Tive os primeiros contactos com as Testemunhas de Jeová no final da década de 1980. Nesta época elas distribuíam o livro de estudo “Poderá viver para sempre no paraíso da terra”. Era um livro grande colorido e cheio de figuras. Como eu era um ávido leitor adolescente e praticamente lia de tudo, as publicações me chamavam muita atenção e eu pedia sempre à minha mãe para adquirir algumas. As Testemunhas de Jeová gostavam de mostrar as figuras com ilustrações do paraíso onde os animais seriam mansos e a morte, as doenças e a fome não mais existiriam. Mas eu era ainda uma criança fazendo o primário e havia muitas coisas ainda para descobrir; assim, estes contactos iniciais não surtiram muito efeito. Seriam apenas alguns anos mais tarde que eu iria me interessar pelas doutrinas delas. As seitas geralmente apanham pessoas confusas, deprimidas, leigos e desinformados, mas geralmente pessoas que têm perguntas e dúvidas sobre a espiritualidade e o sentido da vida. Este era o meu perfil. Estava na adolescência, era um garoto de família pobre e via o futuro com desconfiança e incerteza. A ideia da vida eterna em um paraíso na terra e de um Armagedom iminente que iria por fim ao mal e aos governos corruptos faziam certo sentido. Minha família era de origem católica, sendo todos baptizados embora não assíduos ou membros efectivos em nenhuma paróquia. Religião não era uma preocupação demasiada de nossa família e quem me dera que tivesse continuado sempre assim. A Bíblia para mim era uma maravilha de livro, e eu ao ler suas histórias e assuntos procurava entender algumas coisas. Interessava-me entender os símbolos do Apocalipse de São João, além disso, perturbava-me a possibilidade de que a vida na terra pudesse deixar de existir após uma catastrófica guerra nuclear. As visitas das Testemunhas de Jeová se tornaram mais comuns quando meus irmãos mais velhos aceitaram publicações de conhecidos que eram membros da seita e posteriormente concordaram em ter um estudo bíblico domiciliar. Este estudo era feito com base na publicação citada anteriormente, o livro “Poderá viver para sempre”. Às vezes eu participava do estudo e costumava fazer muitas perguntas. Então o instrutor que era um bom e honesto rapaz trouxe o livro “Clímax de Revelação” que acabara de ser lançado. Este livro era um comentário versículo a versículo do livro de Apocalipse. As respostas do instrutor para as nossas perguntas pareciam ter muita lógica; geralmente para um leigo, as explicações das Testemunhas de Jeová de fato parecem ser a expressão da verdade. Isso me levou a aceitar um estudo pessoal com a mesma pessoa. Com o tempo as circunstâncias mudaram e interrompemos os estudos. Quando me casei, ainda muito jovem, enfrentei muitas dificuldades, principalmente ao me tornar pai pela primeira vez. Os sentimentos que surgiram nesta época me levaram a procurar apoio espiritual e pensei em reiniciar o estudo da bíblia. Sabendo do horário e local das reuniões, fui ao salão do reino que meu antigo instrutor frequentava, e por coincidência o encontrei na porta do local. No final da reunião, conheci vários membros que com o tempo se tornariam grandes amigos. Decidi levar a sério o estudo e progredi rapidamente. Às vezes passava dias e noites lendo todas as publicações da Torre de Vigia que pudesse encontrar. Alguns irmãos me doavam números antigos de revistas e livros e logo tinha caixas destes. Às vezes, lendo publicações antigas, deparava-me com ensinos que não concordavam com os actuais e fazia perguntas ao meu instrutor. Ele me dizia que as Testemunhas de Jeová reajustavam alguns ensinos sempre que o entendimento do assunto aumentava; por isso, alguns pontos de vista relacionados a alguma doutrina poderiam ser abandonados ou modificados pela Sociedade Torre de Vigia e divulgados em alguma publicação oficial. Isso me satisfez no momento, afinal, eu não tinha a mente tão crítica ainda e a paixão pela organização e suas promessas me haviam subido à cabeça. Com o aumento de conhecimento da doutrina e habilidades com oratória, me destacava sempre