Creio chegada a altura de revelar tudo acerca da minha Comissão Judicativa. Para muitos de vocês que conhecem o testemunho de como vim a conhecer a religião das Testemunhas de Jeová e o ativismo que já por muitos anos desempenho na exposição desta seita destrutiva, é talvez de interesse saber como foi a descoberta a minha verdadeira identidade por parte dos anciãos. É claro que eu estava consciente de que à medida que a minha exposição fosse sendo maior, o risco de ser descoberto quem era o TJ Curioso/Carlos Fernandes crescesse proporcionalmente. Era algo que eu evitava por razões familiares, mas com o qual já estava mentalizado e tranquilo. Sabia que era simplesmente uma questão de tempo. Como se deu a minha identificação Como já disse antes, a minha exposição online cresceu gradualmente à medida que o tempo passou (estou já afastado da religião há 7 anos). Desde os tempos das minhas participações nos fóruns brasileiros e português, passando pelo blogue e acabando na página DESPERTA e neste site, era crescente a possibilidade de vir a ser reconhecido. Até mesmo comecei a aceitar no meu perfil verdadeiro do facebook inúmeras ex-Testemunhas de Jeová e sabia que poderia correr o risco de alguém se fazer passar por uma e delatar-me. Mas estava tranquilo com respeito a essa possibilidade. Mas não foi por aí que a coisa se deu. Tudo começou quando na página DESPERTA e neste site expus a identidade dos apologistas da Torre de Vigia. Um destes apologistas, chamado Gledson Marques entrou em contato comigo, tentando entrar em debate e pedindo amizade no facebook, no meu perfil de Carlos Fernandes. Gledson Marques Inadvertidamente, aceitei a amizade, com o objetivo de continuar a falar com ele, não me recordando de que havia postado vídeos onde canto, um dos meus hobbies preferidos (ver aqui). Nesses vídeos aparece o meu nome real e não foi difícil tirar conclusões. Até me admiro como não aconteceu mais cedo. Bastava alguém ter interesse em descobrir. Ele começou a ameaçar-me de que iria descobrir quem eu era, procurando vingar-se da minha exposição e mentindo, dizendo que não pertencia aos apologistas da Torre de Vigia, o que de facto é mentira (ver aqui). Após ele recolher as informações que considerou necessárias para identificar-me, colocou online alguns vídeos onde me expôs perante a comunidade religiosa brasileira, com o objetivo de chegar também a Portugal essa informação e ser finalmente expulso. Até mesmo começou a enviar mensagens de chat para familiares, invadindo a minha vida privada. Vim a saber através de outros dissidentes que este homem já tem outros antecedentes de denúncia e que tem servido de delator de outras pessoas consideradas "apóstatas" pela Torre de Vigia. É um escroque como se diz no Brasil. Eu o chamarei simplesmente de canalha. Acredito que o seu quinhão já está reservado por Deus, caso ele continue neste caminho e não se arrependa. Recorrendo à história brasileira, comparo este indivíduo ao infame Capitão do mato, que se encarregava de ir atrás dos escravos fugitivos e capturá-los, mediante recompensa. Certamente que este homem acredita estar cumprindo um mandato divino, assim como Saulo de Tarso perseguiu os cristãos que aparentemente se rebelavam contra o poder religioso judaico instituído e certamente entendido na época como sendo uma expressão da adoração verdadeira a Jeová (Atos 9:1-2). Acredito que ele terá enviado para o Betel de Portugal ou para alguma Testemunha de Jeová em Portugal, a informação a meu respeito, de modo a eu ser convocado para uma Comissão Judicativa e ser expulso. Mas, apesar de tudo, não tenho qualquer rancor contra ele. É apenas um pobre coitado que acredita ganhar créditos na religião ao fazer este trabalho. Nada mais que um pobre coitado! Chamado para a Comissão A 19 de Dezembro de 2017 recebi uma chamada do coordenador da minha congregação, pedindo se podia receber a visita do superintendente de circuito, a qual declinei em virtude da nossa indisponibilidade na altura. Eu já estava à espera de ser convocado para uma comissão, devido às ameaças do apologista brasileiro e não tardou muito, voltei a receber outra chamada telefónica, desta vez, em meados de Janeiro, onde o mesmo coordenador me ligou relembrando a anterior chamada. Mencionou também que tinha estado a assistir a uma entrevista que tinha dado a um "senhor brasileiro" (Osmanito Torres) e pedia para reunir-me com 2 anciãos para termos uma conversa sobre o teor da entrevista. Afinal, nela eu havia dito que já não me identificava mais como Testemunha de Jeová e já não acreditava nas doutrinas da religião. Mostrei completa disponibilidade para estar presente e ficou de ser agendada assim que todos pudessem. O tempo foi passando e aguardei novo contato para marcar o dia e hora. No dia 15 de Fevereiro de 2018, recebi a esperada chamada, mas ao contrário do que antes havia sido dito, já não seria uma simples conversa, mas estava a ser convocado formalmente para uma Comissão