Os 3 Mitos da Desassociação

Imagem do artigo de estudo da Sentinela de Abril de 2015: "Por que a desassociação é uma provisão amorosa"

Você está desassociado, meu amado? Você agora se sente perdido, despojado e sem rumo? Se assim for, saiba que quando Jesus olha para baixo do céu, ele se sente em relação a você exatamente como ele se sentia em relação às pessoas durante o seu ministério terrestre.

Mateus 9:36 diz respeito dele: "Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor".

Pela sua trajetória de vida, Cristo, nosso exemplo, mostrou-nos como viver. (1 Pedro 2:21). Não há nenhum registro dele repudiar ou rejeitar alguém. Na verdade, ele fez exatamente o oposto, comendo com pessoas da nação dedicada de Deus que se haviam afastado, às vezes muitíssimo e foi esse gesto que que deu a tais pessoas a força para transformar suas vidas completamente. (Lucas 15:1).

Pergunte-se:

• Não deveríamos então imitar nosso Senhor em todas as coisas?
• Ao cumprirmos com a admoestação de Paulo aos Coríntios, para não adorar em grupo com um pecador impenitente, poderíamos nós quebrar as instruções de Deus, que nos foram dadas através do exemplo de vida de seu Filho?

• Será que o exemplo do Senhor Jesus não deve ser o fator primordial, especialmente em relação aos transgressores arrependidos?

A triste verdade é:

Existem muitos mitos que as Testemunhas de Jeová sinceras têm em relação à desassociação.

Esses mitos são o que causa uma "insensibilidade dos seus corações", para com aqueles que se encontram no chamado "estado de desassociado". (Marcos 3:5)

Quando uma Testemunha ativa encontra um desassociado na rua, muitas vezes você observa um grande desconforto na sua linguagem corporal e expressões faciais. Em alguns casos, a Testemunha vai mesmo atravessar para o outro lado da rua para evitar passar perto da pessoa; se não fosse tão triste, seria engraçado.

A ausência de empatia e o endurecimento do coração que ocorre, provém de uma falta de conhecimento exato, de mitos que foram perpetuados através das publicações, tribuna e conversa casual entre as Testemunhas de Jeová. A menos que uma pessoa tenha passado por esta "prova de fogo", ela não está realmente preparada para falar a respeito da realidade como aqueles que já passaram por isso ou tiveram contato direto com tais casos.

Muitos mitos têm um elemento de verdade. O estereótipo do pecador descarado, impenitente, com uma má atitude pode caracterizar alguns casos judicativos com certeza, mas certamente não todos. Eu vim a acreditar que muitos casos judicativos envolvem pastoreio deficiente e a adesão legalista às tradições de homens que contradizem as Escrituras. (Marcos 7:8)

Vamos considerar apenas três mitos.


Mito 1: A desassociação é o último recurso, reservado para aqueles que não se arrependem, determinados a continuar no pecado.

Embora isso possa descrever alguns que estão desassociados, certamente não descreverá a todos. O arrependimento é definido como "profunda tristeza, remorso, ou contrição por um pecado passado". Muitos dos que vão perante uma comissão judicativa sentir-se-ão desse jeito. Eles podem ter cessado a sua conduta pecaminosa, mesmo por alguns meses, e estão exibindo "frutos próprios do arrependimento". Eles podem até mesmo trazer o assunto à atenção dos anciãos na esperança de obter ajuda espiritual. (Tiago 5:14-16) Contudo, ainda assim eles são desassociados. Qual é o problema?

Certa vez, um ancião disse a um arrependido: "A questão não é se você está arrependido, mas se você está arrependido o suficiente." Isso está em consonância com o que os anciãos são instruídos no seu manual secreto, "Pastoreiem o Rebanho de Deus" (KS10). Notem:

Notavelmente, não existem passagens bíblicas citadas que apoiem estas declarações, e tudo indica que estas decisões parecem tornar-se muito subjetivas. Como você mede o grau de arrependimento que uma pessoa sente? Embora seja verdade que as ações devem refletir o arrependimento, assim como um iceberg, a maior parte desta qualidade (arrependimento), se encontra abaixo da superfície, além do escrutínio da capacidade humana.