na Escola Teocrática e fazia muitas amizades. Era também zeloso como publicador e logo cheguei ao baptismo. Neste período, comecei a dirigir estudos para os meus irmãos. Minha esposa também começou a estudar com uma amiga, irmã da congregação. Ela se baptizaria anos mais tarde assim como meus irmãos. Eu já tinha dois filhos e nesta ocasião, tinha grande desejo de receber mais privilégios, pois pensava que poderia ser útil como orador. A suposta proximidade do Armagedom me fazia descartar qualquer outra carreira e desisti de terminar meus estudos ou buscar uma formação. Era o ano de 1994 e achávamos que a qualquer hora poderia irromper a grande tribulação. Na organização da Torre de Vigia, dá-se grande ênfase a que os varões se habilitem para cargos de responsabilidade e treina-se muitíssimo suas habilidades de falar em público, por isso era apenas natural que eu procurasse me tornar servo ministerial ou diácono. Mas em uma reunião na qual meu nome havia sido indicado, um dos anciãos argumentou que actualmente eu era muito pobre para receber a designação. Eu só fiquei sabendo disso depois de um bom tempo e fiquei muito triste; mas raciocinei que era apenas um ponto de vista equivocado de uma pessoa imperfeita e que nada tinha a ver com regras da organização. Na época, na reunião em que me rejeitaram para o cargo devido minha pobreza, o ancião que havia me indicado se levantou aos prantos e foi embora em protesto. No ano de 1997 fui designado servo ministerial e aprendi muito com um ancião amoroso que me considerava útil e demonstrava muita confiança no meu trabalho. Eu era de fato uma Testemunha de Jeová sincera que acreditava estar fazendo a vontade de Deus e muito zelosa fazendo jus à confiança que depositavam em mim. No ano 2000 fui designado ancião quando servia em um território isolado numa pequena congregação. Nesta localidade passei cerca de sete anos e pude praticar e desenvolver habilidades como supervisão e oratória, trabalhando lado a lado com pioneiros especiais. Mas as coisas estavam muito difíceis e sustentar uma família crescente em uma cidade pequena não era tarefa fácil. Então decidi deixar a congregação e retornar à minha cidade de origem. No dia da viagem, apenas um amado irmão nos ajudou a colocar a mudança no caminhão de transportes. O motorista disse com um ar de reprovação: “Quer dizer que o pastor da igreja vai embora e os irmãos não vem sequer se despedir? Que igreja amorosa esta sua, não é irmão?” Isso me deixou muito decepcionado. Eu havia sacrificado minha família passando muitos anos ajudando aquela congregação e, no entanto, não merecia sequer uma despedida. O engraçado era que na semana anterior à mudança, eu tinha visto a congregação em peso escoltando um casal de pioneiros que haviam vindo visitar a congregação até o ponto de ónibus. Mas tudo bem, pensei comigo, não estive aqui para agradar a homens. Mesmo assim, não me arrependo de ter vivido naquela cidade, pois fiz e mantive muitas amizades que me foram muito valiosas entre irmãos e outros. Em 2005 estava de volta à minha cidade e fui servir em uma congregação maior. Com o tempo passei a presidir esta congregação. Como ancião pude discursar em grandes Congressos e assembleias, estando em grande estima por irmãos de muitas congregações. De fato, era bastante conhecido, pois meus discursos chamavam muita atenção. Eu procurava sempre dar o meu melhor e era usado para proferir discursos, resumos e dramas bíblicos. Gostava especialmente de proferir o discurso para a comemoração anual da morte de Cristo. Lembro-me que ao terminar as reuniões da refeição nocturna, ficávamos curiosos de saber se havíamos quebrado o recorde de assistência dos anos anteriores. Mas as coisas começavam a mudar. Eu procurava lidar com os ataques e perseguições pessoais da melhor maneira possível, procurando manter a paz com todos. Sendo um ancião muito jovem e cheio de privilégios, era alvo da inveja de alguns, até mesmo em minha própria congregação. Isso não foi fácil para mim. Cheguei a odiar o título “Presidente”. Certa vez, uma