"Há os que definem seita como um grupo que se desagregou de uma religião estabelecida. Outros aplicam o termo a um grupo que segue determinado líder ou mestre humano. O termo geralmente é aplicado de forma depreciativa. As Testemunhas de Jeová não são uma ramificação de alguma igreja, mas entre elas há pessoas procedentes de todas as rodas da vida e de muitas formações religiosas. Não consideram nenhum humano como seu líder, mas unicamente Jesus Cristo." – Raciocínios à Base das Escrituras, pág. 386, parág. 5 "Ninguém se junta a uma seita. Ninguém se junta a algo que pensa irá magoá-la. Você junta-se a uma organização religiosa, você junta-se a uma organização política e você junta-se a pessoas de quem realmente gosta." – Sobrevivente de Jonestown Ao longo da minha permanência nas Testemunhas de Jeová por cerca de 40 anos, uma das principais acusações que ouvi contra elas foi de que eram uma "seita". A maioria das pessoas que faz esta acusação nem sabe bem o que esta palavra significa, mas existe a noção de que é uma expressão negativa que se atribui a um grupo religioso que sai fora dos parâmetros "normais" da sociedade onde está inserido, seja pelas suas estranhas doutrinas religiosas, seja pelas suas práticas excêntricas ou diferentes. Na maioria dos casos, tal expressão é usada por membros de outros grupos religiosos que consideram que o grupo religioso catalogado como "seita" promove ensinos distorcidos em relação à ortodoxia geralmente aceita pelos restantes religiões e cujas doutrinas promovem entendimentos errados dos ensinos bíblicos. Alguns dos principais pontos mencionados por tais pessoas que acusam as Testemunhas de Jeová de serem uma "seita" é que estas negam a divindade de Jesus, usam uma versão da Bíblia manipulada de modo a encaixar-se nos seus ensinos particulares e promovem uma obediência cega à sua liderança. Este artigo não pretende abordar esta questão do ponto de vista doutrinal, pois se fosse assim, facilmente poderíamos apontar-nos uns aos outros como pertencentes a "seitas", exatamente porque não partilhamos exatamente as mesmas doutrinas ou entendimentos da Bíblia. Esta análise pretende apresentar uma avaliação científica e imparcial do que é uma "seita", de modo a perceber se as Testemunhas de Jeová são realmente uma "seita" do ponto de vista científico e mais facilmente identificarmos os traços que categorizam qualquer seita com que nos deparemos em nossa vida. Na realidade, qual a informação imparcial existente sobre este assunto por parte de peritos na área da psicologia e sociologia? O que é realmente uma seita? Os dicionários são unânimes em avaliar o significado da palavra seita. Por exemplo, o dicionário online priberam diz: O dicionário online da Porto Editora diz: Existem assim alguns traços comuns aos grupos religiosos taxados como "seitas":
Do ponto de vista puramente académico, uma seita nada tem de negativo, porque o ser humano tem a liberdade e a capacidade de recriar os conceitos e noções pré-estabelecidos, encontrando novos caminhos na sua relação com o divino. Ao longo da história isso é facilmente verificável, especialmente no movimento cristão que ramificou-se em dezenas de seitas ou grupos separados, especialmente a partir do início do 2º século da Era Cristã. Podem ver vários exemplos aqui. Assim, podemos perceber que um grupo ser taxado de "seita" do ponto de vista científico, nada tem de pejorativo ou negativo. É apenas uma classificação que ajuda a enquadrar tal grupo num universo social e religioso, onde predominam inúmeros grupos religiosos. O que é uma "seita destrutiva"? De modo a isolarmos o que é comprovável do ponto de vista claro e inequívoco, do que pode ser uma análise subjetiva daquilo que é uma seita, vamos fazer uma diferença neste artigo entre "seita" e "seita destrutiva". Porquê? Porque enquanto uma "seita" não é necessariamente negativa do ponto vista social, a categorização de "seita destrutiva" é claramente um conceito científico que implica características únicas e prejudiciais para os membros do grupo e quiçá para a sociedade onde estão inseridos. Existem assim, segundo os peritos em "seitas destrutivas", algumas características singulares:
É preciso perceber que tais características estão presentes, não apenas em grupos religiosos, mas também podem estar presentes em grupos políticos, terapêuticos e comerciais. Quem pode ser recrutado para uma "seita destrutiva"? De modo simples e direto: qualquer pessoa! Na realidade, qualquer um de nós, por mais inteligente, experiente e respeitável que possa ser, pode ser aliciado a integrar tais grupos. Mas existem situações ou características pessoais que podem tornar esse recrutamento mais fácil:
Uma coisa é clara: tais grupos vivem e subsistem das desgraças ou dificuldades pessoais dos seus membros, procurando preencher a lacuna de esperança e sentido de vida que tão necessário é para o ser humano. É verdade que muitas vezes as pessoas ingressam em grupos religiosos exatamente com esses objetivos. A forma como o grupo lida com essas pessoas e o que faz com elas é que determina se pertencem ou não a uma "seita destrutiva". É preciso ter em mente que numa seita ou grupo "destrutivo" tudo gira em torno do(s) líder(eres). São eles que estabelecem o que é certo e o que é errado para seus membros. São eles que estipulam quantas vezes os membros têm de se reunir para sessões de doutrinamento, em quantas atividades semanais devem participar de modo ativo e até mesmo decidindo com quem eles se podem associar. São eles que estabelecem regras e critérios pelos quais a pessoa deve viver a sua vida, até mesmo criando normas sobre o que comer, o que ler, com quem casar, o que vestir, etc.. Conhece o modelo B.I.T.E.? A maioria das pessoas que não pesquisa o assunto do controle mental exercido por seitas e grupos destrutivos, talvez nunca tenha ouvido falar deste modelo criado pelo perito em seitas destrutivas Steven Hassan. Mas é um modelo eficaz que o poderá ajudar a avaliar se a sua organização religiosa promove ou tem características "destrutivas" e de "controle mental" e as usa em seus membros. Visto que a sigla B.I.T.E. é retirada de palavras em inglês, vamos explicar o que significam cada uma delas:
Quando estes quatro elementos estão sujeitos ao controle de um líder ou líderes, pode-se dizer que a pessoa está debaixo de "controle mental" ou "influência social destrutiva". É a partir da manipulação do comportamento da pessoa que o líder irá condicioná-la a agir do modo que ele estipula como certo. Ao apresentar certa informação como desejável e de leitura/visionamento obrigatórios e colocando livros, vídeos e notícias que apresentam informações negativas sobre o grupo como indesejáveis e prejudiciais ao membro, até mesmo os proibindo, o líder faz o controle de informação a que o membro pode aceder. Um claro exemplo atual disso mesmo pode ser visto na Coréia do Norte. Ao condicionar os pensamentos do membro, fazendo-o acreditar que apenas naquele grupo existe a "verdade", a "salvação" ou a possibilidade de fazer algo realmente grandioso em prol da humanidade, a pessoa ficará totalmente dependente do grupo. A doutrinação e a lealdade ao grupo, desenvolverá no membro a emoção de que apenas aquele grupo possui a chave para a felicidade e caso o abandone, ficará desprotegido e abandonado sem mais para onde ir. A fórmula muito usada na doutrinação, onde existe uma clara diferenciação entre o "bem e o mal", entre o "nós e eles", promoverá tal dependência e alienação da sociedade em geral, até mesmo da família mais próxima. É característico nestes grupos o desenvolvimento de fobias, que atingem o membro durante e após a saída do grupo. Por exemplo, acreditar que se abandonar o grupo sofrerá a ira divina, uma maldição, uma doença, uma morte agonizante ou a destruição total num evento divino futuro. Isso é feito através da doutrinação em reuniões e estudos pessoais, onde a pessoa é mentalizada de que o "mundo lá fora" é o nosso inimigo e que fora do grupo não existe real possibilidade de salvação. Steven Hassan esclareceu no seu livro Releasing the Bonds que, apesar da seita poder exibir todos os quatro aspectos, nem toda a seita exibe todos os aspectos de cada um dos critérios no mesmo grau. Por exemplo, alguns grupos podem exigir que seus membros a vivam em comunidades isoladas, mas isso raramente é o caso. Ele explica: "É importante compreender que o controle destrutivo da mente pode ser determinado quando o efeito global destes quatro componentes promove a dependência e a obediência a algum líder ou causa. Não é necessário que cada item na lista esteja presente. Membros de seita controlados mentalmente podem viver em seus próprios apartamentos, terem de nove a cinco postos de trabalho, serem casados e com filhos, e ainda serem incapazes de pensar por si mesmos e agir de forma independente." A seguinte lista irá discriminar os vários componentes de cada um destes 4 factores (B.I.T.E), que identificam uma "seita destrutiva". É necessário ter em mente que não é necessário que cada item relacionado a cada factor esteja presente num caso em particular. Mas se vários ou a maioria destes estiverem presentes em determinada seita, a probabilidade desta usar de influência destrutiva aumenta exponencialmente e é um claro indício de que a pessoa está sendo manipulada pela liderança. Tente perceber em cada um deles, aqueles que se aplicam ao grupo a que pertence. Não tente racionalizar essa avaliação, pois cairá no erro de emocionalmente rejeitar certa característica como se aplicando ao seu caso, mesmo que ela realmente se aplique. Tente analisar como se fosse um elemento exterior à situação. Faça uma avaliação objetiva e não subjetiva. I. Controle do Comportamento 1. Regula a realidade física do indivíduo a. Dita onde, como e com quem o membro deve viver e/ou associar-se/isolar-se b. Repressão sexual, anti-gay, celibato, anti-masturbação c. Controlo dos tipos de roupa que são permitidas, cores e estilos de cabelo usados pela pessoa d. Regula a comida e bebida permitida ou rejeitada – jejum e. Passaportes retirados; rapto; prisão física, tortura f. Manipulação através do sono – privação g. Rastreamento com GPS e câmaras remotas h. Exploração financeira, manipulação ou dependência 2. A maior parte do tempo é gasto na doutrinação e rituais de grupo ou doutrinação pessoal através das publicações/internet pertencentes à seita 3. Requer permissão para maiores decisões 4. Insistência em que pensamentos, sentimentos e atividades (suas ou de outros), sejam reportadas aos superiores 5. Recompensas e punições (modificando assim comportamentos, quer positivos, quer negativos) 6. Individualismo desencorajado, encorajado o pensamento de grupo 7. Violação/Exploração sexual, castração, tatuagem 8. Imposição de leis rígidas e regulamentos 9. Ameaças contra amigos/família 10. Instilar obediência e dependência II. Controle de Informação 1. Engano a. Informação deliberadamente retida b. Informação distorcida de modo a torná-la mais aceitável c. Mentir sistematicamente ao membro da seita 2. Minimizar ou desencorajar o acesso a fontes de informação que não sejam da seita, incluindo: a. Internet, TV, rádio, livros, artigos, jornais, revistas e outra media b. Informação crítica c. Membros anteriores d. Manter os membros ocupados de modo a que não tenham tempo de pensar e investigar e. Controlar o uso de telemóveis através de sms, chamadas e rastreamento pela internet 3. Compartimentar a informação em doutrinas Nós vs Eles a. Assegurar que a informação não seja livremente acessível b. Controlo da informação em diferentes níveis e missões dentro da pirâmide c. Permitir que apenas a liderança decida quem precisa de saber o quê e quando 4. Encorajar o espiar outros membros a. Impôr um “sistema de parceiro”, de modo a monitorar e controlar membros b. Reportar à liderança pensamentos, sentimentos, identidade sexual e ações desviantes c. Garantir que o comportamento individual é monitorizado pelo grupo 5. Uso extenso de informação e propaganda produzida pela seita, incluindo: a. Newsletters, revistas, jornais, cassetes áudio, vídeo e outra media b. Citações incorretas, declarações tiradas fora do contexto de fontes fora da seita, dando a ideia que estas apoiam as afirmações da mesma 6. Uso não-ético da confissão a. Informação acerca de pecados é usado para dissolver limites pessoais b. Pecados passados usados para manipular e controlar; nenhum perdão ou absolvição 7. Uso de vídeos, YouTube e filmes III. Controle do Pensamento 1. Ao membro é requerido que interiorize a doutrina de grupo como sendo a “verdade” a. Adoção do “mapa de realidade” do grupo como realidade b. Instilar pensamento preto e branco c. Decidir entre Bem vs Mal d. Organizar pessoas em Nós vs Eles (os de Dentro vs os de Fora) 2. Uso de linguagem própria, como clichés usados para bloqueio do processo de pensamento (Palavras são ferramentas de pensamento. Palavras especialmente escolhidas são usadas para parar ou restringir o pensamento em vez de o expandir. O objetivo é reduzir complexidades em palavras simplificadas que servem de alerta) 3. Apenas os chamados pensamentos puros e próprios são encorajados 4. Técnicas hipnóticas são usadas para alterar o estado mental, regresso na idade para minar o pensamento crítico e a realidade experimentada (vidas passadas, eventos inventados) 5. Memórias são manipuladas e falsas memórias são criadas 6. Técnicas de bloqueio de pensamento, que desligam a realidade experimentada, por parar sensações negativas e permitir apenas bons pensamentos, tais como: a. Negação, racionalização, justificação, pensamento positivo b. Cânticos c. Meditação d. Oração e. Falar em línguas f. Cantar e zumbir 7. Rejeição de análise crítica, pensamento crítico, criticismo construtivo 8. Nenhum questionamento crítico acerca do líder, doutrina ou política é permitido 9. Sistema de crenças alternativo é visto como ilegítimo, mau ou como não sendo prático 10. Repressão sexual, anti-gay, celibato, anti-masturbação IV. Controle Emocional 1. Manipular e limitar a gama de sensações – algumas emoções são encaradas como más, erradas, egoístas – repressão sexual 2. Bloqueio emocional (assim como bloqueio de pensamento, mas bloqueando sentimentos tais como saudade, raiva, dúvida) 3. Fazer a pessoa sentir que os problemas são culpa sua – nunca culpa do líder ou do grupo 4. Excessivo uso da culpa a. Culpa de identidade b. Você não vive o seu potencial c. A sua família é deficiente d. O seu passado é suspeito e. A suas relações não são sábias f. Os seus pensamentos, sentimentos, ações são irrelevantes/egoístas g. Culpa social h. Culpa histórica 5. Excessivo uso do medo a. Medo de pensar independentemente b. Medo do mundo exterior c. Medo de inimigos d. Medo de perder a sua salvação e. Medo de deixar o grupo ou de ser ostracizado pelo grupo f. Medo da desaprovação 6. Extremos de altos e baixos emocionais – Bombardeamento de amor e elogio e em qualquer momento você é chamado de horrível, pecador 7. Confissão pública e ritualística de pecados 8. Doutrinação através de fobias: inculcar medos irracionais acerca de deixar o grupo ou questionar a autoridade do líder a. Nenhuma felicidade ou realização é possível fora do grupo b. Terríveis consequências se sair: inferno, possessão demoníaca, doenças incuráveis, acidentes, suicídio, insanidade, milhares de reencarnações, etc. c. Ostracização daqueles que saem; medo de ser rejeitado por amigos, companheiros e família d. Não existe uma razão legítima para sair: aqueles que saem são fracos, indisciplinados, não-espirituais, mundanos, tiveram uma lavagem cerebral da família ou do terapeuta, ou foram seduzidos por dinheiro, sexo, materialismo Como são tratados os que saem de uma "seita destrutiva"? Uma das melhores formas de reconhecer se um grupo religioso pertence à categoria de "seita destrutiva" é olhar para a forma como os membros são tratados quando saem dele, seja por livre vontade ou devido a expulsão. Os peritos em "seitas destrutivas" sabem há muito, que não existe saída honrosa para aqueles que desejam abandonar tais grupos. Na Cientologia, por exemplo, tais pessoas são chamadas de "pessoas supressivas", nos Mórmons e Testemunhas de Jeová tais membros são comumente vilipendiados e catalogados de "apóstatas". Coincidência ou não, tais grupos têm origem nos E.U.A., onde grupos religiosos como os Amish possuem tal forma extremista de tratar os membros que decidem abandonar o grupo, até mesmo ostracizando-os. Características existentes numa "seita destrutiva" De forma a facilitar a identificação de grupos religiosos que pertencem efetivamente à categoria de "seitas destrutivas" ou que usam "controle mental", o livro "Take Back Your Life – Recovering from Cults and Abusive Relationships" forneceu uma lista de características a serem assinaladas na sua experiência pessoal. Reflita em cada uma delas e assinale aquelas que se comprovam no seu caso particular. Após esta breve análise das características existentes em seitas e grupos "destrutivos", voltamos à questão: Será que as Testemunhas de Jeová se enquadram na categoria de "seita destrutiva"? Em primeiro lugar, é preciso relembrar aquilo que a Organização das Testemunhas de Jeová já escreveu sobre esta temática, mostrando que eles estão por dentro das técnicas usadas para controlar a mente dos seus membros. Notem o que ela escreveu e foi publicado na revista Despertai! de 22 de junho de 2000, nos artigos "A manipulação das informações" e "Não caia vítima da propaganda": Torna-se claro que a organização das Testemunhas de Jeová reconhece de modo franco que as pessoas podem-se tornar vítimas de "controle mental" através de certas técnicas que baixam a sua capacidade crítica e as fazem tornar-se dependentes da fonte de informação que passam a aceitar como estando certa ou verdadeira. Será que a própria organização não é culpada de usar tais táticas nos seus membros? Penso que não é necessário ser-se um génio para perceber que os elementos ou características mencionados anteriormente e que estão presentes em seitas e grupos "destrutivos", estão também presentes na sua maioria na religião das Testemunhas de Jeová. Senão vejamos... Controle do Comportamento O controle do comportamento relaciona-se em existirem um conjunto de regras e exigências impostas aos membros, regras estas que vão além do que seria expectável. A Organização religiosa das Testemunhas de Jeová é bem conhecida pela sua intrincada legislação interna, que estabelece critérios e normas para praticamente todas as facetas da vida das Testemunhas de Jeová, a maioria das quais nem sequer vêm mencionadas na Bíblia. Coisas como o penteado, uso de barba, vestuário, tatuagens, música, dança, jogo, fumar, envolvimento na política, intimidades entre casais, feriados e entretenimento, emprego, etc., tudo é sujeito a regras e orientações dando pouca margem para o uso de critérios pessoais ou consciência. Se alguém deseja ter "privilégios" congregacionais, deve reportar um mínimo de horas (pelo menos a média da congregação) e estar disposto a servir em todas as funções que lhe sejam entregues. Desde tornar-se publicador, pioneiro, servo ministerial, ancião, betelita, missionário, tudo é objeto de um critério muito restrito e condicionado pela estrita obediência às "orientações" dadas. Tudo isto contribui para que as Testemunhas criem um padrão comportamental enquanto grupo, e todas sejam vistas e avaliadas segundo este. O livro "Brainwashing - A Ciência do controle do pensamento" por Kathleen Taylor (Oxford University Press Inc., New York, 2004) apresenta um excelente resumo da pesquisa atual sobre a biologia e psicologia do cérebro e identifica como as organizações usam isso para efeitos de controlo. A mente é descrita como sendo um rio. À medida que a água flui rio abaixo ela erode o solo; e quanto mais água flui rio abaixo, mais fundo ele se torna. Do mesmo modo, quanto mais um pensamento é repetido mais fortes as sinapses do cérebro que apoiam esse pensamento se tornam. Além disso, assim como um rio se torna maior quanto mais afluentes estejam a alimentá-lo, uma crença se tornará cada vez mais forte e mais difícil de largar quanto mais outras crenças se conectem a ele. Por estas razões, a chave para o "controlo mental" é a repetição. É por isso fácil de perceber porque uma Testemunha de Jeová (assim como membros de outros grupos religiosos), têm crenças tão arraigadas:
De modo a alcançar o paraíso, as Testemunhas de Jeová são incentivadas a repetir vezes sem conta, quer os ensinos da Torre de Vigia, quer as atividades por ela estabelecidas:
