Na revista A Sentinela Nº 6 de 2017 para o público, foi apresentado um artigo sobre a aparência de Jesus Cristo. Com o tema “Como era a aparência de Jesus?”, o escritor diz a certa altura: “Nas obras de alguns artistas, Jesus aparece como um homem fraco, com cabelo longo, barba e, às vezes, com um rosto bem triste. Outros artistas faziam Jesus parecer um anjo cercado por uma luz. E em outras obras, Jesus aparece isolado e afastado das pessoas. Mas será que Jesus era assim mesmo? Como podemos saber a verdade? Uma sugestão é analisar textos da Bíblia que dão uma ideia da aparência de Jesus. Esses textos também podem nos ajudar a ter o ponto de vista certo sobre ele.” Sem dúvida que as representações existentes de Jesus, tanto as mais antigas quanto as mais recentes, baseiam-se mais em especulações do que em factos. Como o próprio escritor do artigo admite: “…muitas coisas influenciavam a forma como eles faziam suas obras — a cultura da época, crenças religiosas e o desejo das pessoas que encomendavam as obras.” Sendo isto verdade com respeito ao passado, não deixa de ser verdade nas representações existente hoje em dia, tanto na chamada “cristandade” como nas ilustrações criadas pela Torre de Vigia. Vejamos algumas destas representações feitas pela organização das Testemunhas de Jeová. É notório como os artistas da Torre de Vigia apresentam uma imagem de Jesus Cristo bastante ocidental, onde o aspeto do cabelo, da barba e da própria fisionomia, seguem de perto o tipo de corte e aparência usados habitualmente no ocidente. Não é difícil imaginar como o aspeto físico de Jesus terá sido bem diferente, tendo em conta aquilo que se sabe do judeu comum de há 2.000 anos. É também de notar que o artigo destaca o seguinte a certa altura: Vamos agora ver a versão do mesmo artigo em inglês, onde a linguagem usada é ainda mais clara e direta sobre o cabelo e barba de Jesus (segundo a Torre de Vigia): “Jesus usava barba, assim como era costume entre os judeus em contraste com os romanos. Tais barbas eram símbolo de dignidade e respeitabilidade. Elas não eram longas e descuidadas. Jesus sem dúvida aparava ou cortava sua barba e tinha seu cabelo bem cortado. Apenas aqueles separados como nazireus, tal como Sansão, não cortavam o cabelo. – Números 6:5; Juízes 13:5” (tradução do texto acima em inglês. Negrito acrescentado) Como é costume na linguagem da Torre de Vigia, são usadas expressões que denotam uma certeza absoluta ou quase absoluta sobre o ponto que a Torre de Vigia quer fazer valer. Expressões como “sem dúvida”, “certamente”, “provavelmente”, etc. tendem a colocar um ponto final no argumento, como se a observação feita e sua conclusão fossem dados com absoluta certeza e sem margem para questionamentos. A Torre de Vigia quer-nos fazer crer que Jesus “sem dúvida aparava ou cortava sua barba e tinha seu cabelo bem cortado”. Que bases ela apresenta para tal afirmação dogmática? Lendo o artigo não é apresentada nenhuma evidência. O escritor do artigo quer-nos fazer crer que o judeu de há 2.000 anos atrás tinha uma preocupação estética similar ao homem moderno. Isto torna-se ridículo apenas ao se considerar como os hábitos sobre o uso da barba e do cabelo mudaram ao longo dos séculos. Embora seja verdade que os judeus eram orientados pela lei mosaica a não deixar que a sua aparência ficasse parecida com povos pagãos ou pudessem ser confundidos com a aparência do sexo oposto, nada indica que o cabelo e a barba não pudessem ser usados num comprimento que para os dias de hoje poderiam ser considerados ‘incorretos’ para os cristãos atuais. E é interessante que com respeito à barba, a própria Torre de Vigia, no verbete BARBA da enciclopédia bíblica “Estudo Perspicaz das Escrituras” diz o seguinte: Notou o que a enciclopédia das Testemunhas de Jeová explica sobre o uso da barba pelos israelitas e mais tarde, pelos judeus, segundo a lei mosaica? “A lei de Deus dada a Israel proibia o corte das “madeixas laterais”, os cabelos entre a orelha e o olho, e a extremidade da barba. (Le 19:27; 21:5) Isto se dava, sem dúvida, porque entre alguns pagãos isso era uma prática religiosa.” "Como todos os demais judeus, Jesus estava dedicado a Jeová Deus desde o nascimento, por motivo do pacto da Lei, e estava sob a obrigação de guardar toda a Lei, inclusive a proibição de rapar a extremidade da barba." Esta explicação está correta! Os judeus tinham que respeitar a lei mosaica quanto ao tipo de corte que poderiam fazer nos seus pelos faciais e conforme é explicado, eles não poderiam cortar as “madeixas laterais” e a “extremidade da barba”. Ora, se Jesus sendo judeu não poderia cortar as “madeixas laterais” e a “extremidade da barba”, como pode a afirmação recente da Torre de Vigia ser verdadeira quando diz: “…Jesus sem dúvida aparava ou cortava sua barba e tinha seu cabelo bem cortado.” Mais uma vez a Torre de Vigia demonstra incoerência na forma como apresenta os assuntos e deixa seus leitores inseguros quanto ao que é realmente verdadeiro. Com respeito ao uso da barba não temos dúvidas, pois a Lei Mosaica é clara e estabelecia regras precisas quanto à aparência de um israelita. Então porque a Torre de Vigia faz uma afirmação taxativa com respeito a Jesus cortar a barba e o cabelo, quando se sabe tão bem que tal afirmação é no mínimo enganosa? Só o escritor do artigo poderá responder. Mas já estamos habituados a este tipo de artigos duvidosos que apresentam verdades inquestionáveis, mas que se revelam verdadeiras falácias ideológicas. António Madaleno
2 Comments
Hermes Alvarenga
16/1/2022 00:12:23
Jesus ainda podía deixar as madeixas laterais e apara-las. É irrelevante a aparência física de Jesus. A Bíblia nem fala. O importante são as suas qualidades.
Reply
Sim. As qualidades importam mais que a aparência. Mas eu acredito que tudo que Jesus fez aqui na terra, tinha um propósito. E a bíblia diz para ser imitadores de Cristo. Então, porque não analizar cada ato de Cristo para que possamos fazer igual também? Me responde.
Reply
Your comment will be posted after it is approved.
Leave a Reply. |
Autores,Categorias,
All
|