 por Jonas HR Moestrup Ela criou os seus filhos para rejeitarem os apóstatas. Agora ela mesma é uma apóstata e luta para que as crianças aceitem sua escolha. Maria Alexander estava sentada diante de duas crianças pequenas à mesa de jantar e era suposto irem jantar. Assim que ela estava prestes a dar sua primeira dentada, seu filho de 13 anos a interrompeu. – Podemos primeiro dizer a oração? – Você pode querer fazê-lo, mas eu não quero – respondeu Maria Alexander. – Mas mãe, por que você não pensa mais em Deus? – Perguntou a sua filha de 11 anos. Alguns meses antes, Maria Alexander fizera uma escolha que seus filhos tinham dificuldade em aceitar. Repetidamente, eles mencionavam isso quando estavam com a mãe. Ela não quer mais seguir a palavra de Deus. – Isso significa que você vai morrer. Você vai morrer no Armagedom – disse o filho. É assim que Maria Alexander se lembra do diálogo à mesa de jantar num dia de primavera em 2015. Não foi a noite aconchegante que ela esperava. Terminou numa briga e ela chegou ao seu limite. Ela disse aos seus filhos que tinham sofrido lavagem cerebral. Ela tentou levá-los a entender o mundo como ela o via agora. Pouco depois, seus filhos foram levados pelo pai deles. Um ano se passou antes que Mary Alexander os visse novamente. “Embora isso possa ser muito difícil, devemos evitar contato desnecessário com um membro da família desassociado.” – Texto das Testemunhas de Jeová  Maria Alexander | Photo: Kaare Breiner / TV 2 Maria Alexander tem 47 anos. Ela passou os primeiros 43 anos de sua vida na organização religiosa mundial das Testemunhas de Jeová. Esta é a história de Maria Alexander, da qual ela lembra sua vida antes, durante e depois da ruptura com as Testemunhas de Jeová.  Como filha de um denominado ancião, um dos principais membros da congregação, Maria Alexander cresceu numa casa em Ishøj, que ela mesma descreve como segura e boa. Mas a vida dela não era como a maioria dos outros pares. _________________________________________________________________ QUEM SÃO OS 'ANCIÃOS'? "Jeová confiou aos anciãos a responsabilidade de cuidar de suas preciosas ovelhas." Veja como o papel dos anciãos é brevemente descrito no manual interno das Testemunhas de Jeová para os anciãos chamado "Pastoreiem o rebanho de Deus". Cada congregação tem um conselho de anciãos com vários anciãos juntos. Eles são líderes da congregação e orientam as Testemunhas de Jeová em todos os aspectos da vida para que os membros sigam as instruções de Deus. Somente homens podem ser nomeados como anciãos. Os anciãos estabelecem conselhos "legais" para investigar e julgar tudo, desde o fumo até o adultério e o assassinato. Fonte: Manual interno para anciãos "Pastoreim o rebanho de Deus" _________________________________________________________________ Quando criança, ela não podia ter colegas em casa para brincar, a menos que os colegas frequentassem primeiro os estudos bíblicos. À medida que crescia, mais a religião consumiu sua vida. Quando ela chegava da escola, seu tempo livre era principalmente com estudos bíblicos, trabalho voluntário e reuniões congregacionais. Aniversários, Natal e muitos outros festivais eram proibidos e as Testemunhas de Jeová controlavam grandemente os filmes, livros e outros entretenimentos de que ela precisava para passar o tempo.  O paraíso é para as Testemunhas de Jeová o objetivo final. Aqui não há guerra. Animais e pessoas vivem em harmonia uns com os outros. Foto: JW.org Maria Alexander tinha pena de seus colegas não-crentes. Sem a fé correta, eles não iriam para o paraíso e viveriam uma vida eterna. Ela estava convencida disso. Mesmo que ela fosse feliz na maior parte das vezes, também era uma criação com uma consciência e culpa permanentes, pois apenas um pensamento ou ação errados levavam ao temor do castigo de Deus tanto por eles como por suas famílias. Um castigo que viria na Grande Guerra, o Armagedom, que de acordo com as Testemunhas de Jeová, surgirá em todo o mundo, onde Deus matará todas as pessoas que se recusarem a conhecer a palavra da Bíblia mais sabiamente. Maria Alexander nunca duvidou – em seus breves anos de adolescência – dessa visão do mundo.   