recebido como um ‘’príncipe’’, todos os membros corriam para me cumprimentar e me conhecer. Eu deveria ter achado estranho tudo aquilo, mas quem é que não gosta de ser bem tratado? Fui mais vezes, estava começando a me adaptar ao ambiente. Minha assistência às reuniões se deu após muita pressão do meu instrutor. Após começar a assistir às reuniões, aconteceu que eu precisei mudar meu turno de estudo para a noite. Eu sou de uma família simples e humilde, e como eu estava já bem adolescente, precisei encarar um trabalho a fim de que eu pudesse assumir minhas responsabilidades para que eu me preparasse para cuidar de mim mesmo no futuro. Lembro-me que quando eu comuniquei isso ao meu instrutor, eu ainda consigo descrever a cara que ele fez, e a primeira preocupação que demonstrou foi como ficaria a minha assistência às reuniões, visto que ia estudar a noite, as reuniões da semana ficariam difíceis, e eu ia trabalhar nos fins semana, também atrapalharia o horário das reuniões. Por causa disso, fiquei um bom tempo fora do ambiente TJ, mas eu continuava meu estudo. No entanto, era muito raro ir às reuniões dentro dessa época. Passaram-se alguns meses, e eu senti aquela vontade de voltar a assistir ás reuniões regularmente, me programei para não faltar nenhum fim de semana, e no meio da semana, eu fiz uma programação de assistir ás reuniões de 15 em 15 dias. Dessa forma, eu consegui me matricular na chamada Escola do Ministério Teocrático, e me tornei publicador. Todos os domingos eu estava no serviço de campo. No inicio como em todos os casos, a gente fica meio que deslocado, por que você ficar batendo na porta de uma pessoa que você não conhece, em pleno domingo de manhã é muito constrangedor, principalmente para alguém tímido como eu. A grande maioria das pessoas dorme até tarde nesse dia, e sempre que batíamos na porta de alguém, a maioria que viesse atender, a pessoa vinha meio que dormindo, parecendo um sonâmbulo! De fato, eu reconheço que esse trabalho feito pelas TJs é bastante desafiador! Nessa época de publicador não batizado, eu comecei a aprender mais sobre a organização e seu Corpo Governante. Eu admirava muito aqueles homens responsáveis pelas publicações das Testemunhas de Jeová, na época eu não tinha dúvidas de que eles eram guiados por Deus. Eu pensava seriamente em me batizar, isso era incentivando pelo meu instrutor, e alguns jovens da congregação no qual eu era muito amigo. Mas eu ainda não me considerava preparado para o batismo, e deixei passar mais um tempo. Todavia, meu instrutor começou a me chantagear, dizendo que o Armagedom está muito próximo, e que devemos tomar uma decisão o quanto antes, por que segundo ele, ninguém passaria com vida no Armagedom se não tivesse se batizado, ele sempre dizia pra mim: ‘’a hora é agora, não deixe pra depois!’’ E eu muito ingênuo acreditava! Me batizei numa assembleia especial, que foi realizada na cidade de Guaraciaba do Norte-CE, naquele dia, eu tinha plena convicção de que estava dedicando minha vida ao Criador, era esse meu real objetivo de estar ali, nesse dia 14 pessoas se batizaram além de mim, a maioria deles eram jovens como eu. Tenho certeza que todos eles têm profundo amor por Deus, e acreditam que esse evento marcaria a vida deles, e eu acreditava nisso também. Após esse dia, muitas pessoas abriam aquele imenso sorriso de felicidade quando veem mais uma pessoa se ‘’dedicando a Jeová’’, quando foi anunciado na congregação, no final da reunião todos vieram me abraçar e me da os parabéns pela decisão! Depois disso, eu estava muito feliz por fazer parte daquela fraternidade, acreditava piamente que Jeová Deus nos abençoava com o alimento provido pela classe do ''escravo fiel e discreto''. Fiz amizade com diversos irmãos de diferentes cidades, até de diferentes estados. Meus ‘’alvos’’ era atingir a ‘’madureza cristã’’, me tornar servo ministerial e um pioneiro. Dava o meu melhor no serviço do Reino. Porém, a minha situação na escola não estava nada fácil! Ficava muito sem jeito quando alguém fazia aniversário, ou