Terá sido a Igreja Católica tão cúmplice com o Nazismo como as Testemunhas de Jeová afirmam?19/9/2017 Há alguns anos atrás, a Torre de Vigia apresentava com alguma frequência artigos sobre o nazismo onde a Igreja Católica era retratada como tendo ‘vendido a alma ao Diabo’ ao fazer acordos com Hitler e por tê-lo apoiado incondicionalmente, o que terá contribuído para a sua ascenção ao poder e o subsequente ‘Holocausto’.
Mas terá sido exatamente assim que as coisas se passaram? Terão sido as Testemunhas de Jeová a única religião cujos membros demonstraram não apoiar o nazismo? Ou terão havido muitos católicos, até mesmo padres e outros religiosos, que recusaram apoiar o regime nazi e com isso pagaram com suas vidas, até mesmo nos campos de concentração? O seguinte artigo científico visa analisar as relações da Igreja Católica com o partido Nacional-Socialista Alemão de modo isento, revisitando os factos históricos e demonstra como a visão que as Testemunhas de Jeová têm da história é altamente parcial e até mesmo injusta para com milhares de católicos que sucumbiram às mãos de Hitler. Mostra também como o contexto político e religioso da época contribuiu para que a Igreja Católica como um todo não fosse mais enérgica na exposição de uma postura frontalmente oposta a Hitler e ao Terceiro Reich. Textos a negrito servirão para destacar pontos que considero importantes na leitura. ------------------- O Holocausto e a Consciência Cristã Uma reflexão a partir do documento do Vaticano(1) Luís Corrêa Lima, S.J.2 RESUMO: O artigo analisa o documento do Vaticano sobre o holocausto, situando-o na complexa história das relações cristão-judaicas. Quer mostrar como se deu a passagem do Cristo judeu à cristandade antijudaica, terreno fértil para formas de anti-semitismo que culminaram no nazismo e na Shoah. Em seguida analisa os pontos controvertidos do documento: a ação da Igreja nos anos 30 e na Segunda Guerra; a condenação do anti-semitismo, do nazismo e os pontos de ambiguidade e colaboração; e a atuação de Pio XII. Compara o documento da Santa Sé com os pronunciamentos dos bispos alemães (1995) e dos bispos franceses (1997) sobre o tema, investigando a eclesiologia subjacente. Por fim, contempla as perspectivas de diálogo entre judeus e cristãos. ABSTRACT: The article analizes the Vatican document on the Holocaust, putting it in the complex Christian-Jewish relationship throughout the History. It tries to show what Christianity went out from the jewish Christ to the unjewish Christianhood, a good soil to other forms of antissemitism that led to Nazism and the Shoah. Then, it focuses the controversial points of the document: the Church’s action in the 30s and during the Second World War; the condemnation of antissemitism, of Nazism and the levels of ambiguity and collaboration; as well as Pius XIIth’s action. It collates the Holy See"s document with statements of the German bishops (1995) and the French bishops (1997) about that theme, underlying the eclesiology that is behind them. Eventually it points out the perspectives of Christian-Jewish dialogue. Introdução Não é fácil refletir sobre o holocausto - é penetrar num mundo de horror, de ódio, de perseguição, de cegueira ideológica, de estupidez, de equívocos, de conivências, de omissões e de impotência. Mas a tarefa, ainda que dolorosa, é necessária para que o passado não seja recalcado, a consciência moral não seja obscurecida e a humanidade não fique diminuída, ainda que a sensibilidade seja um tanto machucada. A história humana revela o que o ser humano é e do que ele é capaz. Pensar o holocausto é voltar-se para a dimensão mais obscura e terrível da existência humana e ver que o ser humano foi capaz de produzir uma tragédia tão grande que nos faltam palavras suficientes para expressar o seu horror. O mundo não é mais o mesmo antes e depois do holocausto. A presença do mal é de tal maneira sufocante que muitos se recusam a aceitar um sentido para a vida. Como dizia Theodore Adorno: “Depois de Auschwitz, a sensibilidade não pode deixar de ver em toda afirmação da positividade da existência uma charlatania, uma injustiça para com as vítimas, e tem de revoltar-se contra a extração de um sentido, por abstrato que seja, daquele trágico destino.”3 Um sobrevivente do holocausto declarou que a Europa se tornou um lago de sangue judeu congelado. No continente de Beethoven, de Goethe e da Revolução Francesa, as ideias do humanismo, cristianismo e racionalismo e os frutos da Revolução Francesa foram terrivelmente despedaçados. Muitos cristãos transformaram suas cruzes em suásticas.4 A consciência cristã se depara com o problema do sentido da existência, de como falar de Deus depois de Auschwitz, e com outro não menos grave: como é possível que esta tragédia tenha ocorrido na Europa, em países de longa tradição cristã? Até que ponto esta tradição favoreceu o surgimento do anti-semitismo, do nazismo e de regimes que a ele se aliaram? Que papel desempenharam os cristãos e suas igrejas naqueles acontecimentos? Que formas de colaboração, omissão e conivência existiram? Ou mesmo que formas de resistência e denúncia existiram também? Estas perguntas e outras relacionadas têm questionado a consciência cristã. Os cinquenta anos do final da Segunda Guerra mundial e o final do segundo milênio da era cristã têm motivado muitas reflexões e pronunciamentos coletivos. O Papa João Paulo II, em 1994, escreveu uma carta sobre a chegada do terceiro milênio, onde diz: "Quando o segundo milênio já se encaminha para o seu termo, é justo que a Igreja assuma com maior consciência o peso do pecado dos seus filhos, recordando todas aquelas circunstâncias em que, no arco da história, eles se afastaram do espírito de Cristo e do seu Evangelho, oferecendo ao mundo, em vez do testemunho de uma vida inspirada nos valores da fé, o espetáculo de modos de pensar e agir que eram verdadeiras formas de antitestemunho e de escândalo".5 No mundo católico surgiram três importantes pronunciamentos: uma carta pastoral dos bispos alemães, em 1995, na comemoração dos 50 anos do final da Segunda Guerra6; uma declaração de arrependimento dos bispos franceses das regiões onde houve campos de concentração de judeus7, em setembro de 1997; e um documento do Vaticano, da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, de 16 de março de 1998, intitulado: Nós Recordamos - uma reflexão sobre a Shoah8. "Shoah" é uma palavra hebraica que significa extermínio e devastação, e é usada para se referir ao holocausto. Já o termo “holocausto” vem do grego e pertence ao mundo religioso: significa o sacrifício em que uma oferenda é inteiramente consumida pelo fogo. A ideia de holocausto aplicada à matança de judeus nos campos de concentração nazistas quer significar a abrangência da matança, que foi um verdadeiro genocídio. Estes campos de concentração exterminaram 6 milhões de judeus e 5 milhões de não-judeus, que incluíam poloneses, ciganos, comunistas, homossexuais e opositores do nazismo. O documento do Vaticano teve ampla repercussão na imprensa em todo o mundo. Infelizmente, os grandes jornais brasileiros não o publicaram na íntegra. A nossa reflexão sobre o holocausto e a consciência