Maria Alexandre era uma jovem crente nas Testemunhas de Jeová. Ela passou muito do seu tempo no serviço – espalhando a fé das Testemunhas de Jeová. Foto: Particular À idade de 18 anos, Maria Alexander era casada com um homem ambicioso que se destacou rapidamente entre as fileiras das Testemunhas de Jeová. Ele tornou-se no chamado 'servo ministerial' e depois um 'ancião'. Juntos, tiveram três filhos e Maria Alexander era feliz com a vida que tinha. Ela trabalhou pela primeira vez em muitos anos na indústria de limpeza, mas aos trinta e poucos anos conseguiu um emprego num município. Os colegas em seu novo emprego não faziam parte das Testemunhas de Jeová, e esse foi seu primeiro encontro real com o mundo exterior em sua vida adulta. Ela começou a refletir sobre sua própria percepção do mundo. A dúvida veio gradualmente. Pois como poderia ser que Deus puniria essas pessoas doces e boas? Matá-los? Não era o Deus misericordioso que ela conhecia. Os anos se passaram e ela tornou-se amiga de mais pessoas fora das Testemunhas de Jeová. Quando ela perguntou ao marido ou a outros na congregação, eles não puderam dar uma resposta significativa como Deus poderia punir essas pessoas. A dúvida tornou-se primordial, mas ela sabia o que poderia significar se ela deixasse sua religião. Ela desenvolveu o que ela mesma descreve como um transtorno do pânico. Tudo em seu corpo lutava quando ela ia às reuniões congregacionais. As palavras soaram vazias. Elas não se encaixam com a realidade. Não fazia mais sentido algum. Mas ela poderia viver com as consequências? “A desassociação ajuda a proteger a pureza da congregação” – Texto das Testemunhas de Jeová A conversa que mudou tudo Numa noite quente de verão, há pouco mais de seis anos, Maria Alexander e seu marido sentaram-se e beberam um copo de vinho em sua casa em Faxe Ladeplads, enquanto as crianças brincavam em seus quartos. Ela se lembra dele tentando convencê-la a voltar às reuniões congregacionais a que ela não ia há meses. – Estou começando a ver que há algo errado aqui. Há algo errado com esta organização – disse Maria Alexander. _________________________________________________________________ QUEM SÃO TESTEMUNHAS DE JEOVÁ?
Fonte: JW.org _________________________________________________________________ Seu marido achava que ela se tornara espiritualmente fraca. Que, ao comparecer às reuniões, ela poderia recuperar o amor de Jeová. – Você sabe uma coisa? Eu gostaria de saber quem você mais ama: eu ou Jeová – Maria Alexander perguntou. Ela sabia bem a resposta, mas ela queria ouvir da boca dele. A resposta foi Jeová. "Então eu quero o divórcio" – disse ela. É assim que Maria Alexander se lembra da conversa que se tornou um ponto de virada para ela. Ela tomou sua decisão. Ela não faria mais parte das Testemunhas de Jeová. Seu filho mais velho se distanciou no momento em que tomou conhecimento da decisão da sua mãe. Logo o resto da família também começou a virar as costas para ela. Mas ela estava convencida de que ainda poderia ter contato com seus dois filhos mais novos.  