De um modo geral, esta filosofia é encarada como uma positiva influência no modo como as Testemunhas de diferentes raças interagem umas com as outras. A organização até mesmo tem um homem negro, Samuel Herd, no seu Corpo Governante! Contudo, isto nem sempre foi assim. De facto, a estrada para a harmonia racial tem sido tão sobressaltada para as Testemunhas como tem sido para outras religiões. Se você tivesse lido algumas das antigas publicações da Torre de Vigia, você sem dúvida ficaria chocado e abismado por alguma da retórica ofensiva empregada pelos escritores da literatura da organização naquela época. Certamente, se tal literatura fosse reimpressa ou de algum modo circulasse hoje como representando a atitude corrente da Torre de Vigia com respeito à raça, a organização acabaria por enfrentar algumas sérias complicações legais, para não mencionar um clamor de muitos dos seus membros que não são brancos. Infelizmente, existem inúmeros exemplos de intolerância racial nas primeiras publicações da Torre de Vigia, e poucas raças que não sejam a branca, escapam incólumes. Iremos tentar catalogar algumas das sentenças raciais mais ofensivas neste artigo. Por uma questão de brevidade, iremos apresentar uma "timeline" (linha do tempo) das expressões racistas publicadas pela Sociedade, seguida por uma análise mais detalhada de cada sentença de texto pela ordem de data. 1900 A Sociedade recebeu uma reação dos "irmãos de cor" devido a uma política de brancos apenas para os voluntários... "Material de leitura distribuída a uma congregação de cor teria como destino mais do que a metade dele ser totalmente destruído." (W1900 4/115 p122) Um relato do reverendo Draper tornando-se branco é impresso sob o título "Pode a Restituição Mudar a Pele Etíope?" (W1900 10/1 p296-297) 1902 Tribos africanas e nações descritas como "degradadas", raça branca é "superior", caucasianos têm "maior inteligência e aptidão" ostensivamente como resultado da intervenção divina na história genética. (w1902 7/15 p215-216) 1904 "Deus pode mudar uma pele Etíope no seu devido tempo." 1914 Reacção sobre segregação na apresentação do Fotodrama em Nova Iorque. "Nós fomos compelidos a designar os amigos de cor para a galeria." (w1914 4/1 p105-106) 1916 Charles Taze Russell morre, Joseph Rutherford assume o controle da organização 1919 Com base nos escritos contemporâneos, Cristo supostamente escolheu os Estudantes da Bíblia como a congregação de Deus na Terra. Um artigo da recentemente lançada revista Idade de Ouro (percursora da Despertai!) discute a proibição de álcool, dizendo: "Do ponto de vista criminal, a conveniência do negro do sul ficar sóbrio fala alto pela proibição nacional." (g1919 10/15 p44) 1927 Um artigo de três páginas e meia é publicado intitulado "A História da Cabana do Tio Tom". O artigo ataca o autor Harriet Beecher Stowe como tendo sido manipulado por espíritos e chama o livro de "obra de Satanás". Espanhóis são catalogados como "raça atrasada". (g1927 11/30 p140-143) 1928 Somos informados que crianças em Londres riem-se entusiasticamente num filme que retrata "um mineiro negro saboreando a sua refeição". (g1928 7/25 p684) 1929 É dito que a maldição de Noé a Cã esteve na origem da raça negra. A "raça de cor" é descrita como uma "raça de servos". "Não existe criado no mundo tão bom como um criado de cor." (g1929 7/24 p702) 1933 A carta de Rutherford a Hitler, descrevendo a Sociedade Torre de Vigia como "pró-alemã", culpa o "homem de negócios judeu e Católicos" por espalharem propaganda contra a Sociedade, declarando a sugestão de que as publicações da Torre de Vigia serem financiadas por Judeus como uma "acusação caluniosa". De acordo com Rutherford, "os Estudantes da Bíblia da Alemanha estão lutando pelos mesmos altos objetivos e ideais étnicos que o governo nacional do Reich Alemão proclamou." Rutherford dá a sua "Declaração de Factos" num congresso em Berlim, dizendo: "Têm sido os Judeus comerciantes do império Anglo-Americano que construíram e conduziram o Grande Comércio como meios de explorar e oprimir as pessoas de muitas nações." Ele afirma sobre Nova Iorque: "Os Judeus possuem-na, os Católicos Irlandeses governam-na e os Americanos pagam as contas." (yb1934 p134) 1952 "Realmente, os nossos irmãos de cor têm grande causa para regozijo. A sua raça é mansa e dócil, e é de onde vem uma grande percentagem de aumento teocrático." (w1952 2/1 p95) Muito