Alguns anciãos podem dizer: "Bem, Jesus podia ler corações. Nós não podemos." Mas lembre-se que Jesus deixou a "você um modelo, para que siga de perto os seus passos". Sua trajetória de vida na Terra foi uma verdadeira lição, por assim dizer, de modo a aprendermos como realizar a nossa carreira terrestre. É válido um cristão recusar-se a seguir o exemplo do Senhor Jesus, usando a desculpa: "Bem, Jesus era perfeito, eu não sou?" Claro que não! Desse modo, se a imperfeição não é nenhum impedimento em mostrar o verdadeiro cristianismo, então também não deve a nossa incapacidade de ler os corações, ser um obstáculo na realização dos ensinamentos de Cristo em nossas vidas.

E observe o que Jesus diz sobre determinar se existe arrependimento:
"Mesmo que ele peque contra você sete vezes por dia e volte a você sete vezes, dizendo: ‘Eu me arrependo’, você tem de lhe perdoar.” – Lucas 17:4 

De acordo com Jesus, a questão era bastante clara. Uma pessoa ou está arrependida ou não está. E se alguém professa seu arrependimento, então não deve ser obrigado a cumprir várias demandas para fazê-lo provar isso, mas antes, Jesus disse-nos simplesmente que que devemos perdoar. Será que Jeová faz menos que isso? Então que dizer de nós?


O exemplo de Jesus
O que Jesus fez? (leia Lucas 19:1-10) Certo homem de nome Zaqueu, extorquia seus companheiros adoradores de Jeová Deus. Será que Jesus aguardou por algum grau de arrependimento de Zaqueu, até ser proporcional ao seu grau de desvio, antes de ter associação com ele? O versículo 5 diz: "Então, quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e lhe disse: “Zaqueu, desça depressa, pois hoje tenho de ficar na sua casa.”"

Isso não passou despercebido dos presentes. O versículo 7 diz: "Quando viram isso, todos começaram a resmungar: “Ele foi se hospedar na casa de um homem que é pecador.” Os fariseus resmungaram que Jesus não havia rejeitado tal homem. Mas todo o ostracismo no mundo não teria ajudado Zaqueu naquela altura. Jesus sabia disso e deu-lhe o apoio e a atenção que ele precisava. Com que resultado?

O verso 8 diz: "Mas Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: “Senhor, escute, vou dar aos pobres a metade dos meus bens e, o que quer que eu tenha extorquido de alguém, vou restituir quatro vezes mais.”"

Não apenas Zaqueu foi levado a  arrepender-se proporcionalmente ao seu desvio, mas foi muitíssimo além disso! Esse é o poder que viver pelos ensinamentos do Evangelho pode ter sobre as pessoas hoje.

Por outro lado, pense como seria algo prejudicial caso um 'pastor' dissesse a uma pessoa arrependida: "Você é um pecador impenitente e não é mais um servo de Deus." Se uma pessoa começa a acreditar nessa mentira sobre si mesmo, ele bem que poderia ir por um caminho errado de fato, resultando em excesso de indulgência, depressão, auto-medicação e até mesmo suicídio.

 

Mito 2: Não é o pecado que desassocia a pessoa, é a sua atitude.

Para sermos claros, algumas pessoas que têm aparecido diante de uma comissão judicativa podem ter sido, de fato, bastante desrespeitosas, insolentes e conflituosas, dizendo: "Eu vou fazer o que eu quero fazer, quando eu quero fazê-lo e ninguém tem o direito de me dizer o contrário." Mas isso não descreve a todos. Na verdade, eu suspeito que a maioria tem sido respeitoso, humilde e contrito.

A atitude é definida como "maneira, disposição, sentimento, posição, etc., no que se refere a uma pessoa ou coisa; tendência ou orientação". Assim como o arrependimento, o julgamento de uma atitude pode ser bastante subjetivo. Muitas vezes, a atitude é confundido com o humor. Deus sabe que, se as comissões judiciais fossem realizadas antes que as pessoas bebessem o seu primeiro café da manhã, não haveria piedade para ninguém!

