"Portanto, vão e façam discípulos de pessoas de todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo, ensinando-as a obedecer a todas as coisas que lhes ordenei. E saibam que eu estou com vocês todos os dias, até o final do sistema de coisas.” – Mateus 28:19, 20 (TNM) É indesmentível que Jesus ordenou que seus discípulos saíssem pelo mundo, evangelizando as nações com a mensagem das "Boas Novas", mensagem esta que se centrava na pessoa de Jesus, aquele que havia morrido pelos pecadores e aberto a ponte para uma reconciliação com Deus por meio do seu sangue derramado no madeiro (Col 1:19-22). Conforme analisado neste artigo (aqui), tornou-se perceptível que as "Boas Novas" cristãs pregadas no primeiro século, não se focavam num paraíso terrestre, na paz entre humanos e animais ou na inversão do processo do envelhecimento ou numa futura entronização de Cristo nos céus dali a milhares de anos, conforme hoje em dia é feito na pregação das Testemunhas de Jeová. Após o derramamento do Espírito Santo em Pentecostes em 33 E.C., o apóstolo Pedro fez um discurso vigoroso onde descreveu e resumiu o que de facto eram as "Boas Novas" de Deus para o povo. A certa altura ele disse: “Homens, irmãos, permitam-me falar-lhes com franqueza sobre o patriarca Davi: ele morreu e foi enterrado, e seu túmulo está entre nós até o dia de hoje. Visto que era profeta e sabia que Deus lhe havia jurado que faria um dos seus descendentes se sentar no seu trono, ele previu a ressurreição do Cristo e falou sobre ela, que ele não seria abandonado na Sepultura e que a sua carne não conheceria a decomposição. Deus ressuscitou a esse Jesus, e disso todos nós somos testemunhas. Portanto, visto que ele foi enaltecido à direita de Deus e recebeu do Pai o prometido espírito santo, derramou o que vocês estão vendo e ouvindo. Pois Davi não subiu aos céus, mas ele diz: ‘Jeová disse ao meu Senhor: “Sente-se à minha direita até que eu ponha os seus inimigos debaixo dos seus pés.”’ Portanto, que toda a casa de Israel tenha a plena certeza de que Deus o fez Senhor e Cristo, a esse Jesus, que vocês mataram numa estaca.” – Atos 2:29-36 Estas declarações continuaram a ser proferidas vezes sem conta na pregação dos primitivos cristãos, exortando a todos os seus ouvintes a depositarem fé no Messias e Salvador Jesus, para perdão dos pecados. (Atos 2:37-42) Esta pregação cumpria também aquilo que Jesus havia dito após a sua ressurreição: "Mas, quando o espírito santo vier sobre vocês, receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até a parte mais distante da terra.” – Atos 1:8 Os cristãos tornaram-se assim testemunhas da morte e ressurreição de Jesus, partilhando com outros a maravilhosa esperança da ressurreição e do fim da morte adâmica, incluindo o fim do reinado e influência de Satanás sobre a terra. Pregação das Boas Novas de que modo? As Testemunhas de Jeová dirão certamente que a pregação cristã, conforme praticada no primeiro século, deve ser feita de modo pessoal e não apenas ficar à espera que as pessoas visitem os lugares de culto para receber a mensagem cristã. E isso é verdade, pois Jesus treinou seus discípulos a irem ter com as pessoas divulgando a mensagem. (Mateus cap. 10; Lucas cap.10) O problema levanta-se quando a organização Torre de Vigia faz este tipo de declarações: “Espera-se da pessoa dedicada que apóie a causa do Pai, a causa da adoração verdadeira, que pregue em honra da Palavra e do nome de Jeová Deus, que assuma plenamente suas responsabilidades como ministro, pregador no serviço de campo de casa em casa, e que de outras formas participe plenamente nas atividades da sociedade do Novo Mundo, para promover a proclamação do Reino e apoiar a verdadeira adoração de Jeová. A pessoa dedicada tem de ser uma Testemunha de casa em casa como foram Cristo Jesus e os apóstolos tanto quanto lhe permita a sua capacidade, e tem de ser de outras formas testemunha e anunciador do reino teocrático da justiça.” (A Sentinela de 1° de julho de 1955 [em inglês], pág. 409, parágrafo 10) "O método de pregar de casa em casa tem base nas Escrituras. Por exemplo, ao enviar seus apóstolos a pregar, Jesus os instruiu: “Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai nela quem é merecedor.” Como haviam de procurar os merecedores? Jesus ordenou-lhes que fossem às casas das pessoas, dizendo: “Ao entrardes na casa,cumprimentai a família; e, se a casa for merecedora, venha sobre ela a paz que lhe desejais.” Será que deveriam esperar que as pessoas primeiro os convidassem? Note o que Jesus acrescentou: “Onde quer que alguém não vos acolher ou não escutar as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés.” (Mat. 10:11-14) Essas instruções tornam claro que os apóstolos, ao passarem “pelo território, de aldeia em aldeia, declarando as boas novas”, deviam tomar a iniciativa de visitar as pessoas nas suas casas. — Luc. 9:6." (A Sentinela de 15 de julho de 2008, página 3-7, parágrafo 3) Para o leitor desatatento e confiante na interpretação da Torre de Vigia, tais citações têm toda a lógica e aparentemente os textos citados apoiam o argumento da organização. Mas uma leitura atenta ao seu contexto revelam que o argumento usado não tem base sólida para defender a pregação de porta em porta ou de casa em casa. Analisemos então as passagens usadas como base dentro do seu contexto. O que dizem Mateus e Lucas sobre a pregação de casa em casa O evangelho de Mateus no capítulo 10, fornece-nos em pormenor o envio dos 12 apóstolos na campanha de pregação que lhes daria a primeira experiência de servirem como mensageiros das Boas Novas. Depois de lhes dar autoridade sobre espíritos iníquos, de modo a procederem a exorcismos e dar-lhes poder para curar toda a sorte de doença, Jesus diz-lhes: “Não se desviem para a estrada das nações e não entrem em cidade samaritana; 6 mas, em vez disso, vão somente às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7 Ao irem, preguem, dizendo: ‘O Reino dos céus está próximo.’ 8 Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, portanto deem de graça. 9 Não adquiram ouro, nem prata, nem cobre para o seu cinto, 10 nem bolsa de provisões para a viagem, nem roupa extra, nem sandálias, nem bastão, pois o trabalhador merece o seu alimento." – Mateus 10:5-10 Mediante estas palavras, podemos entender algumas particularidades das orientações de Jesus aos apóstolos:
É interessante que nestas orientações, Jesus jamais comenta sequer a hipótese de uma pregação de porta em porta ou lhes dá qualquer informação de como o fazer. Naquele tempo era comum existirem pregadores itinerantes que anunciavam ao povo, bem à semelhança dos profetas do passado, novidades e informações que consideravam importantes baseadas no seu entendimento das Escrituras Sagradas. Não nos podemos esquecer que viviam-se tempos críticos e difíceis em Israel, com a nação sendo ocupada por uma força militar estrangeira e em que os pesados tributos pagos a Roma, juntamente com o tratamento muitas vezes cruel dos romanos, incitavam o povo à rebelião. Quaisquer sinais de perturbação da "pax romana" neste território altamente conflituoso, poderia gerar uma resposta rápida e mortal dos ocupantes romanos. Ao contrário de outros pregadores, a mensagem cristã era uma mensagem de paz e não de revolta. E o espírito que Jesus incutiu nos seus discípulos transmitia tal sentimento: seria o "Reino de Deus" a resolver as dificuldades que eles enfrentavam e não o poder humano, pela espada e pela guerra, que o faria. É natural que a Testemunha de Jeová aponte imediatamente para os versículos a seguir, tentando encontrar neles a base para uma suposta pregação de casa em casa: "Em qualquer cidade ou aldeia em que entrarem, procurem nela quem é merecedor e fiquem ali até partirem. 12 Ao entrarem na casa, cumprimentem a família. 13 Se a casa for merecedora, venha sobre ela a paz que lhe desejam; mas, se ela não for merecedora, que a paz volte a vocês. 14 Onde quer que alguém não os receber nem ouvir as suas palavras, ao saírem daquela casa ou daquela cidade, sacudam o pó dos seus pés." – Mateus 10:11-14 Será que esta passagem dá azo ao entendimento que Jesus estava a ordenar uma pregação de porta em porta? Não, porque estas palavras claramente seguem as palavras anteriores em que Jesus ordena aos apóstolos a não carregarem consigo "ouro, nem prata, nem cobre para o seu cinto, nem bolsa de provisões para a viagem, nem roupa extra, nem sandálias, nem bastão, pois o trabalhador merece o seu alimento". Jesus indicava aqui que os apóstolos ao irem de aldeia em aldeia e cidade em cidade, deviam procurar a hospitalidade daqueles que os escutassem e por isso diz-lhes "fiquem ali até partirem" (vers. 11). Dificilmente Jesus diria isso se estivesse a referir-se à pregação de casa em casa, como fazem as Testemunhas de Jeová. O relato em Lucas que descreve o envio dos 70 e é de certo modo paralelo a este, Jesus afirma até mesmo: "Não fiquem mudando de uma casa para outra". (Lucas 10:7) O povo israelita tinha por costume ser um povo hospitaleiro e era comum naquele tempo receber pessoas que se deslocavam de uma região para outra, muitas vezes sem ter local onde ficar. O próprio Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 2, pág. 350, sob o verbete Hospitalidade menciona de forma clara: "O Senhor Jesus Cristo, ao enviar os 12 e mais tarde os 70 a pregar em Israel, disse que eles seriam recebidos hospitaleiramente nos lares daqueles que apreciavam as boas novas pregadas por eles. (Mt 10:5, 6, 11-13; Lu 10:1,5-9) Embora o próprio Jesus não tivesse “onde deitar a cabeça”, era acolhido nos lares daqueles que o reconheciam como enviado por Deus. — Mt 8:20; Lu 10:38." Sendo assim, esta passagem não se tratava de pregação de porta em porta, mas a procura de famílias que fossem receptivas ao acolhimento dos apóstolos e discípulos, dando-lhes hospedagem e recebendo-os como enviados pelo Mestre. É bem provável que uma Testemunha de Jeová argumente a seguir que existem outras passagens que explicitamente demonstram que os discípulos de Jesus realmente pregavam de casa em casa. Para isso, 2 textos são usados: Atos 5:42 e Atos 20:20. Estas são as passagens comumente usadas pela organização das Testemunhas de Jeová para validar o trabalho de pregação de casa em casa. Mas será que estas passagens significam aquilo que a Torre de Vigia afirma? Veremos de seguida que não! No livro de Atos 5:42 é-nos dito pelo relato: "E todo dia, no templo e de casa em casa, continuavam, sem parar, a ensinar e a declarar as boas novas a respeito do Cristo, Jesus." A passagem de Atos 20:20, lemos as palavras de Paulo: "…ao mesmo tempo não deixei de falar a vocês coisa alguma que fosse proveitosa, nem de ensiná-los publicamente e de casa em casa." Ao ler estas passagens segundo a forma de traduzir da Tradução Novo Mundo, parece evidente que se tratava de facto de uma atividade de pregação porta-a-porta, como em visitas ininterruptas de casa em casa procurando pessoas interessadas e sem convite prévio. Mas será esta forma de traduzir a que melhor reflete o significado original e a prática cristã? Para sabermos isso teremos que ir ao idioma original em que estas