cristã quer abordar os grandes temas tratados neste documento e fazer a nossa apreciação. A História das Relações Cristão-Judaicas Para entendermos o anti-semitismo e o holocausto é preciso compreender a história das relações cristão-judaicas desde o princípio. Só assim podemos ter uma explicação mais ampla e satisfatória dos acontecimentos. Mesmo dispondo de um espaço limitado, tentaremos mostrar alguns dados importantes dessa relação, ainda que correndo o risco de simplificação. O cristianismo é uma religião judaica. Do judaísmo recebeu o monoteísmo, a noção de Deus pessoal, o conceito de Criação, o homem como imagem e semelhança divina, o conceito de Aliança, o Decálogo, a maior parte das Sagradas Escrituras, a idéia messiânica, a fé na ressurreição dos mortos e muitos outros conteúdos. Podemos dizer que o cristianismo é uma releitura do judaísmo. Jesus de Nazaré era judeu e filho de mãe judia. Circuncidado ao 8º dia, frequentava a sinagoga e o Templo de Jerusalém. Conhecia a Torá (Lei de Moisés) e a observava piedosamente. Era um fruto genuíno do judaísmo do Séc.I. Os seus discípulos também eram judeus. Depois da sua morte, eles se reuniam no Templo de Jerusalém. Eram chamados "os que pertenciam ao caminho" (At 9,2). Eram uma seita do judaísmo. Ainda não tinham o nome de cristãos. Apesar de Jesus ter morrido por incitação dos chefes judeus e seus seguidores, isso não o colocava fora do judaísmo. Muitos profetas tinham morrido de forma semelhante. Os membros da nova seita passam a ser chamados cristãos quando começam a incorporar os gentios de origem grega, em Antioquia (At. 11,19-25). Nesta época surge uma polêmica: os gentios convertidos deveriam ou não ser circuncidados. O apóstolo Paulo toma partido da não-circuncisão. Um forte conflito se instaura. A recém-formada Igreja acaba decidindo em favor da não-circuncisão dos gentios. Isto marca a primeira ruptura com o judaísmo. Além disso, a morte violenta do Diácono Estevão e do Apóstolo Tiago favorece a hostilidade entre os dois grupos. A expansão do cristianismo entre os gentios vai lhe dando uma configuração distinta do judaísmo. Entretanto, o judaísmo, segundo Paulo, é a boa oliveira na qual foram enxertados os ramos da oliveira selvagem, que são os gentios (Rm 11, 17-24). A oposição dos judeus é obra da providência divina para que o Evangelho seja anunciado aos gentios. Os judeus continuam sendo o povo dos patriarcas, da aliança, da adoção filial, do culto e das promessas divinas, pois dons e a vocação de Deus são irrevogáveis (Rm 9, 4-5; 11, 28-29). Nos primeiros séculos da Igreja, há uma Ecclesia ex-circumcisione e uma Ecclesia ex-gentilibus, isto é, uma Igreja de judeus (circuncidados) e uma Igreja de gentios (não-circuncidados). Da Igreja da Circuncisão dá testemunho a Carta de Tiago, onde a assembléia cristã é chamada sinagoga (Tg 2,2). Os dois grupos formavam uma unidade eclesial, que logo passou a se chamar Igreja Católica, isto é, universal. Nos anos 70 d.C., os romanos destróem o Templo de Jerusalém, arrasam a cidade e massacram os judeus. Os judeus restantes, cuja maioria pertencia ao grupo dos fariseus, tentam reorganizar o judaísmo, sem templo e sem sacerdotes. Por volta do ano 85 d.C., reúnem-se em Jâmnia, liderados pelo Rabino Gamaliel II e tomam uma série de medidas. Uma das orações judaicas, a Oração das 18 Bênçãos, passa a ter uma maldição contra os cristãos: "Que não haja esperança para os apóstatas e que o reino do orgulho seja prontamente erradicado em nossos dias, os nazarenos (cristãos) pereçam subitamente, que sejam cancelados do livro dos vivos e não sejam contados no número dos justos. Bendito sejas tu, ó Senhor, que abaixas os orgulhosos."9 No final do primeiro século são redigidos o Evangelho de Mateus (aprox. 85 d.C.) e o Evangelho de João (aprox. 90 d.C.). Os evangelhos não são uma rigorosa biografia da vida de Jesus. Eles tem dados biográficos, mas são principalmente uma catequese das primeiras comunidades cristãs. Os seus conteúdos refletem as perguntas, as preocupações e o contexto das comunidades. No Evangelho de Mateus, o termo fariseu é usado sempre como inimigo de Jesus. Em outros evangelhos, isso não acontece. Isto reflete a situação das relações entre cristãos e judeus naquele momento10. Os fariseus representavam os judeus e vice-versa. A destruição de Jerusalém e do Templo é vista como um castigo pela crucifixão de Jesus (Mt. 21,33-22,14; especialmente 22,7). O relato da paixão introduz um dado que não consta nos outros Evangelhos: quando a multidão que queria crucificar Jesus se depara com a hesitação de Pilatos, convencido da inocência do acusado, Pilatos lava as mãos dizendo: “Sou inocente do sangue deste justo. A responsabilidade é vossa”. E o relato prossegue: “A isso todo o povo respondeu: ‘O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27,24-25). Este texto se tornou base para se imputar ao povo judeu o crime de deicídio e uma culpa coletiva e hereditária pela morte de Jesus. No Evangelho de João, o termo judeu frequentemente é usado como inimigo de Jesus. Os seus adversários ferrenhos aparecem nomeados como os judeus11. Na perícope 8, 31-59 se lê: “Jesus disse pois aos judeus: ...O vosso pai é o diabo” (v. 44). Historicamente não foi bem assim. Judeus eram todos, incluindo Jesus e seus discípulos. Novamente o uso do termo reflete a situação da comunidade cristã naquele momento e suas relações com judaísmo. No final do século I, já está bem configurada a situação de ruptura e hostilidade entre a Igreja e a Sinagoga. As Escrituras cristãs, o Novo Testamento, trazem uma forte ambiguidade quanto ao significado do judaísmo. Nos séculos seguintes, a teologia cristã toma corpo com o trabalho dos chamados Padres da Igreja. A imagem do judeu nos Padres da Igreja é bastante negativa. Frequentemente são vistos como anti-cristãos e amaldiçoados por Deus. Esta imagem marcou a teologia e teve consequências muito ruins. Tertuliano escreveu um tratado intitulado Adversos Judaeos (Contra os Judeus). São João Crisóstomo fala do judeu perverso e errante. Santo Agostinho compara a situação de judeus e cristãos à história de Jacó e Esaú. Esaú era o filho primogênito, mas perdeu os seus direitos em favor de seu irmão Jacó, e por isso, deve servi-lo. Os judeus são o povo eleito de Deus, mas perderam os seus privilégios de povo eleito em favor dos cristãos, e agora, devem servi-los como Esaú a Jacó. Esta servidão, inicialmente entendida em sentido espiritual, logo se estenderia ao sentido material. Os judeus possuíam também a marca de Caim: assim como Caim recebeu de Deus uma marca para que ninguém o matasse em punição pelo assassinato de seu irmão Abel, também os judeus receberam da providência divina o destino de existir para sempre, para mostrar que o Antigo Testamento e as promessas messiânicas não eram invenção dos cristãos12. Os cristãos não podiam matá-los nem lhes fazer mal, desde que os judeus não lhes incomodassem. No século IV o cristianismo se torna religião oficial do Império Romano. Tem início uma nova era que se chama a cristandade. Ela vai marcar profundamente o ocidente, sobretudo ao longo da Idade Média e da Idade Moderna até a ascensão da sociedade