Judicativa. É de referir que esta chamada foi feita por outro ancião, que vim depois a saber era o presidente designado para a Comissão. Mostrei-me novamente disponível para a reunião com os 3 anciãos que fariam parte da Comissão (perguntei quais seriam) e ficou agendada a Comissão para o dia 24 de Fevereiro de 2018 às 10h da manhã. Preparativos para a Comissão Judicativa Eu já estava mais que mentalizado para esta ocasião. Estava convicto das minhas razões em afastar-me da seita Testemunhas de Jeová e desejava muito expor as minhas razões nesta Comissão. Esperava que me dessem a oportunidade de falar o suficiente para apresentar as razões que considero válidas para alguém não desejar mais ser uma Testemunha de Jeová e ser um seguidor da organização Torre de Vigia e seu Corpo Governante. Preparei imediatamente nos dias antecedentes a minha carta de dissociação, onde iria expor algumas das razões mais fortes e em pormenor suficiente, de modo a que fosse claro para a Comissão que eu não era simplesmente alguém rebelde, descrente ou "doente mental". Fiz também preparativos para gravar a Comissão Judicativa, pois penso ser um instrumento valioso em expor o que se passa em tais tribunais eclesiásticos, feitos à porta fechada e sem testemunhas. É interessante que neste aspeto, a organização instrui os anciãos em oposição àquilo que era o exemplo bíblico, tanto do Antigo Testamento como do Novo Testamento. A própria revista Despertai! de 22 de dezembro de 1981, na página 17 diz acerca dos julgamentos no antigo Israel: "Os julgamentos de criminosos eram sem dúvida muito mais rápidos em Israel do que o são atualmente em países tais como os Estados Unidos, onde abarrotados tribunais e processos pormenorizados dão margem a muitos adiamentos. Visto que o tribunal local estava situado nos portões da cidade, não havia dúvida de o julgamento ser público! (Deut. 16:18-20) Sem dúvida, os julgamentos públicos ajudavam os juízes no sentido de exercerem cuidado e justiça, qualidades estas que às vezes faltam nas audiências em tribunais secretos e arbitrários. E o que dizer a respeito de testemunhas? (...) Nos tempos bíblicos, exigia-se que as testemunhas depusessem publicamente." (negrito acrescentado) Outros textos provam que tais julgamentos eram públicos e exercidos com testemunhas, tais como Deuteronômio 16:18-20; 17:5; 21:19; 22:15; 25:7 e Rute 4:1. Também no Novo Testamento e segundo as palavras de Jesus em Mateus cap. 18, a exposição do erro deveria ser feita perante a congregação em último caso. Por isso, considero que seja a minha obrigação não seguir a ordem da Torre de Vigia de manter a congregação ignorante com respeito ao meu julgamento religioso. A congregação merece saber as razões da minha Comissão Judicativa e das razões que me levaram à dissociação. O que farão com essa informação cabe aos indivíduos e nenhum ancião pode ou deve impedir tal informação. Sabemos que tanto no caso da desassociação, como no caso da dissociação, a declaração prestada à congregação é sempre a mesma: "Fulano não é mais Testemunha de Jeová". Isso dá azo a especulações, tagarelice e até calúnias quanto às reais razões e muitas vezes acontece que as pessoas inventam razões de ordem moral, não sabendo exatamente o que aconteceu. Saliento também que a Torre de Vigia sabe que do ponto de vista bíblico seria correto, no mínimo, informar a congregação das reais razões para a desassociação ou dissociação, mas por razões legais prefere não o fazer. Fica tudo no "segredo dos deuses". Neste ponto, alerto também para o fato de que a Torre de Vigia VIOLA A LEI ao manter registos pessoais em seu poder, sem que o indivíduo o tenha autorizado (pelo menos no espaço da Comunidade Européia). Vejam o que orienta o Manual dos Anciãos (KS pag. 101, 102), com respeito a este assunto: Caso a Torre de Vigia considere esta gravação da Comissão uma violação da confidencialidade que eles mesmos impõem unilateralmente, que dizer desta violação clara da lei européia, onde registos sobre a pessoa são feitos sem a sua autorização? O dia da Comissão Judicativa A Comissão ficou marcada para as 10:00 e levantei-me bem cedo para me preparar psicologicamente para a mesma. Quer queiramos ou não, é sempre um momento de ansiedade, ainda que estejamos convictos dos nossos valores. Trata-se de uma situação em que estamos perante 3 juízes que decidirão o nosso futuro, não apenas a nível congregacional, mas cujo impacto da sua decisão terá repercussões familiares e sociais: o tal falado ostracismo ou morte social. Só quem já passou por uma Comissão Judicativa sabe dar o valor ao que se sente nessa ocasião. No meu caso, estava e mantive-me calmo e tranquilo, pedindo a Deus que me desse forças para que tudo acontecesse tal como eu esperava. Era algo pelo qual eu já aguardava e até mesmo ansiava há muito tempo. Vesti-me de acordo com aquilo que eu esperava ser o mais indicado para a ocasião e para mostrar uma posição de igualdade, não de submissão ou