quando alguma garota ‘’mundana’’ se interessava por mim, também era constrangedor quando chegava os feriados em que a escola participava. Dá pra vocês imaginar como eu me sentia nessas situações? Testemunha de Jeová não pode comemorar aniversário, coisa que apesar de ter aceitado, nunca entendi plenamente os motivos bobos que eram inculcados na minha mente. Testemunha de Jeová também não pode namorar com pessoas de fora da Organização, isso faz com que a gente sofra zombarias por parte das pessoas que não partilham das mesmas crenças. E nenhuma Testemunha de Jeová celebra algum feriado, seja nacional, estadual e cultural. Apesar de alguns dos meus colegas respeitarem minha posição, eles com certeza percebiam meu constrangimento nessas situações, inclusive eu até fui convocado para ser entrevistado numa assembleia em 2013 a respeito das pressões na escola. Desde que uso à internet, algo bem comum no nosso cotidiano, pude conhecer o site da organização, no qual eu vivia acessando e pesquisando, também conheci alguns sites de defensores das Testemunhas de Jeová, os apologistas. Pesquisava e participava desses sites, com o objetivo de calar a boca daqueles que discordam do ‘’povo de Deus’’. Eu também me deparava com sites de ex testemunhas, e isso eu sabia que não deveria acessa-los pois o escravo fiel e discreto nos proibia de ler algo que abalasse nossa fé. Mas eu lembro que num certo dia quis matar minha curiosidade e acessei o fórum de ex-TJs, fiquei muito zangado com um pouco do que li, eu pensava: ‘’Como podem existir pessoas que só servem pra falar mal do povo de Deus?’’ Sai imediatamente do site, e não queria mais acessa-lo. Para pesquisar, só entrava no site oficial ou no site dos apologistas. Progredi bastante na congregação e recebia muitos ‘’privilégios’’! Minha leitura é muito boa e me designaram para fazer a leitura do estudo de livro e um tempo depois, a leitura da revista a Sentinela. Como um dos meus alvos era ser pioneiro, eu tinha que arrumar um emprego que desse pra cumprir o requisito, queria começar como pioneiro auxiliar. Mas na escola, todos os meus professores me incentivavam a entrar na universidade, por que achavam que eu teria um bom futuro por conta de minhas notas altas, por ser bem aplicado nas aulas, e de ter uma ótima capacidade de aprendizado. No fundo eu queria sim entrar para a universidade, mas a pressão da organização para investir mais na sua obra e desencorajar os jovens a cursar o ensino superior, com a desculpa de que o ‘’Armagedom está próximo’’, ‘’que não valia nada investir em algo que logo será destruído’’, ‘’que isso podia atrapalhar nossa relação com Deus’’, coisas que toda TJ esta acostumada a ouvir, isso me influenciou bastante, e como eu acreditava em tudo naquela organização, acabei por investir meu precioso tempo na obra da Torre de Vigia, confiando que assim Jeová me recompensaria no futuro pelo meu esforço em ‘’servi-lo’’. Larguei meu emprego, não só pra entrar no serviço de pioneiro, mas também teve outros motivos, e comecei a trabalhar para um irmão da congregação (Que só duraram três meses). Isso abriu a oportunidade de assinar uma petição para servir como pioneiro auxiliar por tempo indeterminado, ao mesmo tempo recebi a designação de ser dirigente do serviço de pregação, que é o trabalho em que um TJ varão, organiza a pregação de casa em casa num determinado território. Fiquei com um território um pouco afastado da cidade. Todas as quartas-feiras eu estava nesse serviço. Tive a chance de cuidar de tarefas que só cabia a um servo ministerial, os anciãos me davam dicas de como fazer uma boa consideração para a saída de campo, para isso eu usava o mensário Nosso Ministério do Reino! Foi justamente nessa época que comecei a notar algumas incoerências no que diz respeito às normas organizacionais. Percebi em primeira linha, que alguns irmãos principalmente alguns dos pioneiros (Não eram todos), tinham uma preocupação muito grande em cumprir o requisito de horas. Eu também tinha essa preocupação, mas sabia que