Qualquer Testemunha de Jeová pode atestar que pôr em prática todas as atividades implementadas pela sua liderança, desde estudar as publicações, preparar as cinco reuniões semanais e assistir a elas, juntamente com a pregação, pouco tempo resta para outras atividades ou simplesmente para ficar relaxado sem ter nada que fazer. Centenas de horas são gastas pelas Testemunhas em todo este processo contínuo e repetitivo, ano após ano. Conforme já foi mencionado, tal processo apenas reforça e aprofunda as crenças e a mentalidade das Testemunhas de que vivem "a verdade", tal como um rio que vai alargando o seu caudal à medida que provoca erosão no solo. Deste modo, o controlo mental sobre os membros é facilmente conquistado! Controle do Pensamento O controle do pensamento está relacionado, por exemplo, com o reforçar a crença de que apenas o grupo ensina a "verdade" ou é o "caminho para a salvação". Isto é mantido através da doutrinação dos indivíduos, em que o seu pensamento é condicionado a ver o mundo a "preto e branco", usando até mesmo linguagem própria dentro do grupo. De modo a que este controlo do pensamento não seja desafiado, existem punições para aqueles que questionam as doutrinas da liderança ou que promovem pontos de vista alternativos. Não existe margem para dúvidas, diferenças de opinião ou confrontação de ideias. Segundo o conceito ensinado pela Torre de Vigia, se você não seguir a sua liderança então você não pode adorar a Deus. Veja alguns exemplos: "Deixar de apoiar ativamente essa obra significa começar a seguir a Satanás. Não há meio-termo." – Sentinela de 15 de Julho de 2011, pág.18 "A pessoa serve ou a Jeová Deus ou a Satanás, o Diabo. […] Não importa qual a sua resposta, se imitar o comportamento injusto do mundo você não estará servindo o verdadeiro Deus, Jeová." – Poderá Viver para Sempre no Paraíso na Terra, pág. 208 "Você é assim tão diferente da maioria da humanidade que você pode dizer que eles estão servindo ao Diabo, mas você está servindo o Deus verdadeiro? Existe um povo que é tão diferente, e todos sabem que eles são diferentes em toda a parte do mundo. Eles são as testemunhas de Jeová." – Sentinela, 1 de Março de 1968, pág. 136 (edição em inglês) Existem as generalizações feitas pela organização Torre de Vigia, usadas para diferenciar entre aqueles dentro da organização e os "mundanos", tais como estas: "Quem, hoje, demonstra tal obediência aos mandamentos de Deus a respeito do amor?… apenas as Testemunhas de Jeová." – Sentinela, 1 de Maio de 1989, pág. 28 "Se você é uma das raras pessoas que deseja servir aos Criador em nossos dias, que quer dar-lhe devoção exclusiva, quer realizar obras que agradam aos seus olhos, que quer receber a sua aprovação e sua dádiva da vida, então deixe que Jeová, por meio do seu espírito, cultive em si uma boa condição de coração que é a marca do seu povo." – Sentinela, 1 de Junho de 1966, pág. 341 O controle de pensamento também é exercido ao limitar-se ou desencorajar-se a discussão interna por parte das Testemunhas. Nenhuma Testemunha de Jeová está autorizada a questionar as doutrinas ou entendimentos do seu Corpo Governante, e ao contrário do que acontecia no primeiro século, não existe margem para discordância doutrinal sobre assuntos em que a Bíblia não é taxativa. Notem como a Organização coloca este assunto: "Primeiro, visto que se deve manter a “unidade”, o cristão maduro tem de estar em união e em plena harmonia com concrentes no que se refere à fé e ao conhecimento. Ele não promove opiniões pessoais, nem insiste nelas, nem nutre idéias próprias referentes ao entendimento da Bíblia. Antes, tem plena confiança na verdade conforme revelada por Jeová Deus por meio do seu Filho, Jesus Cristo, e do “escravo fiel e discreto”. Por assimilarmos regularmente o alimento espiritual fornecido “no tempo apropriado” — por meio de publicações cristãs, reuniões, assembléias e congressos — podemos ter a certeza de mantermos com concristãos a “unidade” na fé e no conhecimento." – Sentinela, 1 de Agosto de 2001, pág. 14 Alguns, devido à sua formação e criação, talvez estejam mais inclinados a ter raciocínio independente e vontade própria do que outros. Este talvez seja um ponto em que precisamos disciplinar-nos e ‘transformar a mente’, para poder perceber mais claramente qual é a “vontade de Deus”." – Sentinela, 1 de Fevereiro de 1987, pág. 19 "Acautele-se dos que procuram apresentar suas próprias opiniões contrárias." – Sentinela, 15 de Março de 1986, pág. 17 "Há alguns que salientam que a organização já antes teve de fazer ajustes, e por isso argumentam: “Isto mostra que temos de decidir por nós mesmos o que devemos crer.” Estas são idéias independentes." – Sentinela, 15 de Julho de 1983, pág. 19 "O ponto é que os cristãos têm confiança implícita no seu Pai celestial; não questionam o que ele lhes diz mediante sua Palavra escrita e sua organização." – Sentinela, 15 de Janeiro de 1975, pág. 49 "Se tivermos amor por Jeová e pela organização do seu povo não seremos desconfiados, mas seremos, como iremos, como a Bíblia diz: "Acreditar todas as coisas", todas as coisas que a Torre de Vigia revela." – Qualificados para Ser Ministros (1955), pág. 156 (edição em inglês) Algo que faz parte do controle de pensamento e é comum em grupos de alto controle, é a linguagem adulterada. O que é a linguagem adulterada? É o conjunto de termos e expressões que são únicas ao grupo que as usa. Uma pessoa de fora do grupo terá grandes dificuldades em entender tal linguagem. Será que as Testemunhas de Jeová também usam "linguagem adulterada"? Sem dúvida que expressões tais como "a verdade", "novo mundo", "mundanos", "outras ovelhas", "restante ungido", escravo fiel e discreto", "grande multidão", "Armagedom", etc., são termos e expressões que apenas as Testemunhas de Jeová usam e conhecem o significado. Ao ouvir tais expressões isso desencadeia na Testemunha um entendimento e emoção associados a essa mesma palavra. Por exemplo, quando uma Testemunha de Jeová ouve a palavra "mundo", automaticamente associa a todos os que estão fora da sua religião e conjugado com textos bíblicos que falam de que este "mundo" passará, isso reforçará a ideia de que apenas as Testemunhas de Jeová serão salvas, visto apenas elas não serem parte do mundo! Controle da Informação Não é difícil de encontrar, no passado e no presente, exemplos de religiões e políticas ditatoriais que restringiram os seus membros de verem e discutirem informação crítica ou de expressarem pontos de vista diferentes do grupo. A informação é controlada, de forma a que a imagem do grupo seja sempre positiva e enalteça os feitos e qualidades deste. Que dizer da Torre de Vigia? Tenta ela censurar de alguma forma a informação que não é produzida por ela? Vejamos o que ela afirma: "Eles ‘introduzem quietamente’ ideias corrompedoras. Assim como os contrabandistas, eles operam de modo clandestino, introduzindo sutilmente conceitos apóstatas. (...) Os apóstatas estão mentalmente ‘doentes’ e tentam contaminar outros com os seus ensinos desleais. (1 Tim. 6:3, 4, Bíblia Pastoral) Jeová, o Grande Médico, diz que devemos evitar o contato com os apóstatas. (...) Nós não os recebemos em casa nem os cumprimentamos. Não lemos as suas publicações, não assistimos às suas apresentações na televisão, não acessamos os seus sites na internet nem adicionamos comentários aos seus blogs." – Sentinela, 15 de Julho de 2011, pág. 11 "É um engano pensar que você precisa ouvir os apóstatas ou ler as publicações deles para refutar seus argumentos. O raciocínio deturpado e venenoso deles pode causar dano espiritual e contaminar a sua fé como uma gangrena que se espalha rapidamente." – Sentinela, 15 de Fevereiro de 2004, pág. 28 "Visto que somos servos leais de Jeová, por que deveríamos até mesmo só querer dar uma olhada na propaganda divulgada por estes que rejeitam a mesa de Jeová." – Sentinela, 15 de Julho de 1994, pág. 12-13 "É de interesse que certo superintendente de circuito na França observou: “Alguns irmãos são enganados porque carecem de conhecimento exato.” É por isso que Provérbios 11:9 declara: “É pelo conhecimento que os justos são socorridos.” Isto não significa dar ouvidos aos apóstatas ou pesquisar os seus escritos. Em vez disso, significa vir a ter um “conhecimento exato do segredo sagrado de Deus” através de diligente estudo pessoal da Bíblia e das publicações bíblicas da Sociedade. Com tal conhecimento exato, quem ficaria tão curioso a ponto de dar qualquer atenção aos pronunciamentos de apóstatas? Que nenhum homem “vos iluda com argumentos persuasivos”! (Colossenses 2:2-4) Propaganda religiosa falsa de qualquer fonte deve ser evitada como veneno! Realmente, visto que o nosso Senhor tem usado “o escravo fiel e discreto” para nos transmitir “declarações de vida eterna”, por que deveríamos querer recorrer a qualquer outra fonte?" – Sentinela, 1de Novembro de 1987, pág. 20 A Torre de Vigia tenta convencer os seus membros de que a única razão pela qual conhecem a Deus é devido a serem os seus guias ou instrutores: "De modo que aquele que duvida a ponto de se tornar apóstata arvora-se em juiz. Acha que sabe mais do que seus concristãos, também mais do que o “escravo fiel e discreto”, por meio de quem aprendeu a melhor parte, senão tudo o que ele sabe sobre Jeová Deus e seus propósitos." – Sentinela, 1de Novembro de 1987, pág. 20 "Na organização de Jeová não é necessário gastar muito tempo e energia em pesquisa, pois existem irmãos na organização que estão designados para esse mesmo fim..." – Sentinela, 1de Junho de 1967, pág. 338 (edição em inglês) Conforme as Testemunhas de Jeová podem comprovar facilmente, até mesmo a informação dentro da organização é controlada. Por exemplo, os publicadores, até mesmo os servos ministeriais, não têm acesso ao conteúdo de inúmeras cartas que chegam da organização e às quais apenas os anciãos têm acesso. Por vezes, mesmo dentro dos corpos de anciãos, nem todos têm acesso a determinada informação que por vezes fica apenas entre as comissões de serviço de cada congregação. O manual dos anciãos (Km) é outra publicação restrita aos anciãos e nem mesmo as suas esposas podem ter acesso a eles. A informação é controlada em absoluto, desde o publicador até ao ancião, e isto aplica-se também ao acesso que estes têm a publicações mais antigas da sociedade que muitas vezes ou já não são publicadas por ela ou estão fechadas a sete-chaves nas bibliotecas congregacionais. O Ministério do Reino de Setembro de 2007, na caixa Perguntas Respondidas trazia a seguinte matéria: ▪ Será que o “escravo fiel e discreto” aprova que grupos de Testemunhas de Jeová se reúnam à parte da congregação para realizar pesquisas ou debates sobre a Bíblia? — Mat. 24:45, 47. Não. Mesmo assim, em várias partes do mundo, alguns dos que se associam com a nossa organização formaram grupos para realizar pesquisas independentes sobre assuntos bíblicos. Alguns