Milhões de Testemunhas de Jeová irão reunir-se neste verão para seus congressos regionais, um evento muito aguardado no calendário das Testemunhas. Os jornais locais já se preparam para escrever artigos louvando o fluxo de Testemunhas em estádios desportivos e centros de convenções. Os congressos são tipicamente um grande gerador de receitas para as empresas locais e em razão disso, os jornalistas são muitas vezes obrigados a escrever favoravelmente sobre tais eventos. “É um fim de semana para aprender. Nesse sentido, cada dia é mais como um simpósio educacional do que um mero dia na igreja” opina Chelsea Davis no Missoulian. "A cidade estimou que cada uma das três convenções pode gerar tanto como 1,5 milhões de dólares em atividade económica em Cornwall e vizinhança" disse entusiasmado Todd Hambleton para o Standard-Freeholder de Cornwall. “As Testemunhas de Jeová se esforçam para aderir à forma de cristianismo que Jesus ensinou e que os seus apóstolos praticavam” expressou um correspondente anônimo para o South Coast Today. Todo ano, declarações bajuladoras como essas demonstram ignorar o que são esses congressos, que de fato não passam de um encontro de doutrinação, orquestrado pela Sociedade Torre de Vigia, com sede em Nova Iorque e sua liderança, o Corpo Governante. Normalmente, o elemento coercivo desses encontros é mais difícil de detectar por um jornalista local, sem discernimento, do que apenas elaborar um belo texto para seu editor e garantir o seu pagamento no final do mês. Mas este ano, realmente não há desculpas. Primeiro, é difícil imaginar um tema tão orwelliano [de George Orwell e seu livro 1984]: “Continue leal a Jeová”. Precisamente, como alguém poderia decifrar isso se não foi doutrinado para considerar a Torre de Vigia tal e qual fosse Deus na Terra? Como você pode ‘permanecer leal’ a alguém a que não tenha prometido lealdade? Segundo, e mais importante, qualquer jornalista que sentar-se para analisar um ou mais desta série de vídeos altamente manipuladora, que está sendo exibida nos congressos deste ano, deveria ficar em choque pela coerção flagrante e pelo teor aterrorizante. E como exemplo mais preocupante desta série de vídeos, basta citarmos os três vídeos terríveis que servem como um aviso aos pais: “Como evitar sua filha por 15 anos apenas por dormir com alguém com quem não é casada”. Veja por si mesmo: Somos apresentados a Sonja, uma menina criada por pais Testemunhas de Jeová, que chega a uma encruzilhada em sua adolescência, quando uma infância de doutrinação começa a entrar em conflito com sua individualidade crescente. Sentimentos de incerteza sobre suas crenças são suprimidos, enquanto suas preocupações restringem-se a satisfazer seus pais – algo que muitos criados como Testemunhas vão entender. Uma vez que até a masturbação é condenada pelas Testemunhas de Jeová (apesar de nenhuma parte da Bíblia sequer mencionar essa proibição), não é nenhuma surpresa que anos de repressão sexual acabe por terminar em uma noite envolvente com um colega de trabalho num quarto de hotel. Sonja inicialmente sente as dores da consciência, mas finalmente aceita que sexo é algo que acontece quando duas pessoas se amam. Neste ponto, o namorado de Sonja, Eric, é descartado de uma maior participação no drama. Tudo o que sabemos dele é que era gentil e atencioso para Sonja e que seu amor por ele era recíproco. Segundo nos conta a Torre de Vigia, Eric é um impostor que foi diretamente responsável por uma jovem Testemunha cair em pecado. Quaisquer boas intenções que ele possa ter tido para com Sonja são irrelevantes para os cineastas. O que importa é que ele não é uma Testemunha de Jeová e, portanto, não deve ter nenhum lugar na vida de Sonja. Desumanizado, e com seu trabalho feito, Eric sai pela tangente, de modo que a história de Sonja pode continuar. Como os anciãos lidaram com o romance proibido de Sonja, não é apresentado. Em vez disso, somos levados direto para a reunião onde se anuncia que Sonja foi excomungada (desassociada). Imediatamente o foco é os pais de Sonja, e como as ações dela os deixam esmagados. Sonja sai como a grande vilã, quando ela é mostrada agindo obstinadamente, de braços cruzados, quando seu pai lhe informa que ela precisa sair de casa. Uma descrição mais precisa do cenário mostraria uma adolescente errante, traumatizada pelo seu brusco distanciamento da família, implorando que seus pais doutrinados lhe estendesse misericórdia e reatassem os laços familiares. Mas para se encaixar na atitude comum da Torre de Vigia, que é culpar a vítima, Sonja deve ser carrancuda, uma pirralha desafiadora que alguém ficaria contente de se livrar. Execução divina Com Sonja ejetada da casa da família, suas “vítimas” juntam-se no sofá para ler um relato do Antigo Testamento, que irá fazê-los sentir-se melhor por terem abandonado sua filha. A passagem da Bíblia descreve Arão sendo instruído por Deus, sob pena de morte, a não lamentar seus filhos, Nadabe e Abiú, que foram mortos por Deus ao lançar fogo do céu. Os pais de Sonja resolvem usar esse relato como modelo para purgar suas emoções e fingir que Sonja está morta. Esta não é a primeira vez que a história de Nadabe e Abiú foi invocada para ordenar os pais a não