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Novos artigos da Sentinela tentam minimizar os danos causados pelos escândalos de abuso sexual nas Testemunhas de Jeová e seu encobrimento pela Torre de Vigia

4/2/2019

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Numa atitude raramente vista, a organização Torre de Vigia, acabou de admitir que no seu meio ocorrem abusos sexuais de crianças. Fez isso através de uma série de artigos de estudo na revista A Sentinela de Maio de 2019, a ser estudada futuramente em todas as congregações ao redor do mundo.
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É óbvio que tal admissão não acontece por esta simplesmente sentir a necessidade de alertar seus membros para o que tem ocorrido dentro do chamado "paraíso espiritual", mas sim pela necessidade de tentar, de algum modo, minimizar a enxurrada de notícias e reportagens a nível mundial que dão conta de inúmeras vítimas de abuso sexual dentro da religião.

Anteriormente, membros do Corpo Governante já tinham feito tentativas de minimizar as acusações de encobrimento de abuso sexual por parte da organização, por declarar que tais coisas não aconteciam dentro das congregações e que isso eram "mentiras apóstatas". Vejam por exemplo as declarações de Stephen Lett e Anthony Morris III na TV online da Torre de Vigia. Leia também isto.

Especialmente a partir da exposição mediática que aconteceu a partir da Comissão Real Australiana, onde a filial australiana das Testemunhas de Jeová esteve no foco da investigação, milhões de Testemunhas de Jeová se viram confrontadas com aquilo que consideravam impossível: as regras da Sociedade Torre de Vigia resultaram no encobrimento de pelo menos 1006 abusadores durante cerca de 60 anos e cujos casos jamais chegaram ao conhecimento das autoridades. Vários membros da filial, incluindo um membro do Corpo Governante foram questionados sobre as regras e políticas internas da organização com respeito a lidar com casos de abuso.

As Testemunhas de Jeová ficaram sabendo em pormenor que as regras da Torre de Vigia quanto a tratar tais casos de abuso incluíam:


  • Contatar o departamento legal da filial assim que fosse relatado um caso de abuso e esperar que o departamento legal desse instruções de como agir;
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  • Criar uma comissão interna de investigação, onde os anciãos ouviriam a vítima menor e o acusado, tentando saber a versão de ambos e em muitos casos, confrontando a vítima e o abusador no mesmo espaço físico numa espécie de frente-a-frente;
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  • Os anciãos encarregados do caso eram, na esmagadora maioria dos casos, instruídos a não contatar as autoridades e até mesmo ocultar delas quaisquer informações que pudessem ajudá-las na investigação, usando para isso o chamado 'privilégio eclesiástico' atribuído ao clero, onde a confissão é considerada sagrada e inviolável. Tem sido repetida vez após vez a tentativa de usar esta alegação, de modo a evitar colaborar com as autoridades em todo o mundo.
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  • Nos casos em que o alegado abusador negou os factos e onde apenas a vítima alegava o abuso, os anciãos eram instruídos a "deixar o assunto nas mãos de Jeová", usando aqui a chamada regra das "duas testemunhas", que ainda se mantém em vigor atualmente.


Em traços gerais, estes aspetos dos procedimentos internos do funcionamento da Torre de Vigia chocaram muitas Testemunhas de Jeová e até mesmo levou a que inúmeras deixassem a organização, quer de modo formal, quer por se afastarem discretamente de modo a não sofrerem represálias.

Desde então muitos casos vieram a ser conhecidos e várias vítimas entraram com processos em tribunal contra a Torre de Vigia, alegando que esta não fez o suficiente para as proteger dos abusadores e acusando-a de ter criado um clima de medo e repressão contra as vítimas, de modo a que estas não fizessem queixa às autoridades, com a desculpa de que isso "mancharia o nome de Jeová" e da "Sua organização terrestre". Algumas até foram expulsas e ostracizadas depois de o terem feito, desobedecendo às orientações dos anciãos. Foram até mesmo taxadas de rebeldes!

Já antes este assunto vinha sendo exposto, especialmente numa reportagem da BBC, onde em um dos melhores programas de investigação britânicos, "Panorama", vários casos de abuso dentro das Testemunhas de Jeová foram expostos, assim como a sua política de encobrimento. Esta reportagem chama-se "Sofrem as criancinhas". Veja o vídeo!
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O caso de Candace Conti tornou-se também conhecido em todo o mundo, visto que esta jovem foi uma das primeiras a ter coragem de desafiar a Torre de Vigia, levando-a a tribunal e ganhando uma vitória retumbante contra ela (ver este vídeo). Foi um dos casos mais mediáticos de sempre com respeito a abusos sexuais dentro de uma religião nos EUA e ganhou contornos mundiais à medida que o processo legal avançava. Mas outros casos se sucederam (também aqui), reforçando a ideia de que a Sociedade Torre de Vigia realmente tem procurado abafar os casos de abuso de crianças ocorridos nas congregações, bem à semelhança da Igreja Católica. Milhões de dólares têm sido pagos a vítimas de abuso pela Torre de Vigia em acordos extra-judiciais, onde as vítimas ficam impedidas de voltar a falar no assunto publicamente. Veja aqui um exemplo.

Podemos entender então, porque a organização achou necessário abordar o assunto na sua principal revista. Na prática, a organização pretende 2 objetivos:
  • Serenar os ânimos devido aos sucessivos escândalos de abuso sexual;​
  • Mostrar que as suas políticas internas são razoáveis e visam proteger as vítimas e não os abusadores.
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Como é hábito nestas situações, a organização usa de meias-verdades e bastante hipocrisia de modo a limpar a face da sujidade que ela tem criado. Ela também faz algo: ela apenas fala das políticas que tem adotado DESDE a Comissão Real Australiana. E que dizer das políticas que manteve em prática durante dezenas de anos e que resultaram em centenas, senão milhares de casos de abuso encobertos e onde as vítimas foram silenciadas, quer através do medo imposto pelos anciãos, quer pela expulsão das mesmas após revelarem seus casos em público e às autoridades?