liberal. O princípio que norteia a cristandade é a unidade da sociedade fundada na religião cristã: unus rex, una fides, una lex (um rei, uma fé, uma lei). A fé cristã passa a ser a linha do tecido social. Os outros grupos religiosos são subjugados, podendo ser tolerados, reprimidos e até mesmo violentamente perseguidos e eliminados. Os códigos civis de Teodósio (379-395) e Justiniano (527-565) vão dando forma jurídica à cristandade e marcam as legislações da Idade Média. Aí é que começam a surgir as discriminações legais contra os judeus: são proibidos de se tornarem funcionários públicos e ocuparem posições de chefia em que haja cristãos como subordinados. Logo são proibidos também de exercerem certas profissões liberais, tomarem parte em corporações, casarem-se com cristãos e terem bens imóveis. A inferioridade civil dos judeus fica configurada, mas também a proibição de se usar violência contra eles. No Século VI, surge na liturgia latina da Sexta-Feira Santa uma prece de conteúdo anti-judaico: Orémus et pro pérfidis judaeis (rezemos também pelos pérfidos judeus). Originalmente, pérfido significa não-crente. Entretanto, na cristandade, pérfido passou a significar malvado e perverso. Esta prece foi repetida todos os anos, por séculos e séculos, em todo o ocidente. Isso ajudou muito à fixação de uma imagem muito negativa do judeu. Tempos depois, quando se representava a paixão de Cristo nos Autos da Paixão, desencadeava-se uma forte animosidade anti-judaica, que resultava na depredação dos bairros judeus. Não eram só religiosas as razões do anti-semitismo na cristandade. Havia também razões de ordem econômica e social. Os judeus eram, em geral, pessoas alfabetizadas, pois tinham que ler a Torá. Contrastavam com a massa da população analfabeta. Eram dados ao comércio e às finanças por força das circunstâncias. Eram o único grupo social que podia fazer empréstimos a juros. Muitas vezes os príncipes os solicitavam para serem conselheiros de finanças e para cobrarem impostos. Isto fazia com que sua prosperidade contrastasse com a pobreza das massas. Frequentemente as pessoas estavam em dívida com os judeus e não tinham como pagar. Assim crescia a animosidade anti-judaica. As cruzadas, que eram um movimento de afirmação da cristandade ocidental contra os infiéis, realizaram também massacres de judeus. A peste negra, que dizimou um terço da população da Europa, foi atribuída ao castigo divino por causa das bruxas e dos judeus. Grupos de penitentes públicos que se autoflagelavam, os flagelanti, praticavam massacres de judeus. Era o homem da rua, o homem comum, que lhes nutria rancor, que os maltratava, que zombava deles e se alegrava por vê-los morrer na fogueira13. Em 1199, o papa Inocêncio III proibiu os cristãos de matar os judeus e também de molestá-los em suas festas religiosas, com ofensas e pedradas. No século XIII, Santo Tomás de Aquino dizia na Suma Teológica que o culto dos infiéis deve ser tolerado, desde não ameace o povo cristão. E dentre os infiéis, de modo especial deve ser tolerado o culto dos judeus, pois ele é uma prefiguração do culto cristão. Os judeus não devem ser convertidos à força e nem os seus filhos devem ser batizados sem o consentimento dos pais. A Igreja, entretanto, poderia dispor dos seus bens como lhe aprouvesse14. No tempo dos descobrimentos, na expansão ibérica, a hostilidade contra os judeus recrudesce. Na Espanha eles são expulsos e em Portugal são forçados à conversão. O sentimento nacionalista cria a doutrina da pureza de sangue. Em outras regiões surgem os guetos. Eram área urbanas destinadas exclusivamente aos judeus. Havia um muro que o cercava e uma grande porta de entrada que se fechava no por do sol e se abria somente no amanhecer. Quando a porta se fechava, ninguém podia entrar nem sair. Os judeus só podiam circular na cidade durante o dia. À noite, não podiam sair do gueto. O primeiro gueto surgiu em Roma, com uma bula do papa Paulo IV (1555). Depois, se espalharam por muitas cidades. Apesar de serem uma coisa chocante para a nossa mentalidade, os guetos protegiam os judeus dos massacres e respondiam ao seu desejo de serem um povo que vive separado dos outros povos, conforme o mandamento da Torá (Lv 20,25-26). A relação entre cristãos e judeus só começou a mudar com o fim da cristandade, através da Revolução Francesa e do advento da sociedade liberal, que trouxe separação entre Igreja e Estado. Só a partir daí é que acabaram os guetos e as leis da inferioridade civil judaica, que vinham desde Teodósio e Justiniano. O anti-judaísmo, entretanto, não acabou: tomou uma forma secular, pretensamente racional, e racista. Séculos e séculos de anti-judaísmo cristão, de execração dos judeus, prepararam o caminho para as formas modernas de anti-semitismo15. O termo "anti-semitismo" está ligado ao conceito de raça e foi elaborado nos tempos modernos. Significa oposição ao semita, grupo populacional constituído atualmente por árabes e judeus. O antijudaímos cristão não é anti-arabismo e nem está ligado ao conceito de raça, mas à religião. Por isso o termo "anti-semitismo" é impróprio neste caso. Ao surgir o mito da raça ariana e sua pretensa supremacia, o judeu, milenariamente execrado, tornou-se o símbolo da anti-raça ariana: de anti-cristão passou a ser o anti-ariano, e a sua execração era um modo de exaltar e afirmar a raça ariana. A Igreja Católica demorou a assimilar o fim da cristandade e perceber os valores da sociedade liberal, como a liberdade de consciência e a liberdade religiosa. Somente no tempo de Pio XI, em 1928, é que, pela primeira vez na história, a Igreja condenou o anti-semitismo, num decreto da Congregação Santo Ofício, atual Congregação para a Doutrina da Fé. Já era tarde demais para frear a inércia milenar do anti-semitismo e os seus desdobramentos trágicos do tempo do nazismo. Depois do Holocausto e da 2ª Guerra Mundial, cristãos e judeus assumiram com muita seriedade a tarefa de reaproximação e de desmantelamento do anti-semitismo cristão. Criaram as Fraternidades Cristão-Judaicas. Realizaram congressos internacionais. A catequese e a pregação cristãs começaram a ser revistas no tange ao judaísmo. Pessoas como Jules Isaac, o cardeal Agostinho Bea e o Papa João XXIII tiveram um papel muito importante. João XXIII tirou do Missal Romano a expressão pérfidos judeus. Quando os bispos católicos de todo o mundo (quase três mil) se reuniram para o Concílio Vaticano II (1962-65), um dos temas tratados foi a relação com o judaísmo, no decreto Nostra Aetate16. Dentre os pontos mais importantes do decreto está a refutação da culpa coletiva dos judeus pela morte de Jesus. Não se pode culpar todos os judeus que viviam naquele tempo pela morte de Jesus, nem mesmo os judeus de todos os tempos. Não se deve mais apresentá-los na pregação cristã como um povo amaldiçoado por Deus. Reconhecem os bispos que cristãos e judeus tem um grande patrimônio espiritual comum e recomendam o mútuo conhecimento e apreço. Estas novas diretrizes, entretanto, levam um bom tempo para serem assimiladas. Trata-se de sentimentos muito arraigados, que não são facilmente removíveis. O Papa João Paulo II teve iniciativas importantes na relação com o mundo