a obra de ‘’pregar e fazer discípulos’’ era mais importante do que fazer horas, inclusive eu preparei uma consideração para a saída de campo com minhas próprias palavras a respeito de nos preocuparmos com as pessoas que iriamos levar a mensagem e não ficar olhando relógio preocupado com horas. Eu achava errado isso nos irmãos! E só depois foi que eu fui perceber que essa questão dos pioneiros ter certo requisito a cumprir só atrapalha seu real objetivo de pregar, por que qual é a diferença de um pioneiro que faz 70 horas por mês e um publicador comum que também possa atingir essa meta sem assinar nenhum papel? Obviamente pra Deus nenhuma diferença faz! Então foi ai que vi algo completamente irrelevante na organização, mas apesar disso, continuava acreditando que ela era dirigida por Deus! O tempo foi passando, e eu continuava sendo fiel à organização, por cumprir suas normas, assistir a todas as reuniões, participar regularmente do serviço de pregação e assistindo todos os congressos e assembleias. Mas chegou um dia que foi o primeiro passo para me livrar da doutrinação mental que me havia sido inculcada. Certa vez, no serviço de campo, encontrei uma pessoa que acreditava que os santos poderiam ser nossos intermediários e eu sabia que, segundo a Bíblia, só existe um Mediador, Jesus. (1 Timóteo 2:5) Como eu era dirigente e não podia ficar muito tempo numa casa, porque tinha que supervisionar as irmãs que estavam pregando, então marquei uma revisita! Como eu tinha o costume de pesquisar nas publicações usando o CD-ROM, fui pesquisar o assunto para poder fazer uma boa revisita. Queria muito conseguir um ''estudo bíblico'' com esse morador. Quando selecionei alguns artigos que tocavam no texto de 1 Timóteo 2:5, fiquei assustado com o que vi, pois os artigos diziam que Jesus só é o Mediador dos 144 mil ungidos. Mas o texto não dizia isso, e ninguém me ensinou esse ponto, para mim aquilo era novo e esquisito, pois colocava os que não são ungidos numa posição inferior. Mas eu li todas as publicações e suas explicações relacionadas com o assunto. Os artigos começaram a falar do novo pacto, do qual Jesus é o Mediador, aplicando-os aos cristãos ungidos. Textos como o de Hebreus 9:11-28, fala desse assunto de forma bem detalhada. Contudo, ao ler atentamente esse texto e outros relacionados, percebi que o novo pacto em que Jesus é o Mediador é relacionado com seu sacrifício em favor da humanidade, para lavar-nos dos nossos pecados, abrindo assim a esperança de vida eterna e isso segundo o entendimento que obtive, incluía todos nós, e não somente a um pequeno grupo. Após muita pesquisa percebi que o novo pacto não tem nada a ver com a chamada para um Reino, conforme o Corpo Governante ensinava, na verdade tinha a ver com o perdão de nossos pecados. (Veja Hebreus 8:6-13; 1 João 1:7; João 3:16; Mateus 26:28; Lucas 22:20; 1 João 2:2; Atos 4:12; Hebreus 10:19-22; 1 Timóteo 2:1-6) Ao concluir o erro de interpretação da organização usando somente a Bíblia, fiquei triste e decepcionado! E isso levou a outro assunto: quem deveria participar dos emblemas na celebração da morte de Cristo? Se a celebração simbolizava seu sacrifício em nosso favor e o novo pacto relacionava-se com o perdão de pecados, porque os que não são ungidos não devem participar? O que a celebração tem a ver com a chamada dos 144 mil para o céu, sendo que a celebração simboliza o sacrifício de Cristo em favor de toda a humanidade? Então um assunto puxava outro! Fui pesquisar além das publicações da organização, pois estas já estavam perdendo a credibilidade, em vista dos erros que eu estava descobrindo. Pesquisei em diversos sites e tudo se esclareceu aos poucos para mim. Fiz isso sem nenhum sentimento de culpa, até por que eu estava em busca de informações, algo que organização tirava de mim, ao limitar minhas pesquisas apenas à sua literatura religiosa. Eu estava exercendo meu próprio controle de informação. Cheguei a ter conhecimento dos livros de Raymond Franz, um ex-membro do Corpo Governante, mas tinha receio de