Passaremos agora a analisar os parágrafos dos artigos da revista Sentinela de Março de 2019, que abordam o assunto dos abusos sexuais e a forma da organização lidar com eles. Primeiro colocaremos os parágrafos em questão e depois um comentário sobre os mesmos.
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Este parágrafo corresponde ao primeiro artigo de estudo da Sentinela, com o tema "Amor e justiça na congregação cristã" e que visa apresentar o modelo de Jesus Cristo para cada cristão e especialmente na forma dos anciãos lidarem com o "rebanho de Deus".

Debaixo do subtítulo "Como é que os que têm autoridade devem tratar os outros", o parágrafo visa demonstrar que o papel dos ancião resume-se a cuidar do "lado espiritual do pecado" e que qualquer matéria criminal compete às autoridades governamentais, tal como foi estabelecido por Deus.

As perguntas que se podem levantar são:


  •  Se os anciãos encaram os 'crimes' apenas como pecados contra Deus e devem deixar que as autoridades competentes cuidem do aspeto criminal do assunto, porque é que as orientações da organização ao longo dos anos têm sido no sentido de dificultar o trabalho destas mesmas autoridades estabelecidas por Deus?
  • Porque têm resistido a entregar documentos e participar em investigações judiciais que visam estabelecer, quer a inocência, quer a culpa de uma Testemunha de Jeová que supostamente cometeu crimes contra a sociedade? 

Porque então a organização deu instruções, tais como esta que está na carta dirigida aos anciãos, datada de Maio de 1992 que dizia:


Porque a organização não orienta os anciãos a incentivar os pais a procurarem as autoridades em primeiro lugar, de modo a que se faça justiça e aja uma verdadeira investigação ao caso de abuso, visto que eles apenas têm a obrigação de cuidar do aspeto espiritual dos envolvidos?

E porque a organização parte logo do princípio que o abusador pode e deve ser perdoado caso se mostre arrependido? Será que o abuso é uma forma de pecado semelhante a um caso de fornicação ou adultério? É assim que a congregação é protegida, mantendo dentro dela um abusador de crianças sem que a congregação saiba?

Esta era a política posta em prática nos anos 90. Mas iremos ver mais exemplos de orientações por parte da organização.
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Aqui, o autor do artigo começa a preparar o terreno para que as 'vítimas' compreendam o interesse da organização em ajudá-las e ao mesmo tempo que existe a possibilidade do pecador ser perdoado do seu 'pecado' e poder recuperar a amizade com Deus.

Isto mostra como os anciãos são levados à conclusão inicial de que algo cometido contra um irmão dentro da congregação, por mais grave que seja, pode ser perdoado. Afinal é apenas mais um 'pecado'. É claro que sendo perdoado, a vítima ficará na situação ingrata de ter que confrontar aquele que 'pecou' contra ela e a pressão de grupo e o medo de trazer vitupério ao "nome de Jeová" servirão de forte motivador para que a queixa não vá além de uma conversa com os anciãos. Afinal, é isso que tem acontecido por décadas.

Passando para o segundo estudo da revista, com o tema "Amor e justiça ao lidar com a maldade" o artigo começa por dizer:
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É fácil dizer-se que se abomina o abuso de crianças, que não se tolera isso na congregação cristã e que os cristãos "fazem tudo o que podem para que as crianças se sintam protegidas e amadas". Mas os factos mostram que isso não corresponde à verdade! Veja este caso.

A Comissão Real Australiana mostrou de modo taxativo como, vez após a vez, as congregações das Testemunhas de Jeová foram instruídas pela filial a orientarem os anciãos a fazerem investigações particulares, substituindo-se às autoridades e não dando a devida credibilidade às vítimas.

Várias vítimas queixaram-se de os seus testemunhos terem sido desvalorizados e até mesmo descredibilizados, num esforço de não se tratar devidamente do assunto. Ficou-se a saber que até mesmo vários abusadores confessos foram perdoados pelas Comissões e acabaram por repetir os abusos. Alguns até mesmo foram reconduzidos a posições de autoridade nas congregações! Veja este caso.


Se isto é 'abominar o abuso de crianças' e 'não tolerar' tais abusos… só pode ser uma piada de mau gosto e o pisar em cima das vítimas que sofreram abusos e viram suas vidas destruídas.


A Comissão Australiana logo após analisar o caso das Testemunhas de Jeová, elaborou um relatório preliminar sobre o caso e apresentou 77 sugestões acerca da forma como a Torre de Vigia lida com os casos de abuso. Estas 77 sugestões claramente demonstram que a organização não exerceu suficiente cuidado e zelo em lidar com os abusos e não protegeu devidamente as vítimas, permitindo que os abusadores, dentro ou fora das congregações, continuassem seus abusos em anonimato. Leia aqui.

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ImagemIrwin Zalkin

É verdade que o abuso sexual de crianças é uma praga transversal a toda a sociedade e não existem instituições seculares e religiosas imunes a isso. A questão é como tais instituições lidam com essa 'praga'. Será que reconhecem o problema ou tentam minimizá-lo ou até mesmo ocultá-lo?

Se fizermos uma revisão às publicações da Torre de Vigia ao longo dos anos, vamos encontrar inúmeros textos onde as "igrejas da Cristandade" (especialmente a Igreja Católica), são expostas como sendo antros de pedófilos. Qualquer escândalo relativo a imoralidade sexual dentro da chamada "cristandade" era combustível para a Sociedade Torre de Vigia usar como argumento na exposição da falsa religião e do enaltecimento da "adoração pura". Veja exemplos aqui e aqui.

Sabemos bem como a Igreja Católica tem estado no centro dos escândalos de abuso sexual de crianças e a organização esforçou-se em expor isso até ao limite das suas forças. Pode-se perguntar:

Porque será que a Torre de Vigia não fez um esforço também em alertar seus membros, especialmente os pais nas congregações, acerca dos inúmeros casos de abuso DENTRO das congregações a nível mundial?


Porque sempre se esforçaram em manter tais casos sigilosos, até pressionando as vítimas e suas famílias a não relatarem seus casos às autoridades, para não "manchar a reputação da organização" e até mesmo incentivando as vítimas a perdoarem os abusadores em alguns casos?