judaico: visitou Auschwitz, visitou a Sinagoga de Roma, em 1986, tornando-se o primeiro papa da história a visitar uma sinagoga; reconheceu o Estado de Israel; teve inúmeros encontros com os judeus e, em outubro de 1997, convocou um congresso de especialistas para tratar das raízes do antijudaísmo em ambiente cristão. Em 1985, a Comissão da Santa Sé para as Relações Religiosas com os Judeus publicou um importante documento intitulado: Notas para uma correta apresentação dos judeus e do judaísmo na pregação e na catequese da Igreja Católica17. Este documento faz um estudo da imagem do judaísmo no Novo Testamento à luz do método histórico-crítico, superando a leitura literal e corrigindo os conteúdos antijudaicos. Ele não teve a repercussão do documento sobre o holocausto, mas é certamente um passo importantíssimo nas relações cristão-judaicas, pois analisa com profundidade um problema que tem quase dois mil anos e favorece, mais do que qualquer outro, a formação de um cristianismo não-hostil ao judaísmo. O Documento Sobre o Holocausto O tema do holocausto não podia ser ignorado. Há muitos anos que grupos e pessoas envolvidas no diálogo cristão-judaico vêm solicitando um documento da Santa Sé sobre este assunto. Várias sugestões foram enviadas e o documento finalmente foi publicado, em março de 1998. A publicação no L’Osservatore Romano traz uma carta de João Paulo II à Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, desejando que o documento ajude a sanar as feridas das incompreensões e das injustiças do passado e favoreça a memória na construção de um futuro onde a Shoah jamais seja possível. O documento está dividido em cinco partes e a sua sinopse é a seguinte: 1. O dever de memória do extermínio. A condenação do genocídio. Pede-se a participação dos cristãos na reflexão e aos judeus que escutem. 2. Trata-se de uma memória moral e religiosa do pior sofrimento do povo judaico. 3. Balanço histórico bastante negativo das relações cristão-judaicas, agravado pelas teorias racistas que logo foram apropriadas pelo nazismo, ambos condenados pela Igreja Católica. 4. Anti-semitismo nazista e a Shoah. Diferença entre antijudaísmo dos cristãos e o anti-semitismo racista. Falta de solidariedade de muitos cristãos. Lamento pela atitude negativa dos filhos da Igreja. A ação de Pio XII em favor dos judeus. Agradecimento das autoridades judaicas pelas vidas salvas. Condenação de perseguições raciais e genocídios. Menção a outros grandes massacres deste século. 5. Olhando juntos para o futuro. Consciência das raízes judaicas da fé cristã. Anseio de melhores relações com o judaísmo. Pontos Controversos - a ascensão do nazismo Alguns pontos do documento causaram insatisfação, por afirmações tímidas, unilaterais ou omissão. Isto fica evidente quando comparado com as declarações do episcopado francês e as do episcopado alemão. O documento da Santa Sé lembra que, no início dos anos 30, a Igreja na Alemanha condenou o racismo e o nazismo, pela ação de jornalistas católicos, de membros do clero e do ensinamento público dos bispos, em declarações coletivas. No entanto, quando Hitler chegou ao poder, logo depois o parlamento alemão teve que votar medidas que lhe concediam plenos poderes. A Igreja e o Zentrumspartei, o partido de centro que aglutinava os católicos, decidiram votar a favor de Hitler, de modo que ele se tornou ditador com os votos católicos. Convém lembrar que surgiu a possibilidade de a Igreja fazer uma concordata com o governo alemão. Concordata é um tratado internacional entre a Santa Sé e um país que define direitos e deveres. A concordata com o III Reich permitiria à Igreja assegurar a sua liberdade religiosa, bem como a autonomia das instituições católicas: escolas, hospitais, instituições de caridade, imprensa e associações juvenis, de artesãos e operárias. Na emergência de um regime totalitário que tem por natureza cooptar ou destruir o que é diferente, este tratado era um instrumento jurídico que defenderia a Igreja da invasão totalitária e garantiria a ela os direitos que possui uma comunidade religiosa numa sociedade liberal18. O problema desta concordata foi a legitimidade conferida ao regime, tanto internamente quanto externamente, além dos novos poderes que Hitler passou a dispor com a aprovação do parlamento. É preciso lembrar também que nos anos 30 havia um forte descrédito dos regimes liberais, agravado pela crise de 29. Muitos achavam que só os regimes fortes poderiam é poderiam resolver os problemas. Isto explica o surgimento dos regimes totalitários e autoritários, inclusive no Brasil. Além disso a Igreja tinha saudades da cristandade e não prezava o liberalismo político. Pio XI falava da "peste do liberalismo laicista". Um outro perigo ameaçava a Igreja: o comunismo. Este era considerado o pior de todos - era intrinsecamente mau e muitos o comparavam à peste negra, que na Idade Média dizimou um terço da população da Europa. Assim, uma concordata com um regime de direita era considerada um mal menor. Alguns desses regimes, inclusive, acenavam com uma deferência especial à Igreja e com o combate aos seus adversários e inimigos, numa espécie de reconquista parcial da cristandade. Foi o caso da Itália facista, da França de Pétain, da Espanha de Franco e da Croácia de Pavelic, a antemurale christianitatis, uma fortaleza avançada da Europa católica nos Bálcãs, que fazia frente aos sérvios ortodoxos e aos muçulmanos. Hitler não cumpriu a concordata. O regime totalitário começou a cercear as instituições católicas de diversas maneiras e a propaganda nazista elaborou uma releitura do cristianismo à luz da ideologia da supremacia da raça ariana. Era um cristianismo despido de sua judaicidade, sem o Antigo Testamento. A Igreja era um corpo estranho naquele mundo e deveria ser cooptada ou destruída. Em 33, começaram as leis antissemíticas. Os judeus foram afastados dos cargos públicos e das cátedras universitárias e secundárias. Em 35, surgem as leis de Nuremberg, e os judeus perderam a cidadania alemã e foram considerados seres inferiores que deveriam ser vigiados e dominados. Foram proibidos os matrimônios e relações sexuais entre arianos e judeus, e uma mulher ariana não podia ser empregada nem sequer enfermeira de uma família judia. A concordata com a Santa Sé era sistematicamente ignorada pelo regime, apesar dos inúmeros protestos dos bispos. Em 37, surge então a condenação papal ao regime nazista: Pio XI assina a Encíclica Mit Brennender Sorge (Com Ardente Preocupação). Escrita em alemão, ela entrou clandestinamente na Alemanha, sem despertar suspeitas da polícia nazista e, no Domingo de Ramos, foi lida em todas as igrejas católicas do país19. A reação não tardou. O regime interpretou a condenação como uma ruptura da concordata e as represálias vieram progressivamente. Em 38, na iminência da anexação da Áustria (o Anschluss), fez-se um plebiscito para que a população decidisse a favor ou contra a anexação. No dia 15 de março, o Arcebispo de Viena, Cardeal Innitzer, fez um pronunciamento ao clero e aos fiéis católicos para que: “se coloquem sem condições ao lado da grande Alemanha e do Führer, pois a luta histórica contra a ilusão criminosa do bolchevismo