fazem parte de grupos que pesquisam o hebraico e o grego usados na Bíblia a fim de analisar a exatidão da Tradução do Novo Mundo. Outros pesquisam assuntos científicos relacionados à Bíblia. Esses grupos criam páginas na internet e salas de bate-papo que têm por objetivo trocar idéias e debater seus pontos de vista. Também organizam palestras e produzem publicações para divulgar suas conclusões e complementar o que é transmitido em nossas reuniões cristãs e publicações. Em toda a Terra, o povo de Jeová recebe ampla instrução espiritual e encorajamento nas reuniões congregacionais, nas assembléias, nos congressos e por meio das publicações da Sua organização. Sob a orientação de seu espírito santo e à base de sua Palavra da verdade, Jeová fornece o que é necessário para que todos os seus servos estejam “aptamente unidos na mesma mente e na mesma maneira de pensar” e permaneçam “estabilizados na fé”. (1 Cor. 1:10; Col. 2:6, 7) Certamente somos gratos pelas provisões espirituais de Jeová nestes últimos dias. Assim, “o escravo fiel e discreto” não apóia quaisquer publicações, reuniões ou páginas na internet que não sejam produzidas ou organizadas sob a supervisão dele. — Mat. 24:45-47. É elogiável querer usar as habilidades mentais para apoiar as boas novas. No entanto, nenhuma pesquisa pessoal deve desmerecer o que Jesus Cristo está realizando hoje por meio de sua congregação na Terra. No primeiro século, o apóstolo Paulo avisou sobre o perigo de se envolver em assuntos que cansam e que consomem tempo, como as “genealogias, que acabam em nada, mas que fornecem mais questões para pesquisa do que uma dispensação de algo por Deus em conexão com a fé”. (1 Tim. 1:3-7) Todos os cristãos devem se esforçar para se esquivar “de questões tolas e de genealogias, e de rixas e lutas sobre a Lei, porque são sem proveito e fúteis”. — Tito 3:9. Para os que desejam estudar e pesquisar mais a Bíblia, recomendamos usar as publicações Estudo Perspicaz das Escrituras, “Toda a Escritura É Inspirada por Deus e Proveitosa” e outras produzidas pelo escravo fiel e discreto, como as que tratam das profecias encontradas nos livros bíblicos de Daniel, Isaías e Revelação. Elas fornecem muita matéria para estudo da Bíblia e meditação. Por meio delas podemos ficar ‘cheios do conhecimento exato da vontade de Deus, em toda a sabedoria e compreensão espiritual, para andarmos dignamente de Jeová, com o fim de lhe agradar plenamente, ao prosseguirmos em dar fruto em toda boa obra e em aumentar no conhecimento exato de Deus’. — Col. 1:9, 10. Esta matéria é um claro exemplo de controle de informação, onde o estudo independente é claramente criticado e condenado. O resultado deste tipo de textos, cria por parte das Testemunhas de Jeová uma desconfiança em relação a tudo o que seja informação externa à organização. Existe a real fobia por parte das Testemunhas, criada pela organização em suas mentes, de que se lerem informação sobre ela fora do que está aprovado pela liderança cairão como presas de Satanás. A organização segue assim as pisadas da Igreja Católica Medieval que condenava a leitura da Bíblia, afirmando que ela era perigosa pois levava as pessoas a questionar as doutrinas oficiais da mesma. Embora a organização não vá ao ponto de proibir a leitura da Bíblia, ainda assim esta só pode ou deve ser lida através dos entendimentos promovidos nas publicações da Torre de Vigia. Será que isso é realmente "ler" a Bíblia e "pesquisá-la"? Dificilmente. O controle de informação vai mesmo ao ponto da organização desincentivar os estudos académicos, até mesmo colocando em causa as qualificações de anciãos e servos ministeriais que desejem cursar a universidade ou apoiem seus filhos a fazê-la. "Mas que dizer da educação superior, recebida numa faculdade ou universidade? Isso é amplamente encarado como vital para o sucesso. No entanto, muitos dos que buscam tal educação acabam com a mente cheia de propaganda prejudicial. Tal educação desperdiça valiosos anos da juventude que poderiam ser mais bem usados no serviço de Jeová." – Sentinela, 15 de Abril de 2008, pág. 10 O desencorajamento dado à pesquisa externa e à educação superior juntamente com informação enganosa dentro das publicações da Torre de Vigia, onde eruditos e cientistas são citados fora do contexto e onde as fontes de enciclopédias e livros não são mencionados de forma a alguém certificar-se do que foi citado, coloca as Testemunhas de Jeová numa posição de desvantagem em relação aos de fora (do "mundo"). Esta manipulação da informação e seu respetivo controle, cria na mente das Testemunhas de que apenas elas têm a "verdade" e que a sua literatura é bem pesquisada e confiável. Ver vários exemplos aqui. Se elas soubessem como são enganadas neste aspeto! Controle da Emoção O controle emocional faz uso do medo, obrigação e culpa. Vejamos alguns exemplos claros desse uso na organização das Testemunhas de Jeová:
Medo Uma das melhores e mais antigas técnicas de coerção usadas pela religião tem sido o medo. A própria organização já o reconheceu: “As igrejas tendem a crer, consciente ou inconscientemente, que o medo — em vez de o amor — conquista a todos.” – Sentinela, 15 de Julho de 1981, pág. 32 A organização Torre de Vigia tem feito bom uso deste instrumento criando fobias e paranóias em seus membros. Em vez de confiar no amor de seus servos por Deus, prefere usar o medo para os levar a fazer aquilo que ela entende ser o correto. Apresenta assim o mundo como um local sombrio, povoado na sua maioria por pessoas que desejam fazer mal às Testemunhas ou pelo menos desencaminhá-las. Induz também o medo a Satanás e seus demónios, o medo de ser destruído no Armagedom e o medo de ser expulso da organização, perdendo todos os laços sociais e familiares que ainda permanecerem nela. O medo do Armagedom tem sido uma das principais armas de terror usadas pela Torre de Vigia e uma prova disso mesmo são as inúmeras ilustrações usadas em suas publicações. Tais ilustrações criam um profundo impacto na mente das Testemunhas, desde os mais pequenos, aos mais velhos. Estas vívidas ilustrações inculcam no subconsciente da Testemunha o verdadeiro horror que poderá ser o Armagedom e como aqueles que forem destruídos nesse dia irão sofrer às mãos de Deus. É interessante que a organização que tanto criticou a Igreja Católica pelo uso do medo para dominar o povo, com respeito ao "Inferno de fogo", passou a usar exatamente a mesma tática com respeito ao Armagedom, criando em torno desta única menção bíblica um verdadeiro espetáculo gráfico de horrores (Apocalipse 16:16). Mas o medo incutido nas Testemunhas de Jeová por parte da Organização começa bem antes, com outro evento. Algo que as Testemunhas de Jeová têm vindo a temer tanto ou mais do que o próprio Armagedom é a chamada "grande tribulação". A organização escreveu coisas sobre ela tal como: "Devemos estar dispostos a sofrer dificuldades também durante a vindoura “grande tribulação”, satisfeitos com a garantia de Jeová: “Talvez sejais escondidos no dia da ira de Jeová.”" — Sentinela, 15 de Março de 1979, pág. 30 "Vendo a tremenda prova final de nossa fidelidade surgir diante de nós, com a aproximação da “grande tribulação”, talvez decidamos que não queremos enfrentá-la." — Sentinela, 15 de Março de 1977, pág. 187 "Precisa-se dizer-lhe o que deve esperar quando se torna testemunha do Deus verdadeiro, Jeová; que o caminho para a salvação é estreito, apertado e difícil, e que, quanto mais nos aproximamos da “grande tribulação”, podemos esperar maior oposição e perseguição da parte de Satanás e de sua organização iníqua." — Sentinela, 1 de Outubro de 1970, pág. 592 Imagens sobre este assunto também têm sido publicadas nas páginas das revistas e livros da organização, de modo a reforçar na mente este medo da eminente "grande tribulação". Infelizmente, tais fobias criadas pelo medo inculcado na mente das Testemunhas através da doutrinação repetitiva da Organização sobre tais assuntos doutrinais, permanece por longo tempo, mesmo após o membro cessar a associação com a religião das Testemunhas de Jeová. No artigo "Saindo das Seitas" (Coming out of the Cults), a revista Psychology Today, de janeiro de 1979, num artigo assinado por Margaret Thaler Singer, uma das mais reconhecidas peritas em seitas e grupos de alto controle, foi feita a seguinte declaração: "A maioria dos grupos trabalham arduamente para prevenir deserções: alguns ex-membros citam avisos de condenação celestial contra eles, seus antepassados e seus filhos. Visto que muitos veteranos de seitas retêm algum resíduo de crença nas doutrinas da seita, apenas isto pode ser um fardo horrível." Medo da desassociação O medo da separação da organização é temido. Afinal, ser desassociado equivale à condenação eterna na destruição, conforme a doutrina da Torre de Vigia. Visto que existem dezenas de razões pelas quais uma Testemunha de Jeová pode ser expulsa da religião ou pelo menos correr esse risco, as Testemunhas vivem em constante pavor de "pisar a linha" e serem punidos por isso. A desassociação leva a que a pessoa perca o contacto com todos os membros da religião, muitos deles amigos de longa data e muitas das vezes, os únicos que a pessoa possui. Visto que a religião determina e impõe o ostracismo em relação àqueles que saem, a pessoa fica votada ao abandono e "morte social". Até mesmo os parentes devem tomar a peito esta postura ostracizadora, menos aqueles que vivam no mesmo lar do desassociado/dissociado. A pessoa que é desassociada (expulsa) e aquela que decide abandonar a religião de livre vontade (dissociada), é encarada como regressando ao mundo de Satanás e merecedora da destruição eterna. "Em primeiro lugar, algumas das publicações dos apóstatas apresentam falsidades por meio de “conversa suave” e “palavras simuladas”... Aqueles que tiverem continuado a se alimentar à mesa espiritual de Satanás, a mesa dos demônios, serão obrigados a tomar parte duma refeição literal, não, não como participantes, mas como prato principal — para a sua destruição!" — Sentinela, 1 de Julho de 1994, pág. 12 "Satanás semeia no seu coração a deslealdade e a traição. Logo caem vítimas da apostasia, e Satanás se regozija." — Sentinela, 1 de Setembro de 1988, pág. 16 "Desviar-se alguém de Jeová e de sua organização, desprezar a orientação do “escravo fiel e discreto” e estribar-se simplesmente na leitura e interpretação pessoais da Bíblia é como tornar-se uma árvore solitária numa terra árida." — Sentinela, 1 de Junho de 1985, pág. 