A Igreja Católica tem feito um mea culpa publicamente, mas ainda não vimos a organização, por meio do seu Corpo Governante, fazer o mesmo. Este papado coletivo tem feito todos os esforços para ignorar as vítimas e desconsiderar o grave problema que tem em mãos. E quando neste parágrafo se refere ao problema, notem a linguagem usada:

"
O mundo está cheio de ‘pessoas más e de impostores’, e alguns deles tentam fazer parte da congregação."

"Além disso, alguns que afirmam fazer parte da congregação deixaram-se levar por desejos pervertidos e abusaram sexualmente de crianças."



Esta linguagem tenta minimizar o papel que Testemunhas de Jeová ativas e em boa posição têm tido nos casos de abuso de crianças descobertos. Muitos deles são anciãos, servos ministeriais e até betelitas!

Remeter os casos de abuso dentro das congregações para "pessoas más e impostoras que tentam fazer parte da congregação" e outros que "afirmam fazer parte da congregação" é suavizar a gravidade dos factos!

Porque não usam de linguagem forte e verdadeira, dizendo que algumas Testemunhas de Jeová, muitas delas em boa posição na congregação têm praticado tais atos? Porque tentar de modo indireto atribuir culpas a possíveis novatos na congregação e pessoas que provavelmente se envolveram com as Testemunhas, de modo a praticarem tais abusos?


É isto um reconhecimento sincero e genuíno que busca o perdão das vítimas? Não, não é. Porque a Torre de Vigia jamais admitirá os seus erros e a sua permissividade neste respeito. Jamais dirá que muitos anciãos, servos ministeriais e outros têm estado envolvidos em casos de abuso, alguns deles chegando mesmo a serem julgados e presos por isso (veja este site que contém lista e fotos de abusadores TJ). E ela jamais admitirá perante os membros que tem feito todos os esforços para impedir que as autoridades tenham acesso a informações que poderão ajudar a fazer justiça nos tribunais! Veja outro exemplo aqui.

E é exatamente por causa disso que tem sido levada a tribunal, como neste caso.

O advogado Irwin Zalkin, que tem defendido várias vítimas de abuso sexual nas congregações das Testemunhas de Jeová disse há tempos numa reportagem:


“Eu tenho praticado a lei há 37 anos, e nunca vi nada parecido. Elas [Testemunhas de Jeová] fazem tudo para proteger a reputação da organização acima da segurança das crianças.”


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O correto seria dizer que os estragos causados pelo abuso duram a vida inteira, por norma. É o tipo de trauma que pode ser minimizado através de terapia, mas que deixará sempre uma marca na vítima. Irá refletir-se na sua sexualidade futura e até mesmo nas relações sociais com outros. Muitas vítimas de abuso acabam por desenvolver depressão crónica, até mesmo mutilarem-se, causando ainda mais sofrimento a si mesmas e outras até mesmo terminam no suicídio, como há poucos dias aconteceu com uma das vítimas do médium conhecido como "João de Deus" no Brasil. Sabrina Bettencourt, de 38 anos, acabou por suicidar-se por não conseguir suportar mais o trauma do abuso e de toda a polémica que a envolveu a ela e outras vítimas que resolveram denunciar este predador sexual. Isto mostra como até mesmo muitos anos depois as vítimas carregam consigo o estigma do abuso.

Realmente, as crianças nas congregações, assim como os seus pais, precisam de ter a certeza de que os anciãos exercem o papel de pastores vigilantes sobre o rebanho e que farão tudo ao seu alcance para impedir que abusadores se aproveitem da ingenuidade e da ilusão dos membros, de que existe de facto protecção e acção firme com pessoas que têm más intenções. Mas os anciãos são meras peças de uma engrenagem muito mais complexa. Eles apenas podem atuar dentro dos limites que a organização lhes dá, devendo seguir as regras e políticas organizacionais de modo total e inquestionável.

Por isso, em último caso, é esta organização que tem estabelecido políticas que visam o encobrimento e a falta de cooperação com as autoridades que deve ser chamada à razão e à justiça. Falar-se dos anciãos e do seu papel sem perceber que eles apenas fazem o que lhes mandam fazer é ignorar o modus operandi desta organização religiosa, cujas congregações por ela estabelecidas são verdadeiros franchisings religiosos.


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Sem dúvida que um crime (não apenas um 'pecado') que é cometido por um membro de uma confissão religiosa, lança uma péssima imagem sobre a religião a que pertence, especialmente se fizer parte de um grupo minoritário e já de si bastante estigmatizado, como acontece com as Testemunhas de Jeová.

Por isso mesmo, desde o princípio, a Torre de Vigia, por meio do seu Corpo Governante, não deveria ter criado políticas que acabariam por proteger e camuflar estes abusadores! Ser firme neste ponto teria evitado que pessoas com más intenções entrassem numa organização religiosa que já foi taxada de "paraíso dos pedófilos", devido às suas regras, que permitem que tais predadores sexuais pratiquem as suas parafilias.

É realmente injusto para milhões de Testemunhas de Jeová verem a sua fé ser arrastada para a lama, verem seus sacrifícios pessoais serem postos em causa, apenas porque os seus líderes resolveram dar mais importância à imagem da sua organização religiosa do que aos seus membros e especialmente, às suas crianças!

Se eu fosse Testemunha de Jeová neste momento, teria vergonha de assumir-me como tal! Quanto mais se fosse ancião congregacional!

Infelizmente, o artigo volta a repetir o mantra de sempre:

"…não toleramos no nosso meio pessoas que praticam atos maldosos e não se arrependem."

Infelizmente têm tolerado abusadores que fingem arrepender-se apenas para poderem continuar os seus abusos ou têm ficado de braços cruzados, simplesmente porque a vítima não apresenta uma segunda testemunha do abuso.

Agora sejamos sinceros! Sabe-se perfeitamente que um abusador sexual, um pedófilo, raramente deixa de alimentar o desejo sexual por crianças. Afinal é uma parafilia enraizada na sua psique e que na maioria dos casos resulta em novos abusos, especialmente se permanecer em contato direto com crianças.


