Venho por este meio manifestar o meu desejo de me desligar oficialmente da religião Testemunhas de Jeová. Da mesma forma que manifestei a minha dedicação a Jeová publicamente por meio do batismo, manifesto agora publicamente a minha saída da organização Torre de vigia, por meio das redes sociais. Esta carta foi escrita com um senso de obrigação para com pessoas que amo sinceramente e explicar os motivos da minha dissociação. Quero deixar claro que tomei esta decisão de 'pés assentes na terra'. Não foi uma decisão impulsiva, por rebeldia ou para ter 'liberdade'. Explicarei os motivos da minha saída, à medida que conto um pouco da minha história como testemunha de Jeová. Não queria mencionar pontos sobre mágoas passadas, mas isso é impossível devido as seqüelas que ainda carrego. Nasci em Guimarães, 17 de Fevereiro de 1997. A minha família já era testemunha de Jeová, então educaram-me como uma. Até aos meus 14 anos praticava a religião porque isso me tinha sido ensinado. Era a realidade que conhecia. A partir dessa idade tive duas instrutoras que se empenharam 100% no meu crescimento espiritual. Fui interiorizando os ensinamentos e cada vez mais acreditava que realmente estava 'na verdade'. Tornei-me uma jovem devota e empenhada. Na escola defendia as minhas crenças com todo o coração, mesmo sofrendo muito bullying por parte de colegas e professores (desde o infantário). Isso deixou cicatrizes profundas em mim. Na congregação era a menina exemplar. O amor que eu tinha por 'Jeová' e pela sua organização era evidente. Fui batizada em Julho de 2014. As minhas férias escolares passaram a ser 5 dias por semana, 8h por dia na pregação. Servi como pioneira auxiliar algumas vezes. Fazia isso com todo o prazer, pois acreditava que estava a fazer um trabalho para Deus e que estava a ajudar as pessoas. Era admirada e elogiada por todos na congregação. Até que em 2016 descobri que tinha um câncer. A partir daí a minha vida nunca mais foi a mesma. Emagreci 20kg,fiquei fraca e deprimida. Comecei a sofrer muito com dores no corpo. Cada passo, cada respiração, era uma luta. Mas mesmo assim continuava a fazer o meu melhor para Jeová. Claro que a minha atividade diminuiu muito. Mas fazia o meu melhor e tinha a certeza que Deus via e iria me apoiar. Bem, na congregação as coisas começaram a mudar. Comecei a ser chamada à atenção por fazer poucas horas no serviço de pregação ou por às vezes faltar às reuniões. As únicas visitas que recebi, foram de pastoreio. Comecei a ser julgada por ir passear ou tirar fotos quando estava um pouco melhor. "Tás a passear, postas fotos toda bonita, mas não vais à pregação!" Perdi a conta às vezes que ouvi esse tipo de comentários. Quando precisei de ajuda num assunto hospitalar, recorri aos anciãos. Mas a resposta foi que não podiam fazer nada. Só se fosse uma situação de transfusão de sangue. Isso claramente mexeu muito comigo, mas pensei : "Não fiques zangada. As pessoas são imperfeitas. Mas confia em Jeová que ele vai cuidar de ti". Mantive a fé e a esperança. Mas começava a perguntar se aquele era o amor que Jesus pregou em João 13:35 "Por meio disto todos saberão que são meus discípulos: se tiverem amor entre vocês.” Em 2019 passei por uma comissão judicativa por fornicação. Posso dizer que foi uma das experiências mais humilhantes que já vivi. O sentimento de culpa era imenso. Eu era uma jovem ingénua e estava arrasada. Estar fechada numa sala, com 3 homens, que apesar de usarem a Bíblia e vozes meigas, me fizeram sentir a maior vergonha do mundo. " Em que posições tiveram relações? Masturbavam-se? Usavam linguagem inapropriada?" etc. Isso acendeu uma luz vermelha na minha cabeça. Aquilo não era correto. Não fui desassociada, não porque estava arrependida, mas porque não estava grávida e porque a minha desassociação ia manchar o nome de Jeová, visto que eu era tão exemplar. Fiz de tudo para me redimir e voltar a ter os meus privilégios. Mas nessa altura muitas dúvidas já tinham surgindo na minha cabeça. Mas varria esses pensamentos para baixo do tapete porque achava que era obra do diabo para me afastar da organização de Deus. Entretanto surgiu a pandemia, os salões foram fechados e a minha saúde só piorava. Assistia às reuniões por zoom e pregava por carta, muitas vezes sozinha porque não conseguia assistir à saída e às minhas dores eram demasiado imprevisíveis para marcar com alguém. Continuava a orar e a fazer o meu estudo pessoal. Só não ligava a câmara nas reuniões por estar demasiado fraca ou com muitas dores. Mas mesmo assistindo à reunião deitada, comentava na mesma. Mas isso não era suficiente. Por muito que eu explicasse a situação, insistiam para eu ligar a câmara. O meu último relatório foi em Junho de 2021. O meu máximo foram 30min. Mas disseram que era inadmissível e que teriam de se reunir para ver se aceitavam. Mais uma vez percebi que aquilo não era o amor que Jesus demonstrou. Mesmo assim continuava a defender a organização. Mais dúvidas foram surgindo. Mas em vez de as afastar, segui o conselho encontrado em 1 João 4:1: "Amados, não acreditem em toda declaração inspirada, mas ponham à prova as declarações inspiradas para ver se elas se originam de Deus, pois muitos falsos profetas saíram pelo mundo afora." Mas a verdade é que quanto mais aprofundava as pesquisas, menos respostas tinha. Via demasiadas incoerências e ensinos não bíblicos ( a recusa em receber transfusões de sangue, a desassociação, a regra das duas testemunhas em casos de abuso sexual etc). Ficou cada vez mais claro para mim que o corpo governante não é inspirado por Deus e que esta não poderia ser a" única religião verdadeira "(pesquisa feita exclusivamente no site jw.org e nas publicações que tinha em casa). Foi extremamente doloroso perceber que tudo o que aprendi e defendi, não passavam de mentiras. Então, aos poucos fui me afastando. Fui deixando de pregar e de ir às reuniões. A verdade é que não escrevi a carta nessa altura porque não queria perder as pessoas que amo. O que é inevitável. Quando a minha família descobriu foi um desastre. Vi ódio, raiva e maldade em pessoas que tão próximas. Perdi familiares e amigos. E mais uma vez vi que " o amor que nunca acaba", na verdade nunca existiu. Vi que era impossível um Deus de amor orientar pessoas a escrever coisas como:
Quando Jesus disse precisamente o contrário. “Mas digo a todos os que me estão a escutar: Continuem a amar os vossos inimigos, a fazer o bem aos que vos odeiam..." Lucas 6:27 Depois de tudo isto, e com todas as pesquisas que fiz, encontrei muitos e muitos motivos para nunca mais querer fazer parte desta organização religiosa. Para finalizar, quero mencionar que não quero ser contactada por qualquer representante da Torre de Vigia com o objetivo de voltar à organização. Atenciosamente, Abigail Sá
0 Comments
|
Testemunhos,Aqui você terá acesso a testemunhos de vários irmãos em Jesus, filhos do Senhor Jeová Deus, os quais têm vindo a libertar-se da religião... Categorias,
All
|