A página A Verdade é Lógica é fértil em produzir argumentos que ajudem as Testemunhas de Jeová a confiarem nas interpretações da Torre de Vigia e “explicando” para elas certos pormenores que a “organização de Jeová” não lhes explica ou talvez o faça de modo deficiente. A “explicação” seguinte foi colocada para ajudar as TJ a argumentarem sobre a sua interpretação de que Jesus Cristo, o Filho de Deus, é ele mesmo o mais elevado dos anjos, o arcanjo Miguel. Notemos a explicação (a negrito), seguida da resposta: Um simples argumento para provar que Jesus é Miguel: Muitos têm dificuldades em provar que Jesus é Miguel. Embora muitos Trinitários históricos reconheçam esse fato tão claro nas Escrituras, alguns teimosos insistem em fechar os ouvidos. R: A maioria das TJ desconhece que a própria Torre de Vigia já ensinou que Jesus NÃO É Miguel, o Arcanjo. Na edição de novembro de 1879 de A TORRE DE VIGIA DE SIÃO (em inglês) foi dito a respeito de Cristo: “Sua posição é contrastada com o homem e os anjos, porque ele é Senhor de ambos, já que ele tem "toda a autoridade no céu e na terra". Portanto, é dito: “Que todos os anjos de Deus o adorem” [o que deve incluir Miguel, o principal anjo, portanto, Miguel não é o Filho de Deus] e a razão é que ele “por herança obteve um nome mais ilustre do que os deles”. Miguel ou Gabriel talvez sejam nomes maiores do que Jesus, embora Jesus seja grande em sua simplicidade, mas a natureza oficial do Filho do Deus como Salvador e Rei é o legado de seu Pai, e é muito superior ao deles, pois aprouve a Deus que nele habite toda a plenitude. Deus lhe deu um Nome que está acima de todo outro nome para que ao Nome de Jesus se dobre todo joelho tanto no céu como na terra. E “não há qualquer outro nome debaixo dos céus dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos.” (Reimpressões de A Torre de Vigia de Sião, 1919, pág. 48) ” Este entendimento de que Miguel não é Jesus, foi logo abandonado. Em A TORRE DE VIGIA DE SIÃO de junho de 1883 publicou-se o seguinte: “Poderia ser que o chamado de Miguel - o mensageiro principal de Jeová não era outro senão nosso Senhor em sua existência pré-humana? ... Lembramos que Jesus foi chamado de "mensageiro do pacto" (Malaquias 3:1). ... Certamente mensageiro-chefe seria um título adequado para ele. E perguntamos: se ele não era o mensageiro principal, quem seria seu superior? ... Uma declaração das Escrituras pode à primeira vista parecer contrária a essa idéia de que Jesus e o Arcanjo são idênticos Está em Hebreus 1:13: "Mas a qual dos anjos ele alguma vez disse: 'Senta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos como escabelo para o seu pé?”A nenhum dos anjos, respondemos, e sim àquele que está acima, um líder dos anjos - o único filho gerado pelo Pai ... Em Daniel 12:1 a profecia fala sobre o Dia do Senhor e seus eventos – o próprio tempo em que estamos vivendo – o tempo da ressurreição, etc., e em vez de dizer ‘então o Messias estabelecerá o seu reino’, etc., ele diz “Durante aquele tempo Miguel por-se-á de pé [começará a exercer seu poder e domínio] – o GRANDE PRÍNCIPE, etc.”. Concluímos que este Grande Príncipe – Miguel – o mensageiro principal de Jeová, não é outro senão o Senhor da glória, cuja presença estamos proclamando agora.” (Reimpressões de A Torre de Vigia de Sião, pág. 490) Esta interpretação foi introduzida depois em ESTUDOS DAS ESCRITURAS, Vol. I, págs. 148-152. Em paralelo com essa nova ideia – de que Jesus era o mesmo que Miguel – surgiu uma interpretação completamente original, aplicada apenas ao Miguel mencionado no Apocalipse 12:7. Em A TORRE DE VIGIA DE SIÃO de dezembro de 1881 fez-se a alegação completamente bizarra de que Miguel neste texto era o... PAPA! É claro que eles sabiam ser perfeitamente compreensível a necessidade de explicar como o nome de Miguel poderia “ser dado ao Anticristo”. A razão apresentada foi que o nome "Miguel" não é usado literalmente em Apocalipse 12:7, como o é em Daniel 12:1! (Reimpressões de A Torre de Vigia de Sião, pág. 306) A interpretação de que Miguel em Apocalipse 12:7 é o “Papa” foi também expressa no amplamente distribuído livro da Torre de Vigia intitulado O MISTÉRIO CONSUMADO (1917), pág. 188: Tradução: 12:7. E houve uma guerra no céu. – Entre os dois poderes eclesiásticos, a Roma pagã e a Roma papal.Miguel. – “Quem é como Deus,” o Papa. – B275; C62E seus anjos. – Os Bispos. A seguinte é a resposta dada no Catecismo Católico à pergunta, “Quem são os sucessores dos apóstolos?” Resposta: “Os bispos que são corretamente consagrados, e estão em comunhão com o cabeça da Igreja, o Papa.” Esta interpretação foi abandonada no livro Luz, o comentário sobre o Apocalipse que a Torre de Vigia publicou em 1930, escrito por J. F. Rutherford. Neste, há o seguinte comentário para Revelação 12:7: “É o grande Príncipe, Cristo, que começou a guerra contra Satanás, e ele é identificado no sétimo versículo pelo nome de Miguel, o propósito manifesto do qual é chamar a atenção para a profecia corroborativa de Daniel, fornecendo desta maneira duas testemunhas para este importante fato.” (Luz – Livro I, pág. 239) Tendo isto em mente, passemos então à explicação do apologista da página A Verdade