inferioridade. Vesti um fato completo, gravata e um sobretudo (o tempo estava fresco). Ironicamente tenho dito que parecia um superintendente de circuito em visita à congregação. Naquele caso seria a minha última visita! Eu queria causar uma primeira impressão forte, de modo que eles percebessem logo que não estava diante de um qualquer homem que tinha passado a ser um "mundano". Queria ser visto de igual para igual e foi isso que aconteceu. Conforme ouvirão no áudio, o respeito existiu sempre ao longo da conversa, apesar de por algumas vezes a minha palavra ter sido cortada e ser impedido até mesmo de responder a uma pergunta que um dos anciãos me fez sobre o assunto do abuso sexual de crianças. Por diversas vezes reconheci o papel difícil que os anciãos têm como juízes na congregação, mostrando que eles apenas seguem a cartilha que a Torre de Vigia lhes dá. Apenas peões num jogo que os ultrapassa em muito. Muito mais gostaria de ter dito, mas fui impedido disso mesmo. A Comissão Judicativa iria durar apenas alguns poucos minutos, visto que eles já tinham ouvido a minha entrevista com o Osmanito Torres. Eles apenas queriam ouvir de mim, verbalmente, que não mais me identificava como Testemunha de Jeová. Eu não queria ser desassociado. Afinal a opção de afastar-me das Testemunhas de Jeová foi minha. Não foi por causa de qualquer pecado que tenha cometido. A minha consciência não mais me permitia ser conivente com doutrinas falsas e até mesmo assassinas, como é a questão do sangue. Por isso mesmo levei já preparada a carta de dissociação que já mencionei. Queria sair do meu modo e não do deles! Eles tiveram que admitir que era realmente uma questão de "crise de consciência" e não por algo pecaminoso que tenha feito e isso para mim já foi uma vitória pessoal. Isso é claro nas palavras do presidente da Comissão Judicativa. É interessante que no final da Comissão e já depois de ela ter terminado, um dos anciãos pediu-me para não lutar contra a Organização e dedicar-me a criar uma "estrutura" para ensinar aquilo que eu acreditava ser a verdade (uma nova igreja?). Achei piada, um ancião incentivar-me a criar, provavelmente um novo grupo religioso! Logo a seguir ao presidente dar por concluída a reunião, eu entreguei a cada um deles um artigo que escrevi com o tema "São as Testemunhas de Jeová uma Seita Destrutiva" publicado originalmente aqui no site e depois publicado na revista online "O Alienista". Apesar da relutância de um deles em ficar com o documento, os 3 exemplares ficaram em cima da mesa. Verão ao longo da Comissão Judicativa que ouve momentos bem interessantes e engraçados, especialmente quando os anciãos articularam alguns argumentos e citações bíblicas que considerei fora do contexto e sem aplicação no que estava sendo discutido. A cara deles quando os corrigi e emendei é impagável, pois percebi claramente a sua confusão e dissonância cognitiva quando perceberam que aquilo que diziam estava de facto fora do contexto e mal aplicado. É claro que não o admitiram e tentaram dar a volta ao argumento. Mas a confusão instalada nos seus rostos guardo até hoje. Mas quero deixar claro que respeito estas pessoas. Afinal, elas estão na mesma posição em que eu já estive e sei como é difícil discernir o engano e manipulação sofridos nesta organização religiosa. Eles são "vítimas de vítimas" como dizia Raymond Franz em seu livro "Crise de Consciência". Fui tratado até ao fim com consideração e até simpatia. Eles perceberam que estavam diante de um homem, que como eles, tinha as suas convicções e uma consciência limpa diante de Deus. O meu julgamento deveu-se a eu expor a Torre de Vigia e não por algum "pecado" oculto de ordem moral. Espero que ao ouvirem o áudio possam perceber o forte condicionamento mental a que eles estão sujeitos e possam orar ao Pai Celestial, assim como Cristo orou: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." (Lucas 23:34) Não guardo qualquer rancor contra eles e muito menos contra qualquer Testemunha de Jeová. São na sua maioria pessoas sinceras, humildes e que acreditam piamente estar na religião que os conduzirá a um Novo Mundo, repleto de paz e felicidade. Apenas se esquecem que tal dádiva será dada por e por meio de Jesus apenas e não por meio de uma organização religiosa (João 6:68). Espero que este relato ajude mais pessoas que estão vacilando em dar o passo da dissociação. Embora no meu caso, eu tenha sido levado a isso devido às circunstâncias, ainda assim posso dizer que o sentimento de liberdade é superior e pleno em relação ao tempo que passei neste estado de inactivo. Espero que Deus lhes dê a mesma coragem e determinação que me deu, para que possam expor com frontalidade e respeito aquilo que consideram correto em relação a esta organização religiosa. Um abraço a todos vocês e podem crer que no que depender de mim, a luta continua! António Madaleno (aka Carlos Fernandes) ÁUDIO DA COMISSÃO JUDICATIVA
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