e pela segurança da vida alemã, pelo trabalho e pelo pão, pelo poder e honra do Reich e pela unidade da nação alemã é visivelmente acompanhada da bênção da Providência.”20 Pode-se notar o demônio do comunismo aterrorizando a Igreja e aproximando-a do nazismo. O episcopado austríaco seguiu o seu exemplo e fez uma declaração coletiva para ser lida no dia 27 de março "em todas as igrejas católicas do território austríaco". Dizia que: “...no dia do plebiscito, não é necessário dizer que para nós é um dever nacional, enquanto alemães, de nos declararmos pelo Reich alemão, e esperamos igualmente de todos fiéis cristãos que saibam do seu dever para com a nação.”21 Não era a Mit Brennender Sorge. Nem mesmo uma condenação papal do nazismo foi capaz de impedir a adesão da Igreja austríaca. O plebiscito teve uma vitória esmagadora a favor da anexação: 99, 73% dos austríacos votaram a favor. O Vaticano bem que reagiu. O L’Osservatore Romano publicou uma nota desautorizando a declaração dos bispos austríacos e o Cardeal Innitzer foi chamado às pressas a Roma e foi obrigado a se retratar. A Áustria entretanto, já era do III Reich. Depois da retratação, o palácio episcopal de Viena foi invadido pela Juventude Hitlerista e depredado. Até o final da guerra, a Igreja na Alemanha assistiu a paralisação e até a supressão da imprensa católica, a dissolução das associações, o fechamento das escolas confessionais, a ocupação de várias casas religiosas e a dispersão de religiosos22. Dos 24 mil padres alemães, cerca de 12 mil tiveram problemas graves com o regime23. Somados aos de outras nações, cerca de 6 mil sacerdotes morreram nos campos de concentração. A atuação dos bispos alemães pode ser classificada da seguinte maneira: a linha do cardeal Bertram, presidente da conferência episcopal, seguida pela grande maioria, era firme nos protestos jurídico-diplomáticos, com notas oficiais ao governo, mas sem condenações públicas; e a linha de D.Preysing, bispo de Berlim, seguida por uma minoria, era a favor de uma resistência mais radical, com protestos públicos e risco de represália violenta. Entretanto, mesmo os mais decididos defensores dos direitos humanos e dos direitos da Igreja, como von Galen e Faulhaber, que denunciavam os crimes do nazismo, não deixavam de exaltar os valores tradicionais do patriotismo, como achristliche Pflicht (o dever cristão), o Heldentum (o heroísmo) e o Ehrentod (a morte gloriosa), comparada ao martírio pela fé. Era um ambiente e uma mentalidade muito diferente do final dos anos 60, quando se contestava a Guerra do Vietnam. Os católicos alemães tiveram na política interna alguns indivíduos capazes de resistir até o martírio; tiveram um episcopado que sustentou uma extenuante polêmica com o regime; mas na política externa se aliaram com o nazismo, numa atitude que foi do tácito consentimento ao moderado entusiasmo24. A condenação do anti-semitismo Quanto ao anti-semitismo, o documento do Vaticano faz uma distinção nítida entre o anti-semitismo racial e o anti-semitismo cristão, chamado antijudaísmo. O primeiro se funda na negação da unidade do gênero humano, criado à imagem e semelhança de Deus, e na negação da igual dignidade de todas as raças e povos (IV); afirma uma origem diferenciada das raças e torna legítima a desigualdade entre elas. O segundo se baseia em interpretações errôneas e injustas do Novo Testamento, atribuindo uma culpa aos judeus e gerando sentimentos de hostilidade para com este povo. Tais interpretações circularam por demasiado no mundo cristão, mas não são da parte da Igreja enquanto tal (III). O primeiro foi apropriado pelo nacional-socialismo num regime neopagão, que não reconhece qualquer realidade transcendente como fonte da vida e critério do bem moral. Este regime transformou um grupo humano e o Estado em valor absoluto e decidiu cancelar a existência do povo judaico. Em seguida se pergunta se a perseguição nazista não foi facilitada por preconceitos antijudaicos, presentes nas mentes e nos corações de alguns cristãos; se o sentimento antijudaico não tornou os cristãos menos sensíveis, ou até indiferentes às perseguições que houveram. A resposta é tímida e abstrata - alguns não sabiam da “solução final”, outros tiveram medo, por si mesmo ou por seus entes queridos, alguns tiraram proveito, outros foram movidos por inveja - uma resposta deve ser dada para cada caso (IV). Quanto à instituição eclesial, ela repudiou universalmente o anti-semitismo, por meio de uma condenação papal, quando em 1938, Pio XI disse a um grupo de peregrinos: “O anti-semitismo é inaceitável. Espiritualmente, todos somos semitas”. De fato, anti-semitismo nazista e anti-semitismo cristão têm fontes diversas. A idéia nazista de aniquilar o povo judeu não vem do cristianismo. Mas os pontos de contato existem e não são poucos. Conforme o pronunciamento dos bispos franceses: “durante séculos prevaleceu no povo cristão, até o Concílio Vaticano II, uma marcante tradição antijudaica em diversos níveis: na doutrina e ensinamento cristãos, na teologia e na apologética, na pregação e na liturgia. Sobre este terreno cresceu a planta venenosa do ódio aos judeus...Mesmo quando (os pastores e responsáveis pela Igreja) condenaram as teorias antissemitas de origem pagã, sabemos que eles não esclareceram as almas como deveriam por que eles não puseram em questão a causa dessas mentalidades e dessas atitudes seculares.”25 Na perspectiva destes bispos a hostilidade aos judeus foi da instituição, da Igreja enquanto tal. Não bastava uma mera condenação da hierarquia ao anti-semitismo para que a Igreja ficasse isenta de toda a responsabilidade pelo anti-semitismo. Nos anos 30 e até o final da Guerra, havia na Igreja leigos e teólogos muito empenhados em combater o anti-semitismo, ressaltando as raízes judaicas do cristianismo e a indissociabilidade do Antigo e do Novo Testamento. Um exemplo é Jacques Maritain, teólogo leigo da Ação Católica, de origem hebraica, que escreveu um livro que se tornou clássico: O Impossível Anti-semitismo26. Apesar desse esforço, havia em diversos ambientes católicos um anti-semitismo moderado. Em 38, surgiu na Itália o “Manifesto da Raça” e as leis antissemitas do facismo. Os judeus estrangeiros foram proibidos de permanecer no país. Os judeus italianos foram afastados das escolas públicas, tanto estudantes quanto professores; foram afastados de todo emprego público, do serviço militar; e não podiam possuir empresas com mais de cem empregados nem terras com mais de 50 hectares. Os profissionais liberais judeus tiveram suas atividades limitadas. Em novembro desse mesmo ano um novo decreto-lei “para a defesa da raça italiana” proíbe o casamento entre italianos de raça ariana e pessoas de outras raças27. Houve protestos da parte da Igreja quanto à proibição de casamento misto, pois isto ia contra o direito eclesiástico que o permite em certas condições. Outras leis discriminatórias eram vistas com certa benevolência. Certos bispos e representantes oficiais da Santa Sé diziam que o racismo nazista era condenável, bem como as perseguições violentas, entretanto, era aceitável que houvesse leis que restringissem a influência hebraica na sociedade, que