Spotlight: O filme que toda a Testemunha de Jeová deveria assistir

Texto traduzido do artigo do site JWSURVEY.

Por Lloyd Evans
"Cedars"


"Ontem à noite, minha esposa e eu pudemos assistir a um filme excepcional – uma daquelas raras experiências cinematográficas que combinam performances emocionantes com uma linha de história envolvente e uma mensagem poderosa.

E é uma mensagem que todas as Testemunhas de Jeová deverão ouvir mais cedo ou mais tarde.

Dirigido por Tom McCarthy, "Spotlight" conta a história de um grupo de jornalistas no Boston Globe cujo excepcional prémio Pullitzer de jornalismo abriu caminho sobre o abuso generalizado de crianças por padres na área de Boston, levando a uma onda de denúncias semelhantes em toda a América e no mundo.

A dedicação, conscienciosidade e tenacidade daqueles jornalistas lá em 2001, quando pouco se sabia sobre o institucional abuso de crianças, está perfeitamente retratado por Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Liev Schreiber, em performances fascinantes.

Stanley Tucci também se destaca no papel de um advogado que é ferozmente protetor de seus clientes que são vítimas de abuso - um papel que lembra Irwin Zalkin ou Rick Simons, que receberam a tarefa de representar as vítimas de abuso de uma hierarquia religiosa igualmente negligente: a Sociedade Torre de Vigia.

De facto, as semelhanças com as mentiras da Torre de Vigia, os subterfúgios e encobrimentos com respeito ao abuso sexual infantil são próximas. Aqueles que, como eu, estão familiarizados com a torrente de casos que vieram à luz desde o veredicto em 2012, no caso Candace Conti, irá facilmente encontrar os paralelos - especialmente o sofrimento tangível daqueles cujas vidas são para sempre marcados por predadores sádicos em cargos de confiança.

Pode ser que um dia um filme similarmente brilhante possa contar a história da má gestão do abuso sexual infantil pela Torre de Vigia. Mas de certa forma, eu acho que Spotlight será ainda uma ferramenta mais poderosa para alertar as Testemunhas de Jeová crentes para o flagelo do abuso sexual dentro de sua fé, porque entrega a sua mensagem sem fazer referência à Torre de Vigia uma única vez.

Claro, eu nunca esperaria que uma família Testemunha doutrinada notasse imediatamente as semelhanças, ou pulasse de sua cadeira gritando "eureka", porque, finalmente, compreendeu a facilidade com que o abuso de crianças pode ser escondido e a dificuldade em descobrir isso.

Mas a beleza de filmes como Spotlight, os premiados com Emmys Going Clear, Meet the Mormons  de Alex Gibney  e dois excelentes documentários de Louis Theroux sobre a Westboro Baptist Church (disponíveis no iTunes), é que eles mantêm a promessa de limpar alguma da névoa na mente da vítima de seitas.

O efeito pode não ser imediato. Pode demorar muitos anos para que a "ficha caia". Mas esses cativantes filmes fazem todas as perguntas certas e podem criar conexões cerebrais onde antes não havia nenhuma.

Não existe nenhuma "varinha de condão" quando se trata de dissolver anos, ou mesmo décadas de camadas de doutrinação em seitas. Mas filmes como Spotlight oferecem um meio único e sutil de plantar sementes que poderão facilitar o processo de despertar o seu ente querido doutrinado ainda mais um pouco.

Não há certamente nada a perder tentando."

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Já tive a oportunidade de ver o filme e "assino por baixo" tudo o que Lloyd Evans afirmou sobre o filme. Embora não se possa comparar o poder que a Igreja Católica tem na sociedade humana, com a influência da Torre de Vigia, ainda assim, os mesmos métodos usados pela Igreja Católica para ocultar os crimes sexuais na sua instituição são em tudo similares aos da Torre de Vigia.

Enquanto ambas procuram passar para fora uma imagem de santidade, caridade e imaculada acção junto dos seus fiéis, na prática o que acontece portas-a-dentro, é o sofrimento de pequenas vidas desfeitas devido aos abusos cometidos contra elas.

Dando protecção aos abusadores e pressionando as vítimas ao silêncio, tais crimes ficam sem punição, perpetuando o ciclo de abusos, de igreja para igreja e de Salão do Reino para Salão do Reino.

A religião é diferente, mas a prática da ocultação é a mesma.

Por,
Ex-Membro das Testemunhas de Jeová,
» Carlos Fernandes (Fb), Portugal (Lisboa