20 "A desassociação serve como poderoso aviso de aviso para aqueles na congregação, visto que poderão ver as consequências desastrosas de ignorar as leis de Jeová. Não conversem com tal ou mostrem reconhecimento de alguma forma... Afastem-se dele. Deste modo, ele sentirá a plena importância do seu pecado." — Sentinela, 1 de Julho de 1963, pág. 411 (edição em inglês) "A influência de Satanás através de um membro desassociado da família irá causar que outro membro ou membros da família que estejam na verdade possam juntar-se ao membro desassociado no seu proceder ou posição contra a organização de Deus." — Sentinela, 15 de Novembro de 1952, pág. 703 (edição em inglês) "Devemos odiar [a pessoa desassociada] no sentido mais verdadeiro, que é o de encarar com extrema e ativa aversão, considerarndo-os como repugnantes, odiosos, imundos, a detestar." — Sentinela, 1 de Outubro de 1952, pág. 599 (edição em inglês) Medo das pessoas do "mundo" É dito constantemente às Testemunhas de Jeová que o mundo é um local horrível e a ser temido. As pessoas do "mundo" são quase sempre apresentadas como tendo más qualidades, salientando que estas não são felizes sem a orientação divina provida pela organização e que estão debaixo da influência satânica. Por isso, as Testemunhas temem tanto a associação com tais pessoas. "Embora algum contato com pessoas do mundo seja inevitável — no trabalho, na escola e de outro modo — temos de ser vigilantes para não ser sugados de volta à atmosfera mortífera deste mundo. [...] Que o mundo siga seu próprio rumo, colhendo seus maus frutos na forma de lares desfeitos, filhos ilegítimos, doenças sexualmente transmissíveis, tais como a AIDS, e incontáveis outros males emocionais e físicos." — Sentinela, 15 de Setembro de 1987, pág. 12 Existe uma constante repetição de experiências de membros que relatam suas terríveis vidas anteriores, antes de se juntarem à organização. É raro o caso em que tais experiências não relatem casos de abuso de drogas, envolvimento com gangs e violência, bem como lares problemáticos, etc.. Tais experiências reforçam nas Testemunhas de Jeová a ideia de que apenas dentro da sua organização religiosa as pessoas encontram a paz e felicidade genuínas. Nem mesmo consideram que outros grupos religiosos possuem tais experiências de conversão similares. Como acontece em todos os grupos religiosos, as pessoas que aderem a estas religiões procuram também elas um sentido na vida e procuram encontrar e saciar o seu desejo de um relacionamento com Deus. Muitas também abandonaram vidas desregradas, violentas e problemáticas, encontrando na religião algo pelo qual viver. As Testemunhas de Jeová não possuem de modo algum a chave da felicidade. Sentimentos de culpa A culpa é um sentimento comum entre as Testemunhas de Jeová. Estas sofrem este sentimento de culpa por sentirem que nunca fazem o suficiente, por lhes ser constantemente lembrado que têm de trabalhar para obter a salvação e que são imerecedoras do dom da vida, a menos que acompanhem o "carro celestial de Jeová", seguindo lealmente a liderança do "escravo fiel e discreto". "Não queremos diminuir o passo e justificar nossa atitude dizendo que estamos sendo razoáveis. Ao contrário, todos nós precisamos ‘nos esforçar vigorosamente’ ao apoiar os interesses do Reino." — Sentinela, 15 de Junho de 2013, pág. 16 "No entanto, quem espera ser preservado no “dia da ira de Jeová” precisa ser ajudado a fazer mais do que apenas ser leitor regular de nossas publicações." — Ministério do Reino, Março de 2005, pág. 1 "Sim, não podemos esperar que Deus nos recompense com a vida eterna, se nós, como que, não assinamos um contrato de trabalho com ele." — Sentinela, 1 de Novembro de 1978, pág. 15 Visto que a Torre de Vigia não ensina que os cristãos ao se batizarem estão "salvos" ou têm o "selo de aprovação" divina (muito menos a crença de que "salvos uma vez, salvos para sempre"), as Testemunhas de Jeová sentem que a sua posição perante o Criador nunca está garantida e que o sangue de Jesus, por si só, não é suficiente para garantir a salvação (Romanos 5:9). É como se Deus fosse um patrão permanentemente insatisfeito, que requer que seus empregados demonstrem, através do seu trabalho duro e constante, o empenho devido para merecer o ordenado ao fim do mês ou mesmo para que não sejam despedidos. Mesmo que as Testemunhas de Jeová não encarem a Deus desta forma de modo consciente, ainda assim sentem que estão sempre em dívida para com ele, tendo que provar através de inúmeras obras, que estão empenhando-se pela salvação. Isto leva a uma permanente pressão para estar sempre disposto a fazer mais e mais na "obra do Senhor", de modo a provar a nível congregacional e organizacional que a pessoa é "espiritual" e está devotada à causa do Reino. Até mesmo para alcançar algum cargo congregacional a pessoa precisa provar por meio de um trabalho dedicado à organização que lhe é leal e está disposto a sacrificar os seus interesses pessoais em prol do "Reino". As amizades também são monitorizadas, quer as de fora (mundanos), como as "más companhias" internas, em especial pessoas que sejam consideradas fracas em sentido espiritual (1 Coríntios 15:33). "O princípio em que Paulo baseava sua advertência aplica-se às nossas associações tanto fora como dentro da congregação. (1 Coríntios 15:12, 33)" — Sentinela, 15 de Julho de 1997, pág. 18 Assim, algo a que Testemunha deve dar bastante consideração é com respeito a avaliar se os amigos na congregação são boas companhias ou, por outro lado, devem ser "marcados" (evitados). Outro aspeto relacionado com o que falamos anteriormente, é que é dito constantemente às Testemunhas de que elas não merecem o resgate de Jesus: "O resgate é totalmente imerecido. Mas, por exercerem fé nele, milhões hoje tornaram-se amigos de Deus e têm a esperança de vida eterna numa Terra paradísica. Tornar-se amigo de Jeová, porém, não garante que permaneceremos nessa relação com ele. Para escapar do futuro furor de Deus, temos de continuamente mostrar nosso profundo apreço pelo “resgate pago por Cristo Jesus”." — Sentinela, 15 de Agosto de 2010, pág. 17 É interessante que esta interpretação doutrinal da bondade imerecida em relação ao resgate de Jesus, é feita com base na tradução errada de 2 passagens: "...e é como dádiva gratuita que estão sendo declarados justos pela benignidade imerecida dele, por intermédio do livramento pelo resgate [pago] por Cristo Jesus." — Romanos 3:24 "Que tenhais benignidade imerecida e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo." — 1 Coríntios 1:3 Afirmou-se que estas duas passagens estão erradamente traduzidas, porque a Tradução do Novo Mundo usa a expressão "benignidade imerecida" (TNM Revisada "bondade imerecida"), onde outras traduções vertem a palavra grega χάρις (charis) por "graça". A palavra grega charis pode realmente ser traduzida por "graça", "benignidade" ou "bondade", mas não existe justificação para incluir a palavra "imerecida". Das 7602 ocorrências da palavra "benignidade" na Watchtower Library de 2003, 2296 ocorrências incluem a palavra "imerecida". Imagine o que é alguém estar constantemente a ser bombardeado com a mensagem de que ele não é merecedor da "graça" ou "bondade" de Deus, até mesmo associando a isso a ideia de que para merecer a dádiva da vida através de Cristo, a pessoa tem que provar de todos os modos que realmente deseja receber tal dádiva, especialmente através das obras que a Organização afirma serem essenciais para a salvação! Reportar e Confessar A Torre de Vigia promove a confissão e estimula em seus membros a ideia de que estes devem "entregar" seus irmãos, quando sabem que alguém cometeu algo que viola as normas da religião. Se um membro é "entregue" por outro aos anciãos, em vez de ser ele a confessar o "pecado", será mais provável que venha a ser punido com a desassociação, caindo na categoria de pecador impenitente. "Uma pessoa que tornou-se testemunha de um sério pecado deve encorajar o pecador a reportar o assunto aos anciãos. E pode encorajar o errante a procurar ajuda dos anciãos e confessar; e se o pecador não o fizer, a testemunha irá então informar os anciãos." — Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho (traduzido da versão inglesa) "Jeová opôr-se-á a qualquer um que pecar gravemente e que tente permanecer na sua organização pura sem confessar o seu erro às autoridades visíveis na congregação cristã. A pessoa que cai em pecado, mas que deseja fazer o que é certo, deve ir ao superintendente da congregação e fazer uma confissão honesta da sua transgressão." — Sentinela, 1 de Agosto de 1963, págs. 473-474 (edição em inglês) "Portanto, depois de termos concedido ao errante um prazo razoável para se dirigir aos anciãos sobre a sua transgressão, temos perante Jeová a responsabilidade de não ser partícipes nos seus pecados. Precisamos informar os superintendentes responsáveis de que a pessoa revelou uma transgressão séria, que merece ser investigada por eles. Isto está em harmonia com Levítico 5:1, que diz: “Ora, caso uma alma peque por ter ouvido uma imprecação feita em público, e seja testemunha, ou tenha presenciado isso e veio a sabê-lo, então, se não o relatar, terá de responder pelo seu erro.” Naturalmente, temos de evitar qualquer precipitação baseada na mera suposição duma transgressão." — Sentinela, 15 de Novembro de 1985, págs. 20-21 Igrejas Abusivas O escritor Ronald Enroth no seu livro "Igrejas que Abusam" (Churches That Abuse"), identifica cinco categorias pelas quais se pode identificar uma religião abusiva. À medida que ler, compare com a sua experiência e aquilo que sabe da religião que segue: 1. Autoridade e Poder - igrejas abusivas usam mal e distorcem o conceito de autoridade espiritual. O abuso surge quando os líderes de uma igreja ou grupo reclama para si mesmos poder e autoridade que falha na dinâmica da responsabilidade dinâmica e a capacidade de questionar ou desafiar as decisões feitas pelos líderes. A diferença existe na mudança de um respeito geral, como por exemplo, por um funcionário do estado para algo onde os membros lealmente se submetem sem qualquer direito a dissensão. 2. Manipulação e Controle - Igrejas abusivas são caracterizadas por dinâmicas sociais onde o medo, culpa e ameaças são rotineiramente usadas para produzir obediência inquestionável, conformidade de grupo e rigorosos testes de lealdade para com os líderes, demonstrados perante o grupo. Conceitos bíblicos de relacionamento líder/discípulo tendem a desenvolver em hierarquias onde as decisões dos líderes controlam e usurpam o direito e capacidade do discípulo em assuntos espirituais ou mesmo em rotinas diárias, tais como que emprego, dieta alimentar e vestuário são permitidos. 