É por isso que na maioria dos países, um pedófilo perde o direito de poder ter empregos ou atividades onde possa estar de modo constante e diário com crianças. O valor que se dá à segurança das crianças é superior ao direito do indivíduo de poder escolher a sua profissão!

Mas quando o abuso ocorre no seio religioso, ainda mais quando ocorre em confissões religiosas que são bastante herméticas e isoladas do exterior, o risco de ocorrerem novos abusos é exponencial. O contato das Testemunhas de Jeová é constante, seja durante as reuniões, seja em convívios particulares na comunidade, seja na atividade de pregação de porta em porta. Quando os anciãos perdoam um abusador e a congregação é mantida ignorante sobre o assunto, o perigo é real pois os pais confiam que dentro da congregação o ambiente é seguro para as suas crianças. Na verdade, pode não ser!

Por mais cuidados de vigilância que os anciãos exerçam com respeito a um abusador que foi perdoado pela Comissão Judicativa ou que tenha negado as acusações e esteja livre de uma acusação formal, existe o real perigo de uma outra criança vir a ser novamente abusada. Tais casos têm ocorrido com demasiada frequência e não são tão poucos como isso!

E que dizer de abusadores sexuais que são expulsos apenas para serem readmitidos algum tempo depois? Leia isto.


É insultuoso para uma vítima de abuso, que seja mencionado aqui o perdão para um abusador, cuja acção sabe-se de antemão marcará fortemente a sua vítima para a vida. Mas mesmo que o abusador seja expulso, a questão permanece:

Quem evitará que novas vítimas surjam na sociedade onde ele está inserido?
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Infelizmente, os anciãos têm protegido abusadores das consequências das suas acções ao não reportarem tais abusos às autoridades competentes e ao resistirem em fornecer todas as informações necessárias ao apuramento dos factos a elas. E os anciãos fazem isso seguindo as orientações da Torre de Vigia, como se pode comprovar aqui e aqui. A Torre de Vigia chegou ao ponto de pedir aos anciãos para destruírem documentos potencialmente comprometedores! Se isso não é proteger abusadores referenciados em seus documentos e arquivos, não sei o que será!

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Mais uma vez as palavras da organização não se harmonizam com os factos. Se o abuso sexual é um pecado grave contra Deus e sabemos bem qual era a condenação para pecados de imoralidade quando a Lei Mosaica estava em vigor, porque a organização ao longo dos anos não foi firme e exemplar ao tratar de tais casos?

Tratar um caso de abuso sexual não é a mesma coisa que um outro pecado bíblico, tal como adultério ou fornicação, até mesmo homossexualismo. O abuso sexual é um ato não consensual ou pelo menos um ato praticado por alguém numa posição de poder em relação a uma criança que não tem maturidade para entender o que está acontecendo ou um menor que não tem ainda a capacidade para resistir e dizer não!

Sabemos que os abusadores para além de estarem numa posição privilegiada de proximidade em relação às vítimas, são também pessoas sinuosas, envolventes e manipuladoras que procuram enredar a vítima de mimos, presentes e palavras de modo a que passem a confiar neles e possam atuar com impunidade.

Não é um "pecado" praticado por impulsividade, no calor do momento, como pode acontecer entre dois adultos maduros que se desejam. Não! O abuso sexual é algo calculado e pensado. E raramente acontece de modo isolado. Desde que o pedófilo tenha fácil acesso à vítima os abusos continuarão até que a vítima tome coragem para fazer a denúncia. Dificilmente o abusador parará por si mesmo.

Sabendo de tudo isso, a organização deveria desde cedo ter tido uma postura firme e inflexível em relação ao tratamento dado a predadores sexuais. Não apenas os expulsando quando tem bases para isso, mas alertando a congregação do perigo e as autoridades para que estas façam o seu trabalho de proteger a sociedade.

Isso sim, demonstraria que a organização considera o abuso sexual como "um pecado grave contra Deus".

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Com respeito aos artigos​ publicados pela Torre de Vigia com respeito ao abuso sexual, convido todos a lerem a experiência de Barbara Anderson. Ela tem sido ativista em expor os casos de abuso existentes na seita e foi uma das primeiras pessoas a aparecer publicamente a expor o assunto. Ela apareceu na grande reportagem colocada acima. Ela tem relatos interessantes acerca da primeira publicação em que o assunto dos abusos sexuais foi mencionado e como as coisas correram bastante mal na época para a Torre de Vigia, devido à avalanche de Testemunhas contando os seus casos de abuso dentro da organização. Ela sabe em primeira mão pois ela pertenceu ao departamento de redacção da sede mundial e conviveu de perto com membros do Corpo Governante.
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Barbara Anderson e seu esposo Joe

Com respeito às orientações que a Torre de Vigia tem enviado para os anciãos, cujas políticas são revistas de tempos a tempos, deixamos aqui, o link para que faça download das mesmas e confira por si mesmo as regras e suas mudanças ao longo dos anos (cartas da filial do Brasil).

De salientar que as últimas regras já melhoraram bastante em relação às mais antigas, devido à pressão internacional, especialmente desde a Comissão Real Australiana. Mesmo assim, pode-se dizer que são insuficientes.
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Avançando no artigo e sob o subtítulo "Como os anciãos cuidam de pecados graves", a organização divaga um pouco sobre o papel dos anciãos em dar apoio espiritual às vítimas e àqueles que cometem pecados graves, o que no contexto obviamente inclui um abusador sexual, procurando perceber nele sinais de arrependimento. É claro que é bem complicado para um simples humano perceber se a pessoa está realmente arrependida, ainda mais no caso de um abusador, que é por norma uma pessoa altamente manipuladora e sinuosa.

Chegamos aos parágrafos 13 e 14 que nos apresentam um quadro muito bonito da postura da Torre de Vigia, mas claramente FALSO!