comprensivamente, alguns dos sentimentos contidos na linha do tempo acima podem horrificá-lo, mas todos são encontrados nas primeiras publicações da Torre de Vigia (ou na correspondência, como no caso da carta de Rutherford a Hitler). Se você é Testemunha, é natural e elogiável você ficar chocado com o que você irá agora ler, visto que as próprias publicações da Torre de Vigia treinaram-no para você ser tolerante para com todos, independentemente da sua etnia. Nenhuma da informação que iremos publicar encontra-se no site oficial da Torre de Vigia — JW.org. E existe uma razão pela qual a Torre de Vigia escolhe ignorar o seu passado obscuro com respeito à intolerância racial. E tem a ver com o significado profético que elas atribuem aos primeiros "Estudantes da Bíblia", como eram conhecidos então. Explicado de modo simples, a Torre de Vigia afirma que Jesus Cristo escolheu os Estudantes da Bíblia, liderados por Russell e Rutherford respetivamente, como representantes da sua organização terrestre entre 1914 e 1919. Como irá ver da linha do tempo acima, esta suposta "eleição" por Cristo veio na altura menos apropriada, no meio de um período quando eles estavam imprimindo alguns dos seus artigos mais racialmente ofensivos. Parece inconcebível que Jesus Cristo fosse recrutar uma organização tão pobre de espírito para representá-lo baseado naquilo que eles estavam escrevendo naquele tempo com respeito a assuntos raciais. É por isso que a organização moderna retém esta informação, e aponta o dedo a outras organizações pelas suas histórias racialmente intolerantes. Racismo sob Russell Charles Taze Russell foi o fundador da Sociedade Torre de Vigia, e o editor-chefe e editor da Torre de Vigia de Sião, como a Torre de Vigia era conhecida naqueles dias.1 A distribuição da revista A Sentinela, assim como outros livros de Russell, era quase inteiramente dependente do trabalho dos "voluntários", mais tarde conhecidos como colportores (os precursores dos "pioneiros" de hoje), cujo trabalho era oferecerem assinaturas aos leitores. Parece que Russell era muito exigente quando se tratava de quem poderia ocupar este cargo privilegiado, como representante da Sociedade. Na primeira edição de março da Torre de Vigia, seus critérios deliberadamente restringiram aqueles que podiam servir como voluntários aos membros de "igrejas protestantes brancos." Compreensivamente, os irmãos negros naquela época não ficaram nada satisfeitos com a óbvia discriminação, e escreveram para a sede da Sociedade a reclamar. Esta foi a resposta impressa: Tradução: (sublinhado a amarelo) "Existem muito provavelmente tanto quanto uns 100 irmãos de cor nas listas da Torre de Vigia, alguns deles muito firmes na verdade e muito zelosos no seu serviço, financeiramente e de outros modos. Nós recebemos cartas de vários destes, que tinham intenção de envolverem-se no trabalho voluntário, expressando surpresa de que na chamada de voluntários no artigo de 1 de Março nós restringimos o inquérito a igrejas protestantes de brancos." "A razão é que segundo o nosso juízo, pessoas de cor têm menos educação que os brancos – muitas delas bastante insuficientes para permitir que lucrassem por tal leitura que temos divulgado. A nossa conclusão por isso, é baseada na suposição que ler material distribuído a uma congregação de cor resultaria em que mais de metade dele fosse desperdiçado e uma pequena percentagem tivesse de facto bons resultados. Nós aconselhamos por isso, onde a literatura da Torre de Vigia é apresentada a pessoas de cor não seja por circulação prosmíscua, mas apenas àqueles que deiam evidência da inclinação à verdade." A revista de Russell reconheceu abertamente que seu anúncio discriminatório para com os voluntários, foi fundada sobre um estereótipo de que os negros tinham "menos educação do que os brancos". Em seguida, ele expressou a opinião ultrajante que "lendo a matéria distribuída a uma congregação de cor, mais do que a metade dela seria totalmente desperdiçada." Parece difícil entender como Russell, que corou com sugestões de que ele era o "servo fiel e prudente" de Deus, poderia abrigar e promulgar uma atitude tão deplorável e equivocada em relação aos homens e mulheres negros. Esta perspectiva bizarra revelou-se em outros escritos de Russell, principalmente quando ele tocou em sua estranha obsessão com "pele do etíope." No artigo acima, intitulado "Pode a Restituição