Nasci em 1971, na cidade de Ariranha do Ivaí, estado do Paraná. Sou o quinto filho de uma família de sete irmãos. Na infância, por volta dos 5 anos, quando adultos próximos me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, eu respondia que queria ser Padre. Minha família é originalmente católica, porém atualmente, alguns de meus irmãos frequentam igrejas evangélicas. Em 1980 minha família se estabeleceu em Joinville, Santa Catarina, minha cidade atual. Aos 10 anos costumava ler regularmente um Novo Testamento bem antigo que meu pai tinha, acho que era de 1956. Assim, desde criança sempre tive um grande interesse pela Bíblia. E na escola eu me destacava em história e geografia, que não são matérias que medem a inteligência do aluno, como matemática por exemplo. Porém, demonstra o interesse da pessoa no campo humanístico e pelo ser humano, acredito. Certa vez, já com doze anos, encontrei o livro Meu Livro de Histórias Bíblicas, publicado pelas Testemunhas de Jeová, na casa da noiva de meu irmão mais velho e peguei emprestado para ler em casa. Na época não associei o livro à organização religiosa Testemunhas de Jeová. Mas anos depois, lembro-me que os membros de minha família se escondiam em casa, fechando portas e janelas para não falarem com as Testemunhas de Jeová durante suas pregações de casa em casa. Com o passar do tempo eu passei a atendê-los. Mas nunca me ofereceram um estudo bíblico. Nós éramos bem pobrezinhos na época. Nossa casa era a mais feia da rua e foi assim por muito tempo, até meus irmãos começarem a ajudar trabalhando fora (a casa era o que chamamos no Brasil meia-água, de madeira velha, remendada, sem forro e com o soalho de madeira suspenso em pilares de pedras sobrepostas). Por volta desta época minha mãe se separou de meu pai e ficamos um tempo com ele nesta casa, enquanto ela morava sozinha e pagava aluguel em pensões. Depois de alguns anos eles fizeram uma troca: minha mãe ficou connosco e meu pai saiu de casa. E assim ficou até todos os filhos casarem. Passado tempo, já com 21 anos, havia um jovem Testemunha de Jeová no setor da empresa em que eu trabalhava. Ele iniciou três estudos bíblicos com seus colegas de serviço, inclusive comigo. O estudo era através do livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra e durante as sessões de estudo meu instrutor ficou encantado o quão eu abria ligeiramente a Bíblia durante as citações dos textos, de maneira bem natural e até antes dele, em diversas ocasiões. Ele me convidou para estudar em sua casa onde conheci sua irmã e sua mãe. Com o tempo, depois de meu batismo, nos encontrávamos apenas nas assembleias e congressos quando "nos esbarrávamos", e aí, "jurávamos" um para o outro que éramos os melhores amigos. Porém, quando ele casou, não me convidou para seu casamento e eu também, quando casei, não o convidei para o meu. Mas não tive nenhuma intenção de retaliação, foi apenas a constatação de que não éramos tão íntimos assim. As Testemunhas de Jeová têm uma grande dificuldade em cultivar amizades verdadeiras dentro de sua organização religiosa. E isto acontece por dois motivos principais: estarem sobrecarregadas com os procedimentos e rotinas da organização à qual pertencem; e acreditarem que durante o paraíso na Terra terão todo o tempo para fazerem isto; tornando assim a salutar convivência com amigos uma atividade secundária, ou algo que até mesmo os aflige em suas consciências, por acreditarem que estão “roubando" tempo que pertence a Jeová, no caso de alguns. Talvez alguma Testemunha de Jeová ao ler isto fique contrariada achando ser um exagero meu. Porém esta é minha impressão, depois de ter passado 25 anos entre eles e sendo um deles. Voltando ao estudo, meu instrutor começou a convidar-me para assistir às reuniões. Como eu demonstrava interesse mas procrastinava, ele resolveu levar-me em seu carro até o Salão