​Porque se diz que é falso? Porque vez após vez a Torre de Vigia tem sido criticada e levada a tribunal porque não cumpriu com o seu dever de denunciar às autoridades. Na esmagadora maioria dos casos, isso não tem acontecido!

Notem o comentário de John Redwood, um ativista dos EUA que tem acompanhado de perto inúmeros casos em tribunal onde estão envolvidas Testemunhas de Jeová que cometeram abusos sexuais e que foram encobertas pela Torre de Vigia:


"O último artigo de estudo da Torre de Vigia que trata do abuso infantil é revoltante [Sentinela de Maio de 2019]. Testemunhas dizem que os anciãos cumprem as leis seculares "em lugares onde tais leis existem".

Isto foi provado falso vez após vez.
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Apenas no ano passado, uma congregação das Testemunhas de Jeová entrou em litígio com o Estado de Delaware, que multou as Testemunhas de Jeová em US $10.000,00 por incapacidade de denunciar o abuso infantil neste estado de notificação obrigatória. A sede da Torre de Vigia foi cúmplice neste caso, e de fato argumentou que o privilégio do clero se aplicava – e que os anciãos NÃO deveriam ter relatado nada às autoridades.

O estado de Delaware discordou e com razão.

Em Montana, um júri concedeu a uma vítima US $35 milhões em sua ação judicial contra a Torre de Vigia, na qual o juiz determinou, antes do julgamento, que os anciãos e a Torre de Vigia quebraram a lei de denúncia obrigatória de Montana.

Eu pessoalmente falei com o principal advogado da Torre de Vigia poucas semanas após o julgamento, e ele me disse que o juiz "quebrou a lei" nesse caso, e que aqueles anciãos "não tinham o direito nem o dever de denunciar" esse abuso infantil.

E sim, eu tenho isso documentado e quando for a hora certa, vou disponibilizar a evidência.

A Torre de Vigia está tentando controlar os danos agora e espera consertar o barco. O promotor-chefe da Torre de Vigia disse-me que "o abuso infantil é um bastão de iluminação e, mesmo quando você é inocente, um júri sempre o considerará culpado".

A Torre de Vigia deseja enfatizar a diferença entre "crime" e "pecado" – afirmando que os anciãos lidam com o pecado e a lei lida com o crime. No entanto, repetidas vezes eles obstruem a justiça e convencem as Testemunhas de Jeová em geral que os anciãos estão cooperando com a lei.

Eles não estão cooperando com a lei.
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Os anciãos foram instruídos privadamente a destruir, rasgar ou ocultar documentos das autoridades – e mentiram de novo nos tribunais para proteger a organização. Fazem-no intencionalmente – usando o "princípio de Raabe" - que instrui os anciãos e outros a mentir ou esconder informação de "pessoas não autorizadas" a tal informação.
Isso é o oposto do cristianismo – o oposto da verdade."



Já coloquei aqui várias reportagens que corroboram estas afirmações. Neste website, onde John Redwood colabora, poderão encontrar mais artigos pormenorizados com muitos mais casos flagrantes de negligência, encobrimento e oposição da Torre de Vigia na cooperação com as autoridades em relação a casos de abuso sexual por Testemunhas de Jeová.

Esta frase também revela algo:


"…quando os anciãos tomam conhecimento de um alegado abuso sexual, eles contactam imediatamente a filial para saber como agir de acordo com as leis locais."

Já sabemos de antemão, através dos muitos exemplos citados, que na maioria dos casos os anciãos jamais reportam casos de abuso às autoridades alegando o chamado "privilégio" ou "segredo eclesiástico" (é no mínimo curioso, visto que a organização afirma em suas publicações que as Testemunhas não têm clero).

Com respeito à afirmação de que os anciãos "contactam imediatamente a filial", após a denúncia de um caso de abuso é um facto indisputável. Isso está bem expresso nas cartas que a filial tem enviado aos anciãos ao longo dos anos. Os anciãos têm como primeiro passo saber o que o departamento legal tem a dizer sobre o assunto. Se o departamento legal os orientar a não reportar às autoridades, o que acontece na esmagadora maioria dos casos, eles apenas conduzem a investigação interna, onde tentarão perceber se a acusação procede ou não. Caso o acusado negar o abuso e não houver 2 testemunhas, o caso será deixado nas mãos de Jeová, conforme diz claramente o KS (manual dos anciãos):
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Com respeito ao parágrafo 14​ encontramos aqui uma clara melhoria em relação a orientações anteriores. Uma das principais críticas da Comissão Real Australiana foi que os anciãos não incentivavam as vítimas a fazerem a denúncia às autoridades, mostrando que não haveria quaisquer represálias caso o decidissem fazer.

O manual dos anciãos (KS) diz sobre este assunto:
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Desde então, a organização reveu esse ponto e na sua última carta pede para os anciãos tomarem a iniciativa em informar as vítimas e/ou família de que têm toda a liberdade em denunciar junto das autoridades, seja o abusador Testemunha de Jeová ou não.

A carta de 1 de Setembro de 2017, diz de modo claro aos anciãos:


"Assim, a vítima, os pais da vítima ou qualquer outra pessoa que relatar aos anciãos um suposto caso de abuso devem ser informados de maneira clara de que têm o direito de relatar o assunto para as autoridades. Os anciãos não devem criticar ninguém que decidir relatar o assunto às autoridades.— Gál. 6:5."

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Isto significa que as vítimas e família não mais têm que ficar dependentes da Comissão de Investigação criada pelo corpo de anciãos. Infelizmente, no passado, pessoas chegaram a ser expulsas ou marginalizadas na congregação porque resolveram avançar com denúncias às autoridades competentes, sendo isso encarado de algum modo, como se estivessem traíndo a congregação e a organização.

​O artigo da Sentinela continua:
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Na realidade, esta orientação ou regra apresentada neste parágrafo, sobre a necessidade de duas testemunhas, nem sempre era aplicado nos tempos bíblicos. Havia casos em que bastava a queixa da vítima para os juízes da nação de Israel atuarem com base nas circunstâncias.