Maria Alexander, membro das Testemunhas de Jeová, frequentemente comparecia a uma reunião familiar. Aqui com a filha dela à esquerda. Foto: Foto Privada – Você acha que eu sou uma mãe malvada? Após o divórcio em 2014, Maria Alexander mudou-se para uma pequena casa em Faxe Ladeplads – perto da casa do ex-marido, assim ela estava perto de seus filhos. Ela havia declarado claramente à congregação que ela não fazia mais parte das Testemunhas de Jeová, mas continuaram a procurá-la. Um dia, seus dois filhos mais novos voltaram para a sua casa depois de ficarem com o pai por sete dias. Eles vieram dançando na porta e abraçaram a mãe. Dez minutos depois, a campainha tocou. Havia dois homens bem vestidos à porta. Dois anciãos da congregação local. Eles pediram a Maria Alexander para voltar para as reuniões. Eles a avisaram que ela não sobreviveria ao Armagedom. Ela ficou com raiva e bateu a porta. Eles não deveriam interferir em sua vida, ela pensou. Quando ela se virou, viu seu filho chorando. Ele ouvira a conversa com os anciãos que o deixou abalado. – Mãe, foi o que eu já disse. Você vai morrer no Armagedom – Maria Alexander se lembra dele dizendo. Ela o abraçou e disse calmamente: – Você acha que eu sou uma mãe malvada? – Não. – Você acha que Jeová vai-me matar? – Não, mas você não acredita mais em Jeová. "Se Jeová existe, ele não me matará", disse Mary Alexander. Nas duas vezes seguintes, quando ela tinha os filhos em sua casa, os anciãos vieram novamente. Eles só pararam quando ela ameaçou chamar a polícia. Alguns meses depois, um conjunto de anciãos a desassociaram por ter estado com outro homem. Ela perdeu todo o contato com a família e amigos. Mas ela estava ansiosa para manter contato com seus filhos. “Os membros da família podem demonstrar seu amor pela congregação e pelo ofensor respeitando o arranjo da desassociação.” – Texto das Testemunhas de Jeová Exige respostas dos anciãos Depois da noite à mesa de jantar, que terminou em briga, um ano se passou antes que ela visse seus filhos novamente. Ninguém recusou diretamente que os visse – foi a escolha deles. Segundo ela, as crianças não podiam aceitar que sua mãe tivesse escolhido uma vida no mundo mundano em detrimento da religião. Ela enviava mensagens de texto praticamente todos os dias, mas na maioria das vezes não havia resposta. As crianças não estavam interessadas em conversar com ela. Às vezes eles se encontravam, mas nunca chegava a mais do que isso.  Maria Alexander diz que ela mesma educou seus filhos para que eles não tivessem contato com membros desassociados. Vídeo: Kim Hess Era difícil aceitar que as crianças não fizessem mais parte de sua vida. Mas ela ainda tinha a esperança de que um dia voltariam para casa. Ao mesmo tempo, ela ficou zangada e se sentiu impotente porque sentiu que as crianças eram influenciadas pelas Testemunhas de Jeová. Que foi a organização, os anciãos, a congregação e sua própria família que influenciaram as crianças a expulsar sua própria mãe. Ela exigiu respostas dos próprios anciãos e decidiu ir à congregação onde costumava comparecer. Aqui ela também esperava ter um vislumbre de seus filhos.   Revista Principal das Testemunhas de Jeová, A Sentinela. Neste lançamento de 2012 você pode ler sobre o Dia do Juízo Final, Armageddon. Foto: jw.org Desassociação é igual ao amor As Testemunhas de Jeová na Dinamarca e no resto do mundo são governadas pelo chamado Corpo Governante de Nova York. A partir daqui, o material – ambos os textos, revistas e filmes – é produzido e enviado para as filiais em vários países que traduzem o material para as línguas locais. Isso se aplica, entre outras coisas, às revistas conhecidas como 'Despertai!' e 'A Sentinela', que são frequentemente distribuídas na rua e nos endereços particulares das pessoas. O material é sobre como viver de acordo com as Testemunhas de Jeová e abrange quase todos os aspectos da vida. Quando os membros se reúnem em sua congregação, eles contam uns aos outros o que leram. Um dos pontos-chave é que as Testemunhas de Jeová não devem se associar com os apóstatas – porque eles ativamente renunciaram à palavra de Deus. Por exemplo, em vários textos das Testemunhas de Jeová, diz:
