Não é todos os anos que as Testemunhas de Jeová recebem em Portugal um evento da magnitude como o ocorrido no passado fim-de-semana. A cobertura do congresso pelos media iniciou-se ainda na fase dos preparativos, quando o Estádio já havia sido ‘alugado’ para este evento religioso e se começavam a definir os arranjos que, em breve, iriam ser postos em marcha para acomodar milhares de pessoas que segundo as previsões, iriam encher quase por completo o Estádio da Luz, conhecido como “a catedral”. E assim foi! Seria de esperar que a comunicação social não apenas estendesse a passadeira vermelha a este evento, por assim dizer, mas soubesse fazer jornalismo a sério, ou seja, fazer as perguntas incómodas aos dirigentes religiosos que davam a cara por este evento. Desde há alguns poucos anos para cá, tivemos várias reportagens, quer de página impressa, televisiva e online, que deu conta da vivência de pessoas que abandonaram as Testemunhas de Jeová ou que preferiam afastar-se silenciosamente, “sem levantar ondas” por assim dizer, devido a terem sido vítimas de abuso sexual, violência doméstica ou por simples discordância com as doutrinas da organização religiosa. Tais reportagens mostraram o sofrimento psicológico que estas pessoas passaram e ainda passam devido à política draconiana, cruel e desumana da “desassociação”. Mas parece que uma esponja mágica apagou tais informações das pesquisas dos jornalistas e praticamente se centraram no verdadeiro espetáculo impressionante de ver um estádio de futebol cheio de membros de uma confissão religiosa – como se tal, em si, mesmo fosse de algum modo uma espécie de milagre. Nada que uma boa e eficaz organização não conseguisse fazer, fosse ela de cariz religioso ou secular. Esqueceram-se, por exemplo, do que foi revelado pela Comissão Real Australiana ainda há cerca de 1 ano atrás, em que 1006 abusadores foram revelados como tendo sido encobertos e protegidos das autoridades pela filial australiana das Testemunhas de Jeová durante uns 50 anos, seguindo orientações da sede mundial, cujas ordens são para cumprir à risca. Esqueceram-se dos casos mediáticos de abusos sexuais nas Testemunhas de Jeová e falados em todo o mundo, como foi o caso de Candace Conti, em que lhe foi atribuída uma indemnização de mais de 20 milhões de dólares, exatamente porque se provou que a sede mundial foi conivente nos vários abusos perpetrados por Jonathan Kendrick, encobrindo os abusos e permitindo que se mudasse de congregação em congregação sem que os membros soubessem do seu passado. Vários casos desde então têm enchido páginas de jornais e aberto noticiários um pouco por todo o mundo. Mas os media portugueses apenas olharam para o lado bonito deste evento que pretendia celebrar o “amor” que “nunca falha”. Só o título, sendo totalmente incoerente e hipócrita com a prática religiosa das Testemunhas de Jeová com respeito à forma como tratam os ex-membros, já daria para fazer matéria de bradar aos céus – tal é a desumanidade praticada por esta “seita destrutiva” em relação a todos aqueles que são expulsos ou decidem sair de livre vontade. Sim, um grupo religioso que pratica de modo extremista o isolamento de ex-membros, deveria ser chamado a contas pelos media e seus líderes questionados. E tantas perguntas poderiam ser feitas com respeito à violação dos direitos humanos e até mesmo da Constituição portuguesa, quando estes dizem que ninguém pode ser tratado de modo preconceituoso ou ver suas liberdades e garantias negadas apenas por deixar uma religião ou mudar de religião! Que vergonha Srs. jornalistas! Tiveram na mão a oportunidade de fazer perguntas esquadrinhadoras sobre coisas que vão além de palavras bonitas e cânticos melodiosos… poderiam ter questionado os responsáveis das Testemunhas de Jeová sobre a forma como tratam aqueles que, de modo consciente ou por razões de “pecado”, são votados ao abandono e exclusão social por amigos e familiares EXATAMENTE PORQUE OS LÍDERES ASSIM ORIENTAM E PRESSIONAM! Apenas 2 orgãos de comunicação, neste caso a Revista Visão e a rádio Observador viram para além do óbvio e quiseram saber exatamente o que se passava por detrás das cortinas nesta ‘terra de OZ’ religiosa. E não era preciso ir longe! Bastava fazerem uma pesquisa nos fóruns de ex-TJ e grupos de facebook, onde estes ex-membros buscam consolo e apoio emocional. Bastava lerem relatos de como vidas foram para sempre transformadas, apenas porque descobriram os “podres” desta religião e decidiram sair dela de modo oficial. É triste que os media portugueses, na sua generalidade não tivesse estado mais atentos e dispostos a confrontar os líderes deste grupo sectário com perguntas realmente importantes para a sociedade na qual estão inseridos. Perguntas como fez uma ex-membro das Testemunhas de Jeová, chamada Ana Cláudia, cuja história pode ser lida aqui e que diz no seu depoimento: “conheço a solidão absoluta graças aos que pregam amor incondicional”. Sim, ela também é vítima do “amor que nunca falha” existente nesta seita. As questões dela são pertinentes e deveriam ter sido apresentadas aos dirigentes deste congresso de modo insistente, até que houvesse resposta satisfatória e não respostas evasivas e politicamente corretas como é hábito:
Parece incrível, mas nada disto foi questionado quando já existe tanta informação online sobre tais assuntos menos abonatórios acerca desta religião. Se não se soubesse, parecia que aqui apenas houve uma gigantesca acção de marketing e propaganda por parte dos media ao serviço da Associação das Testemunhas de Jeová. Mas sei que não houve. Não quero acreditar que houve! Foi pior que isso. Foi pura incompetência jornalística. O jornalismo não serve apenas para informar o público daquilo que está à vista de todos. Isso seria um jornalismo redutor. Não! O jornalismo aspira a revelar aquilo que não se vê à partida e que merece ser exposto, o lado oculto daquilo que aparenta ser perfeito, bonito e sem mancha. Porque nada existe sem o outro lado da medalha. Porque todos os ângulos, todos os aspetos e perspetivas merecem ser revelados. Só assim se faz verdadeiro jornalismo, a meu ver. Espero que de uma próxima vez a oportunidade não seja mais uma vez perdida. António Madaleno
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