"Eu faço convosco um pacto, assim como meu Pai fez comigo um pacto, para um reino." – Lucas 22:29 (TNM) Quantos pactos Jesus fez com seus discípulos na Refeição Nocturna (Memorial)? Esta passagem é muitas vezes citada nas publicações da Torre de Vigia, quando é abordado o assunto dos 144.000 (esperança celestial) e da Grande Multidão (esperança terrestre), para argumentar que estas duas classes são plenamente distintas na forma e conteúdo. O uso deste texto bíblico é considerado um dos pilares para a argumentação de que apenas uma pequena classe irá governar com Cristo nos céus. Como isso é feito? A Sociedade Torre de Vigia explica que o “pacto para um reino” é “um pacto especial”, apenas entre Jesus e os 144.000, que irão governar a terra com ele no seu reino, sendo tornado possível através do “novo pacto”. O “pacto para um reino” é também vital para explicar porque apenas 144.000 são incluídos na nova aliança ou novo pacto, e apenas estes podem participar dos emblemas no Memorial celebrado anualmente pelas Testemunhas de Jeová. Isto é o que uma revista A Sentinela disse a este respeito: Na noite em que Jesus instituiu a Comemoração de sua morte, ele disse aos apóstolos fiéis: “Vós sois os que ficastes comigo nas minhas provações; e eu faço convosco um pacto, assim como meu Pai fez comigo um pacto, para um reino, a fim de que comais e bebais à minha mesa, no meu reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel.” (Lucas 22:28-30) Jesus referiu-se aqui a um pacto especial que fez com seus 144.000 irmãos gerados pelo espírito, que permaneceriam ‘fiéis até a morte’ e se tornariam ‘vencedores’. — Revelação 2:10; 3:21. Os que compõem esse grupo limitado renunciam a toda esperança de vida eterna na Terra como humanos de carne e sangue. Eles reinarão com Cristo no céu, sentando-se em tronos para julgar a humanidade. (Revelação 20:4, 6) Vejamos agora outros textos bíblicos que se aplicam apenas a esses ungidos e que mostram por que as “outras ovelhas” não tomam dos emblemas na Comemoração. — João 10:16.—w06 2/15 p. 22 O Ajuntamento Das Coisas No Céu E Das Coisas Na Terra (negrito acrescentado) Ao contrário do que A Sentinela acima declara, Jesus não realizou qualquer “pacto para um reino” com os seus discípulos, embora ele seja definitivamente o mediador do “novo pacto.” (Hebr. 9:15) De acordo com o relato de Lucas, na noite em que Jesus celebrou a última Páscoa com seus discípulos e instituiu o memorial da sua morte, ele mencionou o novo pacto quando pegou no copo e entregando-o a eles disse: “Este copo significa o novo pacto (διαθήκη, di·a·the′ke) em virtude do meu sangue, que há de ser derramado em vosso benefício.” (Lucas 22:20) Mas quando Jesus prometeu, mais adiante na noite, o reino aos seus discípulos fiéis, ele não usou a palavra “pacto”. Uma prova de que a palavra “pacto” (διαθήκη, di·a·the′ke) não aparece em Lucas 22:29 é reconhecido pela TNM com Referências (Rbi8), porque esta omite essa passagem nos 33 lugares onde a palavra “pacto” realmente aparece nas Escrituras Gregas. Isto é o que diz o Apêndice, página 1524: A palavra di·a·thé·ke ocorre 33 vezes no texto grego, a saber, em Mt 26:28; Mr 14:24; Lu 1:72; 22:20; At 3:25; 7:8; Ro 9:4; 11:27; 1Co 11:25; 2Co 3:6, 14; Gál 3:15, 17; 4:24; Ef 2:12; He 7:22; 8:6, 8, 9, 10; 9:4, 15, 16, 17, 20; 10:16, 29; 12:24; 13:20; Re 11:19. A Tradução do Novo Mundo verte a palavra grega di·a·thé·ke por “pacto” nestes 33 lugares.
Visto que Jesus sabia da sua prisão e morte eminentes, ele assegurou aos seus discípulos fiéis, que não o haviam seguido em vão e que podiam ter a certeza de receber o reino. Ele já o havia prometido antes, quando disse: “Não temas, pequeno rebanho, porque vosso Pai aprovou dar-vos o reino.” (Lucas 12:32; Mateus 19:28) É por isso que outras traduções rendem Lucas 22:29 como dizendo: “Assim como meu Pai me conferiu domínio, eu vo-lo confiro (dou, concedo, nomeio, designo) a vós.” (JFAA) A palavra para “conferir” no grego é dia·ti'the·mi (διατίθεμαι), significando “nomear”, como em um testamento. Em português dizemos que Deus “faz” um pacto [κάνω διαθήκη, TNM], mas no original grego, Deus “dá” um pacto [η διαθήκη ην διαθήσομαι]. A palavra usada é "διαθήσομαι [diathísomai]". Mas em Lucas 22:29, onde a palavra διαθήσομαι ocorre 2 vezes, não ocorre em conexão com nenhum pacto, porque Jesus não menciona um pacto ou aliança. Ao invés de Jesus dar [fazer] um pacto com os seus discípulos, Jesus está dando-lhes o reino: “Assim como meu Pai me conferiu domínio, eu vo-lo confiro a vós.” (JFAA) A palavra grega διατίθεμαι em si mesma não indica o que está sendo dado. Se a intenção de Jesus era realizar um pacto ou aliança com seus discípulos, porque é que ele não incluiu a palavra “pacto” na sua promessa aos seus discípulos em Lucas 22:29, se era de facto uma aliança que ele estava a fazer? A palavra διατίθεμαι é traduzida de várias formas tais como: conceder, nomear, conferir, atribuir, dar, etc. Não significa “fazer”, embora em certos lugares aparece traduzida assim, porque em português nós não dizemos que Deus “dá” um pacto, mas que ele “faz” um pacto. A palavra “pacto” em Lucas 22:29 (aparecendo 2 vezes) é uma interpolação, e é desonesto ser lá inserida, porque sabe-se perfeitamente que a palavra não pertence lá, conforme admitido (por omissão) na TNM com Referências. Porque a palavra “pacto” foi acrescentada nesta passagem? Obviamente, de modo a suportar o ensino de que o "novo pacto" é restrito apenas aos 144.000, que é um dos principais ensinos da Torre de Vigia, embora não tenha suporte bíblico. Não admira que o publicador mediano sinta-se confuso ao tentar explicar o “novo pacto” relacionando-o com o “pacto para um reino.” Quando se acusa outras denominações de desvirtuarem a mensagem da Bíblia, por seguir mandamentos de homens, quando se aponta o dedo às adulterações que outros realizaram nas traduções bíblicas, de forma a se encaixarem na sua doutrina, será que a Sociedade Torre de Vigia é isenta neste campo? Esta passagem mostra que não! De forma a perpetuar uma doutrina que coloca fora do “novo pacto” milhões de prospectivos herdeiros do reino junto com Cristo, colocando-os numa categoria inferior, indignos de serem chamados irmãos de Cristo, a Organização das Testemunhas de Jeová foi ao ponto de adulterar essa passagem de modo a encaixar-se na sua visão selectiva de domínio de uma pequena classe de cristãos sobre os demais irmãos de Cristo. O desejo de poder e autoridade é a base de tudo isto, e será por isso mesmo que Jesus os irá julgar adversamente!
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