O apóstolo Paulo foi um defensor acérrimo da morte e ressurreição de Cristo e esteve por várias vezes confrontado com a própria morte por defender tais ensinos em público e privado (2 Coríntios 11:23-27). Não apenas sofreu perigos e oposição dos de fora da congregação cristã, mas mesmo dentro dela sentiu a oposição daqueles que se auto-intitulavam 'apóstolos'* (2 Coríntios 10:10; 11:5). Tais opositores cristãos punham em causa os conselhos e admoestações de Paulo, talvez porque ele usasse de 'franqueza no falar' e usasse de linguagem por vezes forte ao apontar certas falhas espirituais que ocorriam dentro das congregações, algumas delas ajudadas a fundar por Paulo ou visitadas em tempos por ele (ex. congregação de Corinto). Talvez por sentir tal desdém e amargura por parte de alguns, devido àquilo que lhes escrevia, o apóstolo Paulo levantou a pergunta: "Tornei-me inimigo de vocês por lhes dizer a verdade?" Esta pergunta é deveras pertinente e mantém-se atual. Porquê? Infelizmente, as Testemunhas de Jeová são incentivadas pelos auto-intitulados 'apóstolos' de hoje em dia (Corpo Governante), a considerar como inimigos aqueles que expõem certas doutrinas e procedimentos organizacionais da sua religião. Isso acontece porque estes apontam como estando errados e longe do espírito e ensino cristãos, alguns dos ensinos e procedimentos da Organização. Tais pessoas que apontam esses erros são vistos como 'inimigos da fé' e 'opositores da verdade'. São até mesmo apelidados pela expressão 'apóstatas'. Será que é correta e bíblica, tal postura por parte das Testemunhas de Jeová? Não! Muitos dos que saem da religião das Testemunhas de Jeová, são pessoas que outrora eram zelosas e absolutamente crentes naquilo que consideravam ser a 'VERDADE'. Ao passarem a entender que vários ensinos e normas organizacionais, nada mais eram do que 'mandados de homens' (Mateus 15:9), muitos esforçaram-se por manterem-se leais à Organização, até mesmo acreditando que a sua influência poderia promover uma mudança gradual e positiva 'de dentro para fora'. Essa ilusória crença de que 'um peão pode mudar o jogo' rapidamente se esfumou, à medida que foram percebendo que o seu papel na religião nada mais poderia ser do que um factor de reforço às crenças e normas organizacionais. Afinal, haviam jurado lealdade à Organização através dos votos do batismo e quaisquer indícios de discordância passariam a ser vistos como rebelião e, consequentemente, como 'apostasia', independentemente do prestígio e influência que pudessem ter entre os irmãos. É por isso que muitos que se afastam ou saem de vez da religião, através da dissociação ou desassociação, empreendem aquilo que consideram ser importante: desmascarar e expôr o engano, distorção e manipulação religiosa existentes na religião a que antes pertenciam. Isto não acontece apenas nas Testemunhas de Jeová, mas entre estas tem ganho um especial relevo e importância. Mas voltando à pergunta inicial de Paulo, é preciso que as Testemunhas de Jeová reflitam bem nela quando acusam as ex-Testemunhas de Jeová de serem 'inimigos' e 'opositores' da 'Verdade', apenas porque estes acreditam estar expondo aquilo que consideram errado na religião. No meu caso, em inúmeras ocasiões fui tratado como inimigo apenas por apontar certas incoerências doutrinais na questão do sangue, mediação de Cristo, bem como outros pontos organizacionais que considero nefastos, tais como o encobrimento de abuso sexual de crianças, que através de uma política organizacional [propositadamente] ineficaz, torna os abusadores em pessoas especialmente protegidas e invisíveis aos olhos da congregação e comunidade em que vivem. Tais verdades dolorosas são encaradas como um ataque pessoal pela esmagadora maioria das Testemunhas de Jeová, que apesar de saberem pouco ou nada desses assuntos, ou simplesmente por terem o conhecimento desses temas obtido apenas por aquilo que lêem nas suas publicações [pura manipulação de informação], passam a encarar-me como inimigo da 'Verdade'. Mas na realidade é exatamente o oposto! Se eu não me importasse com a 'Verdade', não perderia meu tempo tentando chamar à atenção daquilo que considero estar errado, nem gastaria horas, dias, meses e anos, tentando alertar as Testemunhas de Jeová do perigo espiritual [e físico] que correm ao confiar implicitamente