estudante idosa perguntou a uma pioneira regular, esposa de um ancião, se a congregação poderia ajudá-la a adquirir novas lentes para seus óculos, ao que a pioneira respondeu: “Procure a esposa do superintendente presidente, pois ela é que deve cuidar desses assuntos”. Infelizmente, é assim que a maioria encara as posições de responsabilidade na congregação: Como um cargo político. Como ancião, eu cuidava de comissões judicativas e aconselhava diversos irmãos. Em certa ocasião, auxiliando um ancião de uma cidade vizinha, tivemos de desassociar várias pessoas, uma após a outra. Uma destas me chamou bastante atenção. Era uma irmã que eu conhecia apenas de vista e estava bastante decidida. Ela apenas queria deixar de ser Testemunha de Jeová. Perguntei a ela se havia alguma maneira de ajudá-la para que continuasse na organização, mas ela negou definitivamente. Disse que apenas não desejava mais continuar sendo Testemunha de Jeová. Era a primeira vez que eu via alguém se dissociando. Eu me perguntei o que levaria alguém a abandonar a Jeová, pois era assim que eu encarava a saída de alguém da nossa fraternidade. As comissões judicativas eram um fardo para mim. Eu achava que não éramos capazes de identificar se alguém estava arrependido ou não, que apenas Deus podia ler o coração das pessoas; por isso, seguíamos mais as regras escritas no manual dos anciãos do que a nossa intuição. Muitas vezes, porém, quando presidia e tinha maior poder de decisão, procurava salvar a pele de muitos irmãos errantes. Lembro-me de uma vez em que um ancião ficou muito bravo comigo, pois eu asseverei que uma irmã que havia incorrido em fornicação não precisava ser desassociada. O ancião em questão retrucou que ela já tinha confessado o mesmo erro outrora e que tinha sido repreendida, portanto deveria ser desassociada, pois era reincidente. Então, quando eu disse que nós não iríamos sequer anunciar a repreensão da tribuna para não envergonhá-la, ele ficou louco da vida. Com o tempo, eu iria saber que a justiça não é uma das prioridades desta organização. Eu já aceitava com base em minha experiência que nós não éramos nem de longe tão certos como nossas publicações asseveravam. Via entre as pessoas de nossa comunidade, qualidades ruins e indesejáveis como invejas, brigas, ciúmes, divisões, divórcios, falta de amor, adultérios e fornicação em um grau que me fazia às vezes comentar com minha esposa que a única diferença entre nós e as pessoas do mundo era que servíamos a Jeová. Além disso, como ancião, passei a notar como as regras da organização eram duras e pesadas e que a justiça é geralmente deixada de lado em favor das normas e mandamentos impostos pela Torre de Vigia. Algumas doutrinas começavam a deixar de fazer sentido; eu tinha sempre a impressão que a organização estava muito atrasada, bitolada e sobrecarregava seus fiéis desnecessariamente. Comecei a ficar enfadado de tantas publicações, reuniões, visitas, cursos e cobranças para fazer sempre mais e mais. Estranhava também o fato de não poder contestar a liderança internacional. Doutrinas como as proibições das transfusões de sangue e a literalidade dos 144 mil me pareciam estar muito equivocadas. A regra da desassociação que obriga as Testemunhas de Jeová a ostracizar os membros da própria família me pareciam um erro grave de interpretação. Devido a isso, protelei o convite para fazer parte da COLIH, pois ser um ancião estava se tornando um estorvo para mim. Em 2009, por motivos de dificuldades económicas, afastei-me do cargo de ancião após mudar de bairro e de congregação. Os anos de negligência que impunha à minha família começavam a cobrar as consequências. Desempregado e com algumas dívidas tive que me mudar para a casa de minha mãe, pois não tinha mais dinheiro para o aluguer. Nesta congregação fui vítima de perseguição pessoal e acabei tendo minha indicação de serviço negada. Para mim, servir como ancião era um privilégio inestimável e havia lutado muito para esta designação. Senti-me como um objeto descartável que depois de usado tinha sido jogado fora. Tentei