é Lógica: Hoje vou mostrar um simples argumento para tal caso. Primeiramente, leiamos Mateus 24:21: "[...] então haverá grande tribulação, tal como nunca ocorreu desde o princípio do mundo até agora, não, nem tampouco ocorrerá de novo". Ao perguntarem a Jesus sobre o sinal de sua presença como rei, ele disse que haveria um tempo de aflição como nunca antes. Esse tempo é conhecido como Grande Tribulação. Aqui temos a primeira premissa do argumento: 1) É Jesus quem reina nos céus enquanto a Grande Tribulação ocorre; Vejamos agora Daniel 12:1: “E durante esse tempo pôr-se-á de pé Miguel, o grande príncipe que está de pé a favor dos filhos de teu povo. E certamente virá a haver um tempo de aflição tal como nunca se fez ocorrer, desde que veio a haver nação até esse tempo". Aqui temos claramente a segunda premissa: 2) É Miguel quem se levanta durante a Grande Tribulação; Assim, argumentamos: 1) Jesus reina nos céus enquanto a Grande Tribulação ocorre;2) Miguel reina nos céus enquanto a Grande Tribulação ocorre;3) Não há dois reis designados por Deus;4) Logo: Miguel é Jesus. R: Parece que para o apologista da Torre de Vigia, Miguel ser chamado de “grande príncipe” por Daniel e estar numa posição de defesa para com o povo de Deus durante o período da Grande Tribulação, forçosamente o identifica como sendo Jesus Cristo, o rei do Reino de Deus nos céus. Ele faz a afirmação: 1) Jesus reina nos céus enquanto a Grande Tribulação ocorre; 2) Miguel reina nos céus enquanto a Grande Tribulação ocorre; 3) Não há dois reis designados por Deus; 4) Logo: Miguel é Jesus. Esta lógica, se é que se pode chamar de “lógica” é extremamente vulnerável. Em primeiro lugar, em nenhuma passagem de Daniel é dito que Miguel “reina”, mas sim que ele se coloca numa posição de defesa. Miguel é chamado de “príncipe” e nada na passagem indica que ele exerce o reinado. Mas será Miguel o ÚNICO princípe celestial? Não! O profeta Daniel demonstra em outra passagem que Miguel tem um estatuto SIMILAR a outras criaturas angélicas: “Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia.” – Daniel 10:13 Notou? UM DOS PRIMEIROS! NÃO O ÚNICO! Será que podemos encaixar aqui a Jesus e dizer que ele é um dos “primeiros príncipes celestiais”? Jamais no Novo Testamento os apóstolos e escritores cristãos sugerem tal coisa. Se Jesus fosse realmente Miguel, o Arcanjo, não teriam os escritores apostólicos, especialmente o apóstolo Paulo, usado tais passagens e aplicado a Jesus Cristo? Mas ele nunca o fez. O Novo Testamento é completamente omisso a esse respeito. Em Judas versículo 9 afirma-se que Miguel “não ousou pronunciar juízo de maldição” contra o Diabo quando este disputava com ele o corpo de Moisés." (Almeida) Dizer que este era o Cristo seria rebaixar o Filho de Deus! Quando estava na terra, Jesus falou enfaticamente contra o Diabo. Em Mateus 4:10, ele ordenou: "Vai-te, Satanás". Se Miguel “não ousou” expressar qualquer condenação contra o Diabo, isso mostra que ele é uma pessoa com autoridade muito menor do que o Filho de Deus. A obra O APOCALIPSE, edição de 1901, escrita pelo pastor luterano J. A. Seiss (Vol. 2, págs. 347-350) Seiss fez os seguintes comentários sobre Revelação 12:7: “Quem, então, é Miguel? Muitos respondem que é o Senhor Jesus Cristo, afirmando que atentaria contra a dignidade e os privilégios de Cristo atribuir tudo o que está implicado aqui a um simples anjo, ainda que exaltado. Embora o Senhor Jesus tenha seus anjos, isso não prova de modo algum que um arcanjo não possa também ter anjos. Satanás tem seus anjos, então por que Miguel também não poderia tê-los? O anjo que se comunicou com Daniel chama Miguel de "um dos príncipes supremos", o que implica a existência de outros com status similar. (Dan 10:13). Ele faz referência a Miguel como ‘ajudando-o’ e não ele ajudando Miguel, o que seria o caso se Miguel fosse a mesma pessoa que o Filho de Deus. Tudo o que é feito por um agente é feito pelo principal; e que Cristo designou anjos para ministrar aqueles que hão de herdar a salvação e para ter uma parte na grande administração que pode apropriadamente ser atribuída a eles, é parte do ensino claro das Escrituras. Miguel é distinto do Filho de Deus no livro de Daniel... O general que conquista uma vitória não é o rei a quem pertence o resultado dessa campanha bem-sucedida. “O arcanjo Miguel” é um dos lados em disputa na questão referente ao "corpo de Moisés” (Judas 9), mas ali se diz sobre ele que ‘não ousou fazer acusação injuriosa contra ele, mas disse: "O Senhor o repreenda!’. Isso mostra uma clara distinção entre Miguel e o Senhor... Jesus podia dizer: “Para trás de mim, Satanás”, mas Miguel não se atreveu a dizer isso... As Escrituras falam muitas vezes sobre o anjo de Jeová, que claramente não é outro senão o Filho unigênito de Deus; mas não há qualquer evidência de que este anjo de Jeová foi alguma vez chamado de Miguel.” Espero que esta breve análise ajude a expôr os fracos argumentos e “lógica” de quem parece não dedicar suficiente tempo para avaliar assuntos bíblicos ou o faz simplesmente na ânsia de reforçar uma crença em que já acredita de antemão. António Madaleno
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