mudar a Pele Etíope?" Russell aborda sobre um incidente de um pregador negro alegando ter desenvolvido pele branca depois de ter orado por ela. O Reverendo Draper, que, aparentemente, contou a outros que "se pudesse ser branco como seu empregador, ele ficaria feliz", começou a rezar trinta anos antes do artigo e experimentou uma transformação ao longo do período que antecedeu a sua publicação. Uma vez a sua pele estar completamente branca, ele voltou à sua antiga igreja, e teve muita dificuldade em convencer os membros de sua identidade. Sabemos agora que essa transformação "milagrosa" foi o resultado de Vitiligo, uma condição médica que resulta em despigmentação de áreas de pele. Não é assim tão raro, e eu conheci pessoas que têm essa condição eu mesmo. Talvez você também. No entanto, Russell era tão obcecado com a ideia de os negros se tornassem brancos que ele aparentemente aceitava qualquer relatório relacionado, como prova de que isso poderia acontecer numa escala maior no futuro. A Sentinela de 15 de fevereiro de 1904 relatou um incidente semelhante envolvendo um menino de nove anos chamado Julius Jackson, sob o título "Pode o etíope mudar a sua pele?", que reproduzo abaixo: Tradução: (sublinhado a amarelo) "Pode o Etíope mudar a sua pele?" Nós respondemos: Não. Mas todos admitimos que aquilo que o Etíope não pode fazer por si mesmo, Deus pode facilmente fazer por ele." "Como podem todos os homens serem trazidos à perfeição e que cor de pele era a original? A resposta é agora providenciada. Deus pode mudar a pele do Etíope a seu tempo devido." "Julius Jackson, de New Frankfort, Mo. um rapaz negro de nove anos, começou a ficar branco em Setembro, 1901, e agora é completamente branco. Ele assegura-nos que não é nenhuma doença de pele, mas que a nova pele branca é tão saudável como a de qualquer outro rapaz branco..." Mais uma vez, é difícil entender por que Russell estava tão preocupado com o conceito de negros tornarem-se brancos. O que havia de tão errado, na sua opinião, sobre a sua cor original? Por que a cor da pele de uma pessoa faz qualquer diferença para um Deus que "não é parcial?" Suponho que apenas Russell o sabia. Uma visão reveladora sobre as atitudes de Russell em relação à raça aconteceu em outro artigo da Sentinela, em 1902. Esse artigo, intitulado "O Negro não é uma Fera", tentou banir a ideia extremamente ofensiva promulgada num livro do período, em que os homens e as mulheres negras eram de alguma forma equiparados com os animais. Apesar de sua oposição tácita a este conceito ultrajante, a resposta da Torre de Vigia foi manchada por mais de uma pitada de intolerância racista. Tradução: (sublinhado a amarelo) "Não podemos esquecer também, que a África é habitada por várias tribos ou nações de negros – alguns mais outros menos degradados que a média." "Embora seja verdade que a raça branca exibe algumas qualidades superiores sobre qualquer outra… […] algumas das qualidades que deram a este ramo da família humana a sua preeminência no mundo não são tais que se possam declarar em todos os aspetos admiráveis." "O segredo da grande inteligência e aptidão do Caucasiano, indiscutivelmente em grande medida é para ser atribuída à mescla de sangue entre os seus variados ramos e isto foi evidentemente forçado em larga medida por circunstâncias debaixo do controlo divino." Representar "várias tribos ou nações de negros" da África como sendo "degradadas" é um insulto racial altamente ofensivo em qualquer padrão razoável. Em comparação, o artigo afirma que a raça branca "exibe algumas qualidades de superioridade sobre qualquer outra", e goza de "proeminência no mundo". Mais abaixo, o mesmo artigo estipula que a Caucasiano tem "maior inteligência e aptidão", como resultado de uma "mescla de sangue" sob "controle divino". Ao expor e tentar contrariar argumentos racistas, o artigo acaba fazendo mais do que alguns por is mesmo. Somos deixados com opiniões que não ficariam mal num folheto de propaganda nazista. E as pessoas negras não são os únicos humilhados por este artigo; Ele também sugere que os indianos e chineses têm que recuperar geneticamente antes que eles "igualitariamente iluminem seus intelectos". A esta altura, vale a pena lembrar-nos de que Charles Taze Russell não necessariamente escrevia esses artigos por si mesmo. A Torre de Vigia de Sião teve pelo menos cinco colaboradores regulares. No entanto, Russell era