Comunidade Desperta!
  • Início
  • Quem Somos
  • Reflexões
  • Testemunhos
  • Mediateca
  • Notícias
  • Downloads
  • Parceiros
  • Contatos



Carta para a minha mãe

10/7/2019

0 Comments

 
Imagem

Querida mãezinha…

Enquanto escrevo estas palavras, lágrimas escorrem-me pela face. Nunca pensei que um dia teria que escrever uma carta tão dolorosa e tão sentida como esta que agora escrevo.

Mas sinto que devo escrever-lhe o que sinto e que está apertando meu peito e me sufoca a garganta. É um grito mudo de revolta aquilo que sinto, ao perceber como uma fé, uma crença, uma religião, pode separar algo tão divino e precioso como é a relação de uma mãe com sua filha.

Parece que foi ontem, que sentada ao seu colo ouvia falar do amor de Deus pelo seu povo. Um amor descrito na Bíblia como o amor de uma mãe por seus filhos. Um amor incondicional e profundo, capaz de superar até mesmo os atos mais horrendos e cruéis.

Fui criada por você a acreditar que o nosso amor é eterno, que nada o poderia quebrar ou dissolver. Que os laços que nos unem, formados a partir do arranjo divino da família apenas poderiam ser terminados com a morte – e mesmo essa – seria uma interrupção temporária, pois a ressurreição de novo nos voltaria a ter nos braços uma da outra.

Fui criada a acreditar que a religião em que estava e que acreditava de modo absoluto, estava acima de todas as outras na forma de pôr em prática o amor. Quão tola era! Quão ingénua fui! Não via os sinais que me eram passados com frequência, quando via outros serem expulsos da religião. Quando via a cara de horror, choque e tristeza dos irmãos e irmãs na congregação, como se a pessoa cujo nome foi mencionado tivesse morrido – e de facto morreu – para eles.

Confesso que eu também pratiquei esse “amor”… um amor condicional que nos leva a olhar o outro em função da sua crença e da pertença ao mesmo “clube”. Afinal, “se não estás connosco, estás contra nós” era essa a mensagem inculcada vez após vez nas reuniões. Como se o discordar de alguma coisa na religião ou o praticar o pecado tornasse a pessoa indigna de ser um ser humano de pleno direito, alguém que continua a merecer amor, respeito e consideração. E por coisas muitas vezes pequenas! Um cigarro, uma festa de aniversário, coisas que nem sequer vêm mencionadas na Bíblia!

Achava, como tu agora achas, que a justiça divina estava sendo servida na devida proporção do pecado. Que afinal, a culpa do tratamento frio e ostracizador era da pessoa, não nosso. Percebo agora como fui cruel!

Por vezes, é preciso passar pelo mesmo para sentirmos verdadeiramente o que é estar no papel do outro. Muitas vezes só assim percebemos como o homem é mesquinho e cruel, usando Deus e Sua Palavra como arma contra aqueles que discordam das suas interpretações e argumentos falaciosos.

Desde o dia em que fui desassociada que deixaste de falar comigo, não totalmente no início, mas não tardou muito a receber de ti a carta que revelava os teus sentimentos com a declaração final:

“Amo-te muito, mas amo ainda mais o meu Deus Jeová.”

Nessa carta descreveste como te desiludi, como te magoei e como te sentiste enganada por eu “ter virado as costas a Jeová”. Não mãe, não te desiludi. Eu própria me desiludi. Eu própria senti-me magoada e enganada. Não por ti, porque tudo o que fizeste ao me criares nesta religião foi por amor, acreditando que tudo o que fazias era o mais acertado.
​

Eu própria me desiludi, magoei e enganei ao perceber que muito do que me foi ensinado e imposto não passava de uma mentira. Senti-me manipulada por homens que se colocam no lugar de Cristo e de Deus, pretendendo determinar o que é certo e errado, mesmo que isso não venha expresso na Bíblia.

Senti que a minha vida foi uma farsa até agora, uma peça de teatro em que fui levada a representar um papel que não me cabia representar e que nunca pedi para representar. É triste ter que reconhecer que não consegui representar este papel até ao fim, como muitos conseguem fazer. Mas sabes mãe… não consigo ser hipócrita. Não consigo viver uma vida fingindo acreditar em mentiras e ensinos de homens como se fossem de Deus. Simplesmente não consigo!