nesta congregação manter a minha espiritualidade e a rotina, mas confesso que não me sentia bem esquentando cadeiras e estando totalmente alheio aos serviços que me ocupara por quase vinte anos. O injusto ostracismo aplicado a mim me impedia até mesmo de servir em privilégios mecânicos. Foi nesta época, quando fiquei totalmente desocupado das actividades de outrora, que pude parar para meditar com mais calma e tranquilidade. Creio que já estava pronto para ser reprogramado mentalmente. Muitas regras agora me pareciam muitíssimo absurdas e as suas reais intenções eram cada vez mais claras. Mas, embora houvesse muitas coisas que me incomodassem, eu ainda encarava os principais ensinos das Testemunhas de Jeová como verdadeiros e superiores e não me vinha à cabeça que pudéssemos estar sendo enganados quanto à nossa forma de adoração. Enquanto isso, como família, mantínhamos uma actividade mínima de assistência às reuniões e pregação de porta em porta já que todos nós estávamos muito deprimidos com os acontecimentos. Minha esposa tinha enfrentado uma gravidez muito complicada e nós tínhamos ganhado um lindo bebê que actualmente é a nossa alegria. Essa criança foi um presente de Deus para compensar nossas dificuldades e tristezas. Lembro-me da visita de um superintendente viajante nesta época. Ao chegar a nossa casa para um “pastoreio” programado, ele olhou a nossa humilde casa e disse: “Vejo que agora vocês já têm uma casa e não pagam mais aluguer...” – depois durante a visita, ele leu alguns textos da bíblia e argumentou que nossa família estava muito ociosa quanto ao serviço sagrado e que nossas actividades estavam muito baixas. Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Ele estava nos chamando de preguiçosos porque nossas actividades haviam diminuído. Ao invés de considerar a família íntegra que éramos e o nosso histórico de zelo e dedicação, e de levar em conta tudo o que havíamos passado, bem como a dura e injusta perda de meus privilégios, as nossas dificuldades financeiras, o desânimo e a tristeza, o Superintendente dava primazia às regras organizacionais. Quando falei sobre isso à esposa de um ancião, uma amiga minha da mesma congregação, ela simplesmente disse: “Aceite isso como vindo da parte de Jeová”. Ora, como aceitar uma injustiça dessas como algo vindo de Deus? Será que Jeová não sabia de todas as minhas dificuldades e desejava usar alguém para nos humilhar ao invés de prover encorajamento e ânimo? No final de 2011 minha filha se enamorou de um bom rapaz filho de um ancião amigo meu. Eles resolveram casar-se e isso me deixou muito alegre. Minha filha sempre foi uma moça leal e casta, decidida a rejeitar as frivolidades da juventude, e eu pedia sempre a Deus uma bênção especial para ela. Meus filhos são a minha razão de viver. Eu tenho quatro filhos, dois deles são baptizados e maiores de idade, sendo dois menores. Um deles ainda é a criança pequena muito linda que já mencionei, não desmerecendo os outros é claro, que são todos lindíssimos. Deus me deu uma bela família. Em 2012 eu estava em crise consciencial, pois minha mente lógica começava a despertar. O ápice da confusão se deu quando decidi ver algumas matérias críticas na internet sobre a comemoração da morte de Cristo. Como Testemunha de Jeová fiel, eu nunca tinha desobedecido à ordem da Torre de Vigia de jamais aceitar ou ler qualquer material de ex-membros apóstatas ou de opositores. Mas o assunto me chamou a atenção e não resisti. Tentei contestar mentalmente os fatos citados pelo argumentador, mas depois de ver com cuidado nas escrituras tive que reconhecer que havia um erro grave neste ensino da Torre de Vigia. O assunto era simples, mas tinha grandes implicações. Nele se abordava a dúvida se Judas havia ou não participado da santa ceia. Mas não parou por aí. Outro assunto me chamou a atenção, e este tratava da suposta existência de um Corpo Governante no primeiro século, o que criaria um subterfúgio para validar uma autoridade suprema na época atual. Foi a análise desse tema que me fez duvidar da legitimidade