3. Elitismo e Perseguição - Igrejas abusivas descrevem-se a elas mesmas como únicas nos planos de Deus e têm uma tendência organizacional forte, de modo a estarem separadas de outros corpos e instituições religiosas. O dinamismo social do grupo gira em torno da sua independência ou separação, o que diminui as possibilidades de correcção interna e reflexão. O criticismo externo e avaliação é rejeitado como sendo esforços perturbadores de pessoas más procurando dificultar ou frustrar os planos de Deus. 4. Estilo de vida e Experiência - Igrejas abusivas fomentam a rigidez no comportamento e na crença, o que requer inabalável conformidade aos ideais e costumes sociais do grupo. 5. Dissidência e Disciplina - Igrejas abusivas tendem a suprimir quaisquer desafios internos e dissidência concernentes às decisões feitas pelos líderes. Actos de disciplina podem envolver humilhação emocional e física, violência física ou privação, acutilantes e intensos actos de punição devido a dissidência e desobediência. Dissonância Cognitiva Um estudo importante em psicologia foi realizado por Leon Festinger. Ele centrou-se na forma como o ser humano procura uma coerência entre as suas cognições (conhecimento, opiniões ou crenças). Quando surge uma incoerência entre as atitudes ou comportamentos que a pessoa acredita serem certos ou verdadeiros e aquilo que está a experimentar, ocorre a chamada dissonância cognitiva. "De acordo com a teoria da dissonância cognitiva de Festinger (1957), um indivíduo passa por um conflito no seu processo de tomada de decisão e dissonância depois quando pelo menos dois elementos cognitivos não são coerentes. Em outras palavras, quando uma pessoa possui uma opinião ou um comportamento que não condiz com o que pensa de si, das suas opiniões ou comportamentos vai ocorrer dissonância. Quando os elementos dissonantes são de igual relevância ou importantes para o indivíduo, o número de cognições inconsistentes determinará o tamanho da dissonância." (ver aqui) Um exemplo da dissonância cognitiva, é retratado na fábula "A raposa e as uvas" de Aesop (cerca de 620-564 a.C.): Na história, uma raposa vê algumas uvas e quer comê-las. Quando a raposa é incapaz de pensar em uma maneira de alcançá-las, decide que não vale a pena comer, com a justificativa de que as uvas, provavelmente, não estão maduras ou que são azedas (daí a frase comum "uvas verdes"). A moral que acompanha a história é "Qualquer tolo pode desprezar o que ele não pode ficar". Este exemplo segue um padrão: um deseja algo, considera inatingível, e reduz a própria dissonância por criticá-lo. Leon Festinger cunhou este termo para descrever aquilo que ele estudou ao pesquisar uma seita que acreditava que os aliens iriam destruir o mundo por um dilúvio. A líder dessa seita, Marian Keech, havia dito aos seus seguidores que estes aliens, habitantes do planeta Clarion, iriam destruir a terra num dia determinado: 21 de dezembro de 1954. Apenas ela e os seus seguidores seriam salvos deste cataclismo mundial para um novo mundo. Esta forte convicção levou a que os membros do grupo deixassem empregos, universidade e até mesmo cônjugues, dando o seu dinheiro e pertences para se prepararem para serem levados num disco voador que os iria resgatar. Como é evidente, a predição falhou. Mas será que isso levou a que seus discípulos percebessem que tinham sido ludibriados? Não! Supostamente, a líder da seita recebeu uma mensagem do "Deus da Terra", dizendo que decidira poupar o planeta da destruição devido à luz emanada por aquele pequeno grupo reunido durante toda a noite. Festinger afirmou que cinco condições devem estar presentes para alguém se tornar um crente ainda mais fervoroso depois de uma falha ou desconfirmação:
Festinger afirmou o seguinte: "Um homem com uma convicção é um homem difícil de mudar. Diga-lhe que discorda e ele se afasta. Mostre-lhe factos ou figuras e ele questiona suas fontes. Apele à lógica e ele não consegue ver o seu ponto. Nós todos experimentamos a futilidade de tentar mudar uma forte convicção, especialmente se a pessoa convencida fez algum investimento em sua crença. Estamos familiarizados com a variedade de defesas engenhosas com que as pessoas protegem suas convicções, conseguindo mantê-los incólumes aos ataques mais devastadores. Mas a desenvoltura do homem vai além de simplesmente proteger uma crença. Suponha que um indivíduo acredita em algo de todo o seu coração. Suponha ainda que ele tem um compromisso com esta crença, que ele tomou medidas irrevogáveis por causa disso. Finalmente, suponha que ele é confrontado com provas, inequívoca e inegável evidência de que sua crença é errada: o que vai acontecer? O indivíduo vai com frequência emergir, apenas não só inabalado, mas ainda mais convencido do que nunca da verdade de suas crenças. De fato, ele pode até mostrar um novo fervor do seu convencimento e converter outras pessoas à sua visão." Quem já dialogou com uma ferverosa Testemunha de Jeová ou outro membro de qualquer outra seita religiosa, percebe claramente como estas palavras se cumprem de modo claro e inequívoco. A maioria dos crentes religiosos, encara a contestação de suas crenças como um ataque espiritual e uma procura de derrubar a sua integridade perante Deus. A pessoa que contesta, até mesmo mostrando provas e evidências daquilo que declara, passa a ser visto aos olhos do crente como se fosse o próprio Diabo encarnado que procura desviar a pessoa da "verdade" ou da "vida eterna", prometida pelo líder religioso ou religião a que pertence. Notem como as palavras de Festinger encaixam-se bem, por exemplo, na forma como as Testemunhas de Jeová encaram o falhanço das profecias emanadas pela Torre de Vigia sobre o que aconteceria em 1914 e outras datas para a vinda do Armagedom: "Alternativamente, a dissonância seria reduzida ou eliminada, se os membros de um movimento efectivamente cegassem a si mesmos perante o fato de que a previsão não se cumpriu. Mas a maioria das pessoas, incluindo os membros de tais movimentos, estão em contacto com a realidade e não pode simplesmente apagar de sua cognição um fato tão inequívoco e inegável Eles podem tentar ignorá-lo, contudo, e eles geralmente tentam. Eles podem convencer-se de que a data estava errada, mas que a previsão vai, afinal, ser logo confirmada; ou podem até mesmo definir outra data assim como fizeram os Milleristas... A racionalização pode reduzir um pouco a dissonância. Para que racionalização seja totalmente eficaz, o apoio dos outros é necessária para tornar a explicação ou a revisão parecer correta. Felizmente, o crente decepcionado geralmente pode voltar-se para os outros do mesmo movimento, que têm a mesma dissonância e as mesmas pressões para reduzi-la. Suporte para a nova explicação é, por isso, desejada e os membros do movimento podem recuperar um pouco do choque da descredibilização. Mas seja qual for a explicação que é dada, ainda é por si só insuficiente. A dissonância é demasiado importante e embora eles possam tentar escondê-la até de si mesmos, os crentes ainda saberão que a previsão era falsa e que todos os preparativos foram em vão. A dissonância não pode ser completamente eliminada por negar ou racionalizar a descredibilização. Mas existe uma forma em que a dissonância restante pode ser reduzida. Se mais e mais pessoas forem persuadidos de que o sistema de crença é correto, então é claro que ele deve, afinal, ser correto. Considere o caso extremo: se todos no mundo inteiro acreditassem em algo, não haveria nenhuma questão em relação à validade desta crença. É por esta razão que nós observamos o aumento do proselitismo após o falhanço. Se o proselitismo for bem sucedido, então, reunindo mais adeptos e efectivamente cercando-se com apoiadores, o crente reduz a dissonância até o ponto em que ele pode viver com isso." Efeitos na personalidade Como é evidente, a manipulação sofrida pelos crentes que estão debaixo de um grupo ou seita de alto controle, irá certamente afetar a sua personalidade. As técnicas mentais usadas pelos líderes, de modo a conformar o grupo a uma unidade indivisa e plenamente leal às doutrinas e práticas da liderança, condicionará todos os aspetos da vida do membro. Por exemplo, é incomum nas Testemunhas de Jeová algum homem usar barba, pêra (bras. cavanhaque), ou algum estilo mais pessoal de aparência. As Testemunhas de Jeová são admoestadas a não trazer a atenção para si com estilos considerados mais "rebeldes" ou "diferentes". Várias experiências de pessoas convertidas à religião, reforçam essa ideia. Veja alguns exemplos e citações de artigos sobre este assunto: "Eu era rebelde, e isso ficava evidente em minha aparência. Só usava roupa escura. Também tinha barba comprida e deixei o cabelo crescer quase até a cintura." — Sentinela, 1 de Abril de 2012, pág. 14 "Maneiras extremas de usar o cabelo ou barba também podem facilmente levar alguém ao laço do Diabo e fazer outros tropeçar. Por exemplo, um jovem nos Estados Unidos fazia bom progresso no seu estudo da Bíblia e sentiu-se induzido a acompanhar uma Testemunha experiente na pregação aos outros das boas coisas que aprendeu da Bíblia. Desde cedo na vida, deixara sua barba crescer, e, visto que alguns na comunidade comercial usavam barba, achava que usar uma na pregação aos outros seria em geral aceitável. Mas, ao falar com uma senhora, apenas pôde apresentar-se, quando ela disse: “Eu lamento muito, meu jovem, mas não quero ficar envolvida na revolta dos estudantes.” Depois disso, nenhuma explicação bastou para desfazer o mal-entendido. Depois de a palestra terminar com o fechar da porta, ele perguntou à Testemunha experiente o que tinha acontecido. Foi convidado a considerar sua aparência em relação ao que afirmava ser, servo de Deus. Não querendo ser responsável nem mesmo por uma pessoa tropeçar, ao ponto de perder o caminho para a vida eterna, este novo publicador do Reino cortou a barba. Estaria disposto a fazer ajustes iguais ou similares, se a sua aparência desse a impressão errônea em certa localidade?" — Sentinela, 15 de Fevereiro de 1976, págs. 116-117 "Um ancião em Portugal conta o seguinte sobre testemunho informal: “No intervalo do almoço eu coloquei o livro Criação com um colega. Nós nos víamos só de vez em quando, mas sempre que isso acontecia