ler seus escritos, achava que isso faria com que minha fé em Deus enfraquecesse. Depois disso, sem que a congregação soubesse o que eu estava passando, me designaram a outro ‘’privilégio’’, cuidar do equipamento de som da congregação. Percebi então que os anciãos estavam me treinando para me tornar servo ministerial. Mas eu já não tinha mais vontade de me tornar servo, por conta que minha confiança na organização não estava como antes. Mas mesmo assim aceitei o cargo, por que se eu rejeitasse algo estranho eles iam notar. Dentro desse tempo, pesquisei e muito as questões doutrinais da Torre de Vigia, e comecei a perceber que as profecias falhas da organização eram um tanto absurdas, apesar de não desconhecer esses erros que eu obtive conhecimento por meio dos sites apologistas que sempre diziam que só eram equívocos, e usavam as dúvidas dos apóstolos para amenizar essa tese. (Atos 1:6) Porém, as dúvidas dos apóstolos nada tinham a ver com as expectativas da organização, no qual ela divulgou para muitas pessoas como alimento espiritual no tempo apropriado, e principalmente afirmando que estavam sendo dirigidos pelo espirito de Deus. Notei nas publicações que falam dessas profecias, como por exemplo, a profecia sobre 1925, onde era dito que a palavra que veio da boca de Deus, ou seja, atribuíam a Deus suas profecias, embora eles hoje neguem isso, mas as publicações da época diziam isso claramente. (Confira: Folheto Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão, pág. 122; Revista A Torre de Vigia de 15 de julho de 1922, pág. 217 (em inglês); Livro O Caminho Para o Paraíso, pág. 220 em inglês, e diversas outras) E segundo a Bíblia quem profetizasse em nome de Deus e a profecia não se cumprisse, Jeová nada tinha a ver com isso, e claramente se identificavam os falsos profetas. (Deuteronômio 18:21-22) Dentro desse mesmo tempo, devido ao meu senso crítico que estava ativo, comecei a notar que a organização estava se desviando do real objetivo de pregar as boas novas do Reino. Em agosto de 2014, o Corpo Governante organizou uma campanha para distribuir um folheto que enfatizava o site jw.org, e todos os dirigentes de campo, tinham a responsabilidade de cobrir o seu território na distribuição desse tratado. Notei claramente uma propaganda do site jw.org, em todas as publicações, desde os folhetos até os livros, vinham com a marca jw.org. Então comecei a refletir: que evangelho é esse? Pregar a Bíblia ou divulgar um site? O desvio era claro, a Bíblia alertava contra aquele que se desviasse do evangelho de Cristo. (Gálatas 1:6-9) Continuando minhas pesquisas intensas, resolvi ler o livro Crise de Consciência, e fiquei perplexo com a maneira como eram feitas as reuniões do Corpo Governante. Então notei que essa organização não podia ser dirigida pelo Espirito Santo de Deus, devido às suas falhas, regras humanas sem base bíblica, e estava tentando decidir o que fazer. Pensei em simplesmente me afastar, me tornar inativo, mas isso não ia ser possível, porque eles sempre ficariam no meu pé, a não ser que eu mudasse de cidade (sumisse do mapa), mas não tinha condições pra isso. Não queria expor as minhas pesquisas para a congregação porque sabia qual seria o resultado: comissão judicativa. E eu não queria me submeter a um julgamento, sem que eu tivesse feito algo errado. Seria errado pra eles, mas será que seria errado pra Jeová? É claro que não! Jeová elogia quem escrutina aquilo que é repassado como verdade e incentiva todos a terem essa mesma mentalidade. (1 Coríntios 4:3-4; Atos 17:11; 1 João 4:1) Notei que a única maneira de me livrar da Torre de Vigia era me dissociar formalmente, mas isso foi extremamente difícil, porque eu gostava de todos na congregação. Mas não tinha escolha: ou vivia na hipocrisia, ou me livrava dela tendo que sacrificar as amizades que tinha! Para isso, comecei a entregar meus ‘’privilégios’’, comecei entregando o cargo de dirigente de pregação, depois eu entreguei o cargo do som, fui me livrando aos poucos dos cargos que tinha. Em janeiro de 