Regras que a própria Maria Alexander foi treinada e passou para seus filhos. Ela, portanto, culpou a si mesma porque seus filhos não queriam nada com ela. Mas ela também culpou a inteira organização que, com suas palavras, fez uma lavagem cerebral em seus membros.  No outono de 2018, Maria Alexandre sentou-se em uma das cadeiras ao fundo do Salão do Reino – o Salão de Assembleias das Testemunhas de Jeová – que costuma estar próximo ao Faxe. Foi a primeira vez desde que um ataque de pânico a fez ficar afastada das reuniões há mais de seis anos. Ela foi recebida por vários anteriores amigos e filhos quando chegou. Amigáveis, mas formalmente saudada de volta. A reunião começou. Vários oradores subiram ao palco e leram textos selecionados. O coração de Maria Alexandre bateu forte. Toda a congregação sentou-se e aceitou tudo o que foi dito e lido dos livros da organização. Mas também estava nervosa com o confronto que planejara. Ela ficou desapontada por não poder ver as crianças em lado nenhum. Mas o ex-marido dela estava lá lá. Ele a ignorou.  Maria Alexander, quando estava grávida da filha, hoje com 15 anos. Foto: Particular Quando a reunião terminou, Maria Alexander foi até um ancião de casaco cinza e gravata listrada. Foi um dos anciãos que ajudou a expulsá-la há menos de quatro anos. Relutantemente, ele concordou que ela lhe fizesse algumas perguntas. Ele parecia tenso. Eles entraram em uma sala pequena e fecharam a porta. "E o que você quer dizer, Maria?" – Ele disse com os braços cruzados. – Eu preciso saber se você tem insistido para que meus filhos não tenham contato comigo? "Não", respondeu o ancião. - Não é assim que eu vejo. - Não. Não temos nada a ver com isso. Nós não interferimos nisso. Não havia nada a tirar da conversa. Mas não foi surpreendente. Na verdade, Maria Alexander ficou aliviada. Pois, embora as crianças não tivessem ido à reunião e o ancião não respondesse à sua pergunta em profundidade, ela sentiu que havia progredido. Ela confirmou que fizera a escolha certa. Nunca mais ela voltaria para a organização, ela sentiu que tinha desperdiçado nela 43 anos de sua vida.  A liberdade está acima de tudo Hoje, toda a família de Maria Alexander se recusa a vê-la – tanto seus pais quanto sua irmã lhe viraram as costas. O mesmo se aplica aos seus três filhos. Desde aquela noite à mesa de jantar há quase quatro anos, ela só viu seus dois filhos mais novos algumas vezes. A última vez foi há dois anos e meio, ela diz. Sua filha tem 15 anos hoje e seu filho mais novo tem 17 anos. Seu filho mais velho tem 26 anos. Ela não sabe muito sobre o que está acontecendo em suas vidas, mas às vezes recebe um pouco de conhecimento via SMS, quando as crianças lhe respondem. A perda de seus filhos é uma ferida profunda. Mas Maria Alexander se recusa a retornar às Testemunhas de Jeová para estar com eles. Hoje ela mora com o namorado em Copenhague e construiu uma rede de amigos que ela considera família. – Eu não vou voltar para aquela prisão. Minha liberdade está acima de tudo. Mas claro, eu queria trazer meus filhos. Acho que um dia eles descobrirão que esse mundo lá fora não é perigoso – ela diz. A TV 2 entrou em contato com o ex-marido de Maria Alexander e seu filho mais velho. Nenhum deles quis participar do artigo. As Testemunhas de Jeová não quiseram comentar o artigo. Artigo original: nyheder.tv2.dk/samfund/2019-01-23-forladt-af-sine-boern-de-tror-gud-vil-draebe-hende-i-en-stor-krig?cid=tv2.dk%3AForladt%20af%20sine%20b%C3%B8rn%20-%20de%20tror%2C%20Gud%20vil%20dr%C3%A6be%20hende%20i%20en%20stor%20krig%3Aarticle&fbclid=IwAR39Kxs6AsilBXUhvJfG4lRlVi1yFhF38quPaOO0PBbTTNaDDq4LVLMb_cY
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