falávamos um pouco sobre a verdade. Visto que expressou dúvida sobre a inspiração da Bíblia, coloquei com ele o livro É a Bíblia Realmente a Palavra de Deus?. Certo dia, uma Testemunha visitou a casa dele numa ocasião em que ele não estava, e deixou o tratado que oferecia o livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra. Ele fez questão de me procurar na hora do almoço para pedir essa publicação. Depois disso, foi espantoso observar seu progresso apenas pela leitura do livro. Ele rapou a barba, melhorou a maneira de usar o cabelo e a sua aparência em geral. Daí, ele me surpreendeu por dizer que agora estava convencido de que esta é a verdade e que decidira associar-se com as Testemunhas de Jeová. No domingo anterior ele procurara um Salão do Reino na região onde mora e já assistira à sua primeira reunião. Nessa ocasião iniciou-se com ele um estudo bíblico domiciliar e, depois de apenas três meses, ele assistia regularmente a todas as reuniões e era um zeloso publicador, aguardando ansiosamente ser batizado no Congresso de Distrito ‘Paz Divina’.” — Anuário de 1987, págs. 45-46 Existem ao longo das publicações editadas pela Sociedade Torre de Vigia, milhares de experiências similares a estas que reforçam na mente do leitor a importância de se vestir e arrumar de acordo com aquilo que o grupo espera dele. Desde o corte de cabelo, uso da barba, passando pela forma de vestir, o membro é levado a seguir exatamente o modelo apresentado como sendo o correto. O mais interessante é que os membros são conduzidos a este proceder acreditando que isso é feito de livre vontade, uma escolha pessoal. Mas será que é bem assim? A psicologia estuda este fenómeno há já muitos anos e aquilo que descobriu pode ajudar-nos a entender que tudo isto acontece devido àquilo que é caracterizado como "conformidade ao grupo". Veja neste vídeo, até que ponto vai a conformidade ao grupo e perceba como funciona a mente humana quando está envolvido num grupo que segue de modo uniforme, determinada acção ou proceder. Podemos assim entender quão poderosa é a influência exercida sobre a pessoa, quando está envolvida num grupo de alto controle, como acontece com as Testemunhas de Jeová. Os membros são levados pela pressão do grupo a aceitar TODAS as doutrinas e práticas impostas pela liderança, não importando quão estranhas ou descabidas estas possam ser. Percebe-se assim como as Testemunhas de Jeová simplesmente aceitam as "novas luzes" publicadas pela liderança (Corpo Governante), mesmo que na sua mente tais interpretações possam ser contestadas. A pressão do grupo leva a que seja virtualmente impossível que a Testemunha de Jeová questione publicamente tais doutrinas, juntando a tudo isto a possibilidade de ser punida com a desassociação e consequente "morte social" (ostracização). Impacto da saída do grupo Mesmo depois de alguém saber que está numa seita ou grupo "destrutivo", alguns não têm a força necessária para os abandonar. Outros que saem acabam voltando em breve. Porque isto acontece? Porque sair de uma seita ou grupo "destrutivo" é uma experiência traumática do ponto de vista psicológico. Imagine alguém que dedicou toda a sua vida a essa causa, até mesmo levando outros a aderir a ela. Tal pessoa desenvolveu toda a sua vida social dentro da seita, até mesmo casando e tendo filhos nela. Toda a sua estrutura pessoal, que o identifica e enquadra no universo está ligado a ela. Seus padrões cerebrais estão vinculados e treinados para pensar sempre como membro dela e até mesmo as decisões mais simples são decididas após consultar o que a liderança estipula sobre o assunto. Embora seja adulto, a pessoa comporta-se como uma criança, procurando a aprovação do grupo e a direcção dos líderes. Agora imagine ver-se sozinha! Totalmente abandonada e tendo que decidir por si mesma quem realmente é e o que realmente quer fazer. Nenhum "guia" ou "mapa" para o ajudar e visto que toda a estrutura social ficou para trás, nenhuns amigos a quem recorrer. Talvez até mesmo muitos dos familiares ficaram na seita ou grupo e agora o renegaram, recusando ter contacto consigo. Consegue imaginar o que isso provoca a nível mental? É tão séria esta situação que muitas das vezes, os ex-membros de "seitas destrutivas" sofrem de stress pós-traumático. O site Cult Awareness providencia o seguinte esquema sobre o processo que geralmente uma pessoa atravessa ao sair de uma seita:
Para aqueles que realmente abandonam o grupo, o Dr. Michael Langone, da American Family Foundation (AFF), listou os sintomas sofridos por 80% dos ex-membros de grupos de alto controle (ver aqui):
Após deixar as Testemunhas de Jeová, os ex-membros podem manifestar animosidade contra a religião em geral, visto que a sua experiência nela arrasta consigo tantas emoções fortes. Isto é absolutamente compreensível. É por isso que tantas ex-Testemunhas de Jeová usam por vezes de linguagem forte ao falar com as Testemunhas praticantes e com isso passam uma ideia de algum desequilíbrio e reforçam a propaganda da Torre de Vigia sobre os chamados "apóstatas": "A mesma emoção prejudicial faz com que os apóstatas se tornem ferrenhos odiadores dos que antes eram seus irmãos. (1 Timóteo 6:3-5) Não é de admirar que homens invejosos sejam impedidos de entrar no Reino de Deus! Jeová Deus decretou que todos os que continuam a estar “cheios de inveja . . . merecem a morte”." — Sentinela, 15 de Setembro de 1995, pág. 7 Afinal, os tais "ferrenhos odiadores" são muitas vezes pessoas profundamente marcadas pela experiência de pertencer a um grupo de alto controle. Devido aos sentimentos que afloram ao falar da sua experiência negativa no grupo, existe por vezes a manifestação de uma profunda insatisfação para com a liderança (que consideram culpada por tudo o que passaram), bem como um antagonismo contra os membros que pertencem ao grupo e tentam a todo o custo defender seus líderes, até mesmo chamando de mentirosos e "apóstatas" aos ex-membros. É preciso lembrar que todos os que hoje em dia são categorizados como "apóstatas" e "ferrenhos odiadores dos que antes eram seus irmãos", já foram no passado absolutamente ferrenhos defensores do grupo, tratando na época da mesma forma aqueles que saíram. Como a Torre de Vigia tornou-se uma religião controladora A maioria das Testemunhas de Jeová vieram a conhecer a Torre de Vigia há apenas cerca de poucos anos. Poucas são aquelas que conhecem, por experiência própria, a forma como ela era liderada no tempo de Russell, por exemplo. O que conhecem hoje em dia, é uma religião fortemente hierarquizada, em que a liderança - desde o Corpo Governante no topo, até aos anciãos na base - deve ser obedecida inquestionavelmente, e cujas decisões e doutrinas jamais devem ser contestadas ou criticadas abertamente. No tempo do primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia, Charles Taze Russell, por exemplo:
Não foi apenas após alguns anos de liderança do 2º Presidente da Sociedade Torre de Vigia, J. F. Rutherford, que isso mudou. Foi ele quem introduziu o conceito de uma salvação restrita: a de que apenas as Testemunhas de Jeová seriam salvas. Especialmente após a sua prisão em 1918, junto com outros diretores da Sociedade, Rutherford gradualmente veio a banir quase todos os vestígios do "cristianismo" praticado em outros grupos religiosos, tais como o uso da cruz, celebração de datas religiosas do mundo cristão e até mesmo celebrações externas à religião, tais como o Dia da Mãe, aniversários natalícios, etc. Para ele, tudo o que tinha origem pagã ou conotações religiosas e políticas foi simplesmente proibido. Adeus à consciência individual mantida até então! Rutherford introduziu o conceito de que existem 2 classes de cristãos e que o sacrifício de Jesus apenas beneficia aqueles que apoiam aquilo que ele cunhou como "organização terrestre de Jeová" (tal conceito não existia anteriormente). Rutherford tinha uma personalidade carismática, forte e por vezes agressiva. Foi acusado até mesmo por seus colaboradores mais íntimos de ser um déspota e arrogante e de decidir unilateralmente as coisas sem prestar contas a ninguém. É óbvio que com uma personalidade narcísica e profundamente controladora, desenvolveu a imagem da religião que liderava à sua semelhança. Além do que mencionamos, Rutherford passou a proibir o uso da barba, ao que tudo indica de modo a apagar os vestígios de Russell e seus seguidores, que usavam barba. Passou a estabelecer regras para o vestuário e a dar orientações e conselhos médicos através das páginas da revista Idade de Ouro (Golden Age), tais como artigos contra a vacinação e inúmeras charlatanices da época (ver aqui). Embora Russell tenha sugerido que suas publicações fossem estudadas nas reuniões mantidas pelas "eclésias", foi com Rutherford que o estudo de tais publicações da Torre de Vigia passaram a assumir um papel central. Assim, terminaram as reuniões informais onde se discutiam assuntos bíblicos, para passarem a ser reuniões religiosas formatadas onde a recitação das publicações e seu estudo era feito até à exaustão, como acontece até aos nossos dias. Foi também Rutherford que iniciou o movimento proselitista das Testemunhas de Jeová, de modo absolutamente avassalador, organizando os membros para uma "pregação de confronto", porta-a-porta vendendo as suas publicações e fazendo caminhadas públicas com tabuletas e carros sonoros. A história demonstra que a Torre de Vigia, debaixo da liderança de Rutherford, veio a alinhar-se com as características definidas por Robert Lifton para grupos que usam controle mental. Passamos a enumerá-las: Controle do meio: Controle do ambiente e comunicação dentro do ambiente. Inclui não apenas controlar as pessoas que se comunicam dentro do grupo, mas especialmente a comunicação com o exterior do grupo. Envolve também o modo como o grupo entra na mente da pessoa e controla o seu diálogo interior; Manipulação Mística: A engenharia artificial de experiências, de modo a criar eventos espontâneos e sobrenaturais. Todos são manipulados para um propósito superior; Demanda de pureza: São estabelecidas regras impossíveis de performance de modo a criar um ambiente de culpa e vergonha. Não importa o quanto a pessoa tente, ela nunca é suficientemente boa, sente-se em falta e trabalha ainda mais; O culto da confissão: A destruição de barreiras pessoais e a expectativa de que cada pensamento, sentimento ou ação passada ou presente que não se conforme com as regras do grupo deve ser partilhada ou confessada. Esta informação