2015, comecei e elaborar minha carta de dissociação. No dia 4 de janeiro, em um domingo, foi o último dia que fui ao serviço de campo. No dia 15 de fevereiro foi o último dia em que pisei no Salão do Reino. Uma semana depois, fui visitado por um ancião, durante a conversa, eu fiz uma pergunta de forma discreta a respeito de quem é o nosso Mediador, o ancião deu sua opinião, ele disse que Jesus é o Mediador de todos. Fiquei olhando pra ele e notei que ele não conhecia a opinião da organização. Mas não puxei esse assunto naquele dia. Porém, alguns dias depois, por meio do aplicativo Whatsapp, eu fiz a mesma pergunta a esse mesmo ancião. Ele pelo que notei pesquisou nas publicações, e logo mudou de opinião ao enviar a referência de uma Sentinela. Muito triste ver uma pessoa ser manipulada por uma organização sem ter que pesquisar aquele assunto antes! (Provérbios 14:15) Após me afastar das reuniões, eu queria me adaptar ao ambiente que há tanto tempo eu não tinha mais acesso. Não podendo aguentar mais ficar calado sem poder me abrir com ninguém há mais de um ano, contei minha situação para uma colega que não era TJ. Os irmãos começavam a me mandar mensagens todos os dias no intuito de me ‘’encorajar’’ e eu entendia essa preocupação dos irmãos. Em 2012, eu havia tido a mesma atitude para com uma irmã que era uma grande amiga minha, que tinha-se afastado das reuniões. Até onde eu sei, essa irmã nunca voltou. Queria muito poder me abrir com alguns deles, mas sabia o que isso ia dar. Uma TJ ao saber que algum irmão que está a duvidar do ‘’escravo fiel e discreto’’, imediatamente tem de denunciá-lo aos anciãos. Mas eu não era nenhum bobo. Não me deixava levar pelo sentimentalismo dos irmãos, apesar de entender plenamente a ‘’preocupação’’ deles. No dia 30 de março, concluí minha carta de dissociação, resolvi colocar nela apenas alguns pontos incoerentes os quais me levavam a acreditar que Jeová não dirigia aquela organização. (Minha carta de dissociação foi publicada aqui: indicetj.com/josegomes/carta-jose-gomes.htm) Imprimi a carta e liguei para o ancião, pedindo para ele ir à minha casa assim que possível. Marcamos o dia, mas ele não apareceu. Desde o último dia em que fui ao salão, dia 15 de fevereiro, só recebi uma visita. Além dos anciãos, só teve um irmão da minha idade que fez questão de ir à minha casa, para ver como eu estava. Os outros membros da congregação só se comunicavam comigo por mensagens. Dentro desse tempo, conheci alguns ex-TJs pela internet, que também tinham se livrado da doutrinação mental da Torre de Vigia. Também comuniquei ao meu irmão carnal, mencionado no inicio, que já estava desassociado por duvidar do Corpo Governante. Ele ficou surpreso ao saber da minha decisão. Os anciãos não iam mais à minha casa, justamente no momento decisivo da minha vida como TJ. Eles iam me ver no meu local de trabalho, me chamando pra assistir às reuniões. Então o que eu fiz? Tirei uma cópia da carta e levei uma para o meu local de trabalho. Durante todo o mês de abril de 2015, nada dos anciãos irem à minha casa e nem no meu local de trabalho, justamente nos dois locais em que estava uma cópia da carta no ponto de dar o xeque-mate nessa história. No mês de maio, descobri que os anciãos estavam fazendo uma ‘’investigação’’ sobre mim, eles estavam desconfiando que eu estivesse ‘’apostatando’’. Sem que me comunicasse, eu soube através de uma amiga da época da escola, que alguns irmãos estavam investigando por meio dos meus amigos que não são TJ, se eles sabiam de alguma coisa a meu respeito. De fato, alguns de meus amigos sabiam que eu não acreditava mais naquela religião, pois eu tinha-lhes contado, mas eles não disseram nada que pudesse resultar numa audiência judicativa, pois antes eu os tinha alertado que eu mesmo ia pôr um fim nessa história. Agradeço de coração aos grandes amigos e amigas que tenho e que nem são Testemunhas, mas que são de minha confiança! Enfim, chegou o grande dia! No dia 15 de maio de 2015, os anciãos foram à minha casa. Me pegaram de surpresa, pois