Eu sei que tu acreditas, que ainda acreditas. Tenho que respeitar. Mas o que não posso respeitar é quando esta religião me tenta roubar aquilo que deveria ser meu por direito: a minha mãe! Aquela que me deu a vida e que deveria demonstrar por mim amor incondicional, respeitando as minhas escolhas – que não necessariamente tem de ser a sua.

Lembraste mãe, como tu mesma saíste de outra religião? Como te trataram os teus pais? Será que eles não respeitaram a tua escolha, por mais que isso lhes custasse? O amor deles os levou a respeitar a tua escolha, mas hoje não tens a capacidade de fazer o mesmo comigo. Eu sei que isso se deve àquilo que te dizem na religião. Eu sei que a formatação lá é enorme e tudo é posto de modo a levar-te a cortar laços comigo e por consequência, com os teus netos.

Sim, porque se tu não queres falar mais comigo, se não mais me reconheces como filha, porque haveriam os meus filhos te reconhecer como avó? Afinal, é só para o que te interessa?

Só quero que te lembres que no dia em que precisares, ninguém, repito… ninguém da religião vai fazer alguma coisa por ti. Se o fizer, será algo temporário porque rapidamente vão perceber que é uma carga difícil de ter e afinal… cada um tem a sua família para cuidar.

Nessa altura, os irmãos que hoje te ensinam a cortar laços comigo e deixar de me falar, vão dizer que eu é que tenho a responsabilidade de cuidar de ti. Nessa altura, dar-te-ão um livre-passe para que possas ficar debaixo dos meus cuidados, debaixo do meu teto. Nessa altura, já poderás comer comigo e ter uma relação normal de mãe e filha.

Mas nessa altura, todo o tempo que agora desperdiças terá sido “queimado”, terá sido preenchido com o vazio criado pela nossa separação. E esse tempo não volta a atrás.

É por isso, mãe, que não mais suporto as declarações hipócritas desta religião dizendo que “o amor nunca falha”. O que mais falha nesta religião é o amor – o verdadeiro amor! Falha porque o amor praticado dentro deste grupo é condicional, mecânico e interesseiro.

É um amor fingido que apenas tenta refletir uma fracção do que o verdadeiro amor é.

É triste perceber como quem nos deu a vida prefira sacrificar o verdadeiro amor em prol de um amor fingido. De um “amor” interesseiro que visa a auto-preservação no dia em que Deus supostamente provocará um holocausto mundial – algo tão ou mais horrível que o Inferno de Fogo que dizes ser um ensino falso e de origem pagã.

Não vês, minha mãe, que estás a desperdiçar os melhores anos da tua vida, em que ainda tens saúde e vitalidade, em prol de uma empresa multi-milionária que te usa como mão-de-obra barata para divulgar o seu “produto”. No dia em que já não precisar de ti, ou melhor, no dia em que já não conseguires produzir o necessário para seres considerada de utilidade para ela, serás descartada como lixo. Terás perdido anos da tua vida e da tua família para nada.

Deus não precisa disso mãe. Não precisa que abdiques de ter-me na tua vida para seres aceite por ele. Seria um Deus mesquinho se fosse assim. Seria um Deus cruel! Não acredito nesse Deus!

Este deus cruel, mesquinho e que separa famílias é um falso deus, construído à imagem dos líderes religiosos que controlam esta corporação religiosa. Será que não vês isso! O Deus de Cristo “é amor”, não ódio e preconceito.

Ao seguires este falso deus, tu também te tornas à sua imagem e semelhança, renunciando à tua família em prol de um desejo egoísta de salvação. E como serás salva, se demonstras falta de amor verdadeiro, mãe? Não foi o apóstolo João que disse que se ‘não amarmos aqueles a quem vemos, como poderíamos amar Aquele a quem não vemos’?

Espero que um dia mudes de ideias a respeito deste tratamento cruel e desumano e reconheças que erraste. Que ainda tenhas tempo de o fazer com qualidade de vida e discernimento, pois a vida passa tão rápido minha mãe. Tão rápido!

Não sei se leste tudo até ao fim. Mas se o fizeste, quero que saibas que te amo muito!
A ti e ao pai, porque eu sei que ele também sofre com esta separação mas não o consegue expressar.