Quando o membro do Corpo Governante, Geoffrey Jackson, depôs perante a Comissão Real Australiana e lhe foi questionado sobre este aspeto das duas testemunhas, ele usou os 2 textos citados neste parágrafo 14. É interessante o diálogo entre o 
Conselheiro da Comissão, Angus Stewart e o membro do Corpo Governante sobre esta questão da exigência de 2 testemunhas para validar uma denúncia de abuso dentro da congregação. É curioso que o Conselheiro usou a Bíblia para provar que existe base bíblica para não haver esta exigência no caso de abusos sexuais. Vejam a partir do minuto 1:38:53
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Conforme vimos, o Conselheiro da Comissão usou o texto de Deuteronômio 22:23-27 para argumentar porque o Corpo Governante não usava esta passagem como base para lidar com casos de abuso, visto que esta passagem é exatamente sobre um caso de violação, enquanto Mateus 18:16 nada tem a ver com este aspeto, tratando-se apenas de discórdias e conflitos entre adultos.

O texto de Deuteronômio diz claramente:

"23  “Se uma virgem estiver noiva de um homem, e outro homem a encontrar na cidade e se deitar com ela, 24  então vocês devem levar ambos para fora, ao portão daquela cidade, e apedrejá-los até a morte; a moça, por não ter gritado na cidade, e o homem, por ter humilhado a esposa do seu próximo.+ Assim, elimine o mal do seu meio.25  “Mas, se o homem encontrou no campo a moça que era noiva, e a dominou e se deitou com ela, então só o homem que se deitou com ela deve morrer; 26  não faça nada à moça. A moça não cometeu um pecado que mereça a morte. Esse caso é igual ao de um homem que ataca seu próximo e o assassina.*+ 27  Pois ele a encontrou no campo, e a moça que era noiva gritou, mas não houve quem a socorresse." – TNM (negrito acrescentado)

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Observando o diálogo entre o Conselheiro e o membro do Corpo Governante, percebe-se como este último foi apanhado de surpresa com uma passagem bíblica, que de facto, refere-se a um caso de violação e onde a Lei Mosaica não exigia 2 testemunhas do abuso! As circunstâncias eram suficientes como evidência, além de outros possíveis sinais ou marcas físicas da violação, como é óbvio.

A teimosia em usar textos que nada têm a  ver com abusos sexuais e ao mesmo tempo ignorar uma passagem clara sobre uma violação sexual, onde não seria requerida uma segunda testemunha, deixou o Conselheiro da Comissão claramente abismado e certamente surpreende qualquer pessoa de bom senso e amante da verdade.

Isso mostra como a organização não tem interesse em lidar de modo prático e bíblico com estes casos, mas interessa-lhe colocar entraves no processo. Ela reforçou esta posição perante a comunidade, no programa JW Broadcasting de Novembro de 2017. Vejam aqui o que é dito de forma dogmática, a partir do minuto 53:13, sobre a atual posição da Torre de Vigia sobre a regra das duas testemunhas no caso de abuso sexual de crianças.

Mais uma vez, o orador passa por cima da passagem citada pelo Conselheiro da Comissão Real Australiana em 
Deuteronômio 22:23-27. Desvia o foco para o argumento dos chamados "apóstatas", que supostamente usam o argumento dos adúlteros não mais serem apedrejados. Na prática, ele usa a falácia do "homem de palha", por focar-se num argumento lateral ou que nem devia ser chamado para o assunto, de modo a provar o ponto.

Mais uma vez se pode afirmar que as palavras de Jesus tinham a ver com desavenças entre adultos e não casos de abuso ou violação! Quanto a isso, a Lei Mosaica era clara e sem dúvida que Jesus sabia exatamente o que esta dizia sobre o assunto!

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Infelizmente,​ não é verdade que os anciãos fazem sempre o que a lei exige. Isso vai depender das orientações que vierem do departamento legal, como já vimos. A Sociedade chega ao ponto de querer ser ela a determinar se o abusador pode ser considerado ou não um predador sexual. Veja o que é dito na carta 1 de Outubro de 2012:
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Como é que o Departamento de Serviço no Betel, que nem conhece a pessoa em questão, consegue determinar se ela pode ser considerada ou não um 'predador'? Quais os critérios usados? Como sabe que o abusador não voltará a abusar de mais crianças, quer dentro, quer fora da congregação? Essas respostas não são dadas na carta. É implícito que os anciãos têm que confiar no critério do pessoal do Betel e devem aceitar resignados qualquer decisão que de lá seja emitida (como é hábito).

Nesta carta de 2012, foi dito pela primeira vez que no caso do abusador ser considerado um 'predador', e somente nesse caso, os pais com filhos menores deviam ser avisados. A forma como o texto está escrito subentende que o 'predador' continua a pertencer à congregação e que continua a existir real perigo de novos abusos. Se ele fosse expulso, obviamente que tal perigo, pelo menos dentro da congregação, não existiria.

A organização ao querer deter em seu poder este tipo de decisão, sem consultar as autoridades e expor o assunto a pessoas formadas e competentes no assunto, assume um papel que o Estado não lhe deu! Além disso, está colocando em perigo inúmeras potenciais vítimas indefesas, pois caso a pessoa não seja à partida encarada como um perigo no futuro, os pais não serão avisados e a pessoa continuará a gozar de boa reputação perante a congregação, por mais que os anciãos vigiem tal indivíduo.

A nota de rodapé no parágrafo 16 esconde também uma verdade macabra. Veja o que a nota diz:
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Qual é a verdade macabra por detrás desta nota de rodapé? Na verdade, até recentemente tem sido prática das comissões de investigação em casos de abuso sexual de crianças e outros casos, colocar a vítima do abuso em confronto com o abusador, o que podemos imaginar é absolutamente traumatizante e desumano. Podemos imaginar uma criança ou adolescente abusados sexualmente terem que fazer a acusação, relatando tudo o que o abusador lhe fez em pormenor em frente do mesmo!