passagens foram escritas. Será necessário também recorrer ao que nos mostra a História do primitivo cristianismo e a forma como se difundiu pela império romano. Conforme sabemos bem, o Novo Testamento ou Escrituras Gregas Cristãs foram escritas no grego koiné, sendo o idioma comum falado no mundo da época, assim como hoje em dia o inglês é considerado a língua universal. No grego original, nas duas passagens encontramos a palavra grega kat’oikon que a organização preferiu traduzir "de casa em casa". Segundo o entendimento da organização Torre de Vigia e seus tradutores, visto que a preposição Kata tem sentido distributivo (literalmente "segundo"), a tradução mais correta teria que dar a ideia de alguém indo "segundo as casas" ou "de casa em casa" em sentido consecutivo. É isso que as Testemunhas de Jeová fazem quando se dirigem para um território, pregando casa após casa, prédio após prédio e porta após porta na rua desse território. Mas esta forma de entender o uso desta expressão kat’oikon quando analisada à luz das evidências não se mantém de pé. Em primeiro lugar, distributivo não é o mesmo que consecutivo. Alguém pode ir de “casa em casa” indo de uma casa numa área para uma casa noutra área, assim como o médico que faz “visitas domiciliares” pode ir de lar em lar. Não significa assim que as visitas sejam consecutivas de porta em porta. O mais interessante é que quando se analisa a próprio Tradução do Novo Mundo, percebe-se que ela própria desautoriza tal interpretação. Poucas Testemunhas percebem que a mesma expressão (kat’oikon), traduzida “de casa em casa” naTradução do Novo Mundo em Atos, capítulo 5, versículo 42, também ocorre no capítulo 2, versículo 46. Pode-se ver abaixo como estes versículos aparecem na Tradução Interlinear do Reino (em inglês) da Torre de Vigia, que contém a Tradução do Novo Mundo na coluna da direita (sublinhados). Como mostra o lado esquerdo da Interlinear, a mesma expressão aparece nos dois textos com o mesmo sentido distributivo de kata. Todavia, em Atos 2:46, a tradução não é “de casa em casa” e sim “em lares particulares". Por quê? Como não é lógico pensar que os discípulos tomavam refeições indo duma casa para a outra rua abaixo e como a liderança da Torre de Vigia pretende atribuir esse sentido específico à expressão “de casa em casa” (para apoiar sua atividade de porta em porta), ela quer evitar as perguntas que poderiam surgir se usasse a tradução “casa em casa” aqui. Como já dissemos, a maioria das Testemunhas não percebe esta troca de traduções e a Torre de Vigia prefere não chamar a atenção para o assunto, nem mencioná-lo abertamente. Em Atos 20:20, a expressão aparece novamente, embora a palavra para ”casa” ou “lares” esteja aqui no plural (kat’oikous): Como é razoável, cabe ao tradutor decidir como a expressão grega será traduzida. É interessante que a nota de rodapé da Tradução do Novo Mundo com Referências diz: * Ou, “e em casas particulares”. Assim ela própria reconhece o sentido original no grego. Não é que seja errado traduzir kat’oikon (ou kat’oikous) como “de casa em casa”. É uma tradução perfeitamente correta e se encontra em muitas outras versões da Bíblia, mesmo em Atos 2:46. (Veja o Apêndice). Depende só do tradutor qual das opções, “de casa em casa” ou “em lares particulares”, será usada nos dois textos. O errado é tentar fazer a expressão transmitir um sentido que de fato não existe. Está claro que os apóstolos e outros cristãos primitivos visitavam pessoas em seus lares particulares. O que não está nada claro é que eles participavam na atividade de porta em porta conforme fazem atualmente as Testemunhas de Jeová. Pode-se afirmar isto, mas é uma afirmação sem qualquer prova. Estes textos não são os únicos que a Torre de Vigia usa no esforço de apresentar o testemunho de porta em porta como o modo realmente cristão, igual ao de Cristo, de divulgar o conhecimento da Palavra de Deus, conforme vimos no início. Mas as passagens que já analisamos anteriormente onde Jesus dá orientações aos seus discípulos sobre como pregar, tampouco demonstram tal conclusão. O Registro de Testemunho do Apóstolo Paulo Se tivermos que procurar nas Escrituras alguém que tenha sido um zeloso pregador das Boas Novas Cristãs, essa pessoa será o apóstolo Paulo, também chamado de "apóstolo para as nações". Será que encontramos nos relatos concernentes à pregação de Paulo algum indício que apoie a idéia da Torre de Vigia de que a pregação era feita de modo similar à pregação feita atualmente pelas Testemunhas de Jeová? Vejamos! O capítulo 19 de Atos mostra que, ao chegar a Éfeso, Paulo “achou alguns discípulos”, cerca de doze, que nada sabiam acerca de receber o dom do Espírito ou de serem batizados no nome de Cristo, tendo sido batizados no batismo de João. Paulo os batizou no nome de Jesus. Mas deve-se notar que estes homens já eram “crentes”, “discípulos”, quando ele os encontrou. Ele não os ensinou como se fossem estranhos desinformados, mas como homens que já eram discípulos. O caso deles pode se comparar ao de Apolo, descrito no capítulo anterior como “familiarizado apenas com o batismo de João” quando Áquila e Priscila o conheceram. (Atos 18:24-26) No entanto, mesmo antes que lhe expusessem “mais corretamente o caminho de Deus”, Apolo já “falava e ensinava com precisão as coisas a respeito de Jesus” na sinagoga. Embora incompleto no seu entendimento, ele já era cristão quando Áquila e Priscila o conheceram. Além disso, eles não o encontraram indo de porta em porta, mas enquanto eles próprios frequentavam a sinagoga. Não há razão alguma para encarar