do Reino mais próximo de minha casa e participar comigo na reunião, já que não era a congregação que ele frequentava. Feito isto, fiquei maravilhado com o formato da reunião que permitia a participação da assistência e com as "demonstrações de amor" que recebi através das boas-vindas e aparente interesse. Atenção coletiva que eu jamais havia recebido em minha vida. Bom… entusiasmado, comecei a participar em todas as reuniões. E ia sozinho, já que meu instrutor era de outra congregação, como dito antes. A gente se conversava no trabalho e nas sessões de estudo. Passado uns meses, meu instrutor me aconselhou a procurar um outro instrutor na congregação que eu frequentava, para o meu "progresso", segundo ele. Como eu era confiante em minha noção bíblica e estava acreditando que encontrara a verdade nesta organização religiosa, verdade esta que seria o correto entendimento dos textos bíblicos, eu simplesmente perguntei para um outro jovem que tinha uma aparência bem humilde, se ele poderia ser meu instrutor. Ao que ele aceitou. Com o tempo desenvolvemos uma boa afinidade. Ele morava com a mãe e com o pai que tinha criado ódio pela Sociedade Torre de Vigia (STV), por causa da falsa profecia de 1975. Era uma pessoa bem verdadeira, simples, sem nenhum tipo de orgulho prejudicial. Porém, passado algum tempo, um ancião me criticou dizendo que eu era um "estudante importante" e devia ter pedido que um ancião dirigisse estudo para mim. Mas eu encarava este “estudo bíblico” apenas como uma questão de ler os parágrafos e responder corretamente às perguntas ao pé da página. E se quisesse mais conhecimento era só ler as publicações por conta. Enfim, todo o tempo em que estive na organização, nunca confiei no conhecimento pessoal de ninguém. Sempre acreditei que devido as publicações estarem disponíveis para todos, era só uma questão de ler e pesquisar, que qualquer necessidade seria suprida; afinal, já estava acreditando que tudo que saía do Corpo Governante em matéria de ensino era "abençoado por Jeová"; o chamado "alimento espiritual". Pensar assim, com o tempo, gerou atritos com os anciãos nas congregações diferentes às quais servi; pois alguns deles me encaravam como orgulhoso e desejoso de mostrar que tinha mais conhecimento do que eles, querendo-os rebaixar perante a congregação. Certa vez numa conversa pessoal, um ancião reclamou que eu nunca perguntava nada para eles, e isto era sinal, na sua maneira de ver, de que eu não respeitava a posição deles. Na verdade, sempre respeitei os anciãos como pessoas. Também os respeitava por sua posição na organização, que eu acreditava piamente ter a bênção de Deus. Tanto é que anos à frente, quando veio minha designação para ancião, eu rejeitei tal designação por não acreditar que estava habilitado para ocupar uma posição que "Pedro, Tiago, João e Paulo ocupavam", pois nem sequer fazia a tão incentivada "Adoração em Família"! Na verdade, nesta época sequer preparava as reuniões, pois as coisas eram tão repetitivas, que ao bater os olhos, qualquer pessoa mediana já se inteirava completamente do assunto! À medida que os meses avançavam, eu assimilava cada vez mais o ensino do Corpo Governante e me batizei em pouco tempo, uns 8 meses depois do início do estudo bíblico. Imediatamente procurei estar presente em todas as saídas de pregação possíveis. Lembro-me até que certo ancião tentou incutir alguma moderação em mim, por me dizer reservadamente: "Ronildo, você não precisa vir em todas as saídas de campo!" Mas era este o teor do ensino oficial? Qual conselho um publicador recém-batizado que quer "servir a Jeová" vai acatar? O que está claro nas publicações e deve ser seguido sem questionar, vindo diretamente da liderança da organização, sendo que ele acredita piamente ser a "organização de Jeová? Ou seria seguir o conselho contraditório disto vindo de um ancião local? Deveras, apesar