Este foi uma dos pontos extremamente criticados pela Comissão Real Australiana, quando ela investigou e interrogou os procedimentos organizacionais usados pela Torre de Vigia quando era confrontada com casos de abuso. Notem o que ela diz no relatório final sobre este procedimento em particular:

"Também ouvimos que, se o suposto perpretador não confessasse o erro antes da comissão judicativa, duas ou mais testemunhas do delito (incluindo o sobrevivente ou sobreviventes) seriam obrigados a apresentar a(s) sua(s) alegação(s) perante a comissão judicativa na presença do suposto perpetrador, a menos que fosse impraticável para eles fazê-lo. Não existiu uma provisão clara na evidência dada durante o estudo de caso das Testemunhas de Jeová de que um sobrevivente de abuso sexual infantil que aparecesse perante uma comissão judicativa poderia ser acompanhado por uma pessoa de apoio à sua escolha." (sublinhado acrescentado)
– Royal Commission into Institutional Responses to Child Sexual Abuse, Report of Case Study No 29: The response of the Jehovah’s Witnesses and Watchtower Bible and Tract Society of Australia Ltd to allegations of child sexual abuse, Sydney, 2016, p 26.

Esta prática de confronto entre a vítima e o abusador ficou bem patente durante o interrogatório do Conselheiro da Comissão com representantes da Torre de Vigia. Note o que aconteceu a certa altura.


"O representante da Watchtower, Sr. O’brien disse ao promotor que não poderia responder pelo que foi dito por Geofrey Jackson (membro do Corpo Governante) sobre se este fez algo para permitir mudanças em apoio às vítimas. Stewart destacou a Spinks que este havia lhe fornecido no passado documentos obsoletos e já substituídos. Spinks disse confundido “Sr. Stewart, isto não é assim!”. Stewart indicou que as vítimas de abuso vêem se obrigadas a enfrentar os abusadores e que a Watchtower, porém, não abordara esta preocupação da Comissão Real. Spinks lhe disse que uma carta de correção havia sido feita, mas que ainda não havia sido enviada e não tinha sido anexada no corpo do manual dos anciãos. Ele afirmou que a correção seria disponibilizada on-line, mas que ainda não estava disponível. 

O promotor destacou a falta de transparência de todo este procedimento. Spink disse que membros do Comitê de Serviço (em várias filiais) estão ajudando neste aspecto, mas foi contestado por Stewart o qual foi taxativo ao dizer que os diretores não estavam fazendo o que Spinks afirmara. Spinks apresentou outro documento e o promotor lhe corrigiu novamente mostrando que as vítimas de abuso infantil seguem sendo obrigadas a apresentar-se diante do acusado e que a regra das duas testemunhas é contrária à lei Australiana. Foi a vez de Spinks claramente incomodado afirmar que Stewart estava equivocado. Stewart destacou a contraditória redação da Watchtower que usa a expressão“poderiam” ou não fazê-lo. Interrogado, Spinks disse que há monitoramento do cumprimento destas normas nas congregações. Stewart disse que a Comissão Real considerou insustentável que as vítimas das Testemunhas de Jeová se vissem obrigadas a permanecer associadas na mesma congregação com seus abusadores. Citou o documento 7.14-03/01/2017 onde se diz que é preciso expulsar o malfeitor e então, destacou que esta expulsão não protege as crianças do público que não são testemunhas. O Sr. O’Brien disse que isto não era relevante ao caso." 
(sublinhado acrescentado)

– Ver todo o texto e vídeos destes interrogatórios aqui.

A Sentinela de 1 de Novembro de 1995, sob o tema "Consolo para o espírito abatido" apresentava as seguintes orientações a uma vítima de abuso:

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​Assim, torna-se claro que esta nota de rodapé reflete NOVAS ORIENTAÇÕES que foram postas em prática a partir da ocasião da Comissão Real Australiana. Por isso é que na carta de 1 de Agosto de 2016, a Torre de Vigia instruiu os anciãos dizendo:
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Somente DEPOIS da Comissão Real Australiana e suas críticas às políticas organizacionais, é que a organização reviu este procedimento de confrontar vítimas e abusador, o que mostra a falta de sensibilidade dos homens que lideram esta organização religiosa. Mas a forma como está escrita a nota de rodapé dá a entender às Testemunhas de Jeová que este procedimento sempre foi assim, o que é completamente falso.
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Sim, a Comissão Judicativa é um tribunal eclesiástico à porta fechada e normalmente sem testemunhas de defesa e sem mais ninguém que possa testemunhar a imparcialidade do julgamento. É bastante similar na sua forma, ao julgamento feito com Jesus antes de ser morto, pelo Sinédrio Judaico. Ao contrário do que acontecia debaixo da Lei Mosaica, onde todos os casos eram avaliados e julgados pelos juízes de Israel publicamente, junto aos portões da cidade, para garantir a imparcialidade do julgamento, as Testemunhas de Jeová usam um método secreto, inquisitorial e muitas vezes manifestamente desumano de tribunal. Notem como o Estudo Perspicaz das Escrituras, editado pela Torre de Vigia explica a forma como eram realizados os julgamentos no antigo Israel. Sob o verbete "Tribunal de Justiça" diz:
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Como se pode ver, o sistema judicial no Antigo Israel e que depois também foi passado para a congregação cristã era transparente! As pessoas eram julgadas ou avaliadas sem que houvesse sombra de dúvida sobre os atos errados que tinham praticado e assim a justiça aplicada estaria de acordo com tais atos.

Atualmente, as Testemunhas de Jeová ficam completamente alheias ao processo judicativo e quando a pessoa é expulsa da congregação, ninguém sabe as razões e muitas vezes a tagarelice leva a que as pessoas inventem história e suposições sobre as razões que levaram a isso. Até mesmo quando alguém decide sair de livre vontade (dissociação), ninguém fica sabendo disso! Muitas vezes as pessoas pensam que a pessoa foi expulsa por algum pecado ou prática errada aos olhos da Torre de Vigia, quando na realidade ela simplesmente quis sair por discordar de doutrinas e políticas organizacionais.


Como o anúncio dado é exatamente igual, quer a pessoa seja desassociada, quer se dissocie, as pessoas na congregação apenas podem supor as razões e a pessoa não tem a oportunidade de expor o que aconteceu, pois é imposto o ostracismo.