o editor-chefe e teria verificado cada artigo pessoalmente, antes de o aprovar para impressão. Mesmo que ele não tenha escrito um determinado artigo, ele o teria assinado antes da publicação numa revista em que ele era legalmente responsável. Portanto, os leitores podem considerar qualquer artigo racialmente ofensivo publicado sob sua direção como representando seus pontos de vista. Tenho certeza que ele teria descartado qualquer artigo sem a menor hesitação se ele entrasse em conflito com suas próprias opiniões. Não demorou muito antes da visão sombria de Russell dos "irmãos de cor" gerasse ainda mais ofensa e indignação entre os seus leitores negros. Em janeiro de 1914, durante uma exibição do Fotodrama da Criação no The Temple, West 63rd Street, uma série de membros da audiência negros foram segregados de suas contrapartes brancas e fizeram-nos sentar-se separadamente na varanda do auditório. Isso causou indignação compreensível, e vários escreveram cartas furiosas – furiosos que tinham sofrido tal discriminação nas mãos de seus "irmãos". A Sentinela imprimiu uma resposta sob o título "A Linha de Cor encontrada como necessária", na revista 1 de abril, a seguir reproduzida a seguir: 2 Tradução: (sublinhado a amarelo) "Nós tínhamos o mesmo sentimento respeitante a eles como os outros, mas foi rapidamente discernido que não era um caso de sentimento, mas que as pessoas de cor da Cidade de Nova Iorque são cerca de 5 por cento da população, em nossas audiências são de cerca de vinte e cinco por cento e o número aumenta. O que faríamos? À medida que a assistência de pessoas de cor aumentasse, proporcionalmente o número de brancos iria decresce, como poderemos explicar, a maioria dos brancos preferem não misturar-se com outras raças." "Reconhecendo que isto poderia significar o sucesso ou falhanço do nosso projeto do Drama com respeito aos brancos, fomos compelidos a designar os amigos de cor para a galeria, que contudo, é tão boa para ver e ouvir como qualquer outra parte do The Temple. Alguns ficaram ofendidos com este arranjo." Nós recebemos numerosas cartas de amigos de cor, alguns afirmando que não é correto fazer essa diferença, outros indignamente e amargamente denunciando-nos como inimigos das pessoas de cor. Alguns, confiantes que o Irmão Russell nunca aprovou tal discriminação, disseram que acreditavam que seria dever levantar-se por direitos iguais e sempre apoiar os oprimidos, etc." "Nós novamente sugerimos que se um espaço adequado pudesse ser encontrado para benefício apenas das pessoas de cor, nós teríamos o prazer de fazer tais arranjos ou co-operar com quaisquer outros em fazê-lo." "É uma questão de pôr os interesses de Deus em primeiro lugar, ou os interesses da raça em primeiro lugar. Nós acreditamos que é nosso dever colocar Deus primeiro e a verdade primeiro – a quaisquer custos para nós ou para outros!" "É apenas uma questão de que se dessemos a eles de um modo, privar-nos-ia de dar a verdade a outros." "Respondendo à questão de como a nossa linha de conduta se adequa à Regra de Ouro, nós respondemos que adequasse exatamente. Nós desejaríamos que outros pusessem Deus primeiro." "Se a natureza favorece os irmãos de cor e irmãs no exercício da humildade é somente para sua vantagem, se a estiverem exercendo corretamente." "Um pouco mais e o Reinado Milenar será inaugurado, o que trará a restituição a toda a humanidade – restituição da perfeição da mente e do corpo, característica e cor, para o grande padrão original, que Deus declarou "muito bom" e que foi perdido por um tempo através do pecado, mas que brevemente será restaurado pelo poderoso reino do Messias." Mal posso imaginar a humilhação de aparecer numa apresentação do Fotodrama como um "fã" de Russell naquele tempo, apenas para ser separado e arrebanhado como um animal para uma parte diferente do teatro apenas pela minha cor de pele. Apenas acrescentaria insulto à minha mágoa ser-me dito que isto era necessário para não aborrecer visitantes brancos, porque "explique-se como se quiser, a maioria dos brancos preferem não se misturar com outras raças". Não posso imaginar desejar continuar minha associação com Russell e com os Estudantes da Bíblia após sofrer tal indignidade. Afinal, como poderia esta ser a Igreja de Cristo se "o sucesso… do projeto do Drama com respeito aos brancos" era mais importante para a Torre de Vigia do que respeitar a igualdade racial? Como