Estarei sempre aqui para ti, porque ao contrário de ti, o meu amor é incondicional!
Desta filha que te ama e que sente saudades!*






*Esta carta é fictícia mas é baseada em inúmeras experiências de ex-Testemunhas de Jeová que passam pela situação do corte de relações familiares em virtude da sua saída da seita. Se for um pai ou mãe que esteja no papel de cortar relações com seus filhos, espero que esta carta o faça refletir. Antes que seja tarde demais.
0 Comments
    Imagem

    Autores,

    » António Madaleno

    Feed RSS

    Categorias,

    Todos
    10 Razões Pelas Quais As Testemunhas De Jeová São Infelizes
    1º Capítulo De APÓSTATA!
    Análise Transacional
    Análise Transacional E As TJ
    Anciãos - Que Atitude Tomarão?
    Ap
    Apologista A Verdade é Lógica E Sua Opinião No Passado
    Após O Aftermath
    Argumento Sobre Miguel
    Argumentum Ad Hominem
    Artigos Da Sentinela Sobre Abuso Sexual
    Boas Novas Das TJ
    Bolo De Aniversário Vs Bolo De Casamento
    Carta Aberta
    Carta Aberta Abuso Sexual
    Carta Aberta Ao CG
    Carta De Apresentação
    Carta Para A Minha Mãe
    Carta Sobre Notícias Falsas
    Carta TJ Holandesa
    Casamentos Fracassados Nas TJ
    "Casar No Senhor"
    Cerca De 1.200 Pessoas Morrem A Cada Ano
    Comemoração Da Morte De Jesus Cristo
    Comentários De Raymond Franz
    Comissão Judicativa Por "fornicação"
    Conhece Nicolas King?
    Coréia Do Norte E A Torre De Vigia
    Corpo Governante - Verdade Ou Opinião?
    Cristão E Depressão
    Desassociação é Bíblica?
    Desonestidade Intelectual
    Dez Pragas
    É Correto Orarmos A Jesus?
    Ensino Das Testemunhas De Jeová E As Crianças
    Examinar A Nossa Religião
    Expôr Os Erros Da Torre
    Fabricando Escravos Religiosos
    Fim Dos Tempos
    "Geração Sobreposta"
    Grande Multidão - Onde Está
    Grupos Tóxicos
    História Racista Da Torre
    Igreja Católica E Nazismo
    Inimigo Por Dizer A Verdade?
    Instituição Que Não Pede Desculpas
    Inteligência E Seitas
    Judas Participou Da Refeição Nocturna Do Senhor?
    Lealdade à Torre De Vigia
    Mensagem A Todos Os Anciãos E Servos Ministeriais
    Mudanças Nas Letras Dos Cânticos
    Natal é De Origem Pagã?
    Nome "Jeová"
    O Arcanjo
    O Arcanjo II
    O Mediador Das TJ
    Opressão Religiosa
    O Que é A Apostasia?
    Os 3 Mitos Da Desassociação
    Os "Estudantes Da Bíblia" Existem
    Os Pactos De Jesus
    Para A Minha Mãe
    Pedofilia Entre As Testemunhas De Jeová
    Pertencer A Uma Religião?
    Pior Congresso De Sempre - Parte 1:
    Porque A Religião Das Testemunhas De Jeová é Insegura Para As Crianças?
    Porque é Diferente O Abuso Sexual Nas TJ
    Pregar Boas Novas E Ajuda Material
    Pregar De Casa Em Casa
    Primeiro Presidente Da Torre De Vigia
    Prisão De Rutherford
    Qual O Sentido De João 6:68?
    Quem Foram As "Testemunhas De Jeová"
    Quem São As "outras Ovelhas"?
    Refutação A Artigo Sobre O Sangue I
    Salvando Milhares Por Ano
    Sangue E As Testemunhas De Jeová
    Sangue E Coronavírus
    Seitas Destrutivas
    Será Que Um Cristão Pode Usar Barba?
    Significado Provérbios 4:18
    Simbolismo E Uso Do Logotipo JW.ORG
    Síndrome Trauma Religioso
    Somos Semelhantes Nas Diferenças
    TJ E A Faculdade
    TJ E Doenças Mentais
    Torre De Vigia Promove Batismo De Crianças
    Uma Religião De Contradições E Hipocrisia
    Um Cristão Pode Ter Uma Arma De Fogo Para Defesa Pessoal?
    Vítima De Desumanização
    Você Pertence A Uma Religião Exclusivista?

Proudly powered by Weebly
  • Início
  • Quem Somos
  • Reflexões
  • Testemunhos
  • Mediateca
  • Notícias
  • Downloads
  • Parceiros
  • Contatos