em homens que não conhecem e que já provaram 'mudar de opinião como quem muda de camisa'. Homens estes que põe em à frente dos interesses da comunidade religiosa, os interesses de uma corporação (organização) e tentam a todo o custo mantê-la a funcionar, mesmo que com isso muitas Testemunhas de Jeová venham a sofrer. Aconteceu assim, na época do nazismo, no Malauí, e em muitas outras ocasiões onde apenas por puro capricho e decisão humana certas normas e regras não foram alteradas a bem da comunidade TJ e com isso milhares de pessoas sofreram. Como exemplo, cito apenas a questão dos objetores de consciência e o serviço cívico, a questão do uso das fracções e sangue, transplantes e vacinas. Quantas pessoas foram prejudicadas com estas regras, normas e doutrinas? Possivelmente milhares e milhares delas! Por isso lanço um apelo: Não vejam aqueles que expõem aquilo que consideram errado na religião, como sendo inimigos das Testemunhas de Jeová! Encarem-nos como amigos e pessoas interessadas em vos ajudar. É verdade que poderão não estar certos em tudo o que afirmam acerca da Organização. É provável que existam incorreções em certas declarações ou falsas informações. Mas cabe a vocês filtrarem aquilo que é verdade ou não! O errado é partirem do pressuposto, incutido em vocês pela liderança religiosa que vos controla e manipula a seu bel-prazer, quando afirma que TUDO É MENTIRA e que jamais devem pesquisar, ler ou ver algo que não é publicado por eles. Isso na realidade chama-se CONTROLE DE INFORMAÇÃO e é uma das técnicas mais usadas pelas seitas destrutivas e grupos de alto controle. Quando um indivíduo rejeita à partida algo APENAS porque alguém que considera como seu superior lhe diz para rejeitar, ele está a entregar a essa entidade o controle da sua vida. Encontramos isso escrito na Bíblia ou encontramos exatamente exortações a dizer o contrário? Dá a Bíblia orientações neste respeito? Ora veja: "Ora, [os bereanos] eram de mentalidade mais nobre do que os de Tessalônica, pois recebiam a palavra com o maior anelo mental, examinando cuidadosamente as Escrituras, cada dia, quanto a se estas coisas eram assim. Portanto, muitos deles tornaram-se crentes.” – Atos 17:10-12 "Persistam em examinar se estão na fé; persistam em pôr à prova o que vocês mesmos são." – 2 Coríntios 13:5 "Amados, não acreditem em toda declaração inspirada, mas ponham à prova as declarações inspiradas para ver se elas se originam de Deus, pois muitos falsos profetas saíram pelo mundo afora." – 1 João 4:1 Como se pode pôr à prova e examinar um assunto, quando à partida se rejeita como sendo mentira? É sábio fazer isso? O sábio Rei Salomão pôs essa forma de agir da seguinte forma: "Quando alguém replica a um assunto antes de ouvi-lo, é tolice da sua parte e uma humilhação." – Provérbios 18:13 Como é fácil de perceber, a Bíblia não dá base para que NINGUÉM use a sua autoridade para impôr uma doutrina ou norma organizacional/congregacional e incentiva por outro lado a testar/pôr à prova quaisquer afirmações ou doutrinas que se digam 'inspiradas'. Assim, em vez de condenarem à partida quaisquer afirmações que lhes pareçam pôr em causa a sua organização religiosa/liderança, as Testemunhas de Jeová devem procurar PRIMEIRO saber se tais afirmações são verdadeiras ou falsas. É claro que isto dá trabalho e exige esforço adicional, mas talvez seja exatamente aquilo que lhes faz falta e que poderá ser determinante em descobrirem se estão a adorar a Deus "em espírito e verdade" (João 4:24). Afinal, Deus deu-nos a capacidade de raciocínio exatamente para assimilar e filtrar conhecimento, que por sua vez nos ajuda a tomar as melhores decisões na vida. Acredito que quem fizer isso jamais se arrependerá! Por, Ex-Membro das Testemunhas de Jeová, » Carlos Fernandes (Fb), Portugal (Lisboa) *Dependendo das traduções, surgem expressões tais como 'super-apóstolos' e 'eminentes apóstolos'. Estes sem dúvida se colocavam numa posição superior aos demais nas congregações e certamente procuravam um lugar mais proeminente entre os irmãos, promovendo até mesmo um certo 'culto da personalidade'. É interessante como nos dias atuais, os líderes máximos das Testemunhas de Jeová, o Corpo Governante, procuram promover o mesmo colocando-se acima dos demais.
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