os doze homens em Éfeso de modo diferente. Após descrever o batismo destes homens por Paulo, o relato em Atos capítulo 19 diz: "Entrando na sinagoga, falou com denodo, por três meses, proferindo discursos e usando de persuasão a respeito do reino de Deus. Mas, quando alguns prosseguiam em endurecer-se e em não crer, falando injuriosamente sobre O Caminho perante a multidão, retirou-se deles e separou deles os discípulos, proferindo diariamente discursos no auditório da escola de Tirano." Este é o testemunho ocular de Lucas sobre o ministério de Paulo em Éfeso. Mostra que alguns dos que ouviam os discursos de Paulo na sinagoga durante aqueles três meses ou já eram ou tornaram-se discípulos depois. Não diz que estes, ou quaisquer outros, abraçaram o cristianismo em resultado da atividade de pregação de “casa em casa”. O contexto muito claro da evidência bíblica indica que isto foi mais provavelmente em resultado de terem escutado os discursos públicos de Paulo na sinagoga. Considere essa evidência conforme é apresentada no relato de Lucas e que iremos resumir. Em todo o livro de Atos há exemplos e mais exemplos de pessoas que se tornaram crentes em resultado de discursos dados em lugares públicos ou de maneira pública. Os 3.000 em Pentecostes reuniram-se publicamente para ouvir Pedro e os outros discípulos falarem, e naquele mesmo dia arrependeram-se e tornaram-se crentes. Não estavam atendendo alguém às portas de suas casas. (Atos 2:1-41) Embora seja verdade que Cornélio e seus companheiros ouviram a mensagem de arrependimento e fé em Cristo na casa dele, a visita de Pedro ali não estava relacionada a nenhuma “atividade de pregação de “casa em casa”, mas era uma visita específica àquela casa. (Atos 10:24-48) Em Antioquia da Pisídia, em resultado de Paulo falar na sinagoga, alguns judeus e prosélitos “seguiram a Paulo e Barnabé” para ouvirem mais. (Atos 13:14-16, 38-43) Se alguma casa estava envolvida, era mais provavelmente aquela em que Paulo e Barnabé se hospedavam, onde estas pessoas interessadas os visitavam, o que é o oposto de serem visitadas em suas casas por Paulo e Barnabé. (Confira uma situação similar no ministério de Jesus em João 1:35-39.) No sábado seguinte, “todos os corretamente dispostos para com a vida eterna tornaram-se crentes”, na sinagoga, segundo todas as indicações. (Atos 13:44-48) Em Icônio, o relato diz que Paulo e Barnabé falaram de novo na sinagoga e “uma grande multidão, tanto de judeus como de gregos, se tornaram crentes”. Eles ‘se arrependeram e tiveram fé em Cristo’ em resultado do ensino público na sinagoga, sem menção a qualquer “atividade de “casa em casa”. (Atos 14:1) Em Filipos, Lídia ‘abriu-lhe o coração e prestou atenção à mensagem de Paulo’, mas isto foi junto de um rio e foi só depois que Paulo entrou na casa dela, já como hóspede.1 O carcereiro filipense que mais tarde se converteu, conheceu Paulo quando este estava detido na prisão dele, e a entrada de Paulo na casa dele resultou de o carcereiro ter pedido para saber mais, não de uma visita não solicitada à sua casa. (Atos 16:12-15, 25-34) Em Tessalônica, o resultado de Paulo ter raciocinado com as pessoas na sinagoga por três sábados foi que “alguns deles tornaram-se crentes e associaram-se com Paulo e Silas, e assim fizeram também uma grande multidão dos gregos que adoravam a Deus” ― novamente, ensino público numa sinagoga sem menção a qualquer atividade de pregação de “casa em casa”. (Atos 17:1-4) Em Beréia, quando chegaram, “entraram na sinagoga dos judeus” e “muitos deles tornaram-se crentes, e assim também não poucas das mulheres gregas bem conceituadas e dos homens”. (Atos 17:10-12) Em Atenas, após Paulo ter falado publicamente na sinagoga, na feira e no Areópago, todos lugares públicos, alguns “juntaram-se a ele e tornaram-se crentes”. (Atos 17:16-34) Em Corinto, Paulo, enquanto hospedado na casa de Áquila e Priscila, “cada sábado, dava um discurso na sinagoga e persuadia judeus e gregos”. Quando a oposição o forçou a sair da sinagoga, ele foi para a casa vizinha de Tício Justo, e usou esta casa como lugar de ensino, e o relato diz: “Mas Crispo, o presidente da sinagoga, tornou-se crente no Senhor, e assim também todos os de sua família. E muitos dos coríntios, que tinham ouvido, começaram a crer e a ser batizados.” (Atos 18:1-8) Crispo e sua família tinham ouvido de início as boas novas na sinagoga e só mais tarde em sua casa, quando esta foi usada como local de reunião, sem a ocorrência de visitas de porta em porta. Todos estes relatos antecedem o relato da atividade de Paulo em Éfeso. Devemos achar que estes não lançam luz sobre a declaração de Paulo em Atos 20:20 citada na Sentinela, de que ele deu “cabalmente testemunho, tanto a judeus como a gregos, do arrependimento para com Deus e da fé em nosso Senhor Jesus”? Onde exatamente Paulo tinha feito isso, em todos estes relatos? Foi em algum tipo de atividade de porta em porta? Ou foi, em vez disso, em lugares públicos, principalmente sinagogas? Quando se falou em casas, tinha ido ali o apóstolo em atividade de porta em porta, ou tinha sido, em cada caso, convidado àquela casa específica? Tinham as pessoas, “judeus e gregos”, se arrependido e se tornado cristãs através de ensino público nas sinagogas? Tinham, claramente. Paulo diz que ensinou pessoas em Éfeso “publicamente e de casa em casa”. Se o primeiro método é público, o segundo, naturalmente, é particular. Visto no contexto extenso e detalhado de todo o livro de Atos, é claro que o caso de Éfeso pode ter sido este: Paulo encontrou crentes em resultado de ter falado na