Muitos errantes têm a atitude da mulher pecadora que chorou sobre os pés do Senhor Jesus. (Leia Lucas 7:36-50) E, no entanto, os anciãos são instruídos no "Pastoreiem o Rebanho de Deus" que "lágrimas não necessariamente indicam sincero arrependimento". (KS10 pág. 93) Havia uma certa irmã desassociada na minha antiga congregação que muitas vezes deixava a reunião em lágrimas, uma e outra vez. Como poderiam os anciãos ver essa mulher tão obviamente arrependida e não aceitá-la de volta imediatamente?

Que atitude realmente desassocia uma pessoa e mantém-na desassociada? Parece-me que um ancião tem que trabalhar para fechar "a porta de suas ternas misericórdias", sua empatia, sua misericórdia, até mesmo seu senso comum para manter as tradições dos homens.

Quando Jesus vê isso, você não acha que ele olha para estes homens com "indignação, ficando profundamente contristado com a insensibilidade dos seus corações"? Definitivamente que ele olha!

 

Mito 3: os Anciãos são as estrelas na mão direita de Jesus. O Espírito Santo orienta suas decisões, e assim têm sabedoria divina. Não podemos questionar suas decisões, porque nós não sabemos todos os detalhes.

Isto é certamente o que eu costumava acreditar. No entanto, em Apocalipse 1:20, existe alguma indicação de que os anciãos são as estrelas da congregação? É uma questão de interpretação da Torre de Vigia, como é óbvio. Se deixarmos a Bíblia explicar-se a ela mesma, então talvez nós devemos aceitá-la quando diz que "as sete estrelas representam os anjos das sete congregações", ao invés de reinterpretá-la, afirmando ser corpos de anciãos uns 1.900 anos mais tarde. Na verdade, Apocalipse 1:1, diz: "Ele enviou o seu anjo e, por meio dele, a apresentou em sinais ao seu escravo João."

Se estamos realmente duvidando disso, então talvez devamos deixar que "a sabedoria se prove justa pelas suas obras." (Mateus 11:19) Pois, enquanto alguns anciãos como indivíduos, podem ser guiados pelo Espírito Santo, assim como o resto de nós, o fato é que muitos anciãos fizeram lapsos graves em julgamento. Quantas pessoas apelaram humildemente e em súplica para não serem desassociadas e não lhe foi estendido o perdão. Muitas vezes, a Bíblia é pouco usada para exortar, encorajar ou ajudar os "pecadores" de algum modo nesta fase tão difícil. A sua única preocupação é saber pormenores do que foi praticado, para depois mediante as orientações do manual de anciãos julgar a pessoa com "justiça divina".

Será que os anciãos podem enganar-se enquanto juízes? Como uma irmã que havia despertado para a verdade sobre a "verdade", disse: "Se estes homens fossem guiados pelo Espírito Santo, eles teriam sabido como eu me sentia sobre a organização e nunca me tinham readmitido. Se eles não foram guiados [pelo Espírito Santo de Deus] na minha readmissão, como eles poderiam ter sido orientados pelo Espírito Santo na minha desassociação?"

Num tribunal secular, tudo é transparente e o texto completo da lei e a devida representação legal está disponível para o réu. No entanto, estas reuniões "judicativas" são mantidas em segredo, sem observadores externos e gravações, representação ou júri – nem sequer há uma transcrição para que depois seja tornada pública. Mesmo se o que está sendo julgado solicitar essas coisas, eles não permitirão isso com a desculpa da "confidencialidade". Acima de tudo, existem regras secretas que vêm no manual do ancião, nas cartas da Sociedade, nas escolas secretas dos anciãos e nas orientações de superintendentes viajantes, que o que está sendo julgado não está a par também. Sinto que se as Testemunhas fossem autorizadas a saber todos os detalhes disto tudo, muitas provavelmente despertariam para a verdade sobre a "verdade", porque às vezes, é o que é necessário para uma pessoa despertar.

