O abuso sexual é absolutamente terrível e o encobrimento institucional torna-o ainda pior. De igrejas a organizações desportivas, temos visto tantas instituições silenciarem escândalos de abuso para protegerem a reputação do grupo. Contudo, quando o grupo alvo é altamente controlador, uma seita destrutiva, existem camadas extras de coerção e mentiras envolvidas – camadas que a maioria dos legisladores e profissionais de justiça não compreendem ou reconhecem. Muitas pessoas nem sequer compreendem que as Testemunhas de Jeová são um grupo de alto-controle: a maioria do público — juízes e legisladores incluídos – pensam nelas como aquelas "simpáticas pessoas" que vão de porta em porta oferecendo "estudos bíblicos"; sociologistas pró-seitas chamam-nas de um "novo movimento religioso". Quando confrontadas com o encobrimento de abuso sexual pelas Testemunhas de Jeová (e outras organizações de alto-controle), estes peritos legais frequentemente cometem o erro de tratar tais casos como aqueles envolvendo os "Escuteiros", a Igreja Metodista ou um clube desportivo, quando de facto, a organização com a qual estão lidando é muito menos cooperativa com a aplicação da lei. Grupos religiosos ortodoxos têm sido relutantes em admitir o abuso, mas uma vez que o abuso é exposto, muitos têm feito o possível ao seu alcance para expor os abusadores. Na sua mais recente visita à Irlanda, o Papa Francisco aliou-se às vítimas de abuso e prometeu fazer tudo ao seu alcance para arrancar este mal da Igreja Católica. Esta não é a atitude das Testemunhas de Jeová. Nós não podemos minimizar os casos de abuso em grupos que não são seitas destrutivas, mas existem muitas razões para o encobrimento de abusos serem diferentes – e devem ser tratados de maneira diferente – quando envolvem grupos controladores como as Testemunhas de Jeová. Ostracismo As Testemunhas de Jeová têm a doutrina do ostracismo ou "banimento", onde o contato e comunicação podem ser limitados ou mesmo completamente proibidos. Ex-membros são frequentemente ostracizados pela inteira congregação. Embora recentemente um advogado da Torre de Vigia tenha sido bem sucedido em convencer a Suprema Corte do Canadá de que "relações familiares normais" continuam para aqueles que são desassociados, esta é uma clara mentira – Os filmes propaganda internos da Torre de Vigia orientam os fiéis a praticarem o ostracismo. Qualquer um que falar acerca do abuso corre o risco de ser isolado de todo o grupo social. Podem inclusivamente ser cortados de suas famílias, seus amigos e seu inteiro sistema de suporte. Em muitos casos, só por simplesmente reportar o abuso às autoridades responsáveis, tornou-se uma ofensa para desassociação, significando que parentes têm a escolha de Hobson de perder a sua comunidade ou virar as costas às necessidades de suas crianças. Políticas de proteção dos predadores A regra das "duas testemunhas" imposta pelas Testemunhas de Jeová – onde uma queixa de abuso é ignorada se apenas existir um acusador – é a mais conhecida, mas todos os grupos abusivos impõem uma teia de políticas desenhadas para manter os líderes e seguidores debaixo de controle – e negar a justiça àqueles que foram vitimados pelos lobos no aprisco. Os Mórmons vieram a estar debaixo de fogo devido à bateria carregada de perguntas sexuais feitas a adolescentes em sessões à porta-fechada com os bispos, e outros grupos usam formas similares de interrogatório, desenhado para envergonhar e confundir os jovens. A maioria dos grupos de alto-controle têm políticas que proíbem explicitamente tomar acções legais de qualquer tipo contra seus co-crentes ou o grupo, tornando impossível procurar justiça por qualquer erro feito na comunidade. Isolamento da sociedade O grupos de alto controle usam uma variedade de métodos para isolar os seus membros: nas Testemunhas de Jeová (bem como em outras seitas destrutivas), os membros são condicionados a acreditar que aqueles fora do grupo – especialmente agentes da lei ou serviços sociais – são controlados por Satanás. Isto assegura que os membros fiéis nem sequer ousam pensar em reportar o abuso às autoridades – ou mesmo perceberem que têm o direito de fazer isso. Adicionalmente, aqueles que deixam a organização são vistos como apóstatas, são desacreditados e assim, casos passados são encarados como