estavam de acordo com a tradição da Igreja28. Naquele mesmo ano de 38 ocorreu na Alemanha a Noite dos Cristais. O embaixador do Reich na França foi assassinado por um judeu. Em represália, grupos nazistas promoveram matanças e depredação de sinagogas e lojas de judeus em toda a Alemanha, com milhares de mortos. Pio XI pensou em redigir uma encíclica contra o anti-semitismo. Convocou o padre jesuíta americano John La Farge para a redação. Em seguida, dois outros jesuítas foram designados para ajudá-lo: o francês G. Desbuquois e o alemão G. Gundlach. O texto foi entregue ao papa no final do ano. O título da encíclica era Humani Generis Unitas, a Unidade do Gênero Humano. O título por si já contesta a desigualdade racial, fundamento das doutrinas racistas, e evoca a tradição judaico-cristã e a doutrina da Igreja que sempre afirmaram o ser humano como imagem e semelhança divina, e nisto fundamental a unidade da humanidade. Infelizmente a saúde do Papa já estava bastante debilitada. Em fevereiro de 39, Pio XI morreu e a encíclica não foi publicada. Descoberta recentemente, depois da morte do Padre La Farge, ela foi publicada em um livro com um longo estudo introdutório. O título é: A Encíclica Escondida de Pio XI - Uma Oportunidade Perdida Pela Igreja Diante do Anti-semitismo29. A hierarquia da Igreja viveu o dilema entre a denúncia pública com risco de represália violenta e o silêncio. O documento recente dos bispos alemães explicita este dilema e suas consequências: “Permanece uma dolorosa constatação: contra as Leis de Nuremberg em 1935 e depois da Noites dos Cristais em 1938, não se fez nenhum protesto vigoroso. Certamente, a oposição pública contra um crime organizado e sancionado pelo Estado podia ter efeito contrário, agravando a violência e levando à aniquilação. Uma vítima desta situação fatal foi Edith Stein, bem como numerosos judeus da Holanda. Entretanto, a pregação do Bispo de Münster, von Galen, contra a execução programada de deficientes mentais, e a tomada de posição de outros prelados como o bispo de Rottenburg, Johann Sproll, contra as violações do direito pelos nazistas, mostram que um protesto público, feito com vigor contra a ação sobre a população, não deixou insensível um regime de violência impiedosa.”30 Uma autoridade judaica observou que, em 42, quando alguns bispos franceses protestaram em favor dos judeus, numerosos fiéis anônimos, dentre eles os mais pobres, estenderam a mão aos judeus, salvando milhares, incluindo um grande número de crianças31. Se houvesse desde 39 a encíclica, que bem não poderia ter feito naquela situação, tocando muito mais fiéis e despertando solidariedade? A Igreja pecadora O documento do Vaticano não fala de pecados ou faltas da Igreja ou da Hierarquia, mas apenas de faltas e pecados “de seus filhos”. Isto contrasta enormemente com os outros dois pronunciamentos. Os bispos franceses lembram que em 41, quando cerca de 40 mil judeus estavam internados nos campos de concentração franceses, num momento em que o país estava parcialmente ocupado, abatido e prostrado, a hierarquia considerou como seu dever primeiro proteger os fiéis e assegurar da melhor maneira a vida de suas instituições. Esta prioridade absoluta, reconhecem, ocultou a exigência bíblica de respeito a todo ser humano, criado a imagem de Deus. Na sua maioria, as autoridades eclesiásticas foram levadas por uma obediência demasiada ao poder estabelecido e ficaram paralisadas pelo conformismo e pelo medo de represálias. Não foram capazes de perceber, prosseguem, que a Igreja deve exercer um papel de suplência num corpo social fraturado. Quando outras instituições foram caladas, a sua palavra, pelo prestígio que possui, poderia fazer frente ao irreparável. Confessam que o silêncio foi uma falta. Reconhecem que a Igreja falhou, falhou como educadora de consciência e que é responsável, junto com o povo cristão, por não ter prestado auxílio quando o protesto e a proteção eram possíveis e necessários. Os bispos esclarecem que não querem julgar nem a consciência nem a pessoa dos seus predecessores que viveram naquela época, mas que estão considerando as ações e suas consequências32. E concluem: “Esta falha da Igreja da França e sua responsabilidade pelo povo judeu fazem parte de sua história. Nós confessamos esta falta, imploramos o perdão de Deus e pedimos ao povo judeu que ouça a nossa palavra de arrependimento.” Os bispos alemães, por sua vez, afirmam que o período nazista não foi só obra de Hitler e dos dirigentes nazistas. A inegável responsabilidade destes não isenta de responsabilidade e culpa todos aqueles que colaboraram com o sistema ou o toleraram. O testemunho corajoso e a resistência de alguns não podem fazer esquecer a falta e a fraqueza de outros. A admiração e a gratidão por alguns não diminui a vergonha por outros. Não podemos nem devemos nos esquecer, dizem eles, que na Igreja Católica também houve silêncio injustificado, falsas cautelas, medo e fraqueza culpáveis. Diante de Deus ela deve, por si e pelo conjunto da comunidade, dar conta do comportamento dos fiéis, dos sacerdotes e dos bispos sobre o regime nazista33. A que se deve esta diferença de termos entre o pronunciamento da Santa Sé e os pronunciamentos dos bispos franceses e alemães? Por que o primeiro fala de “pecados dos filhos da Igreja” e os outros dois falam de “pecados da Igreja”? Na verdade há duas concepções teológicas que estão por trás, acerca do que significa a Igreja. Há duas eclesiologias. Na primeira, a Igreja é uma sociedade perfeita, depositária da Revelação Divina. O pecado nunca pode atingi-la, apenas pode atingir os seus membros. A transmissão da Revelação divina, a doutrina e os sacramentos estão imunes do pecado e das imperfeições humanas. É uma concepção que vigorou na era pós-tridentina até o Concílio Vaticano II. Na outra eclesiologia, a Igreja é Povo de Deus, expressão das Escritura: no Antigo Testamento é Kahal Javé e no Novo Testamento é Eclesia tou theou. E como Povo de Deus pode pecar e de fato peca. Esta eclesiologia prevaleceu no Vaticano II, onde se diz que a “Igreja, reunindo em seu próprio seio os pecadores, ao mesmo tempo santa e sempre na necessidade de purificar-se, busca sem cessar a penitência e a renovação”34. Uma oração litúrgica, a Oração Eucarística V, inspirada nesta visão assim reza: “...e a nós que agora estamos reunidos e somos povo santo e pecador, dai força para construirmos juntos o vosso reino que também é nosso”. A eclesiologia é um ponto crucial, pois toca a auto-imagem institucional da Igreja e tem desdobramentos psicológicos, teóricos e práticos. A eclesiologia do Vaticano II prevaleceu nos pronunciamentos do episcopado francês e alemão e a velha eclesiologia prevaleceu no pronunciamento da Santa Sé. Isto resultou numa configuração bastante diferente entre eles. A Figura de Pio XII O ponto mais controvertido do documento é a figura de Pio XII (1939-1958). Na midia, as repercussões maiores ficaram por conta do debate em torno do Papa e sua atuação em relação aos judeus na Segunda Guerra. O núcleo da controvérsia é esta: desde que assumiu o pontificado, em 39, até o final da Guerra, o Papa não fez publicamente nenhuma denúncia do holocausto