da liderança da Torre de Vigia. A descoberta destes furos na nossa doutrina me fazia tremer de decepção. Comecei a analisar diversos comentários críticos à nossa doutrina e procurava refutá-los mentalmente, mas quanto mais tentava fazê-lo, mais se embaraçava, pois me deparava com as contradições dos ensinos diante da lógica da argumentação. O interessante é que estas descobertas eram claramente uma resposta coerente a todas as dúvidas que assolavam minha mente desde algum tempo atrás. Depois de pesquisar vários artigos críticos sobre a doutrina da proibição de transfusões, cheguei a conclusão lógica que ela não poderia jamais basear-se nas escrituras e tampouco ter apoio na razão. Foi estranha essa constatação, mas ao mesmo tempo ela foi libertadora. Minha pesquisa durou todo o ano de 2012, o qual usei para me dedicar ao trabalho secular e em prover as necessidades de minha família. Em minhas conversas com minha esposa, demonstrava não ter mais fé que a organização da Torre de Vigia pudesse estar com a verdade. Eu não sabia, mas ainda viria a descobrir coisas terríveis sobre a Organização no futuro próximo e isso me levaria a entender que ela nunca representou a Deus. Confesso que não foi nada fácil aceitar que a religião que eu tinha abraçado por cerca de vinte anos pudesse ser um engano e que todo o meu esforço para agradar a Deus tivesse produzido o efeito contrário. Durante todo este tempo eu já havia colocado muitos parentes e também amigos na organização. Era ao mesmo tempo uma liberdade sem comparação e também uma aflição sem tamanho. Não pensem que já me livrei desse sentimento de culpa. Acho que nunca me libertarei disso. Minha filha ia se casar. Então, planejei esperar um pouco antes para me pronunciar oficialmente sobre minhas dúvidas. Eu sabia que podia ser desassociado, e estar desassociado implicaria em impedirem-me de levar minha própria filha ao altar ou comparecer à festa de seu casamento. No início de 2013, comecei a comentar vídeos e artigos na internet e nestes comentários mostravam que já não defendia as doutrinas da Torre de Vigia, muito pelo contrário. Comentei minhas dúvidas pessoalmente com dois irmãos e pelo menos um deles, um ex-ancião bajulador, me denunciou à dianteira. Eles me fizeram visitas e me informaram que tinha visto alguns de meus comentários na internet. Raciocinei que eles talvez já estivessem me investigando há algum tempo e coletando provas contra mim. Não falaram sobre desassociação, mas puderam constatar que minhas dúvidas e argumentos eram um problema sério para eles. Eu passei a ser encarado na congregação como alguém com “idéias apóstatas”. Minha filha se casou em uma festa muito bonita, o casal era lindo e todos estavam muito felizes e animados. Foi um dos melhores momentos de nossas vidas. Oro sempre e todos os dias para que Deus abençoe minha filha e seu jovem esposo. Mas, os anciãos depois de algum tempo voltaram a me visitar. Eles queriam se certificar de minhas convicções e então me convidar formalmente para uma reunião judicativa. Nesta reunião eu seria certamente desassociado. Ao invés disso, redigi uma extensa carta de dissociação e fiz várias cópias. Enviei por email e levei pessoalmente algumas cópias para alguns amigos Testemunhas de Jeová. Depois, entreguei a carta à comissão que cuidava de meu caso. Esta carta foi datada de 18 de maio de 2013 e pode ser encontrada no seguinte endereço na internet: http://indicetj.com/osmanito/carta_osmanito.htm. Após o anúncio de minha desassociação, fiz um vídeo com o texto de parte da carta e o tornei disponível na internet. O vídeo inteiro pode ser visualizado no aqui: Não preciso dizer que minha dissociação causou grande comoção. Meu genro e minha filha ficaram muito tristes e envergonhados. Eles estavam muito abalados. Minha filha e minha esposa imaginavam que eu estava apenas ressentido por ter perdido os privilégios e que, em uma crise de descontentamento, agia com revolta para com Jeová. O sogro de minha filha, ancião respeitado se sentiu traído e ficou muito amargurado. Chegou a me ofender pelo telefone, mas depois me pediu desculpas. Hoje em dia, quando o encontro em sua casa, ele me trata muito bem, diz que nada mudou, mas que precisa seguir as regras da Torre de Vigia sobre o tratamento aos ex-membros. Ele sempre fala no dia em que eu irei “voltar a Jeová” e iremos poder nos reunir e se divertir como antes. Isso me comove muito, mas na verdade, anseio o dia em que ele se liberte do engano assim como eu me libertei e juntos possamos dar boas risadas de tudo isso. Para Deus tudo é possível.