mentiras, até mesmo por aqueles que atualmente experienciam o mesmo abuso. Crianças já traumatizadas Assim como muitos grupos que distorcem a teologia cristã para manter o controle, as Testemunhas de Jeová focam-se intensamente no Armagedom ou na "Grande Tribulação", a batalha final antes de Jesus retornar à terra. A sua literatura está repleta de imagens violentas de destruição; as crianças são ensinadas que os seus colegas de escola, professores e até mesmo parentes que não estão em boa posição com a Torre de Vigia, irão morrer num excruciante holocausto, num caos global de destruição. Crianças que sofrem de abuso sexual em tais grupos não apenas terão o trauma do abuso, mas uma avalanche de outras fobias e trauma emocional para lidar. Culpa inculcada Quando você é membro de um grupo abusivo, tudo é sua culpa. Não é incomum ouvir sobreviventes de abuso sexual que estão confinados num grupo de alto controle dizerem que lhes foi feito sentir que foram eles que iniciaram o contato sexual, ou que isso aconteceu porque são inerentemente pecaminosos, ou simplesmente não suficientemente crentes. Isso, combinado com o "usual" volume de vergonha em tais situações, contribui para a falta de vontade das vítimas de denunciarem os abusos. Obediência como meio de vida Crianças educadas em grupos de alto controle são ensinadas a obedecer sem questionar ou pensar. Em grupos que praticam a "liderança masculina", uma rapariga deve obedecer aos homens do grupo – não interessa o que é requerido dela. Mesmo sem diferença de género, membros de seitas religiosas destrutivas acreditam que os seus líderes são os representantes ordenados de Deus, e desobedecê-los é ir contra a vontade de Deus. Pais de crianças abusadas estarão relutantes em agir "contra Deus" e aqueles que vão às autoridades serão assolados pela culpa e paralisados pelo medo, visto que agora agiram contra tudo o que lhes foi ensinado a acreditar e reverenciar. Responsabilidade zero Um predador nunca se desculpa, e uma seita destrutiva nunca admitirá erros. Enquanto dezenas de igrejas ortodoxas e outras organizações estão agora a admitir a sua culpa, desculpando-se perante as vítimas, demitindo os responsáveis e trabalhando para re-educar os seus funcionários, os líderes de grupos abusivos nunca aceitarão abertamente a responsabilidade pelos abusos e encobrimentos. Eles poderão pagar milhões em custas de tribunal, mas quando falarem com seus membros, eles irão manter que quaisquer denúncias de abuso são "mentiras produzidas por apóstatas" e que as acções legais contra eles são obra de Satanás. Falta de transparência Grupos de alto controle são notórios pela sua falta de transparência – aos recrutados não é dito o que eles devem esperar fazer, sacrificar ou acreditar até que eles pavimentem o caminho para o "círculo interno" dos crentes. Muitos grupos abusivos, tais como os Moonies, irão afirmar que aqueles que estão entrando no grupo ainda não estão preparados para receber o "conhecimento" oculto, e comparam o dizer a verdade aos novos membros, acerca das crenças mais esotéricas do grupo (tais como o Reverendo Moon ser o novo Messias), a alimentar um bebé com um pedaço de bife, e assim praticam o "engano celestial". Similarmente, a maioria das seitas destrutivas têm a política de mentir aos de fora – particularmente às autoridades judiciais e legais – acerca das realidades da vida do grupo. Devido ao "mundo exterior" ser controlado por Satanás – ou uma conspiração empenhada em destruí-los – os líderes de grupos tais como as Testemunhas de Jeová não têm problemas em mentir em tribunal – mesmo debaixo de juramento. Eles justificam isto ao referirem a história bíblica de Raabe, que mentiu para proteger os espiões israelitas. Em conclusão, o encobrimento de abuso sexual de crianças em qualquer setor da sociedade é desprezível. Contudo, no contexto de um grupo abusivo, a profundidade e largura do encobrimento é ampliada, com maiores camadas de mentiras, fobia, culpa e coerção encobrindo qualquer verdade. É imperativo que juízes, polícia, legisladores e outros trabalhando para revelar o encobrimento institucional de abuso sexual entendam que jamais irão ouvir algo aproximado à verdade dos representantes de uma altamente controladora seita destrutiva.
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