não é esquecida ou perdoada, mas antes, usada para controlar; Ciência sagrada: A crença de que o dogma do grupo é absolutamente científico e moralmente verdadeiro, sem espaço para questões ou visões alternativas; Linguagem própria: O uso de vocabulário para constringir o pensamento dos membros no absoluto, preto-e-branco, clichés mentais usados e entendidos apenas pelos membros; Doutrina acima da pessoa: A imposição das crenças do grupo acima da experiência individual, consciência e integridade do indivíduo; Distribuição da existência: A crença de que as pessoas pertencentes ao grupo têm o direito de existir e todos os ex-membros críticos ou dissentes não. Se analisarmos cada um dos aspetos mencionados na lista, veremos que cada um deles tem aplicações na forma como a Torre de Vigia (e outros grupos), lidam com seus membros, controlando-os e levando-os a abdicarem da sua individualidade e capacidade crítica, ao mesmo tempo que colocam na mão dos líderes até as mais pequenas decisões. Afinal, é só pela conformidade ao grupo que os membros podem acreditar numa possibilidade de salvação. Com o 3º e 4º presidentes da Torre de Vigia (Franz e Knorr), ambos tendo trabalhado intimamente com Rutherford, a estrutura organizacional e funcional da religião aumentou, mantendo e ampliando as características criadas anteriormente de controle mental e manipulação. Debaixo da liderança de Knorr, por exemplo, a desassociação e subsequente ostracização dos membros foi implementada de modo oficial. Isso continuou sendo reforçado ao longo dos anos, chegando ao ponto em que uma Testemunha de Jeová que mantinha contacto e intimidade com alguém desassociado, ela mesma podia sofrer essa penalização. Isto continua sendo assim em nossos dias. Como exemplo do que mencionamos anteriormente, veja o exemplo com respeito à forma como a organização das Testemunhas de Jeová tenta controlar os membros até na forma como se vestem, neste caso quando visitam as instalações gráficas ou filiais mundiais, conhecidas como Betéis (origem na palavra hebraica Beth-El ou Casa de Deus). Para isso, ela produziu um folheto que serve de guia para a Testemunha de Jeová reconhecer qual a vestimenta correta a usar quando visita tais instalações. Isto é apenas uma pequena amostra do que um grupo de alto controle é capaz de fazer com seus membros. Conclusão É provável que muitas Testemunhas de Jeová, mesmo depois de lerem tudo isto ainda se questionem: "Mas eu não sinto os efeitos negativos de viver numa "seita destrutiva". Custa-me a acreditar que uma religião que tem sido promotora de famílias unidas, abandono de vícios prejudiciais tais como drogas, jogatina, etc., possa ser categorizada como uma "seita destrutiva"." Este argumento é razoável e é muitas vezes um dos factores principais que dificultam a avaliação imparcial de um membro com respeito ao grupo a que pertence. O próprio Steven Hassan, no seu livro Releasing the Bonds, afirma: "Nem todos os comportamentos da seita são negativos. …Por exemplo, é comum na maior parte dos grupos de seitas religiosas desencorajarem o uso de álcool de drogas. Se a pessoa parou de fumar cigarros por causa de ser membro, isto deve ser reconhecido como uma mudança positiva de vida." Ao que tudo indica, não existe um motivo conspirador para que a Torre de Vigia e seus líderes controlem seus membros. Pelo que parece, existe uma crença real por parte destes líderes de que estão realmente a fazer a vontade de Deus e desejam genuinamente ajudar outros a fazer o mesmo. Não nos podemos esquecer que as técnicas exercidas para com as Testemunhas de Jeová atualmente doutrinadas, foram também exercidas sobre os membros do atual Corpo Governante. Eles também foram manipulados e levados a crer que pertencem à "organização terrestre de Jeová" e que agora está sobre os seus ombros conduzir tal organização a bom porto, tendo a orientação e apoio divinos. No entanto, na estrutura e controlo que a Organização exerce sobre os seus membros são, efetivamente usadas técnicas-padrão de controle da mente: a pressão de grupo, estudo constante e seletivo das publicações da Sociedade e o desencorajar a investigação de alternativas doutrinais, influencia fortemente as ações e opiniões de uma Testemunha. O medo de sair e o medo do Armagedom têm igualmente uma influência significativa. O aspecto mais destrutivo de tudo isto, é o ostracismo que é praticado em dezenas de milhares de famílias e que promove a separação das mesmas. Apenas esta prática já é por si só um forte indicador de que Torre de Vigia está controlando seus membros através de técnicas destrutivas. Quando uma Testemunha de Jeová consegue reconhecer que a religião em que sempre acreditou ou passou a acreditar, é na realidade uma "seita destrutiva", isso pode ser especialmente avassalador, conforme já mencionamos anteriormente. Imagine alguém que deixou de casar, ter filhos, cursar a universidade, dedicando grande parte dos seus dias, meses e anos a trabalhar como escravo para esta religião, talvez até mesmo tendo familiares morrido devido à doutrinação com respeito à questão do sangue e que agora acorda da letargia em que viveu, passando a encarar os factos... uma sensação que só pode ser reconhecida por alguém que viveu tal experiência! Para aqueles que viram os filmes Matrix e A Ilha, é talvez mais fácil de encontrar um paralelo (ver aqui um exemplo). Quando a pessoa torna-se consciente dos métodos usados pela Torre de Vigia, é mais fácil entender o seu próprio comportamento e crenças. Também significa que ler os artigos da Organização tornam-se uma experiência mais dolorosa, pois agora que o controlo mental foi como que "desligado", a pessoa passa a fazer uma leitura crítica desses artigos, questionando-os e colocando os argumentos sobre análise crítica. Como já simplesmente não os aceita como "inspirados", passa a avaliá-los por aquilo que realmente são: um produto da mente humana, destinados a doutrinar e controlar os membros. É nesta fase que a mente como que se expande, agora de modo inquisitivo, procurando perceber o mundo que a rodeia, sem avaliações pré-concebidas ou preconceitos. Isso pode ser libertador! A pessoa passa a avaliar de modo independente se a organização é realmente aquilo que afirma ser, se ensina realmente a "verdade" e se é realmente o único caminho para a salvação e relacionamento com Deus. A diferença entre uma mente fechada e uma mente aberta é que uma mente aberta congratula-se com fatos e informações que substituem equívocos anteriormente mantidos. O fundamentalismo tende a nutrir as mentes fechadas. A mente fechada do fundamentalista é treinada para acreditar no que eles sabem ser a verdade e vai trabalhar fortemente para descartar qualquer informação que contradiz noções preconcebidas. As perguntas que deixamos são: Que dizer de você? Considera-se fundamentalista, alguém de mente fechada? Ou é uma pessoa inquisitiva e de mente aberta? Esperamos que este artigo tenha servido para ajudar pessoas que estão envolvidas em "seitas destrutivas". Estas necessitam perceber que isto não é uma fatalidade e que está nas suas mãos a liberdade que Jesus nos deu (João 8:32). Embora possa ser angustiante reconhecer que a Organização das Testemunhas de Jeová é, de facto, uma seita com características que a enquadram numa "seita destrutiva", ainda assim tal informação pode ser vital para que você possa dar os passos necessários de modo a libertar-se (mesmo que de forma gradual), da sua influência. A vida está cheia de coisas boas e más. Está nas nossas mãos encontrar as respostas para vivê-la de forma plena e livre, embora debaixo da orientação de Deus por meio do Seu Espírito Santo. Não se esqueça que quando entrega nas mãos de outros a sua vida, você torna-se escravo de homens. Veja o apelo do apóstolo Paulo em 1º Coríntios 7:23: "Vocês foram comprados por um preço; parem de se tornar escravos de homens." Visto que foi Deus que nos comprou através do sangue de seu filho, é somente a Ele que temos de prestar contas e não submetermo-nos a outros humanos tão imperfeitos e falhos como nós. É verdade que no cristianismo do primeiro século existiam pessoas colocadas em lugares de responsabilidade, mas tais pessoas não tinham autoridade para agir como se fossem "deuses" entre seus irmãos, mandando ou desmandando no que eles poderiam ou não fazer. Eram acima de tudo líderes espirituais que aconselhavam e guiavam seus irmãos e não "governantes" que imponham suas ordens e que esperavam ser obedecidos. Foi por causa desta tendência humana que Jesus Cristo alertou seus apóstolos: “Sabeis que os governantes das nações dominam sobre elas e que os grandes homens exercem autoridade sobre elas. Não é assim entre vós; mas, quem quiser tornar-se grande entre vós tem de ser o vosso ministro, e quem quiser ser o primeiro entre vós tem de ser o vosso escravo.” – Mateus 20:25-27 Reflita um pouco... é assim que se comporta a Organização das Testemunhas de Jeová por meio do seu "Corpo Governante"? Dominam ou não dominam sobre as Testemunhas de Jeová? Exercem ou não autoridade sobre elas? A resposta a estas perguntas, juntamente com o restante artigo que aborda aspetos científicos que categorizam as "seitas destrutivas" deve servir para abrir os olhos daqueles que ainda duvidam que existam elementos nocivos nesta religião e outras, cujas vidas são manipuladas ao bel-prazer da sua liderança. Que cada um faça uma análise objetiva à sua situação e reflita bem na informação contida neste artigo. Embora pudéssemos abordar muito mais sobre este tema*, focamos os aspetos principais a ter em conta ao avaliarmos seitas e grupos que poderão ser categorizados como "destrutivos". O que fazer com esta informação cabe agora a si, caro leitor! Por, Ex-Membro das Testemunhas de Jeová, » Carlos Fernandes (Fb), Portugal (Lisboa) *Existiria certamente muito mais a dizer sobre estes aspetos das "seitas destrutivas". Por isso, fica o convite para pesquisarem mais sobre este tema. Existem alguns livros que aconselho vivamente sobre esta temática, entre os quais saliento estes: Existem também vários websites que poderão ajudar as pessoas interessadas neste tema a obterem mais informações: www.freedomofmind.com www.icsahome.com www.familiesagainstcultteachings.org www.caic.org.au www.jwfacts.com jwsurvey.org Para quem desejar, também pode fazer download de um folheto sobre a temática das seitas e que poderá ajudar a aumentar o conhecimento sobre este assunto (aqui).
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