Este é meu testemunho dentro da seita que destrói famílias. Meu pai começou a ter contato com as Testemunhas de Jeová através de um parente. Era uma mulher casada com meu tio, mas ambos já morreram. Tiveram seis filhos criados nas Testemunhas de Jeová. Infelizmente, os seis filhos vieram a apresentar algum tipo de distúrbio psicológico, mais ou menos grave. Se isso tem alguma relação com a seita, eu não tenho como provar, mas que fique registada esta grande coincidência. Meu pai apenas frequentava as reuniões e ia no campo, mas ainda não tinha sido batizado. Eu sempre fui bastante tímido e ficava mais na minha. Era filho único. Sempre fui bastante solitário. Meu pai ficou inativo por dois anos devido a um problema com pornografia e foi aí que eu tive o que de mais próximo de uma experiência de uma criança normal alguém pode ter. Minha mãe chegou a 'estudar a bíblia' duas vezes com as Testemunhas, mas parou graças a Deus. Ela tinha muita dificuldade de entender o que queriam ensiná-la. Minha mãe foi criada no interior, num lugar bem humilde e só cursou até a quarta série, mal sabe ler. Comecei meu 'estudo da Bíblia' com 10 anos. Eu tinha muita facilidade em decorar as respostas e isso impressionava o meu instrutor. Eu sabia responder às perguntas sem precisar ler o parágrafo e por isso ele me incentivava bastante a 'progredir espiritualmente'. Meu pai ia-se batizar no congresso de 2012 e todos diziam como seria legal se eu me batizasse no mesmo dia que o meu pai. Com essa pressão e manipulação emocional, resolvi me batizar também sem ter a menor ideia do que eu estava fazendo, é claro. Era apenas uma criança com 11 anos de idade! Na minha congregação, não existia ninguém da minha faixa etária e por isso, não tinha amigos lá dentro. Como todo o ser humano, tinha de ter convívio social. Fui ficando mais íntimos de colegas de escola, mesmo sabendo das regras da Torre de Vigia e acabei vivendo uma vida dupla. Quando era visto, todo engomadinho para o campo por algum colega de escola, era um vexame. Ganhei o apelido de ‘’pastorzinho’’. A congregação amava ver alguém da minha idade dando comentários sem ler e me cobriam de elogios no final de cada reunião. Eu adorava! Se para um adulto isso é importante, imagine para uma criança! Eu realmente acabava por fazer todas estas coisas consideradas espirituais, não porque ‘’amava a Jeová’’ de todo o coração. Fazia para continuar sendo o queridinho. Aprendi que o segredo é falar coisas bonitinhas e sempre ter alguma frase de efeito. Eu tinha acesso à internet e ao computador sozinho, pois era filho único e meus pais não sabiam usar. Eu não tinha qualquer supervisão (o que eu não recomendo de forma alguma pois corri um risco desnecessário, além de ter visto coisas que alguém da minha idade não deveria ver e não me orgulho disso). Mas para todos os efeitos, foi isso que na verdade me ajudou de alguma forma a perceber a manipulação que sofria na seita. Em 2015 comecei a ter contato com pessoas que não acreditavam nas mesmas coisas que eu. Poder defender minhas crenças era algo incrível, e ver as pessoas defendendo as crenças delas ferozmente também. Entrei em vários fóruns de debate da Bíblia, onde raramente me identificava como Testemunha de Jeová. Tinham-me ensinado no estudo e nas reuniões que somente as Testemunhas de Jeová entendiam e liam a Bíblia, estudando-a a fundo. Que surpresa a minha foi ver diversos tipos de cristãos, que supostamente não liam a bíblia, entenderem-na melhor que eu e argumentando com maestria sobre ela. Ficava calado na maior parte do tempo, apenas observando. Às vezes, as Testemunhas de Jeová eram o tema de conversa. É claro que eram motivo de piada, nunca sendo levadas a sério. O elogio máximo que davam, era de terem reuniões silenciosas em comparação com outras denominações onde os cultos até chegam a perturbar a vizinhança. A Torre já tinha começado a fazer os vídeos da "Sofia e Pedrinho" (uma série de animação para crianças). Sempre achei aqueles vídeos medíocres, com uma animação mal feita e uma fraca dublagem, mas