Eu tinha muitos amigos nas congregações e eles não podiam acreditar que alguém como eu pudesse chegar ao ponto de “abandonar a Jeová”. Eu os perdoo pela ignorância e penso que teria a mesma opinião se estivesse no lugar de cada um deles. Não preciso dizer que perdi todos os meus amigos da noite para o dia. Muitos familiares se afastaram de mim. Felizmente a minha filha e meu genro, apesar de toda a pressão que sofrem, ainda continuam a nos visitar e a me tratar com dignidade. Eu claro, agradeço a Deus por isso. Oro para que a Torre de Vigia deixe de praticar o ostracismo contra os ex-membros e assim milhares de famílias possam ser reunidas novamente. Atualmente, continuo tentando me recuperar deste que considero o maior desastre em minha vida. Muitas vezes penso que se tivesse morrido antes de me tornar Testemunha de Jeová, isso teria poupado muito sofrimento, não apenas para mim, mas para outras pessoas que em certo sentido foram prejudicadas espiritualmente. Por outro lado, fui honesto e sinceramente procurei a Deus e com as ferramentas que ele me forneceu eu dei o meu melhor. E ele me abençoou com uma família maravilhosa. Procuro tentar acreditar que Deus tenha me usado de uma maneira especial para alguma missão. De qualquer forma, procuro recuperar o mal que causei compartilhando minha experiência e conhecimento publicamente através de sites, vídeos, redes sociais e contatos pessoais. Este serviço tem me ajudado a manter a paz mental. Hoje me considero um cristão verdadeiramente livre. Tenho toda a liberdade de estudar e analisar tudo o que puder e desejar. Não sou mais obrigado a aceitar qualquer doutrina por imposição de um colegiado humano como o Corpo Governante. Os desafios de procurar e formular a própria verdade e evoluir espiritualmente e conscienciosamente é uma tarefa hercúlea e para poucos, mas é amplamente satisfatória. Encaro Deus de uma maneira diferente, ele se tornou muito mais real para mim. Encaro as pessoas em geral de uma forma diferente também. Para mim, todos somos irmãos e não somos melhores ou mais merecedores que ninguém. Precisamos amar a todos e suportar a todos. Só assim imitaremos o Pai que está nos céus. Se algum dia, uma grande destruição vier sobre a humanidade, imagino que todos mereçam igualmente a mesma sentença. Mas não creio que o Pai amoroso fará algo assim. Oro sempre pelas crianças, todas elas sem exceção, elas sim merecem o Reino dos Céus. Quem foi Testemunha de Jeová, infelizmente levará marcas terríveis que perdurarão por toda a vida. São cicatrizes emocionais que apenas Deus poderá sanar ou reparar. São poucos os casos que não deixam seqüelas. Creio que falar sobre os erros, regras e ensinos perniciosos da Torre de Vigia é um dever moral e de utilidade pública. Nada pode ser tão danoso para alguém do que ser vítima de uma seita religiosa. Poderia relatar muitas coisas além de inúmeros detalhes de minha experiência como Testemunha de Jeová, mas para isso precisaria escrever um livro inteiro. Quem sabe eu não o faça no futuro? Façamos todos juntos um esforço especial para ajudar muitos a abrir os olhos para não ser enganados pelo diabo que persiste em transformar-se em anjo de luz (2 Cor 11:14). Ex-Membro das Testemunhas de Jeová, » Osmanito Torres de Brito (Fb)| do Brasil
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Testemunhos,Aqui você terá acesso a testemunhos de vários irmãos em Jesus, filhos do Senhor Jeová Deus, os quais têm vindo a libertar-se da religião... Categorias,
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