de atualmente o Corpo Governante ter suavizado a linguagem nas publicações oficiais da STV, em todo o período em que eu estive dentro de tal organização religiosa, a ordem era: "Trabalhe arduamente como escravo para Jeová", "Não se poupe", "Dê prioridade para o Reino", e imperativos semelhantes; tanto no folhetim Nosso Ministério do Reino como na revista A Sentinela. Um dos textos mais lidos e ouvidos durante este período foi o de 1 Coríntios 15:58, onde se incita a "ser constante, inabalável, tendo sempre bastante para fazer na obra do Senhor". A essência disto tudo não está errada, o problema é quando há manipulação das Escrituras para fazer as pessoas acreditarem que alguma organização humana é a organização de Jeová na Terra; que é exatamente o que a STV faz ao explicar a parábola do "escravo fiel e discreto" em Mateus capítulo 24:45-51. Estas palavras de Jesus Cristo são uma parábola para explicar a atitude que todos aqueles que professam a fé cristã devem manter, para terem a desejada aprovação dele na sua volta. Absolutamente, não significa uma profecia na qual Jesus profetiza o aparecimento de uma entidade que controlaria a fé cristã de todos os que seriam aprovados por Deus no tempo do fim, como ensina a STV. A fé cristã, portanto, pela vontade de Deus, não deve ser algo controlado por alguma instituição humana. Antes, é a expressão da fé por intermédio de Jesus Cristo que se torna uma prática de vida, de acordo com cada consciência individual, segundo o conhecimento que se tem dos preceitos básicos. Afinal, o julgamento também será individual! Assim, cabe a cada cristão escolher qual ajuntamento satisfaz melhor suas preferências, levando em consideração que há atualmente a operação de grande apostasia no meio "cristão", conforme prevista tanto por Jesus como pelos apóstolos. De tal maneira que alguns até mesmo se refreiam em procurar alguma comunidade cristã para interagir. Uma coisa que pode ajudar o cristão nesta busca ou lhe proporcionar um estado de contentamento é saber que o principal na vida cristã é a prática do amor e do bem. E que, no final de contas, é isto que Deus julgará em nós: se praticámos o amor e o bem ao próximo. Assim, o "conhecimento de Deus" que as instituições religiosas humanas propagam ter é praticamente vão e pode até mesmo ser maléfico como no caso da STV, que ao fim e ao cabo leva seus seguidores a serem meros escravos dela mesma, tendo como seu Senhor e Amo o Corpo Governante. Infelizmente também tenho notado que em muitas igrejas evangélicas os pastores também têm-se auto-intitulado sacerdotes, coisa completamente desnecessária no cristianismo pregado por Cristo e os Apóstolos, onde todos seriam irmãos. Na verdade, as diretrizes deixadas por Cristo excluem a necessidade de se agregar a grandes corporações religiosas, pois Cristo disse que onde houvessem 2 ou 3 reunidos em seu nome, Ele estaria no meio deles. Em meu caso, já no início de minha escravidão à Torre de Vigia, fiz grandes sacrifícios para estar de acordo com os preceitos da literatura oficial e suas regras. Em meu segundo ano abandonei o curso de técnico mecânico relacionado à profissão que eu exercia naquela época, para me concentrar nas necessidades da congregação, deixando assim a minha vida profissional de lado. Naquele tempo, parecia para todas as TJ que o fim era eminente. Lembro-me que em 1994, quando o Brasil foi campeão da Copa do Mundo nos EUA, falei com desdém para um colega de serviço que talvez não teríamos outra Copa, pois o fim poderia vir antes. Anos mais tarde, quando houve um corte na empresa em que eu trabalhava, não me aproveitei do fato de ter um problema de saúde para assegurar o emprego. Fiquei até feliz de ter sido despedido, apesar do bom salário que ganhava e cuja renda minha própria família necessitava bastante, pois agora tinha três sobrinhos que moravam