lamentar a perda de seus filhos excomungados, como evidencia a seguinte citação, que é da revista A Sentinela de 15 de julho de 2011, edição de estudo (a mesma revista onde os apóstatas são descritos como “doentes mentais”). Leia você mesmo: Não demora muito e os pais de Sonja têm a chance de colocar suas instruções em prática. Sonja é mostrada telefonando para seus pais, cujo telefone toca na bancada da cozinha. Sua mãe verifica quem está chamando. Ao perceber o número de Sonja, ela se recusa a atender. Por tudo o que sabemos, Sonja poderia estar empancada à beira da estrada, ou em vias de ser atacada, roubada, violentada ou assassinada – mas o primordial na mente de seus pais é a necessidade de mostrar lealdade à Torre de Vigia por fingir que a filha não existe mais. Sonja diz ao público que seus pais fizeram a coisa certa em recusar contato com ela, e cita quase literalmente parte de uma experiência na revista A Sentinela de 2013, em que Robert, um homem que fora desassociado, elogia seus pais por não lhe dar nenhuma “pequena dose” de contato que ele precisou, que poderia ter adiado sua decisão de voltar. Contato familiar, aparentemente, é algum tipo de droga ilícita e privar filhos desassociados dele é coisa humana e amorosa. A Torre de Vigia praticamente ergue suas mãos e diz: “Esperamos que os pais chantageiem emocionalmente os seus filhos desassociados. Se eles acabarem retornando apenas para pôr fim ao ostracismo e não porque eles realmente acreditam na religião, pelo menos os fins justificam os meios”. No capítulo final da triologia de ostracismo, após 15 anos sendo evitada (a punição aparentemente inteiramente merecida por dormir com alguém), Sonja é retratada se reintegrando. Finalmente reunida à sua família, Sonja, após a reunião, é envolvida pelo bombardeio do amor condicional dos demais membros da congregação. Não é mostrado os humilhantes meses de frequência às reuniões, os quais são necessários, enquanto literalmente uma congregação inteira lhe mostra indiferença. Segundo os livros da Torre de Vigia, apenas assim alguém desassociado pode voltar a ser Testemunha e mesmo assim nem sempre é tão simples. Em meu vídeo de contestação [aqui], dei um trágico exemplo de uma Testemunha desassociada, de nome Kaatja, que teve repetidamente negado o seu pedido de reintegração em razão de sua depressão crônica. Seu irmão Bjorn está convencido de que esse tratamento por parte dos anciãos contribuiu diretamente para o suicídio dela (minha entrevista com ele será publicada em um vídeo para o canal “John Cedars” do You Tube). Infelizmente, Kaatja é apenas um dos muitos que pagaram o mais alto preço pela política de extremo ostracismo da Torre de Vigia, que a sua própria literatura uma vez descreveu como “totalmente estranho aos ensinamentos bíblicos”. O silêncio da mídia Ainda mais trágica é a dura realidade de que não há fim à vista para este tratamento abominável, pelo menos enquanto a mídia em geral resolutamente continuar a poupar a Torre de Vigia ao escrutínio e crítica que merece. É verdade, Rawstory não perdeu tempo em descrever um dos vídeos como “preocupante”, mas até agora ele é uma voz solitária. Em vez da avalanche inevitável de jornais anunciando o congresso “Continue leal a Jeová” como sucesso comercial, deveríamos estar vendo o rosto de Sonja em vários jornais, revistas e blogs, e seu tratamento como sendo resultado de um culto cruel e justamente condenável. Devia ficar perfeitamente claro que, em pleno século 21, tal manipulação flagrante e coerção por líderes religiosos que visa romper famílias, é intolerável, e certamente tal religião não deveria ser beneficiada com isenção fiscal e nem mesmo status de caridade. Talvez a única maneira de contribuirmos para que a opinião pública se foque na Torre de Vigia, é fazendo o que podemos para dar a este material terrível a exposição que merece. Por essa razão, peço a todos vocês para compartilhar este vídeo e artigo nas redes sociais (se lhe for possível), bem como os vídeos e artigos que se seguirão nesta série #worstconventionever. Pode ser que nossos esforços de contatar a mídia resultem apenas em pouco mais de um telefonema sem resposta, mas pelo menos, tentando, honramos a memória de Kaatja, que pagou o mais alto preço pela barbaridade da Torre de Vigia. Eu posso pensar em bem poucas melhores razões para compartilhar uma hashtag. Tradução feita por Lourisvaldo Santana com base no artigo: http://jwsurvey.org/news/the-worst-convention-ever-part-1-shunning
1 Comment
9/7/2016 01:37:29
Excelente trabalho, muito apreciativo e rico em informações desconhecidas de muitos. Realmente isso é uma atitude que não faz muito sentido para mim,mas, penso que, Jeová Deus, depois de enviar seu Filho Jesus para derramar seus precioso sangue, em beneficio de muitos, não como louvavel esse comportamento nada misericordioso, para com uma gama muito grande de seres pecadores e pó, como Ele mesmo revela em sua palavra, à Bíblia. Acredito que, após 21 séculos de Histórias de vida de Seu Filho, o conceito deixado por Ele, Jesus, é bem diferente dos que aplicados atualmente por muitos. Gostaria de ver o fim de tudo isso, algum dia. Até ...
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