sinagoga, e mais tarde, na escola de Tirano, e depois disso foi aos lares desses crentes, uma casa depois da outra, dando-lhes instrução, não pública, mas particular, instrução personalizada. Uma séria responsabilidade acompanha a argumentação parcial e tendenciosa que se usa para apoiar a alegação da organização de que a atividade de porta em porta é ensinada e defendida na Bíblia, e que era um método distintivo de testemunho do primeiro século. Não se trata de mera discussão acadêmica ou debate sobre aspectos técnicos. Tem impacto na vida das pessoas, e no modo como encaram a si mesmas e aos outros. O método de porta em porta que a organização Torre de Vigia promove foi claramente convertido num padrão pelo qual se julga a espiritualidade dos outros e seu amor a Deus. Com certeza, qualquer ensino que traga essas consequências merece argumentos mais sólidos do que os encontrados nas publicações da organização, uma consideração mais plena e mais justa da evidência e das questões envolvidas. O contexto histórico do Cristianismo antigo Quando o livro de Atos foi escrito, o Cristianismo estava em sua fase inicial, quando praticamente todos os cristãos eram judeus e tinham plena liberdade de pregar em sua nação. É tanto que havia muitas seitas que se proliferaram entre os judeus, com as mais variadas motivações, tais como os essênios e os zelotes. No entanto, com o passar das décadas e com o fim da nação judaica, o contexto mudou completamente, pois os cristãos não eram somente aquele punhado de judeus, mas sim pessoas de todas as nações que se confrontavam com o desafio de expor sua fé diante do grande intolerante religioso que era o Império Romano. Os livros sobre a História do Cristianismo servem de evidência disso mesmo. É praticamente certo que os antigos cristãos (do primeiro século em diante) nunca pregaram de casa em casa no vasto Império Romano, pelo menos não da maneira que uma Testemunha de Jeová hoje esperaria. Isso já foi parcialmente admitido até pelo próprio Corpo Governante das Testemunhas de Jeová (em suas reuniões secretas)! Tal admissão foi relatada por Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante, em seu livro “Em Busca da Liberdade Cristã”. Mas as Testemunhas de Jeová não sabem disso, uma vez que são proibidas pelo mesmo Corpo Governante de ler livros publicados por ex-membros da Torre de Vigia. Os primeiros cristãos eram, em sua maioria, pessoas de pouca influência, muitas vezes escravos. Eles não tinham liberdade para serem "pioneiros"2 ou meros "publicadores"3. O crescimento inicial do Cristianismo se deu principalmente pelo que as Testemunhas de Jeová chamam hoje de “testemunho informal”. O Império Romano não permitiria que grupos e mais grupos cristãos ficassem visitando persistentemente as casas de cidadãos romanos, tentando convertê-los ao monoteísmo e incentivá-los a deixar a adoração dos “deuses”. Uma atividade assim certamente chamaria a atenção das autoridades e dos escritores daquele tempo. A título de comparação, note um caso que ocorreu na Grécia antiga. Houve uma seita politeísta, cujos membros eram chamados de Órficos, que incentivava seus adeptos a visitarem as pessoas em seus lares, com o objetivo de conseguir mais aderentes para o seu movimento. Sobre esta seita, lemos o seguinte: "Platão menciona tratados órficos que eram distribuídos por membros dessa seita, que andavam de casa em casa, e Plutarco, nos seus Preceitos sobre o Casamento, aconselha a parte feminina a não permitir a entrada pela porta das traseiras a estranhos que tentam introduzir os seus tractos em casa fazendo reclamo de uma religião estrangeira, uma vez que isso pode provocar desavenças com o marido.... Platão, Rep., II.364e, fala de um 'monte de tratados' oferecidos pelos 'profetas errantes' de Museu e Orfeu, em que ensinavam uma religião catártica e os seus rituais chamados teletai (i.e., iniciações). " – Cristianismo Primitivo e Paideia Grega, edição de 1991, Portugal, de Werner Jaeger, p. 20, inclusive nota. Certamente tais pregadores não tinham o zelo cristão nem o Espírito de Deus, mesmo assim o que fizeram foi registrado e chegou aos dias de hoje. Mas no caso dos cristãos, os quais desenvolveram uma pregação muito mais extensa e duradoura, não há um único registro histórico sobre visitas costumeiras aos lares pagãos. E lembre-se que a pregação que as Testemunhas de Jeová imaginam que houve no primeiro século não se resumia a visitas discretas, e sim a uma campanha ostensiva e periódica com o objetivo de alcançar todas as casas de todas as cidades do Império, uma a uma, não deixando ninguém de fora. Isso durante dias, meses e anos seguidos. Será que um empreendimento desta magnitude e abrangência não receberia algum destaque dos escritores daquele tempo? Seria de se esperar que houvesse um número enorme de referências sobre o pregar de casa em casa dos cristãos antigos, caso eles tivessem realmente se empenhado numa campanha semelhante a que feita hoje pelos seguidores da Torre de Vigia fazem hoje em dia. Tais menções históricas, porém, não são encontradas. É verdade que os registros antigos mencionam frequentemente o zelo dos primeiros cristãos ao pregarem sua fé. Não se pode negar isso. No entanto, tais escritos não destacam o método de casa em casa como o principal meio de divulgação. Mesmo alguns ricos tendo se convertido ao Cristianismo, o método de pregar periódica e consecutivamente nas casas de estranhos não era o principal porque o Cristianismo cresceu especialmente dentro da humilde classe escravista e proletária, como mencionam os autores a seguir: "O problema das fontes do cristianismo distingue-se pela sua extrema complexidade. A cristandade surgiu no seguimento das relações políticas e sociais existentes sob o regime escravista." – A Origem do Cristianismo, de Iakov Lentsman, edição de 1985, editora Caminho, Portugal, p. 33. "O filósofo grego Celso escarnece da nova religião porque seu fundador teve como mãe uma trabalhadora e como primeiros missionários alguns pescadores da Galiléia. Pela mesma época, os pagãos zombam das comunidades cristãs porque [são] formadas principalmente por pessoas de condição humilde. O Evangelho, ironizam eles, exerce sua sedução somente sobre 'os simples, os humildes, os escravos, as mulheres e as crianças". Taciano traça o retrato do cristão de seu tempo: ele foge do poder e da riqueza e é, antes de tudo, 'pobre e sem exigências'." – A Vida Cotidiana dos Primeiros Cristãos (95-197), editora Paulus, 1997, de A. G. Hamman, p.41. Os escritores da Antiguidade não mencionaram uma sistemática pregação de casa em casa dos primeiros cristãos porque ela simplesmente nunca existiu. Um dos motivos é porque os cristãos eram, na maior parte, escravos e desvalidos, não tendo a liberdade necessária para pregarem periodicamente de casa em casa. E não somente devido à sua condição social, mas também por causa do rígido sistema de governo romano, que dificilmente permitiria essa atividade. Como já foi dito, sem dúvida o principal meio de evangelização naquele tempo era o que a Torre de Vigia chama hoje de "testemunho informal", dado a amigos, parentes, vizinhos, amos, escravos, empregadores e empregados. Mas é claro que isso não significa que os cristãos antigos não pregavam de maneira alguma na casa de algum estranho. Não é desarrazoado achar que eles também faziam isso, se a circunstância assim o permitisse. No entanto, dificilmente faziam dessa modalidade a principal. Não só pelo que foi mencionado até aqui, mas também devido à hostilidade natural das pessoas ao em encararem uma ideia nova que contradissesse o que elas mais prezavam em termos de religião. Não era preciso que os cristãos se expusessem a este ponto. O Espírito de Deus se encarregaria de apontar os merecedores, se Deus assim o quisesse. Note que na citação de Platão, que foi mencionada acima, os órficos, ao pregarem nas casas, entravam pela "porta das traseiras", o que dá a entender que não iam às casas de forma aberta e sistemática, tal como no modelo adotado pela Torre de Vigia. Tome como exemplo as campanhas que as congregações das Testemunhas de Jeová fazem em cidades pequenas, nos chamados "territórios não designados", isto é, aqueles onde não há Testemunhas de Jeová nem Salão do Reino. Alugam-se transportes para as Testemunhas viajarem até a cidade escolhida e lá elas passam o domingo inteiro pregando, com breve parada para almoço e descanso. Não raro, nessas ocasiões, quando as Testemunhas de Jeová chegam a determinada cidade, as pessoas saem das suas casas se perguntando de onde surgiram tantos pregadores. Uns ficam entusiasmados com as visitas, outros se escondem. Alguns até ralham ao saberem do que se trata, quando descobrem que é a "terrível seita das Testemunhas de Jeová" que chegou à cidade. Este modelo de pregação frequentemente chama a atenção de escritores de livros e jornais, os quais mencionam este método específico de proselitismo (e vez ou outra a Torre de Vigia os citam nas suas publicações). Por que então os cristãos antigos não despertaram igualmente a curiosidade dos escritores que lhe eram contemporâneos? Reflita um pouco e volte a meados do primeiro século de nossa era. Se naquele imenso território virgem e pagão do Império Romano houvesse realmente milhares de pessoas pregando periodicamente de casa em casa, sem serem convidadas, ano após ano, década após década, não acha que haveria registro dessas campanhas nos escritos históricos? Lembre-se que Roma era menos tolerante que os gregos. Se os gregos se incomodaram com os órficos e musoicos, quanto mais os romanos se incomodariam com aqueles que traziam uma mensagem que significaria simplesmente o fim de suas religiões politeístas. Imagine agora que a adicionar a tudo isso, os cristãos eram alvo de perseguição feroz por parte do império romano. Note a cronologia desta perseguição: Nero – (64 d.C.) Ocorreu o grande incêndio que destruiu grande parte da cidade de Roma, na época a capital do Império Romano. O povo suspeitava que o próprio Nero tivesse feito isso. No entanto, para desviar as atenções voltadas contra ele, acusou os cristãos de haverem provocado o incêndio, e por isso foram punidos duramente. Milhares deles foram mortos da maneira mais cruel, sendo que entre eles foi morto o apóstolo Paulo. Dorniciano - (96 d.C.) Esse imperador foi o autor de uma das maiores perseguições aos cristãos. Perseguiu-os e matou a muitos deles sob a acusação de que eram ateus, por se recusarem a participar do culto ao imperador. Essa perseguição foi breve, porém violenta em extremo. Cristãos aos milhares foram mortos em Roma e na Itália. No governo de Domiciano o apóstolo João foi exilado na ilha de Patmos. Trajaria - (98 - 117 d.C.) Foi um dos melhores imperadores, mas achou que devia manter as leis do Império, mantendo o cristianismo como religião ilegal. A Igreja era tida como uma sociedade secreta, o que as leis imperiais proibia. Não molestava os cristãos, porém, quando eram acusados, sofriam sérios castigos. Entre os que morreram durante o seu governo, estavam Simão, irmão de Jesus. Puno Enviado pelo imperador da ásia Menor para castigar os cristãos que se recusassem a