ficava calado para não ser 'apedrejado' pelos demais membros. Tudo o que o Corpo Governante faz é aplaudido de pé pelos Jeovistas, por mais tosco que seja e tudo é encarado como uma 'provisão divina'. Obtivemos o JW library, um aplicativo pra substituir o CD-Room e os PDFs. Era muito mais limitado, contendo as publicações mais recentes, constantemente ‘bugava’, mas ninguém poderia falar um pio sobre ele, criticando-o. Há alguns meses fizeram um vídeo de mais de três minutos elogiando o incrível e revolucionário recurso de se marcar notas que seria adicionado, como se isso fosse algo assim tão espetacular numa aplicação. Isso realmente acelerou meu processo de saída, pois facilitou a minha pesquisa nas publicações da Torre de Vigia. Ainda tinha a nova ‘’apostila’’ da reunião do meio de semana e a ‘’edição fácil de ler’’ da Sentinela, que não mudavam em quase nada o esquema atual, mas não poderiam ser interpretados de outra forma, senão como ‘’uma verdadeira evolução no modo de se aprender da Bíblia’’. Tudo isso já me incomodava bastante. Comecei a fazer amizades com judeus messiânicos simplesmente por terem algumas crenças parecidas, como crerem que Deus e Jesus são duas pessoas distintas. O simples fato de fazer um certo sentido e eu concordar me deixava satisfeito. Isso permitiu que eu ficasse na seita, mentindo para mim mesmo por mais algum tempo. Já estávamos estudando o livro "O reino de Deus já governa" no "estudo bíblico de congregação". Esse livro tinha a premissa de contar a história do "povo de Deus", o que me incomodava bastante, porque eu sabia que tinha bastante coisa faltando devido a tudo o que já havia pesquisado. A cada estudo eu ficava mais paranóico! Sabia que estavam mentindo e tinha de me segurar para não gritar contra aquilo. Pesquisando sobre a história da organização Torre de Vigia em sites mais imparciais, conheci Raymond Franz e seu livro proibido "Crise de Consciência". Baixei e comecei a ler e fiquei bem triste com o que lia, mas de certa forma, nem ficava mais impressionado.
Fui atrás de mais material ‘’apóstata’’ e conheci os vídeos do Paulo Sávio, o Osmanito Torres, entre tantos outros. Vi documentários proibidos e acessei todo tipo de conteúdo que a Torre podia rotular de apóstata. Eu sentia um misto de decepção, desapontamento e desânimo com tudo o que ia descobrindo. Até que fiquei sabendo, de como a Tradução do Novo Mundo (TNM) era deturpada e fazia de tudo para esconder que Jesus era Deus. Aquela foi a gota d’água. Só sentia raiva. Já tinha-me decidido. Iria sair daquela loucura. Mas eu não queria desafiar meu pai. Meu plano era esperar até atingir a maioriade e não estivesse mais morando com meus pais. Mas ver aquele monte de heresias, mentiras e ter que pregar e defender um monte de coisa que eu não acreditava mais, se tornava cada vez mais insuportável. Fiz minha carta de dissociação e marquei uma data para entregá-la. Não esperaria nem um dia a mais. Pedi a Cristo que me desse força e coragem para enfrentar meu pai e os anciãos. Minha oração foi respondida e tive a coragem que pedi. Já algumas semanas antes de eu iniciar meu processo de saída, meu pai ia estranhando meu comportamento. Já chegava a discutir com ele quando ele dizia algo que até ali era visto como verdade absoluta. Como quando ele afirmava que as Testemunhas de Jeová estavam presentes no mundo todo, o que não é verdade, pois eles passam o mais longe possível de lugares como o Oriente Médio, o norte da África e países comunistas como Cuba e Coréia do Norte. Ou como no caso da Rússia, que eu insistia em dizer que a Igreja Ortodoxa não tinha nada a ver com aquilo e que fazer uma campanha de cartas de nada adiantaria. Eu também diminui bastante a frequência de comentários nas reuniões e não ia mais na limpeza. Mas meu pai só pensava que eu estava desanimado. Nós teríamos um congresso em breve, e eu entregaria minha carta logo que ele acabasse. O congresso terminou domingo e segunda eu já colocaria meu plano em prática. Meu pai estava me esperando para considerarmos o livro "Examine as