não me avisaram dessa visita. Porém eu já esperava esse momento e estava muito bem preparado para entrar num longo diálogo. Os recebi calorosamente como faço com qualquer pessoa. Eles disseram que estavam ‘’preocupados’’ comigo. Porém eu já conhecia essa expressão padronizada, não que essa preocupação era comigo, e sim com a organização. Não me deixei intimidar. Abri o jogo. De forma branda falei o que eu pensava sobre a organização, mas em apenas 1 hora de conversa, eles já queriam ir embora. Mas entreguei a carta e disse que não guardaria nenhuma mágoa pessoal, e que essa decisão foi difícil, porém era necessário para poder ficar em paz com a minha consciência. Eles disseram que entendiam minha posição e que respeitariam e atenderiam o meu pedido de renuncia. Antes de saírem, eles disseram que em 15 dias anunciavam para a congregação, ou seja, anunciariam no dia 28 de maio, na quinta-feira. Queria aproveitar esse tempo e mandar uma carta para todos os irmãos dos quais eu era mais achegado, mas na segunda-feira, apenas 3 dias depois que tornei conhecida minha decisão, praticamente todos os irmãos já estavam sabendo, inclusive uma irmã de outra cidade que me mandou uma mensagem de voz, pedindo para que eu voltasse atrás! Fiquei abismado com tamanha tagarelice, mesmo antes do anúncio à congregação! A repercussão foi grande e na quinta-feira dia 21, apenas 6 dias depois da minha conversa com os anciãos, foi anunciado à congregação a respeito de minha saída. Não foi no dia 28 conforme eles tinham dito pra mim! A única coisa ruim nisso foi que não deu tempo me despedir das pessoas das quais eu era muito achegado! Mas após o anúncio da minha dissociação, eu já estava me adaptando ao ambiente de fora da organização, já estando a fazer novos amigos, e isso fez com que recompensasse dos amigos TJ que perdi. Foi triste, mas ao mesmo tempo estou muito feliz por ter tirado esse caminhão das minhas costas. Minha família não é TJ, graças a Deus, por que se fosse, seria complicado o relacionamento que ia ter com eles. Mas enfim, agradeço a Deus por tudo! Por ter aberto minha mente e por me ajudar nessa fase difícil da minha vida! Agradeço também à minha família que me apoiou todo esse tempo. Agradeço a todos as ex-Testemunhas de Jeová com quem me comunico através das redes sociais e queria dizer-lhes que é muito bom ter vocês para acolher aqueles que saem da prisão e do legalismo religioso. Agradeço também aos meus amigos que apoiaram minha decisão! Todos são importantes para mim! Agradeço ao grande Raymond Franz, apesar de não estar mais vivo, mas seus livros foram de grande ajuda! Eu não perdi minha fé no Criador, me considero um Cristão. Estudo e pesquiso as Escrituras e estudo também sobre outras denominações religiosas. Diferente de quando eu era Testemunha, hoje eu aceito críticas às minhas crenças pessoais, sou tolerante, respeito todos à minha volta, mas respeitar não quer dizer concordar com tudo. Queria dizer algo muito importante: eu aprendi muitas coisas boa nessa organização. Por exemplo, aprendi a ser uma pessoa melhor, a ter um bom caráter, ser honesto e principalmente, ter profundo apreço por coisas espirituais. Por esses e outros motivos, eu não odeio as Testemunhas de Jeová e compreendo suas motivações. Porém, eu sei como é essa religião e sei também que ela é uma religião legalista. Para ajudar as TJs a se certificarem de sua organização, eu uso a internet, já que pessoalmente nenhuma TJ conversa comigo. Mas eu tenho fé em Deus que o legalismo religioso não vai ficar sempre prendendo as pessoas e quando chegar o dia em que seremos julgados de acordo com nossas ações, veremos como ficará a Torre de Vigia. Será que vai ser considerada uma organização limpa? Quem acredita que o julgamento divino é justo, saberá o resultado! (Deuteronômio 32:4) Um grande abraço a todos que leram esse testemunho! Ex-Membro das Testemunhas de Jeová, José Gomes ([email protected]) https://seguindoaspegadasdaverdade.wordpress.com/
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