abjurar da fé em Crista; escreveu ao imperador Trajano: "Eles afirmaram que o seu crime e o seu erro resumia-se nisto: costumavam reunir-se num dia estabelecido, e antes de raiar o dia, revezam-se cantando um hino a Cristo; como a um deus, e obrigavam-se a não roubar, nem furtar, nem adulterar; nunca faltar à palavra; nunca ser desleal, ainda que solicitados." Adriano - (117 - 138) Perseguiu os cristãos, mas com moderação e brandura. Entretanto, Telésforo, pastor da igreja de Roma, e muitos outros cristãos, sofreram martírio. Apesar das perseguições nesse tempo, o cristianismo alcançou marcante progresso em numero de membros, riqueza, saber e influência na sociedade. Antonino, o Pio - (138 - 161- Este imperador de certo modo favoreceu o cristianismo, mas sentiu que devia manter a lei que tratava da ilegalidade de um culto que não reconhecia o valor dos deuses do Império. Marco Aurélio - (161 - 180 Como fez Adriano, Marco Aurélio considerava a manutenção da religião oficial do Império, uma necessidade política. Mas num ponto foi diferente de Adriano: estimulou a perseguição aos cristãos. Foi cruel e bárbaro; o mais sanguinário depois de Nero. Milhares de cristãos foram decapitados e lançados às feras. Sua ferocidade foi demasiada no sul da Gália. Dizem que durante tortura, os cristãos sofriam sem darem qualquer demonstração de medo; era quase que inacreditável. Sétimo Severo - (193 - 211) Foi muito pesada a perseguição sofrida pela Igreja durante este governo. Os cristãos do Egito e norte da África foram os que mais sofreram. Em Alexandria muitos mártires eram diariamente queimados; crucificados ou degolados; mortos estraçalhados pelas feras. Maximino - (235 - 238) Nesse período, muitos destacados líderes cristãos morreram. Décio - (249-251) Esse imperador decidiu-se resolutamente destruir o cristianismo. Sua perseguição estendeu-se por todo o império, e foi muito violento. Multidões pereceram sob as mais cruéis torturas, em Roma; norte da África; Egito e Ásia Menor. Valeriano - (253 - 260) Revelou-se mais severo do que Décio. Visava destruir o cristianismo completamente. Note a descrição que um bispo cristão chamado Filéias (c. 305 AD) escreveu sobre as atrocidades cometidas contra os cristãos: "Não há palavras suficientes para falar das torturas e dores padecidas pelos mártires da Tebaida. Eram dilacerados pelo corpo todo com cacos de louça, em lugar dos ganchos de ferro; até que morressem. Suas mulheres eram amarradas ao alto por um pé e, por meio de roldanas eram puxadas pela cabeça; para baixo, com o corpo inteiramente nu, oferecendo aos olhares de todos o mais humilhante, cruel, desumano dos espetáculos." "Outros cristãos morriam acorrentados aos troncos de árvores. Os carnífices os amarravam entre si pelas pernas, nos ramos mais duros das árvores. Dobravam os ramos de tal forma, que quando voltavam a sua posição natural produziam então um esquartejamento total neles. Arquitetavam suplícios inúmeros às vítimas." "Todas essas coisas não aconteceram por poucos dias ou por um breve tempo; mas duraram um longo período de anos. Todos os dias eram mortos mais de dez; outros dias mais de vinte; outros dias não menos de trinta; ou até mesmo cerca de sessenta pessoas. Num só dia foram mortos, acertadamente cem homens com seus filhinhos e mulheres; justiçados através de um constante seguir de refinadas torturas." "Nós mesmos, presentes no lugar da execução constatamos que num só dia foram mortas uma massa de fileiras de pessoas. Em parte eram decapitadas; em parte queimadas vivas. Eram tão numerosas as matanças que a lâmina de ferro que usavam para matar; até mesmo se quebrava. Os carnífices se cansavam tanto, que até perdiam as forças; DEVENDO SER SUBSTITUÍDOS." Consegue imaginar cristãos pregando publicamente de casa em casa perante tal perseguição sanguinária? Se pregar de casa em casa É UMA OBRIGAÇÃO DO CRISTÃO, e que faz parte de sua salvação pessoal como as testemunhas de Jeová dizem, certamente os primitivos não fugiriam; e muito menos se esconderiam por longos 250 anos, pois desejavam ser salvos (a história e os próprios dirigentes da religião declaram isso). Assim o evangelho não se propagou em terras gentias da mesma maneira que se propagara em Israel (CASA EM CASA). Ele se difundiu em terras gentias de em 2 etapas: 1.ª etapa Antes da perseguição sob o império romano, o evangelho se propagou em terras gentias, através de reuniões que faziam em CASAS de irmãos batizados; prosélitos; e SINAGOGAS (onde estariam os judeus e prosélitos). 2.ª etapa Depois de se terem iniciado as perseguições, o evangelho foi divulgado através de amigos, parentes, conhecidos, locais de trabalho, etc., ou seja: UMA PREGAÇÃO INFORMAL, porque a liberdade lhes foi cerceada. O método pode ser usado como critério de julgamento? Não é difícil encontrar uma Testemunha de Jeová que ache que os membros de outras igrejas já estão condenados só pelo fato de não demonstrarem interesse em pregar de casa em casa, no sentido distributivo consecutivo. Até ex-Testemunhas de Jeová que deixam a Torre de Vigia são criticadas porque geralmente deixam de fazer isso. Por exemplo, criticando os que vêem na Bíblia que não é preciso pregar de casa em casa, uma Testemunha de Jeová escreveu o seguinte: "Agora para aqueles que não conseguem mais sair de casa em casa, por que perderam o pique, quando se afastaram da congregação das TJs, é tentador procurar uma interpretação dessa ordem que lhes favoreça no seu estado de desobediência a Cristo" – Frederico Queiroz (o nome foi mudado). Então, não pregar de casa em casa de forma