Escrituras" como de costume fazíamos todas as manhãs. Eu me aproximei dele e disse que não iria mais considerar com ele e que não queria mais ser uma Testemunha de Jeová. Ele ficou espantado, e perguntou: "Como assim?". Eu disse que tinha estudado bastante e chegado à conclusão de que esta não era a religião verdadeira. Ele disse que a gente tinha que conversar e eu concordei. Mostrei minha carta a ele, que leu mas não disse nada. E decidi que em nossa conversa, usaria o argumento da Bíblia adulterada, pois ele aceitaria mais fácil e seria melhor de explicar e entender. Preparei um compilado de textos, que usaria para comparar a Tradução do Novo Mundo de 2015 e 1989, a Kingdom Interlinear e a tradução João Ferreira de Almeida. Mostraria textos alterados que foram traduzidos pela Torre de Vigia para fazer crer que Jesus não é Deus. No início, o argumento do meu pai era: "Jeová e Jesus são um no amor" (é assim que os Jeovistas explicam João 10:30). Hoje parece até piada, mas na época fazia todo o sentido. Decidi investir no grego original, usando a Interlinear. Não adiantou muito, pois meu pai disse que a gente não entendia o suficiente da Bíblia e a solução seria chamar os anciãos pois eles entendem muito mais. A reunião seria na terça. Meu pai foi e eu fiquei, coisa que não acontecia há anos. Ele se recusou a levar a carta, pois alegava ser "obra de satanás" que não podia entrar na "congregação de Deus". Não tenho a menor ideia do que se passou lá, mas meu pai deve ter dito aos anciãos sobre a minha ‘’apostasia’’, pois dois visitariam a minha casa no dia seguinte, após o campo, com o objetivo de falarem comigo. Nós nos sentamos à mesa e eu já fui entregando minha carta a um deles. Ele deu uma folheada e disse: "Tudo isso? Me diga, tudo o que está aqui você pesquisou no site JW.org para ver se encontrava algo? É preciso ver os dois lados da moeda." Eu concordei e disse que de fato havia pesquisado, mas não havia encontrado nada. Não me deram tempo de falar sobre as datas para o "fim do mundo" avançadas tantas vezes pela organização ao longo dos anos, nem do livro "Mistério Consumado" mas tudo bem. Daí me perguntaram qual tinha sido meu primeiro contato com apóstatas. Eu disse que tinha sido há alguns meses. Disse que tinha tido contato com cristãos fora da seita (o termo seita os deixou visivelmente desconfortáveis) e com ex-Testemunhas de Jeová. Eu falei de Paulo Sávio, que era um ex-ancião e tinha alguns vídeos bem interessantes. Perguntei se eles queriam que eu lhes mostrasse. Daí um dos anciãos respondeu: "De jeito nenhum!" Então eu respondi: "Mas não foi você mesmo que disse que é preciso ver os dois lados da moeda?" A resposta dele foi simplesmente sensacional: "No dia que ele pegar uma bíblia e vier de casa em casa e falar comigo, aí sim nós podemos conversar. Isso é mais gravar um vídeo e falar o que quiser." O outro ancião disse que ia passar minha carta para o corpo de anciãos e leu Provérbios 11:9, numa tentativa de incutir medo em mim. Então ancião fez a seguinte ilustração: "Se durante o primeiro século, você tivesse alguma dúvida a respeito do cristianismo, perguntaria a Demas e outros apóstatas ou a Paulo e outros cristãos?" Esse povo realmente me entristece. Acham que são a continuação do cristianismo primitivo, o que pela lógica daria mais de 18 séculos de inatividade. Acham que o site JW.org detém a resposta absoluta e perguntar aos anciãos, é o mesmo que perguntar aos apóstolos de Cristo. São uns pobres coitados! Por fim o ancião perguntou se eu acreditava na Bíblia. Eu disse que sim e que era justamente por ela que estava abandonando a seita. Falei sobre a ausência do nome dos tradutores na TNM, e como eles deturparam o grego original. Poderia ter mencionado outros assuntos, mas não surgiu a oportunidade. E esta é minha situação até o momento. Apenas esperar que anunciem que não sou mais uma Testemunha de Jeová, para que por fim, eu deixe de ser apenas mais um número nas garras da Torre de Vigia. Vinícius Lorran Costa
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