e nem mesmo uma condenação do anti-semitismo, embora promoveu, junto com a diplomacia da Santa Sé, a fuga de centenas de milhares de judeus. Uma palavra pública em favor dos judeus, presume-se, poderia ter diminuído em muito a extensão do holocausto. É o chamado Silêncio de Pio XII35. O documento se limita a dizer que Pio XII, desde sua primeira encíclica Summi Pontificatus de outubro de 39, alertou contra as teorias que negavam a unidade da raça humana e contra a deificação do Estado, que poderiam conduzir a uma verdadeira “hora das trevas2. Logo depois menciona a gratidão da comunidade e personalidades judaicas ao Papa pelo que ele fez para salvar os judeus. Segue uma longa nota de pé de página com diversas citações. Nada mais diz sobre este assunto. A polêmica sobre Pio XII começou em 1961, motivada pela peça de teatro Der Stellvertreter (O Vigário), do teatrólogo alemão Rolf Hochhut e também pela obra do norte-americano Robert Katz Morte em Roma, de 1965, que tiveram enorme repercussão. Para ambos, o papa não foi sensível nem valente para condenar o extermínio dos judeus, tanto em Roma ocupada pelos nazista, em 43 e 44, quanto na Europa Central. Pio XII era um germanófilo simpatizante do nazismo e agiu como um novo “Pilatos”. A reação de Papa Paulo VI foi de autorizar a publicação dos documentos da Santa Sé referentes à Segunda Guerra Mundial. Foi convocado um grupo de quatro jesuítas36 que se encarregou de minuciosa pesquisa dos arquivos da Secretaria de Estado. O trabalho se estendeu por quase vinte anos e resultou numa publicação de 11 volumes intitulados Actes et Documents du Saint-Siège Relatifs à la Seconde Guerre Mondiale. O primeiro volume foi publicado em 1965 e o último em 198137. Há uma farta correspondência, discursos, comunicações, notas, ofícios diplomáticos, informações, propostas, etc...Além disso foram publicados artigos e depoimentos de colaborados próximos do Pio XII, entre eles D. Tardini38 e dois secretários alemães: o Pe. Robert Leiber, S.J.39 e a Ir. Pascoalina Lehnert. Os dois últimos trabalharam com o papa mais de vinte anos, desde o tempo em que ele - o então diplomata D. Eugênio Pacelli - era núncio apostólico na Alemanha (1917-1929). Pacelli os trouxe depois para o Vaticano, quando se tornou Secretário de Estado (1930-1939) e em seguida, papa. Na Secretaria de Estado, em 33, Pacelli mediou a concordata da Igreja com o Reich alemão. Confidenciou depois ao ministro da Grã-Bretanha acreditado junto ao Vaticano que Berlim o tinha praticamente obrigado, com um revólver apontado, a se decidir dentro de uma semana a favor ou contra a concordata. Uma negação do acordo seria uma virtual eliminação da Igreja Católica na Alemanha40. Em 37, Pacelli foi co-redator da Mit Brennender Sorge, com o Cardeal Faulhaber. Em 38, foi ele que chamou o Cardeal Innitzer de Viena e o obrigou a se retratar. O papa Pio XI não o recebeu enquanto a retratação não foi publicada. A documentação mostra os esforços da diplomacia vaticana para evitar a guerra; para dissuadir a Alemanha de invadir a Polônia; e para convencer a Itália a se separar da Alemanha de Hitler. Mostra também que quando os Países Baixos foram invadidos, o papa enviou telegramas de solidariedade aos soberanos da Bélgica, da Holanda e de Luxemburgo, protestando contra a invasão de países neutros. Há ainda conselhos dados a Benito Mussolini e ao Rei Vitório Emanuelle III para pedirem a paz isoladamente. Pio XII realizou iniciativas diplomáticas para impedir o conflito, reiterados esforços para ao menos evitar que ele se expandisse, alguns protestos solenes, como no caso de países neutros agredidos, e silenciosos trabalhos de assistir e salvar, na medida do possível, judeus perseguidos e arrastados para os campos de extermínio41. Leiber conta que no início da guerra, o papa se ofereceu como intermediário entre a resistência alemã e os aliados, a fim de reverter o nazismo. A iniciativa fracassou devido à demorada hesitação do dos militares alemães. Leiber julga que Pio XII se arriscou demais, contrastando com seu caráter cauteloso. No final da guerra, a resistência alemã planejava um atentado contra Hitler. Um dos conspiradores, o advogado Josef Müller, teve diversos contatos com Leiber, e por meio dele, com o próprio papa. Pio XII estava informado sobre as atividades da resistência alemã e tinha uma grande simpatia pela sua causa42. Quando os Países Baixos foram invadidos, começaram lá as perseguições e prisões de judeus. Depois da prisão de cerca de 50 mil, os bispos católicos daqueles países fizeram um protesto público. Em represália, os nazistas prenderam cerca de 200 mil. A Ir. Pascoalina conta que, naqueles dias, viu o Papa entrar na cozinha do Vaticano com uma declaração de protesto em favor dos judeus que ele tinha redigido com o próprio punho e pretendia publicar. O Papa comentou: "Se fizeram esta represália com o protesto dos bispos, o que não farão com um protesto do Papa?" Em seguida, acendeu o fogo e a queimou. O medo de represálias impediu que Pio XII fizesse qualquer declaração pública em favor do judeus até o fim da guerra. Entretanto, na correspondência com os bispos, principalmente os alemães, ele os encorajava a falar publicamente, mesmo que corressem riscos. Estava convencido de que a palavra dos bispos locais era mais eficiente, por conhecerem eles a própria realidade de modo melhor e também porque, numa época de nacionalismos ultra-exacerbados como é a época de guerra, a palavra do bispo local não corre risco de ser interpretada como uma ingerência de uma potência estrangeira, como poderia acontecer com a palavra do papa. Pio XII estava convencido de que não podia e não devia fazer mais. E empregou todas as suas energias e sua sensibilidade. Há historiadores que afirmam que a sua estratégia foi a melhor possível dentro das circunstâncias trágicas do terror totalitário. Lançam como argumento o fato de que as organizações judaicas que tinham contato com a Santa Sé, de modo geral não pediam um protesto público, mas colaboração na ocultação e na fuga dos judeus. Dizem que a atitude do papa foi a mesma do Conselho Mundial das Igrejas e da Cruz Vermelha43. Outros, entretanto, estão convencidos de que um papa mais profético e menos diplomático teria seguido outra estratégia; e que as denúncias e condenações vagas tinham pouca eficácia e não estimularam os católicos a se afastarem de modo mais decidido dos responsáveis pela tragédia. Julgam também que o anti-semitismo moderado, presente em ambientes eclesiásticos, influenciou o mundo católico a minimizar a tragédia em curso44. Não pretendemos resolver a polêmica entre os historiadores. Mas podemos dizer com certeza: Pio XII não foi um Pilatos, não era pró-nazista e não agiu pensando só no bem da instituição católica. Ele estava convencido de que a sua estratégia era a melhor possível dentro daquelas circunstâncias; e empenhou todas as suas energias no caminho escolhido. Entretanto, se este documento do Vaticano seguisse o caminho de autocrítica profunda, do episcopado francês e alemão, poderia explicitar o problema sem ter a pretensão de resolvê-lo. Entretanto, a preocupação com a auto-imagem da Igreja prevaleceu; o tema do silêncio