distributiva e consecutiva é, para essa Testemunha de Jeová, uma desobediência a Cristo. No entanto, se tal pessoa procurasse atentamente onde Cristo ensinou isso claramente, veria que não existe tal lei. Como já foi mencionado, não há nada que proíba um cristão de pregar nas casas das pessoas, até mesmo à maneira TJ, se assim ele desejar. Mas não existe maneira razoável de estipular um padrão que a Bíblia e a História não ensinam. O pregar cristão não precisa ser da forma insistente praticada pelas Testemunhas de Jeová – as evidências bíblicas e históricas mostram isso. E foram justamente os métodos menos valorizados pelas Testemunhas de Jeová os responsáveis por fazer o Cristianismo crescer da maneira que cresceu. O homem não pode conceber os planos de salvação que Deus tem para cada pessoa. Hoje em dia, onde há liberdade religiosa observa-se um crescimento significativo no número de Testemunhas de Jeová e de outras denominações cristãs. Se em qualquer um desses lugares não houvesse tal liberdade o número de Testemunhas de Jeová seria mínimo, exatamente como acontece na China, Bangladesh, Afeganistão etc. Considerando estes países e outros, com certeza há mais de um bilhão de pessoas que nunca ouviram falar de uma Testemunha de Jeová. Ou seja, normalmente o que determina o crescimento de uma religião são as condições existentes em cada nação. Se qualquer religião fosse o meio único de salvação da parte de Deus, muitos não seriam salvos simplesmente por falta de oportunidade. Portanto, é Deus quem determina quem será salvo. Deve ser por isso que sempre vemos na Bíblia figuras angélicas presentes quando o assunto é mostrar o caminho de salvação para alguém. Por fim, nunca é demais lembrar que incluído no "pacote" que as TJs oferecem de casa em casa, há os velhos e perigosos ensinos legalistas e antibíblicos, sobre os quais não é preciso comentar, pois todo mundo "já está careca de saber" quais são, exceto as Testemunhas de Jeová, porque são proibidas pela Torre de Vigia de ler matérias publicadas por dissidentes ou apologistas que escrevem contra a Torre de Vigia. Sim, o que uma Testemunha leva em sua pasta não é uma mensagem totalmente bíblica e cristã. Depois que uma pessoa é “fisgada” o lado sombrio vem “embrulhado” em uma caixa brilhante e colorida. E graças à Internet, um número cada vez maior de Testemunhas de Jeová está descobrindo isto (em sigilo). O leitor Testemunha mencionado no início, também escreveu o seguinte: “E o mais importante é o tipo de mensagem que ‘cristianiza’ ainda mais estes métodos... Sim, porque ensinamos, e vocês sabem bem, uma mensagem bíblica (esqueça por um momento os erros fatais...). A mortalidade da alma, a inexistência do inferno de fogo, a verdadeira identidade de Jeová, Jesus e o Espírito Santo, a restauração de uma nova terra, os tempos áureos de justiça, vida eterna... Isto sim é uma mensagem cristã!” Não é o objetivo deste artigo entrar no mérito destes assuntos, para opinar se os mesmos são corretos ou não. Mas o fato é que até uma leitura simplista da Bíblia, especialmente no Novo Testamento, indica claramente que tais assuntos, em sua maioria, não receberam NENHUM destaque na mensagem cristã do primeiro século, de uma maneira tal que quem não acreditasse exatamente assim estaria condenado. As Boas Novas centravam-se na salvação por Jesus Cristo, mediante a fé. A simplicidade dessa pregação não é surpresa, visto que o próprio Cristo dissera: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem exercer fé em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive e exerce fé em mim nunca jamais morrerá." - João 11:25-26. A Torre de Vigia acha pretensiosamente que pode alterar o sentido deste texto, dizendo que a fé verdadeira em Jesus só é possível dentro de sua religião. Mas qualquer estudante sério da Bíblia percebe que isso não é verdade. Há provas cabais e abundantes neste sentido. O entendimento correto do texto acima já é em si uma grande Boa Nova a pregar para quem quiser ouvir! Portanto, quem dará a vida é Deus, mediante Jesus Cristo, e não os dirigentes de uma religião que julgam outros cristãos mediante seus critérios particulares de interpretação, tanto no caso da pregação de casa em casa (forçando o sentido distributivo e consecutivo) como em outros assuntos. A vida eterna é um presente dado gratuitamente aos que tem fé. Nada que um cristão faça o tornará merecedor dela. É por isso que tal dádiva é chamada de "benignidade imerecida" (TNM) ou "graça" (Almeida). - Atos 15:11. Por Carlos Fernandes Este artigo teve como base: http://www.mentesbereanas.org/casaemcasa.html http://indicetj.com/carlosmsilva/casaemcasa.htm Leia também: http://corior.blogspot.com/2006/02/captulo-7-de-casa-em-casa.html http://marcelaguilhoador.blogspot.pt/2013/03/pregacao-de-casa-em-casa-um-convite.html 1 Esta situação ilustra de modo notável como deve ter ocorrido anteriormente com os discípulos de Jesus nas suas viagens de pregação, ao aplicarem a sua instrução sobre permanecer nos lares de ‘pessoas merecedoras’.
2 Termos usados pela Torre de Vigia para se referir às Testemunhas de Jeová que vão pregar de casa em casa. Os “pioneiros” dedicam mais horas que uma Testemunha com dedicação mediana, podendo atingir mais de 70 horas de pregação por mês. 3 Na prática, termo usado pelas Testemunhas de Jeová para se referir ao seu Corpo Governante que é sediado em Nova Iorque, o qual é composto de algumas Testemunhas de Jeová muito veteranas. São estes homens os responsáveis pelos ensinos da Torre de Vigia.
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