Eu acredito firmemente que, quando uma pessoa peca seriamente, ela precisa de mais apoio, e não menos. Ela precisa de seus amigos e familiares para se reunir em torno dela e e edificá-la! A desassociação, tal como é praticada pela Sociedade Torre de Vigia, faz exatamente o oposto. Em muitos casos, ostracizar tende a afastar as pessoas, em vez de restaurá-las. E quando elas retornam, por que é que elas voltaram? Será que foi para servir a Deus mais plenamente ou simplesmente para recuperar a associação perdida?

Pense nisso desta maneira: Gênesis 2:18 diz: "Então Jeová Deus disse: “Não é bom que o homem fique sozinho. Vou fazer-lhe uma ajudadora, como complemento dele.” Se não era bom para um homem perfeito ficar sozinho, quanto mais para um pecador? Saliento este aspeto: eles [pecadores] precisam de mais incentivo, não menos!

Provérbios 18:1 diz: "Quem se isola busca seus desejos egoístas; Rejeita toda a sabedoria prática." Embora isso possa ser verdade no caso de um indivíduo isolar-se por vontade própria, não é tão ou mais verdadeiro se ele ficar isolado contra a sua vontade? Ao isolar um pecador, na verdade, poderíamos tornar as coisas piores! Alguns praticam ainda mais o erro, devido ao desespero da solidão absoluta por ser evitados por pessoas que conhecem,  afastando-os ainda mais de seu Pai Celestial. Alguns até mesmo chegam a perder a sua fé completamente!

Se houver alguns anciãos ativos que lêem isto e que servem em comissões judicativas, eu aconselho-os a pesar seriamente as palavras de Ezequiel 34. Vamos considerar alguns versículos:

4 "Não fortaleceram as fracas, nem trataram as doentes, nem enfaixaram as que estavam feridas, nem trouxeram de volta as desgarradas, nem foram procurar as perdidas; em vez disso, vocês as dominaram com dureza e tirania." 

5 "Assim, elas foram espalhadas porque não havia pastor; elas foram espalhadas e se tornaram alimento para todos os animais selvagens." 

6 "Minhas ovelhas se perderam por todos os montes e por todas as colinas elevadas; minhas ovelhas foram espalhadas por toda a face da terra, sem que ninguém fosse procurá-las, nem fosse buscá-las." 

7 "Portanto, pastores, ouçam a palavra de Jeová:" 

8 "Tão certo como eu vivo”, diz o Soberano Senhor Jeová, “visto que as minhas ovelhas se tornaram presa, alimento para todos os animais selvagens, por não haver pastor, e visto que os meus pastores não foram procurar as minhas ovelhas, em vez disso, cuidavam de si mesmos e não das minhas ovelhas”’,

9 "por isso, pastores, ouçam a palavra de Jeová." 

10 "Assim diz o Soberano Senhor Jeová: ‘Eu estou contra os pastores; exigirei deles uma prestação de contas pelas minhas ovelhas, e não os deixarei mais cuidar das minhas ovelhas. Os pastores não cuidarão mais de si mesmos. Vou salvar as minhas ovelhas da boca deles, e elas não servirão mais de alimento para eles.’”

Todos vocês, meus amados que foram desassociados, que foram dispersos e se sentem devastados pelo mau pastoreio, considerem especialmente o último versículo em Ezequiel 34:11: "Pois assim diz o Soberano Senhor Jeová: “Aqui estou, e eu mesmo vou procurar as minhas ovelhas e cuidar delas."

Por favor, saibam que o Senhor Jeová os ama muito. Ele deu o seu Filho em vosso benefício. Se você já se sentiu perdido, o próprio Jeová vai olhar por você. Não há nenhum lugar você possa ir, até na própria sepultura, onde Ele não vai mesmo ser capaz de encontrá-lo. Ele cuidará de você. Esta é a sua promessa e garantia. Coragem!

Em Cristo,

Ex-Membro das Testemunhas de Jeová,
» Carlos Fernandes | de Portugal (Lisboa)


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Este artigo teve como base o artigo em inglês The Myths of Disfellowshipping