poderiam estes ser o povo de Deus se estavam tão prontos a ceder à intolerância racista? Seria porque os próprios líderes também eram eles mesmos racistas? Estes teriam sido meus pensamentos sinceros. De qualquer modo, aparentemente nem todos os chamados "irmão de cor" foram repelidos por esta incidente. Evidentemente, a linha de raciocínio audiência - números - acima da igualdade da Sociedade foi "inteiramente satisfatória para todos os plenamente consagrados" com apenas alguns "tenaciosos e irascíveis indivíduos objetando. Parece que, com respeito a este incidente, tudo resume-se a humildade. Afinal de contas, de acordo com o artigo, "a natureza favorece os irmãos de cor e irmãs no exercício da humildade". Embora eu acredite que o escritor intencionou realçar a humildade com observações como um cumprimento pacífico, eles também são um aceno claro para o flagelo da escravidão do negro que mancharam a América antes da Guerra Civil. O escritor tenta elogiar o público negro pelas suas raízes humildes percebidas, independentemente das circunstâncias desprezíveis em que estas foram forjados. O artigo então continua a reverter para a obsessão de Russell com a pele de um etíope, ou mais incisivamente, sua crença de que os cristãos negros poderia esperar sua pele mudar quando o "reino milenar fosse inaugurado." O escritor diz-nos que, quando esse tempo vier, toda a humanidade irá experimentar a "restituição à perfeição da mente e do corpo, característica e cor, para o grande padrão original, que Deus declarou 'muito bom'." Mais uma vez, porque razão um cristão precisa ter a cor de sua pele alterada para o "padrão original" é um mistério, e a preocupação estranha de Russell com este conceito um pouco ofensivo encontrado ainda numa outra parte neste artigo. Racismo sob Rutherford Charles Taze Russell morreu a 31 de outubro de 1916. Depois disso, em circunstâncias um tanto controversas, Rutherford conseguiu assumir o controle da Sociedade Torre de Vigia. O alto cargo de Russell como presidente não foi a única coisa que Rutherford herdou. Parece que ele também continuou a propensão de seu antecessor para a intolerância racial. Como mencionado anteriormente, de acordo com as crenças atuais das Testemunhas de Jeová, Jesus Cristo selecionou os Estudantes da Bíblia como sua congregação terrena entre 1914 e 1919 no que já foi saudado como um período de "limpeza". Considere o seguinte artigo, publicado em 1993, que afirma este ensinamento (negrito é meu): "A classe do escravo, apesar de impopular, perseguição e até mesmo alguma confusão, tinha procurando dar alimento no tempo apropriado aos domésticos. Isto foi o que o Mestre encontrou quando sua inspeção começou. O Senhor Jesus estava satisfeito, e em 1919 ele declarou a fiel classe do escravo aprovado como feliz. Qual foi a recompensa encantadora do escravo por fazer o que seu mestre lhe tinha designado para fazer? Uma Uma promoção! Sim, responsabilidades maiores foram dadas por promover os interesses de seu Mestre." – A Sentinela, 01 de maio de 1993, página 17, em inglês) Assim, Jesus aparentemente empreendeu uma "inspecção" da organização por volta de 1919 baseado no "alimento no tempo apropriado" (ou literatura) sendo distribuída aos domésticos (verdadeiros cristãos) pela Classe do Escravo. Se isto realmente ocorreu, é difícil imaginar Jesus olhando favoravelmente para o seguinte artigo, publicado na recente revista Idade de Ouro lançada em 1919 (a precursora da Despertai!), debaixo da presidência de Rutherford. Tradução: (sublinhado a amarelo) "Do ponto de vista criminal, a conveniência do negro do sul ficar sóbrio fala alto pela proibição nacional." Para fornecer algum pano de fundo, o artigo acima foi escrito (em vez da forma controversa pelos padrões de hoje) como um argumento político contra as leis de proibição recentemente introduzidas. Como você sem dúvida sabe, a proibição tornou-se lei nos Estados Unidos em 1920, tornando a venda de bebidas alcoólicas ilegais. Rutherford era conhecido por apreciar o seu licor, e eu não ficaria surpreso se ele foi o escritor real do artigo acima. Afinal, como um amante de álcool, ele teve um grande interesse em protelar o movimento de proibição e não vejo nenhuma outra razão para a Torre de Vigia tentando mexer com a política da época sobre esta questão. Se Rutherford realmente escreveu este artigo, isso certamente fornece uma perspectiva única