não veio à tona e a crítica foi bastante forte. Neste sentido, foi perdida a oportunidade de se ter um documento tão bom quanto os outros dois, com uma repercussão amplamente positiva, e de se fazer avançar as relações cristão-judaicas. Conclusão Para "sanar as feridas das incompreensões e das injustiças do passado", como deseja o Papa João Paulo II, é preciso ir bem mais além do que foi este documento. Ainda existe uma outra chaga aberta: a fuga de oficiais nazista e facistas croatas no final da guerra com a colaboração de membros do clero e da diplomacia da Santa Sé. Este assunto ainda não está devidamente esclarecido e nem é mencionado no documento. Este documento está longe de por fim ao debate histórico e inter-religioso sobre o cristianismo e o holocausto. Os principais problemas não estão no que ele diz, mais no que ele não diz. O que ele diz contudo, tem uma difusão mundial em ambientes católicos e pode ajudar a consciência de muitos a despertar para um problema que eles nem suspeitam que existe. Os pontos obscuros e as lacunas estão sendo explicitados e discutidos na imprensa, em diversas publicações e em ambientes eclesiais e de diálogo inter-religioso. Retomando a história das relações cristão-judaicas, depois do Holocausto, da Segunda Guerra e do Concílio Vaticano II, muita coisa mudou. A Igreja não sonha com o retorno à cristandade de outrora com seus privilégios e discriminações. Aceita a sociedade moderna pluralista e a autonomia das realidades temporais. Aceita a democracia e mudou sua maneira de encarar os não-católicos e os não-cristãos. Para os que têm muito viva a memória dos muitos séculos de cristandade autoritária e persecutória, estas últimas décadas são ínfimas comparadas com o passado. Mas nós não somos prisioneiros do passado e não estamos condenados a repeti-lo. O ser humano, imagem e semelhança de Deus, é livre e capaz de conversão não só pessoal, mas institucional, ainda que ela se faça numa sucessão de avanços e recuos. Uma consequência da Segunda Guerra e os seus impasses, é que a Igreja, de um modo geral, conquistou uma consciência mais nítida de sua missão que inclui a defesa dos pobres e oprimidos, confiando não tanto em instrumentos jurídicos ou na diplomacia, quanto na sua pobreza e impotência; muitas vezes a Igreja, quando não pode fazer mais nada, compartilha pessoalmente a sorte dos perseguidos. Felizmente, nós tivemos bons exemplos disso na América Latina e no Brasil, no tempo das ditaduras militares. Com estas ponderações, assumimos a parte final do documento da Santa Sé (V). Como membros da Igreja, compartilhamos tanto os pecados como os méritos de todos os seus filhos. Exprimimos uma profunda tristeza pela falta de seus filhos. Nos aproximamos com profundo respeito e grande compaixão da experiência de extermínio sofrida pelo povo judaico. Desejamos que a nossa tristeza nos leve a novas relações com este povo, sem anti-semitismos, desconfianças e ressentimentos, mas com respeito recíproco compartilhado, como convém àqueles que adoram o único Criador e Senhor e têm um mesmo pai na fé, que é Abraão. A consciência cristã aprendeu com o povo judeu que o mundo é criação divina; que o Senhor é fiel às suas promessas; e que Ele tem o poder de ressuscitar os mortos. Por isso, o mundo têm sentido, a vida vale a pena ser vivida e a morte do justo não é em vão. Oxalá o Senhor nos conceda o mundo renovado que tanto desejamos. Notas 1] O presente texto se baseia em conferência apresentada em uma mesa redonda sobre o tema, promovida pelo CIAS-IBRADES no Centro Cultural de Brasília, no dia 4 de junho de 1998. 2] O autor é mestre em história pela PUC do Rio de Janeiro e membro do CIAS-IBRADES. 3] Dialéctica Negativa, Madri, 1975, 361. 4] MK Shevah Weiss, Jerusalem Post (17/3/98). 5] Tertio milennio adveniente, n.33, São Paulo, Loyola, 1994, 40-41. 6] La Documentation Catholique 2117 (4/6/95) 549-554. 7] La Documentation Catholique 2168 (19/10/97) 870-872. 8] Texto original em inglês. Tradução brasileira: São Paulo, Ed. Loyola, 1998. 9] BAGATTI, Belarmino, O.F.M., A Igreja da Circuncisão - História e Arqueologia dos Judeu-cristãos, Petrópolis, Vozes, 1975, 114. 10] MUSSNER, Franz, Tratado sobre os Judeus, São Paulo, Paulinas, 1987, 174-197. 11] Na perícope 8, 31-59 se lê: "Jesus disse pois aos judeus:...O vosso pai é o diabo". 12] In: MARTINA, Giacomo, História da Igreja - De Lutero a nossos dias - II, São Paulo, Loyola, 1996, 130-131. 13] GONZAGA, João Bernardino, A Inquisição em Seu Mundo, São Paulo, ed. Saraiva, 1993, 71. 14] TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica - vol. V (2a.parte da 2a.parte), Caxias do Sul, Est-Sulina-UCS, 1980, questão X. 15] O termo "anti-semitismo" está ligado ao conceito de raça e foi elaborado nos tempos modernos. Significa oposição ao semita, grupo populacional constituído atualmente por árabes e judeus. O antijudaímo cristão não é anti-arabismo e nem está ligado ao conceito de raça, mas à religião. Por isso o termo "anti-semitismo" é impróprio neste caso. No entanto, o seu uso se tornou comum na literatura especializada. As Histórias do Anti-semitismo abrangem a período da cristandade, como se pode ver, por exemplo, na conhecida obra de L. Poliakov: Histoire de l’Antisémitisme, 4 vols., Paris, 1955-1977. 16] Compêndio do Vaticano II, Petrópolis, Vozes, 1968, 622-623. 17] In: Guia para o Diálogo Católico-Judaico, Paulinas, São Paulo, 1986, 119-134. 18] MARTINA, G., o. c. vol.IV, 172. 19] CAMACHO, Ildefonso, Doutrina Social da Igreja - uma abordagem histórica, São Paulo, Loyola, 1995, 127-140. 20] in: MADELIN, H., Le Monde Diplomatique (maio de 1998), 6. 21] Idem. 22] MARTINA, G., o. c., vol. IV, 229. 23] Carta Pastoral dos Bispos Alemães, o. c., 552. 24] MARTINA, G., o. c., vol. IV, 226-227. 25] O. c., 872. 26] Cf. também: Declaração dos Bispos Franceses, o. c., 870. 27] MARTINA, G., o. c., 192-193. 28] Ibidem, 195. 29] PASSELECQ, Georges et SUCHECKY, Bernard, A Encíclica Escondida de Pio XI - Uma Oportunidade Perdida Pela Igreja Diante do Anti-semitismo, Petrópolis, Vozes, 1998. 30] O. c., 552. 31] Henri Hajdenberg, Presidente do Conselho Representativo de Instituições Judaicas da França in: La Documentation Catholique 2168 (19/10/97), 873. 32] O. c., 871-2. 33] O. c., 551-552. 34] LG 8. 35] FALCONI, C., Il Silenzio di Pio XII, Milão, 1965. 36] Pierre Blet, A. Martini, R. A. Graham e B. Schneider. 37] Cf. também a obra recente de BLET, Pierre, Pio XII et La Seconde Guerre Mondiale, Perrin, 1997. 38] Pio XII, Roma, 1959. 39] Em: Stimmen der Zeit 158 (1958-1959) 81-100. 40] Ibidem, 172-173. 41] MARTINA, G., o. c., 209. 42] O. c., 210, 225-226. 43] Graham, Robert A., "How to Manufacture a Legend: The Controversy over the Alleged Silence of Pope Pius XII in World War II" in: Pius XII and the Holocaust - A Reader, Catholic League Publication, 1998. 44] MICCOLI, G., "La S. Sede nella seconda guerra mondiale" in: Fra mito della cristianità e secolarizzazione, Casale Monferrato, 1985, 131-337. Também AUBERT, Roger in: MARTINA, G., o. c., 214. Artigo original: http://www.jcrelations.net/O_Holocausto_e_a_Consci__ncia_Crist___-.2502.0.html?&L=4
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