Isto no caso de abusadores é mais grave, porque quando um abusador é expulso ou perdoado pela Comissão, as pessoas não ficam sabendo que aquele indivíduo representa um perigo para a comunidade e sociedade em geral.

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Estes parágrafos deveriam deixar os pais bastante preocupados, só de imaginar que entre eles poderá estar um pedófilo que foi perdoado do seu abuso, mas que não é encarado como um potencial 'predador'. Assim, mais uma vez, na prática, a organização não toma as medidas necessárias para proteger de modo eficaz as crianças.

A Comissão Real Australiana foi bastante contundente na crítica quanto a estas supostas medidas de prevenção colocadas em prática nas congregações no Relatório final:
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112 Royal Commission into Institutional Responses to Child Sexual Abuse, Report of Case Study No 29: The response of the Jehovah’s Witnesses and Watchtower Bible and Tract Society of Australia Ltd to allegations of child sexual abuse, Sydney, 2016, p 69.

113 Royal Commission into Institutional Responses to Child Sexual Abuse, Report of Case Study No 29: The response of the Jehovah’s Witnesses and Watchtower Bible and Tract Society of Australia Ltd to allegations of child sexual abuse, Sydney, 2016, p 77.
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Nos parágrafos finais deste artigo, a Torre de Vigia aponta os pais como os verdadeiros responsáveis em proteger as crianças dos perigos. Embora seja verdade que os pais são os verdadeiros responsáveis por tudo o que diz respeito ao seus filhos, a organização não pode colocar-se de parte nesta parte.

Afinal, todos os membros da comunidade acreditam que vivem num ambiente protegido e propício para o desenvolvimento físico e mental de seus filhos, o chamado "paraíso espiritual" tão propagado pela Torre de Vigia ao longo dos anos.

Se a organização Torre de Vigia esconde dos pais que tal ambiente não é assim tão protegido e imune a pessoas mal intencionadas, algumas delas exercendo cargos de responsabilidade dentro da congregação, como os pais poderão fazer tudo ao seu alcance para proteger seus filhos?

Imagine o que é existir um abusador na congregação, que tendo sido perdoado numa Comissão ou tendo negado o abuso, mantém a sua boa posição entre os irmãos. Acha mesmo que os pais vão desconfiar que algo não está bem com essa pessoa, especialmente se não houver uma denúncia nas autoridades?


É simplesmente imoral que os pais sejam colocados nesta posição!

Os conselhos dados nos parágrafos 20 a 22 são ótimos conselhos para aplicar nas relações em sociedade, mas será que têm efeito dentro da congregação? Será que pais que confiam nos membros da congregação como sendo pessoas íntegras e tementes a Deus vão agir de modo suspeitoso com estas? Dificilmente!
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O parágrafo final volta a reforçar a ideia de que as Testemunhas de Jeová são proativas na forma como tratam casos de abuso sexual de crianças. O historial de casos de abuso dentro da organização Torre de Vigia, os milhões de dólares já pagos a dezenas de vítimas de abuso, os sucessivos escândalos envolvendo tais casos e a resistência da organização em colaborar com as autoridades, provam que ela não tem cumprido o seu papel de modo exemplar.

A Sociedade Torre de Vigia tem feito exatamente o mesmo que outros grupos religiosos, procurando manter uma imagem limpa e impoluta, ao mesmo tempo que tem varrido para debaixo do tapete anos de políticas erradas, incoerentes, profundamente imorais e hipócritas na forma de lidar com as vítimas e os abusadores. É positivo que esteja mudando as regras e que finalmente coloque por escrito matéria sobre este assunto, que certamente fará as Testemunhas de Jeová mais atentas a ponderarem bem a facilidade com que deixam os seus filhos com alguém dentro da congregação.

Mas como vimos, as políticas ainda são insuficientes e muitas vezes injustas para as vítimas. Além do mais, os anciãos serem orientados a telefonar para a filial em vez de para a polícia revela como a Torre de Vigia está mais preocupada em manter limpa a sua imagem do que em proteger as pessoas na congregação, em especial as crianças e menores de idade.

Mais casos de abuso estão sendo levados a tribunal e mais países estão investigando as políticas organizacionais, tal como acontece atualmente na Holanda e Inglaterra. É positivo que as autoridades intervenham e obriguem a que as entidades religiosas mudem suas políticas neste respeito, já que elas, por iniciativa própria, são reticentes em fazê-lo.


É também importante que os pais Testemunhas de Jeová percam o medo e exijam medidas concretas e eficazes à organização, de modo a proteger seus filhos. Infelizmente, o medo de represálias domina a mente das Testemunhas. Mas o amor aos seus filhos devem levá-las a fazer o mesmo que tem acontecido com membros de outras organizações religiosas, ao fazerem frente aos poderes eclesiásticos e exigirem mudanças de fundo na forma de lidarem com casos de abuso.

Afinal, o abuso sexual dentro das congregações das Testemunhas de Jeová não é e nunca foi "mentiras apóstatas" e nem a acusação de que a Torre de Vigia tem políticas que têm encoberto os abusadores e seus abusos uma invenção para fazer alguém perder sua fé. Os "apóstatas", como as Testemunhas de Jeová lhes chamam têm sido verdadeiros sentinelas, dando o aviso e procurando alertar para o verdadeiro perigo existente DENTRO das congregações.

Infelizmente, as fobias inculcadas na mente das Testemunhas por esta organização religiosa levaram a que muitos simplesmente não acreditassem e ainda acusassem aqueles que alertavam como sendo os maus da fita.

Estes artigos da Sentinela, assim como dezenas de notícias e reportagens a nível mundial, mostram quem dizia a verdade sobre o assunto. Talvez agora mais Testemunhas de Jeová passem a dar atenção às vozes críticas e deixem de acreditar ingenuamente em tudo o que a Torre de Vigia lhes empurra pela goela abaixo.

Talvez agora percebam onde está a verdade dos factos!
E só não vê quem não quer!

António Madaleno
(aka Carlos Fernandes)
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