sobre seus pontos de vista raciais. A insinuação de que todos os "negros do sul" são bêbados é um insulto racial maldoso e os sentimentos acima causariam indignação se repetidos na literatura de hoje da Sociedade. Parece que, enquanto Russell tinha sido mais um "racista espiritual" que tentou justificar seus pontos de vista usando argumentos orientados biblicamente, Rutherford ofereceu pouca ou nenhuma justificação para seus pontos de vista racistas, para além de vomitar generalizações mordazes e irremediavelmente erradas baseadas em sua próprios preconceitos. Um excelente exemplo de tal intolerância pomposa é generosamente fornecida em outro artigo da Idade Ouro, publicado na edição da revista em 30 de outubro de 1927 (páginas 140-143). Este artigo de três páginas e meia, escrito sob o nome de J.L. Bolling, foi um discurso inflamado de insultos e acusações lançadas contra o autor Harriet Beecher Stowe para desacreditar seu famoso e altamente influente romance "Cabana do Pai Tomás", uma história de ficção que descreve o tratamento brutal de escravos negros. Tenho certeza que muitos lendo este artigo terão lido a "Cabana do Pai Tomás", ou pelo menos estão familiarizados com ele. Muitos historiadores creditam a este livro o ter desempenhado um papel fundamental em trazer a abolição da escravatura nos Estados Unidos. Ele levantou a consciência pública sobre a prática horrível – certamente uma causa extremamente nobre e louvável na mente de qualquer cristão genuíno. No entanto, quem quer que fosse Bolling, ele certamente não acreditou que livrar-se da escravidão era uma boa idéia, como você pode ver por si mesmo. O artigo em si é tão grande que eu criei um download em PDF (link) para aqueles que gostariam de lê-lo na íntegra: The Golden Age v Uncle Toms Cabin 1927. Aviso já com antecedência a quem quiser lê-lo de que é indiscutivelmente um dos artigos mais vulgares e bizarros impressos pela Torre de Vigia que poderá vir a encontrar. A peça, intitulada "A História da Cabana do Pai Tomás" também é reproduzida a seguir em imagens do artigo de Idade de Ouro em questão, salvo indicação em contrário. Para efeitos de brevidade, vou concentrar-me em algumas das citações mais intrigantes. Tradução: "Milhares estavam caíndo presas destes enganos, e a palavra "médium" estava rapidamente tornando-se uma palavra comum. Não foi surpresa, por isso, que um dos temperamentos do Mrs. Stowe veio a estar debaixo da mesma influência; e isto foi exatamente o que aconteceu, como é abundantemente provado pelo que se segue." Bolling inicia seu artigo como ele intenciona desenvolvê-lo, com a insinuação ultrajante que Stowe estava sob a influência de médiuns espíritas ao escrever o livro. Ele divaga sobre isto como se segue... Tradução: "Estas manifestações demoníacas eram notáveis na sua abundância e persistência; mas a história não fornece poucos paralelos com algum caráter algo similar. Eles trazem à memória de uma vez as visões de Swedenborg, Dante, Loyola e muitos outros que trabalharam influenciados pelos espíritos iníquos e inspiraram a escrever volumosos registos com respeito às suas experiências. Através do seu marido, Mrs. Stowe sem dúvida foi fortemente influenciada por estes espíritos iníquos; e isto foi acção de Satanás de modo a afetar a sua união no casamento. O autor de "A Cabana do Tio Tom" recebeu um extenso treinamento de seu marido na arte de colorir a sua narrativa, é-nos dito, "escrevendo no meio de pão de gengibre e feijões cozidos na cozinha e um bebé a seus pés"; pois ela era uma escritora de algum mérito antes de ter tentado esta obra. Nós lemos sabemos que ela foi impulsiva nos seus esforços literários, preocupando-se pouco por factos e nunca tomando tempo para pesquisa criteriosa em relação ao tema escolhido. Ela foi imprudente e tendenciosa ao fazer valer seu argumento a todo o custo, usualmente escrevendo do ponto de vista preconceituoso." 1. Para os fins deste artigo, eu uso os nomes Torre de Vigia de Sião e a Torre de Vigia de forma intercambiável.
2. Artigos anteriores sobre a história racial da sociedade, que eu encontrei úteis para investigar este assunto, podem ser encontrados nos seguintes links: http://www.seanet.com/~raines/discrimination.html http://www.watchman.org/jw/aparthid.htm
2 Comments
Cyntia
26/4/2023 12:55:24
Gostaria de encontrar essas publicações citadas.
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