connosco. Via isso como oportunidade de ter mais tempo disponível para a congregação. Por isto, todo feliz e convicto, fui entregar jornal, atividade que me permitia pregar de manhã e de tarde. Assim passei a servir como pioneiro regular, cujo requisito eram 90 horas mensais. Felizmente em 1997 passei em um concurso público e me tornei servidor municipal, mas continuei como pioneiro regular. A alienação parental que o ensino da STV causa é muito forte. Afinal de contas, este ensino faz a separação entre "os que servem a Jeová" e os que "não servem a Jeová". Consequentemente a pessoa simplesmente começa a amar menos os membros da família que "não servem a Jeová". Muitas vezes, encarando-os como um estorvo na vida "espiritual" e que impede que se sirva "mais plenamente à Jeová". Este sentimento permeou muitas vezes a minha mente, visto que demorei para casar e nenhum membro de minha família adotou as crenças das Testemunhas de Jeová. Graças a Deus! Com o tempo, felizmente, me libertei destes sentimentos causados pela dissonância cognitiva gerada pelo ensino do Corpo Governante. Consegui esta libertação através da leitura das obras "Crise de Consciência" e "Em Busca da Liberdade Cristã", onde o autor, Raymond Franz (ex-membro deste grupo religioso e ex-membro do Corpo Governante), através da Bíblia nos ajuda a compreender o caráter individual da fé cristã (no sentido da instrução ser dirigida à pessoa e não a um grupo, como é o caso da Lei Mosaica) e os fundamentos da liberdade prometida por Cristo. Claro, na verdade deveríamos compreender estas coisas tão fundamentais por simplesmente meditar nos ensinos de Jesus Cristo: o "Caminho, a Verdade e a Vida". Foi Jesus Cristo quem deixou o ensino perfeito como modelo a ser seguido por todo aquele que quiser declarar as Boas Novas do Único Deus Verdadeiro, seu Pai e que também pode ser nosso Pai. E como Raymond Franz usou esta base, a libertação na verdade procedeu de Cristo. Passados 25 anos servindo a STV e acreditando que o Corpo Governante era credenciado por Deus, finalmente fiquei ciente que tudo isto tratava-se tão somente de medonha escravização humana, efetuada através do controle da informação e distorção da mensagem bíblica. Sabendo disto, parei de ir às reuniões em 2015. Como trabalhava com um casal de TJ, fui denunciado que não mais acreditava no Corpo Governante. E depois de um tempo recebi em meu portão a visita de um ancião para sondar meus pensamentos. Inclusive moro ao lado do Salão do Reino.
Depois da conversa, que foi breve e na qual eu não me comprometi em nada, ele solicitou que eu recebesse a visita de dois anciãos, dele juntamente com outro. Até perguntei: "E se eu não quiser?" Ao que ele respondeu: "Mas porquê você não receberia seus amigos em sua casa Ronildo?" Então marcamos a visita e esta visita acabou por resultar numa comissão judicativa, que é uma reunião que os anciãos das TJ fazem com o objetivo de avaliar se vão expulsar ou não determinado membro devido à violação de alguma das suas muitas regras ou, como no meu caso, com base em discordância doutrinal em relação ao que a organização ensina e que é catalogado como sendo "apostasia". Tanto a reunião com os dois anciãos, como a comissão judicativa, foram gravadas por mim e estão disponíveis de seguida, para que as pessoas possam avaliar o que estaria mais próximo do verdadeiro cristianismo: os métodos e o ensino da STV e de seu Corpo Governante, ou a visão cristã daqueles que se opõem a estes métodos e ensinos de tal organização religiosa. Ronildo Araújo ______________________ Ouça aqui os áudios referidos no artigo:
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Testemunhos,Aqui você terá acesso a testemunhos de vários irmãos em Jesus, filhos do Senhor Jeová Deus, os quais têm vindo a libertar-se da religião... Categorias,
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